sexta-feira, 30 de março de 2012

O cavaleiro Mwangolé e Lady Marli na demanda do Santo Graal (14)


O que é que funciona num Estado sem fundamentos?

A tarde está limpa, liberta, afastada de religião, e nela já vamos namorar, nos arrebatar, e o poder do Universo cativar, arrastar. Desceremos no nosso deus, e nada nem ninguém nos temerá. Uma nova estrada renascerá e o nosso amor nela caminhará. E a glória do céu se abrirá e os ímpios dominará. Vamos cantar, e com os nossos irmãos e filhos venerar. Chegou a hora, o amor vai despontar, vamos voar, namorar.

O mar sopra, canta nas palmeiras, e as suas raízes agitam as folhas das promessas de amor que o vento sussurrou na praia dos namorados.

Não, não era o orgasmo do nosso amor, era a época do tempo quente que liquefazia a nossa pele, se molhasse, e tudo se soltasse. E decidimos a roupa retirar, se, nos soltar. E rebolados, abandonados ao impacto do vento latejante, sentimos as carícias dos primórdios do amor humano. Só existia um lago, como se a tal providência divina o guardasse, mantivesse secreto durante tantos milénios num esconderijo, agora descoberto.

E até as caídas, esquecidas folhas secas se renderam, se ergueram perante o jogo violento do nosso amor, adormecidas do invernal Outono, e deslizaram, abandonaram à pressão atmosférica. Eis que chegámos e tudo queremos, não, transformámos. E a tua Afrodite companhia os meus desejos despertam, e na minha memória não se arquivam. Deleitas-me na tua cabeça engrinaldada, de jasmins contemplados, plantados. E o amor não é para alguns, mas para todos os momentos, ele é o deus dos sentimentos. E a tua dança para me cativares, faz-me, escravizam-me os teus olhares.

As tuas folhas secas não são querer, são o amarelecer antes do teu verde florescer, desfalecer. Porque o verde sempre docemente se amarelece. E o viver é uma dança, só que não nos apercebemos disso, não sabemos, não apreendemos, não queremos, dançar. E tudo no amor se acumula, e nas leis das suas prisões nos agrilhoamos, nos prendemos, nos perdemos. É tão difícil assim dizer, segredar: amo-te? pois se esta é a verdade suprema de todas as coisas. Para quê amarmos tantos deuses se só um existe, o deus do amor, o único que faz milagres. E corro porque ouço o amor gritar-me, que me espera, e que para o conseguir terei que percorrer uma eterna estrada nas trevas abandonada. E pus-me a caminho, e quase há cem anos que a percorro, ainda não o encontrei, mas não desisto, porque o encontrarei. Creio que por ele já passei milhares de vezes, mas como sou um pobre amador do amor, não consigo distingui-lo, decifrá-lo. É sempre assim: tudo o que nos é querido está mesmo ao nosso lado, só que não conseguimos adivinhá-lo.             


Estrangeiro, quando chegares à cidade de Jingola verás uma enorme placa com os dizeres: SENÃO ÉS CORRUPTO, NÃO ÉS BEM-VINDO. BEM-VINDO À CORRUPÇÃO

A aprovação da fraude eleitoral apressada, tão declarada, tão forçada, revela o desespero dos últimos suspiros dos Lordes. E votaram como sempre na especialidade, no fortalecimento da também corrupção eleitoral. A lei da fraude eleitoral já está em campo. Há uma concertação sobre a miséria local e global.
Dantes era o TPR – Tribunal Popular Revolucionário, agora é o TPI – Tribunal Popular Internacional

Cuidado quando abrirem a porta, não se admirem se for um dos tais destruidores dos nossos computadores.
Cuidado! Que ninguém ouse dizer que aqui não há luz, mas no palácio do rei tem, ou de outro qualquer reinante, porque vai parar na prisão por difamação. Já aconteceu com uma cidadã no condado de Ejíu.
A segunda fraude eleitoral também já é consumada. A não extensão do sinal da Rádio da Confiança Tchavola por toda a Jingola. Eleições organizadas e controladas por corruptos, são livres e justas?

Pagamos a água e a luz que não nos fornecem. Agora querem que paguemos os serviços da recolha do lixo deles. E o dinheiro do petróleo em poder dos corruptos?
Nas fazendas dos Gambos e noutras áreas os vencimentos são de mil e quinhentos kwanzas com direito a água esverdeada, podre.    Quem está por trás disto? Membros do governo e estrangeiros. O padre Pio Wakussanga também denunciou que os donos das terras são surrados para lhas roubarem. São membros do governo, e isto prova que Jingola está sem governo, não existe, já caiu.

E um economista, ele sabe lá o que isto é, bajulador disse que em Angola não existe pobreza.

E os bancos servem para quê?! Comandam a espoliação e a corrupção no reino Jingola.

Os Tsin não têm contractos com Jingola, é com o Almoxarifado militar do reino. Isto é: estão ilegais, porque o almoxarife não é o Estado Jingola. Os Lordes não gostam de pagar a ninguém. Meses, anos de vencimentos em atraso, claro, não pagos. Mas os rendimentos do petróleo nunca falham, caiem sempre nas suas contas bancárias a tempo e a horas. Deveriam de imediato responder num tribunal especial, porque o deles não funciona, só julga a seu favor. Não está mais que na hora de lhes congelarmos os vencimentos ilegais? E mais tudo o que lhes pertence ilegalmente? Em Jingola os Tsin têm ordens para matarem, porque a polícia não consegue capturá-los. Isto é suspeito, pudera, eles são funcionários do Almoxarifado Militar. Todos dependemos uns dos outros, mas os Lordes não, dependem das riquezas milionárias do petróleo. Todas as fortunas de Jingola são ilícitas.

Quando há a possibilidade significa que não há a certeza. E quando é um político que o afirma, a nossa vida vai ficar miserável. É sempre a população que paga pelos erros políticos. Só não se compreende, e é injustificável que esses políticos saiam ou permaneçam no governo e nenhum é preso. Vivem felizes das pensões mensais instituídas, e o povo para conseguir comprar um pão, sobem-lhe o preço justificando que são necessários ajustes económicos para combater a crise deles.
Falam da necessidade da imposição de testes psicológicos na admissão de empregados bancários. E para os governantes não é necessário? Podem os miseráveis jingolas fazer poupanças bancárias? Quando a população não confia nos bancos é porque o governo não é confiável.

A Constituição garante-nos muitos direitos, mas na prática somos apenas presenteados com um: a repressão.
Porque é que muitas empresas em Jingola não mencionam o seu email? Ainda usam o fax. São empresas piratas ou vulgar sacanagem que não se querem expor, isto é: a corrupção do sigilo absoluto?

A situação continua a deteriorar-se. Há a intenção clara de silenciar qualquer de nós que critique seja o que for do regime que se quer eterno. Os Lordes preparam-se para intervir na rede social Facebook, onde se denunciam todos os actos praticados no seu reinado de corrupção. É evidente que isto será possível quando o Facebook for uma ditadura. Mas, quando é que as contas bancárias dos nossos corruptos são congeladas? Mas os esfomeados de Adnibak ao Enenuk revêem-se na Constituição unipessoal dos Lordes? Se os Lordes continuarem muito tempo no poder, Jingola ficará na instabilidade permanente. E vamos sempre colocar a pessoa certa no lugar errado. Os Lordes não são um partido político, são uma companhia petrolífera.

A seara do Senhor é grande, mas a miséria em Jingola é vastíssima.

Manos e manas! Acautelem-se com as seitas e as falsas igrejas. São como os Lordes que nos prometem a cura dos nossos males. Tudo afinal é mentira, vigarice. Os Lordes noticiam nas rádios e televisões deles que a luta contra a pobreza tem resultados positivos. Será que já venderam tudo aos Tsin e ninguém sabe?
Como é possível uma sociedade suportar tanta vigarice, tanta corrupção? Este governo é como uma instalação eléctrica sem fusíveis. Todas as decisões, todo um reino, todo um povo, tudo a depender da vontade e dos caprichos de uma só pessoa, o Rei. Por este andar ainda vamos fluir no Sudão.
Imaginem que estão num campo de concentração, o que no nosso caso é um facto consumado, internacionalmente aprovado e certificado, e que desejam fazer uma manifestação de protesto contra as condições desumanas dos Lordes. Acham que o comandante do campo de concentração lhes vai autorizar? E os Lordes libertaram todos os demónios do inferno sem excepção, não ficou lá nenhum, e os soltou em Jingola. É por isso que a nossa vida está demais, está demoníaca. Estado do Mal, que se sente felicíssimo no arrastar da nossa miséria.

Derrame de petróleo faz peixe escassear no condado de Adnibak.
O mais importante é o petróleo e a sua poluição, e a repressão sob a população.
E contudo ela, a verdade da miséria move-se. Até o acto de ser cidadão jingola já é um crime contra a segurança do Estado.

Jingola é o estaleiro/oficina dos Tsin?
Receio que no futuro o jingola esteja confinado numa espécie de jardim zoológico como atracção futurista. O governo a trabalhar/espoliar e Jingola a desmaiar. A implantação da democracia é um processo difícil, de longa duração. Pelo contrário, a ditadura implanta-se facilmente, sem problemas de maior, é o sistema político ideal de governação e com magníficos santuários/prisões para as peregrinações das multidões. E se a oposição não promove manifestações é porque apoia os interesses das potências estrangeiras, existirá melhor explicação que esta?

Jingola é uma cidade onde à noite as pessoas parecem que se transformam em cães. E a nova Constituição de Jingola garante-nos um tecto, uma habitação condigna … numa tenda.


quarta-feira, 28 de março de 2012

SONHO DE UMA NOITE TROPICAL (17)


O Presidente inicia um monólogo:
- Nós vimos como em vários serviços, em várias repartições públicas havia atitudes que coincidiam perfeitamente com as atitudes dos fracçcionistas. Nós vimos que foi utilizada uma determinada estratégia e que eram determinadas tácticas. Indivíduos que evidentemente se mostravam muito amigos do Movimento, muito militantes dentro do Movimento, no fundo faziam trabalho contra o MPLA. E os estrangeiros que não foram capazes de fazer a Revolução na terra deles, vêm fazer a revolução em Angola. É fácil, aproveitar o descontentamento, o difícil é revolver os problemas. É fácil criar obstáculos, o difícil é dirigir um processo revolucionário. Não podemos por exemplo, ter numa empresa, grupos de acção que não tenham autoridade política junto das comissões sindicais. Isto não pode ser, e se acontece, a única coisa que nós podemos fazer é dissolver as comissões sindicais. A orientação tem de ser do MPLA. E vamos seguir esta linha firmemente. Que não haja organizações paralelas dentro do País. Quem comanda aqui em Angola é o MPLA.
Todos tem o direito de reunir, desde que os objectivos sejam justos, e desde que estejam completamente controlados por qualquer organismo do MPLA. In Agostinho Neto. 12 De Junho de 1977. Discurso sobre o fraccionismo
O Branco pega nas palavras do Almirante:
- Para instituir o poder popular em Angola, era necessário correr com os brancos. Dizia-se que eles não eram necessários, porque quem construiu o país foi o trabalho escravo. Por isso os colonos não faziam falta nenhuma. Ficar sem quadros, sem oposição, não é independência, é dependência, porque se depende em tudo do exterior. Os países que apoiaram…
- Restam alguns. China, Cuba, Coreia do Norte, Zimbabué... – O Vodka interrompe:
- O nosso problema é os poderes paralelos que são muitos. Um deles até constrói casas. – Afinou o Vodka.
- Partir casas, porque não existe um programa para a sua construção. No tempo do fascista Salazar construíam-se casas para pessoas de poucas posses a pagar em vinte anos. – Lembrou o Branco.
- Faltam-nos os investimentos nas províncias. Esta situação terminará com a construção do caminho-de-ferro, que deveria ser o primeiro investimento. – Alertou o Almirante.
- Acho que acabámos o colonialismo, começámos um feudo. Retrocedemos se assim se pode dizer. – Argumentou o Poeta.
- Ainda estamos a sofrer os efeitos da Revolução Francesa. Não é possível acreditar no que nos está a acontecer. A África é o continente onde cada governante debica o seu bocado. – Asseverou o Vodka.
A esposa do brigadeiro acaba de chegar, provavelmente de uma festa. O segurança solícito dá-lhe protecção. Um ndenge com cerca de oito anos aparece-lhe à frente. Ela grita para o miúdo:
- Sai daqui seu selvagem, deixa-me passar!!!
Ninguém gostou do que ouviu incluindo o segurança. O Almirante refila:
- Faz algo de útil na tua vida. Coloca um recipiente com água e outro com arroz, no teu jardim ou na janela. Verás a felicidade de um passarinho. Mas nunca o tentes apanhar, e faz o possível por não o assustares.
- Estamos no mundo das trevas. – Troou o Poeta.
E continua com o sangue quase a ferver:
Neste campo de concentração global/ Vejo apenas os carros passar/ Árvores e algumas flores/ E de dia e à noite contento-me/ Em olhar para o céu/ Parece-me que nada mais resta.
Depois de mortos, ainda continuamos vivos/ Porque somos um bom negócio/ Damos vida ao mármore e a madeiras/ Que estavam mortas, à nossa espera/ No esfregar de mãos ávidas afirmando/ Quantos morreram hoje? Mais do que ontem? / Que bom negócio! Estamos ricos! / Oh! Como adoro a morte!
O Almirante lembrou ao Vodka que:
- Uma empresa para sobreviver tem que ter apoio de alguém do regime.
Na festa que decorria subiram o som da música. Tudo tremia.
- Não se pode estar tranquilo em nenhum lugar. É impressionante o barulho da música, e não lhes faz doer a cabeça. – Lamentou o Poeta.
- Já a perderam. – Censurou o Branco.
- Não se esqueçam que estamos numa nova vida. Como passamos o tempo distraídos em festas, os estrangeiros aproveitam e neocolonizam-nos. – Lembrou o Vodka.
- Estamos muito gratos aos nossos amigos do movimento para limpar almas. – Agradeceu o Poeta.
- No dia da independência estávamos todos contentes. Agora estamos tristes. Não sabemos o que queremos. – Louvou o Filósofo.
- Queremos beber, queremos ser escravos da bebida. – Libertou o Hepatite.
- Almirante manda-me descansar!
- Descansa Mig.
O Branco sentia tonturas na cabeça. Devido a isso teve uma grande ideia:
- Vou-me candidatar à presidência da república. O meu programa é o seguinte: Primeiro, carregar com os desempregados, desempregadas e prostitutas para os campos. Fazer um grande canteiro agrícola. Segundo, acabar com a corrupção. Para isso criarei uma empresa de segurança armada com tanques e helicópteros apache.
Terceiro, acabar com o alcoolismo.
- Acabar com o quê? Ninguém te vai votar. – Protestou o Hepatite.
- Viva a gloriosa revolução de Outubro. – Gritou o Hepatite.
- De Novembro. – Corrigiu o Poeta.
O Hepatite sente um grande entusiasmo invadir-lhe o cérebro:
- Vivam os nossos Poetas e Escritores revolucionários que nos libertaram. Nunca li nenhum deles, excepto o Lenine, e um bocadinho do capital do Marx. Memorizei algumas frases. Quando alguém falava, dizia: o capital é a obra capital de Marx. De Lenine: que seremos a união das republicas socialistas mundiais. Uma pátria de colectivização, sem propriedade privada. Mas o que era meu, não queria distribuir com quem quer que fosse.
- Estamos a distribuir e a construir muita coisa. Quase todos os dias há inaugurações. – Injuriou o Poeta.
- Estamos a construir miséria. – Ofendeu o Filósofo.
- Não podemos construir um país com analfabetos, corruptos, bêbados e prostitutas. – Violentou o Branco.
- Se falasses assim para mim partia-te a cara. – Vangloriou o Vodka.
- Vou-te provar que és analfabeto. Onde nasce o rio Kwanza?
- No Banco Nacional, e desagua nos bolsos de alguns dos nossos governantes.
- Quem foi o fundador da Igreja de Roma?
- Constantino o Grande.
- Quem foi o segundo Jesus Cristo que Deus enviou à Terra?
- Einstein.
- Desculpa, afinal não és analfabeto.
- Vamos beber o da porta, depois o do pátio, o do portão, o do gradeamento, o do segurança e o da rua. – Acelerou o Hepatite.
O Almirante tinha o olhar fixo na garrafa de uísque. Achou que devia dizer qualquer coisa:
- Como seres humanos somos muito frágeis, porque dependemos de tudo o que a natureza nos oferece. Contudo destruímo-la sistematicamente. É por isso que ela se revolta. As antigas civilizações tinham-lhe muito respeito, muita admiração, até falavam com as árvores. Nas florestas existia harmonia com os duendes e fadas. As florestas tinham vida, tinham deuses e deusas. O Cristianismo tinha que acabar com os pagãos, e ajudou a acabar as florestas. Os maus seguidores do Cristianismo tinham e tem na mente, apenas uma coisa: Destruir para lucrar. Não se pode ser cristão sem lucro. Destruir a Natureza em nome do Cristianismo. Esta é uma ideologia que não devemos seguir.
O Almirante fez uma pausa, bebeu uns goles e prosseguiu:
- Nessa igreja que agora inventaram a do Adão e Eva, entram todos nus. O pastor ordena para fecharem os olhos. Uma crente abriu-os e viu uma serpente no altar, donde da sua boca saía muito dinheiro. A crente morreu não se sabe como.
- Amigo do copo é o meu melhor amigo. Até digo que o meu pai é o outro, o outro copo. – Disse o Hepatite.
- Um país geneticamente bêbado incomoda muito. – Causticou o Branco.
Imagem: "A marca de florestas degradadas (parcialmente destruídas) é de 541 km² em ...
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terça-feira, 27 de março de 2012

O CAVALEIRO DO REINO PETROLÍFERO (01)


Jingola é muito grande, mas mesmo assim não chega para todos.
Existem reinos que por vontade própria regressam, vivem, revivem, convivem na Idade Média. Este é um desses reinos.

Reino Jingola, algures no Golfo da Guiné.

Capítulo I
O Cavaleiro Epok

Sempre para as mesmas almas, a Terra continuará plana, centro do Universo e com apenas seis mil anos de idade. São estas almas de nobreza quadrada, fugitivas do redondo, que conceberam um potente imã que atrai da terra Jingola todas as riquezas para seu exclusivo proveito. Protegidos por pretores que aniquilam as reivindicações dos servos da gleba, a escravidão há-de ser, eterniza-se, democratiza-se…propaga-se.
Enquanto nas ruínas dos prédios e dos casebres, os baldes de águas nojentas voam na mais perfeita anormalidade, e se espalham, derramam no solo as epidemias da contemplação visual, do desenvolvimento económico e social do futuro abismal, normal.
Arreda daqui, arreda dali, multidões esfomeadas revendem e furtam-se para sobreviverem. A eterna pandemia mundial, habitual, grassa-lhes como coelhos. Grassam também os modernos aventureiros escolares Francisco Pizarro, Hernan Cortes, e Diego de Almagro, atraídos pelo brilho das pedras preciosas, e pelos vapores petrolíferos.
O rei e a rainha desconcertaram-se do aconchego da corte celestial, rumando ao encontro dos seus súbditos no condado de Viana. Com eles avançaram festejados mosqueteiros em trajes de gala, muito rendados, montados em cavalos bem aparelhados. Reluzentes, luzidios arreios trabalhados em prata, onde se destacam alguns ornamentados a oiro.
Aperram-se os mosquetes, porque os súbditos desordenados teimam, desafiam o rei.
A secreta real receia que os insubmissos súbditos pretendam implantar os ideais republicanos da França e dos Estados Unidos da América. Os espiões reais têm fortes suspeitas que o revolucionário La Fayette navegue várias naus em apoio dos Jingola, que já tomaram pouso na incipiente democracia.
O casal real acaba de descer do luxuoso coche estilo D. João V. O soberano faz um leve gesto de cabeça. Aproximam-se alguns liteireiros que repousam uma liteira doirada, onde a rainha acostará. Da praxe floreiam-se inúmeras vénias e beija-mãos dos inúmeros marqueses, condes, condessas, duques, duquesas, enfim toda a nobreza.
O rei avantaja-se para a plebe muito curiosa, porque raramente vêem o soberano em público. Querem-no ver pessoalmente, provar que ele existe. Mas, a plebe constringiu-se a estar presente pelos zelosos mosqueteiros.
A plebe confunde-se, não sabe se dar boas-vindas. Há receios de qualquer gesto ficar incompreendido. Pelas traseiras, vários mosqueteiros agressivos picam-nos com as pontas das espadas.
A plebe uiva de dor. O rei entende que é saudação e retribui. Os críticos afiam as línguas, conspiram, murmuram.
- Não foi muito elegante sua alteza inaugurar fontanários, e fazer entrega das chaves de alguns casebres-estábulos a elementos escolhidos da plebe.
- É… esqueceu-se dos cavalos, da água e das velas. A água continuará a vir do reino carregada por aguadeiros. A luz de vela é um luxo, e só os protegidos do rei a ela têm acesso.
A boçalidade natural e o investimento no analfabetismo, criam seres inimagináveis. É atroz, desumano, viver quotidianamente com tais almas fugitivas do inferno. É o regresso ao primitivismo alucinado, sem paralelo na História.
Valente, garboso, destemido, assim se move o protegido do rei. Epocal como Lancelote, faz época o cavaleiro Epok. Agrada-se, galanteia-se para a rainha. A soberania estende-se astral no camarote real, aguardam pelo torneio medieval.
Os corpos da plebe agitam-se como plantas ventosas em matagais. Expressam-se descontentes porque esperavam grande maratona de comes e bebes. Grandes, graves trombetas anunciam a justa. Parecem-se com o troar de canhões, que ecoam até ao Paço. E a populaça assusta-se, relembra tempos idos. Convictos que o reino retornou à guerra, ao passatempo habitual da corte, que é guerrearem-se por causa dum líquido negro. Que anda muito cobiçado por poderosos reinos, que constantemente enviam embaixadas e navios carregados com moedas valiosas e um novo dinheiro de papel.
Então, os acólitos reais afirmam categoricamente que o reino é um dos mais desenvolvidos do mundo, apesar de ninguém querer explicar o porquê da ralé estar tolamente, totalmente desempregada e esfomeada. Evidentemente que no reino ninguém trabalha. Vem tudo de fora. Importação é a palavra que mais se pronuncia, como se fosse um dicionário com uma só palavra.
O reino Jingola submete dezassete vice-reinos, governados por vice-reis. Limita-se a Norte pelo condado do Cacuaco, a Sul pelo condado da Nova Vida, a Oeste pelo Mar de Kalunga, e a Leste pelo condado de Viana. A arraia-miúda ocupa-se principalmente em vender qualquer coisa, incluindo se necessário, as filhas. A ocupação secundária do povo deste reino são as maratonas de comes e bebes que chegam a durar três dias e três noites, ou semanas. As lutas e desavenças são constantes, mas os mosqueteiros do rei estão sempre atentos. Qualquer manifestação da populaça é contrariada por cavalos e cães, habilmente treinados pelos mosqueteiros. Muitos arruaceiros já experimentaram mosquetadas e dentadas caninas, mais que afiadas.
As trombetas reais quando sopradas, parecem tempestade de trovões, confundindo-se com canhões. Um cavalo empina-se, o cavaleiro despede-se da montada e encontra a vulgar sela convidativa do solo. A ralé frenesia-se, lembra-se da cruel violência recentemente terminada dos irmãos desavindos. Surgem as imprecações:
- Fujam! Não ouvem o barulho dos canhões?!
Uma velha aldeã com um pesado fardo de feno para alimentar os cavalos tropeça, cai. Levanta-se a coxear, corre como pode, arrasta a perna ferida e o peso da idade. Grita:
- Aiuéééé!!! É outra vez mais guerra! Vêm aí guerra!
- Desta vez é aonde?! Mais aonde?!
Fingem-se assustados, desorientados, aparvalhados. A multidão de esfomeados e esfarrapados ruma na direcção do coche e liteira reais. Conseguem descascar pedaços de oiro. Como piranhas, em poucos segundos os veículos reais quase desaparecem. Restam-lhes os esqueletos. Sobraram pedaços de uma roda. As ferraduras dos cavalos não escaparam. Servirão de amuletos para os feitiços.
O rei engole em seco, descruza as pernas, recompõe o casaco, transpira o peito desconsolado, comprime os lábios, impacienta-se, e chama o chefe dos mosqueteiros.
- Quem agitou, desambientou-se do ambiente?
- Ninguém, meu rei! Assustaram-se com o barulho das trombetas.
- Chama-me o trombeteiro real. Já o preveni que esse barulho é demais. Ele disse-me que desconfia do vírus das trombetas. No palácio não se sossega, quase não consigo repousar. Para audiências de embaixadas e embaixadores, ordenei construir um Petit Trianon. Esse louco trombeteia-me a cabeça.
- Que devo acrescentar meu rei?
- Acaba com a arruaça… caça os gatunos das carruagens reais. Quero o culpado. E até novas ordens estão suspensas as desordens das malditas trombetas. Substituam-nas por latas… por algo que não faça barulho.
- Meu rei, prosseguimos com o torneio?
- Sim, embora saibamos de antemão que somos sempre vencedores.
- Somos os melhores, meu rei!
- Ala-te, larga-te!
O cavaleiro Epok alista-se para a liça. É o cruel paladino, opressor das massas cinzentas, anti-manifestações, antídoto anti-tudo. Altaneiro, contempla a soberba nobreza, que suavemente o aplaude. A rainha anseia pelo seu estandarte pessoal. Uma princesa, filha dos reis acerca-se. Está de trombas. Senta-se bastante afastada dos pais. O cavaleiro Epok empertiga-se, sente-se dono da bola, cavaleiro de Carlos Magno. Impacienta-se, porque não vê nenhum adversário. Não descobre que faz figura de parvo, agenda sem consenso, comité de especialidade. Tem que mostrar que o seu partido é o melhor, sempre da maioria.
- Não há cavaleiro neste condado que me enfrente nesta justa?
Depois dos tumultos, coisa normal no reino, a multidão fez entrega do que roubou. Os mosqueteiros aproveitaram-se e roubaram-lhes tudo o que podiam carregar. Os paspalhões forçaram-se a regressar á plateia, antes que o rei se zangasse e exercesse mais represálias.
Não se ouviu viva-voz ao repto do cavaleiro Epok. Renascem-lhe insultos grandiosos.
- Alguns baladistas cantam que sois um povo heróico, generoso, corajoso e vitorioso…cambada de medrosos! Não tendes uma merda dum cavaleiro para defender a vossa honra e do condado nesta liça? Desafio o vosso conde. Conde… onde estais?!!!
Nem a leve aragem estremeceu, ninguém correspondeu. O cavalo de Epok habituado a armar e criar confusão, agita-se, enerva-se. Levanta demasiado as patas dianteiras. Epok surpreendido quase se desmonta. A multidão de idiotas faz ricochete.
- Arre, cavalo! Arre, cavalo!

Capítulo II
O Cavaleiro La Padep

Como vindo do nevoeiro surge um cavaleiro com armadura vermelha e preta. O tecido do cavalo tem as mesmas cores. A multidão pára, suspende-se. O rosto esconde-se no interior de um elmo. O rei comenta:
- Já vi estas cores… não sei donde.
A rainha atenta desperta-lhe a atenção:
- Meu senhor, estas cores são da nossa bandeira.
- Parece-me que já as havia mudado.
- Não meu senhor, continuam as mesmas... na mesma.
- Lembrai-me senhora minha, para as renovar. Estas cores são lúgubres. É por isso que o meu povo sempre se entristece, se revolta. São cores agressivas.



segunda-feira, 26 de março de 2012

BWALA PRESS


E se a miséria fosse um partido político?
O que prova que a política não é uma ciência, mas a arte do embuste.
Durante milénios o ser humano inventou vários sistemas políticos e económicos para se manter no poder. Actualmente domina-nos com o seu mais recente invento: a democracia.

Escaparam vivos do assalto
Luanda, 14 de Março, cerca das sete horas. Duas motas rápidas param em frente ao minimercado Pomobel, próximo do largo Zé Pirão. Delas desmontam quatro jovens muito bem vestidos. Um deles vem com o telemóvel no ouvido, aproxima-se dos seguranças, entra no prédio ao lado, dá-lhe uma vista de olhos, espreita para dentro da Pomobel, aproxima-se de dois seguranças que estão em conversa com uma jovem funcionária da Pomobel que aguarda a abertura do estabelecimento. O jovem do telemóvel diz para alguém imaginário, que está tudo bem, isto é, ele está a fingir que fala, ele está a fazer reconhecimento ao local para iniciar o assalto, e de súbito um outro jovem encosta uma pistola na cabeça de um segurança e ameaça-o sem contemplações: «Não te mexas, senão disparo!» Suspeitando que a jovem era uma kinguila, puxa-lhe a pasta que afinal só tem quinhentos kwanzas, o vestuário do serviço e põem-se em fuga. E a jovem muito desalentada, desiludida pergunta aos seguranças: «Não fizeram nada, porquê?!» «Então não sabes?! Estamos desarmados! E mesmo que estivéssemos com armas, eles matavam-nos. Temos muita sorte de ainda estarmos vivos.» Diz o outro segurança: «Mas, eles não pareciam bandidos, estavam com boas roupas, pareciam clientes, ou o quê.»

Kinguilas assaltadas
Luanda. 09 de Março, cerca das 10.00 horas na zona da Discoteca Valódia. Assaltantes vindos de carro fizeram limpeza geral nas kinguilas. E tudo eles lhes levaram, lhes assaltaram.

Assaltos nos prédios
Launda, 09 de Março. Moradores dos prédios no São Paulo, junto à Rádio Ecclesia, estão a ser colocados, assaltados quando sobem as escadas. Os assaltantes fingem que vão subir como se fossem visitar alguém, mas na realidade param, e esperam para fazerem emboscadas aos moradores.

A alternância do poder
O jovem Nekas conserva a profissão que o Poder lhe decretou. Há quase quarenta anos que os mwangolés estão isentos de empregos, porque são subsidiados pelos rendimentos petrolíferos, só que até agora ainda não receberam nada porque as suas dotações têm sido sistematicamente desviadas, aliás como tudo o mais, de qualquer modo, empregos só existem para estrangeiros, então o Estado decidiu, e muito bem, a criação de milhares, ou milhões (?) de empregos para lavadores de carros. É um expediente fácil, não necessita de cursos nem de concursos públicos para admissão, e concede dignidade aos jovens mwangolés. O Nekas é lavador de carros praticamente desde quase que nasceu, como muitos órfãos, ele também o é, ficou assim devido à gloriosa guerra de libertação nacional, primeiro contra o colonialismo, depois contra o imperialismo e seus agentes internos, depois a favor da corrupção, e agora contra o povo. São dessas guerras que fabricam órfãos, mais nada. O Nekas, conseguiu na entrada de um prédio arrumar casa, isto é, uns vulgares papelões que lhe servem de cama, de lençol e cobertor. Dorme, conservando sempre um pequeno saco nas costas onde guarda as economias, que raramente lhe sobram pois que todo o dinheiro que consegue é para comprar aquele uísque dos saquinhos de plástico, e uma liamba de vez em quando que lhe arrastam para aquele paraíso de algumas horas.
O Nekas está em plena actividade laboral: na mão com um pano encharcado em água e um coche de detergente, estica o braço o mais possível, como se fosse elástico, se calhar até é, para conseguir atingir os locais mais distantes do carro. Esfrega, esfrega, vai esfregando. Pára, não está cansado não, olha para uma moradora do prédio onde ele tem a sua casa improvisada. Ela carrega, abastece o seu carro com as bagagens, comidas e bebidas para bater mais uma bruta praia. É amante, são muitas, muitas, de um bosse da Sonangol, que graças a essa condição conseguiu lá com muita facilidade um emprego. O apartamento ficou apenas por quinhentos mil dólares. E do seu apartamento descem mais coisas, incluindo o insulto da ostentação da riqueza. O Nekas não se contém e sabendo que as manifestações estão proibidas, e quando alguém tenta manifestar-se nesse dia chovem barras de ferro, mas ele não receia, manifesta-se, revoluciona: «Filhos da p…! cabrões de m….! vão para a p… que os p…. ! Eu vou votar no Samakuva!» A amante e o seu bosse preferiram colocar cadeados nas suas bocas, acabaram de carregar o seu carro e lá foram passear o luxo do esbanjamento da Sonangol na praia.

A limpeza no Banco Millennium Angola
Do nosso correspondente: 16 de Março, a meio da manhã.
Ouve-se uma voz muito agitada, alterada, como uma pessoa possessa pelo demónio. Abro a janela, mantenho-a sempre fechada devido ao gerador, ele é como este banco: tem ordens para nos matar. E o que vejo? Um branco, português, com três mwangolés, todos da TDA – Teixeira Duarte Angola, um mwangolé com uma mangueira dirige o jacto de água para um dos dez ares-condicionados para a sua lavagem. Os gritos demoníacos do português ouvem-se distintamente: «Aponta a mangueira para ali, porra!!!» E sempre na mesma toada: «Lava agora este, aponta-lhe a mangueira!!!» Um dos mwangolés retira o filtro de um ar-condicionado, passa-lhe com o jacto de água e o português: «Põe-lhe a mangueira agora por cima, agora por baixo.» Foi necessário importar um português para dirigir a lavagem de ares-condicioandos com uma mangueira, e aqui chegado, já é chefe, neste caso: chefe da mangueira da água? O Banco Millnenium Angola é da família TDA, Sonangol e Isabel Santos. Tem a sua sede em Portugal onde lava os dinheiros da corrupção de Angola, logo está muito à vontade para nos matar, com ou sem barras de ferro.

Banco Millennium Angola, um banco dos três crimes.
Este banco abriu uma agência na rua rei Katyavala, em frente à ANGOP, espoliou o terreno, instalou um super gerador nas traseiras do prédio e deixa-o ligado mesmo com a energia eléctrica da rede, o barulho é demais, e o fumo tóxico é mortal, 24/24 horas como convém a esta má espécie de lobisomens, que nada têm de gente, claro. Porque não mandar já lá as milícias com as suas barras de ferro e acabarem com a manifestação arruaceira deste banco? A nossa fonte garante-nos que para dormir têm que fechar as janelas, senão acorda-se morto. Com tantos biliões de dólares à disposição, a loucura é de tal ordem que só pensam em matar-nos? É só criminosos à solta?

Não acredito nas alianças populistas de Abel Chivukuvuku. Essas coisas das conferências de imprensa, é bonito falar na rádio, não dá, na rua é que dá, mas o povo cheira mal, e para quem está bem perfumado, não dá, fica deslocado. Um político tem que estar na frente das multidões, arrastá-las, comandá-las, sem isso nada feito. Alimentar alguns irresponsáveis que não tem noção do que é fazer política, ninguém lhes vai ligar, a não ser que façam comícios junto dos mercados putrefactos, e aí sim, as multidões das populações de vendedores acreditarão. Senão, ficam como os pintainhos perdidos que a mamã galinha por mais que se esforce não os encontra.
Estes são novos tempos, de políticos que demonstrem às multidões que estão com elas, ao lado delas. Fazer, ser político, requer inteligência e sobretudo audácia política, o que me parece não é o estatuto de Abel Chivukuvuku e dos seus palacianos. Esses discursos de 1992 de nada adiantam. O que necessitamos é de uma arma moderna que nos defenda e destrua as barras de ferro.
O ditador durante as dezenas de anos de usurpação do poder sempre garante que o bem-estar das populações subjugadas e espoliadas está para breve. Mas as suas forças policiais e políticas arremetem contra qualquer um que reclame pela simples falta de água, extenuando assim a miséria dos farrapos político-sociais, anunciando que o fim do ditador e dos seus bajuladores, sempre muito frágeis, velozmente se aproxima.
A luta contra o colono uniu Angola e os angolanos. Agora, profundamente unidos outra vez estão, contra a ditadura dos libertadores dos novos colonizadores.
Pelo intenso movimentar dos corruptos, em breve acontecerão mudanças na designação do xadrez político-mundial a saber: Organização das Nações Unidas da Corrupção, Estados Unidos da Corrupção, Comunidade Europeia da Corrupção, Mundo da Globalização da Corrupção, Organização da Unidade Africana da Corrupção etc, ?

domingo, 25 de março de 2012

Março da mulher e das barras de ferro. Voltaire Ngola


Sem petróleo
dia internacional da mulher
tirar à mulher, como à criança
o petróleo, o mal que se lhe quer
O que elas merecem
só tendas, zangos, casas partidas
palácios, isso não
e nesta propriedade privada
se insiste
só a mulher da OMA
existe

Esta república é famosa
tem a mulher mais formosa
e os poços de petróleo
que coisa lhe mais danosa
Mulher também é petróleo
para dela se extrair
nem o perfume petrolífero
a faz florir, sorrir

República de Luanda de Angola
ou república de Angola de Luanda
inviabilizou-a, a corrupção radical
só a mulher da OMA manda
Nos barris de petróleo
da nossa agricultura à toa
e na Comissão Nacional Eleitoral
lá está, mas destoa

O maior erro político de uma nação
é desempregar a sua população
feminina
Mas que sadismo! É dia da mulher
ou mais um dia de prostituição?
ou mais uma mina?

E deste caos jamais sairemos?
(Lembrando Augusto Gil
1873-1929)
Sobe, sobe, lentamente
como quem chama por mim
a água não é certamente
porque a água não sobe assim
Então o que será?
hum, a luz também não é
porque a luz é do Zé
o que será?!
só um corrupto o saberá

Minhas senhoras e meus senhores!
o TERROR está declarado
nas milícias dos terrores
o TERROR está instalado
E quando numa nação
já nada há a fazer
porque só há o temer
e vai acontecer
a nação Angola vai desaparecer
alguns contra todos
é isso, vamos-lhes sobreviver
vamos-lhes vencer

quinta-feira, 22 de março de 2012

SONHO DE UMA NOITE TROPICAL (16)


- A solução final. – Pediu o Poeta.
- Não, o combate mortal. Inicialmente são quatro descontentes, depois doze, trinta, até que atinge as forças armadas, devido aos laços familiares, à mina do descontentamento. Depois criam-se ilhas. Como o país é tão vasto e tão rico, então cada potência aproveita e apoia o seu protegido. E aí acaba-se tudo. É a divisão final do combate mortal. – Esclareceu o Almirante.
- Acho interessante notar que ninguém se preocupa em guardar seja o que for para os maus dias. Vive-se o dia de hoje, o amanhã não existe. É a tradição que não volta. – Testemunhou o Branco.
- Tudo está vazio, sem conteúdo, sem beleza. – Angustiou-se o Vodka.
- A beleza é para apreciar, não para usufruir. É por isso que os melhores tesouros de arte estão enclausurados. Foram-nos roubados em nome do terrorismo artístico. – Lembrou o Almirante.
- Se um cristão pode matar em nome de Deus, um islamista não? É assim que nasce o terrorismo em nome do Islão, ou não é? – Qualificou o Poeta.
O Vodka encosta-se ao Almirante e segreda-lhe no ouvido:
- Vou entrar no negócio da construção civil. Apresento-me como engenheiro e pronto. Ninguém me vai perguntar. Até lá se houver mais uns anos de guerra ganha-se umas massas, e servirá para financiamento das futuras actividades. Vou demolir casas e construir condomínios.
- As demolições de casas são sempre feitas em nome de um deus desconhecido. Sempre no silêncio cúmplice sem antecipação informativa. O que revela a ilegalidade do acto. A especulação imobiliária é um negócio dos novos-ricos, que existe na cidade capital de um país que tem terras sem fim, até ao fim do mundo. Uma pesca onde o peixe não falta.
O Vodka e o Almirante entram num diálogo a dois. O Vodka opõe-se:
- As empresas de pesca estão na falência técnica e financeira. Misturam a inconveniência da dúvida do apoio bancário. Os bancos não investem em dualidades. Só as novas igrejas o fazem. Algumas delas investem em qualquer princípio dúbio. Um banco não.
- Uma das coisas horríveis que existe, e persiste, é a escravidão da superstição que alguns sacerdotes teimam no uso de extorquir dinheiro a pobres crentes, para financiar as actividades empresariais dessa monstruosidade clerical, de algumas igrejas devido aos erros da igreja de Constantino.
- Somos os inauguradores constantes do subdesenvolvimento dos investimentos estrangeiros da cerveja e refrigerantes. O monstro adormecido, pacificado pelas quantidades de álcool que fabricamos e importamos.
Um automóvel passa a grande velocidade. O Pragador excita-se:
- Vai bater… não vai bater!
- Atravessar uma rua é pior que a selva. – Comenta o Hepatite.
- Porquê? – Perguntou o Pragador.
- Os animais humanos não conseguiram ainda minimamente aprender o comportamento dos animais selvagens. Quem atravessa uma rua arrisca-se a ser devorado por uma armadura humana, que se chama automóvel.
O Almirante vê o foco de luz que sai da mão do Filósofo. – Impressiona-se:
- Aí está a nossa verdadeira essência. Anda sempre com uma lanterna acesa a imitar o filósofo grego Diógenes. Este nosso amigo anda à procura de um governante honesto.
- Já fomos portugueses, cubanos, russos. Agora vamos ser chineses. Vamos ser babelizados, uma república de babel. Já abundam os nomes como: Elizabeth, Odeth, Judith. – Ilustrou o Poeta.
Não, não é o país possível, é o país impossível para viver. De tal modo que os novos-ricos enviam as esposas grávidas para Portugal. Renegam a Pátria que juraram defender. – Enfastiou-se o Branco.
As mulheres estão em pânico. Param as vendas, preparam-se para a fuga estratégica. Entretanto surge em cena um fuzileiro que ameaça com uma granada a quem não lhe der cerveja. O Almirante aproxima-se dele e cumprimenta-o:
- Boa noite fuzio.
- Boa noite chefe.
- Ó fuzio, o que é que queres?
- Beber cerveja, não tenho dinheiro.
- Está bem, vou pagar-te duas. Guarda a granada e vai-te embora.
O Fuzileiro guardou a granada, carregou as cervejas e retirou-se calmamente. O Almirante exclama:
- Vêem como é fácil resolver as coisas!
O Presidente discursa:
- No MPLA, nós somos um e temos regras para a vida da Organização. Não somos diversos. Somos um ou devemos ser um. Portanto, quando nós dizemos fraccionismo, significa que alguém dentro da Organização, dentro do país, quis formar grupos que fossem diferentes do MPLA. Ora neste país, o único Movimento que existe é o MPLA e quem defender outro Movimento qualquer, não pode ser tolerado. Devo dizer aos camaradas – agora já o posso dizer – que alguns deles, alguns que andam fugidos – ou os que estão sob investigação – chegavam às reuniões e, em vez de discutir os problemas que eram inscritos na ordem de trabalho, pegavam num livro e punham-se a ler à socapa. Muitas vezes, tinham sono, dormiam, talvez porque tivessem reuniões de mais. Primeiramente foi o grupo que se chamava «Comités Henda». Foi eliminado. Depois eram os «Comités Amílcar Cabral». Foram eliminados. Apareceram depois alguns deles, indivíduos que pertenciam a esses dois grupos apareceram numa outra organização chamada «Oca – Organização Comunista de Angola» e também foram eliminados. In Agostinho Neto. 12 De Junho de 1977. Discurso sobre o fraccionismo.
O Poeta estala a sua alma:
Mas vi a coisa mais bela da minha vida/ Os seres humanos a caminharem/ A pararem a conversarem e a sorrirem/ Uma grande mágoa me surgiu/ quando vi os seus rostos cheios de tristeza/ porque não tinham nada para comer/ Mas mesmo assim continuavam a rir/ agradecidos por ainda estarem vivos/ na luta entre viver e morrer à fome/ No último sorriso que antecede/a gratidão do acabar com o sofrimento/ Que é o sentimento de ver chegada/ A hora da libertação abençoada/
Esse proclamar final da morte/ do navio negreiro da nova escravidão.
O Almirante ordena:
- Marinheiro… vai a sotavento buscar a última carga de profundidade!
- Chefe, vamos ficar sem munições.
- Lembra-me para amanhã aprovisionarmos devidamente o nosso vaso da guerra alcoólica.
O Almirante profundou:
- Por vezes sinto-me só mas lembro-me da companhia das palavras.
- Almirante manda-me descansar!
- Descansa.
- Ai! Este poder popular da bebida. – Agitou o Almirante.

Imagem: Mr.Jones tem uma mente doentia pra sonhos bizarros.
ultrapassandobarreiras.blogspot.com



terça-feira, 20 de março de 2012

O cavaleiro Mwangolé e Lady Marli na demanda do Santo Graal (13)


Para quê perdermos tempo na procura da beleza, se ela há tantos tempos existe, e ninguém parece dar conta da chama da magia que nos move, nos envolve na cumplicidade da beleza da mulher. Ela é a Misse do Universo, que o vive e revive.

O céu escurece e a natureza enobrece, e o dia de tão escuro como que perece. Alguns suspiros de água caídos nos nossos rostos obrigam-nos a recordar, para o altar do céu olhar. Despertar-nos, que por cima de nós existe algo, e que só nos lembramos quando a chuva desliza, acaricia e beija os nossos corpos. E o acampamento dos jasmins-dos-poetas sentindo-se açoitado pelas vagas ventosas que recrudesciam teimosas, agitavam-se tenebrosas. Os resistentes troncos suportavam as ramagens que nos movimentos ondulados, frenéticos, lembravam um navio em alto-mar boxeado pelas montanhas marítimas. E a ventania redobrou de força, já se ouviam os assobios da sua orquestração. A chuva subiu e o seu tom emitiu, ao amor se uniu.

O amor começa por se esconder no segredo do silêncio dos lábios de uma mulher. No seu Universo e na sua reencarnação. Nada mais valioso existe à superfície terrena, planetária, do que a profundeza do terno sorriso de uma mulher. E quando ela está presente tudo se desvanece, o amor aquiesce. Ela é o presente de aniversário de todos os nossos dias.
Há quem o seu amor lhe alugue por algum tempo, mas ela quando nisso apercebida depressa lhe move uma acção de despejo do seu coração.
E a tragédia do puro amor em muito suplanta Romeu e Julieta.
Há sempre alguém muito, muito famoso, mas que soçobra na solidão, porque lhe é impossível viver sem amor, sem coração.
Quando o olhar de uma mulher irradia a formosura da perenidade da sua intimidade, tudo ao seu redor se extasia, se alumia, porque está muito para além da mística do amor.
Quando contemplamos mais um dia possuído de forte chuva e vimos o arrastar, na correnteza da água a se formar, um jasmim a desnortear, deixamo-nos prender pelo seu ar cândido, atraente. É assim que funciona o amor. Não o deixemos entregue à sua sorte.
Dizem que existe algures uma cidade perdida do amor, e que todos os apaixonados sentem-se atraídos misteriosamente por ela. E quem não deseja desvendar o mistério dessa cidade?
Amar é esperar serenamente que o mar finalmente se decida enviar Ulisses para a sua deusa do amor, Penélope.
E desejo que doravante todas as mulheres do mundo se chamem Penélope. E todos os homens, Ulisses.
Ela, a mulher, é, será, e para todo o sempre permanecerá, a fonte da eterna beleza do amor, onde os sedentos dele nela se banharão, se apaixonarão, e o amor jamais trairão.

Ser mulher é deparar-se com uma barata, esconder-se, agarrar-se, amarrar-se na muralha do seu amado e gritar-lhe: «Mata! Mata ela!»
Ser mulher é ser domadora num circo a enfrentar os mais poderosos leões, e chegada em casa deparar-se com um ratinho e fugir para cima de uma cadeira e gritar, descontrolar os seus pulmões: Aiiiiiiiiiiiii, socorroooooo.
Ser mulher é a impetuosidade do escapar-se ao confronto de um bandido, e muito rápida proteger-se atrás do seu amado com uma faca, entregar-lha e naturalmente: «Mata-o! Mata-o! Vá, vá, mata-o!»
Ser mulher é comprar um conjunto de sutiã e biquíni com desenhos de campos florais estampados, experimentá-los, no corpo colá-los, olhar-se no espelho e contemplar se falta alguma flor, se dormem bonitas sob os seios e sob a púbis, porque tudo na sua mente é um infindável campo de todas as espécies conhecidas e desconhecidas flores.
Por isso mesmo ser mulher é ser flor, é ser amor.
Ser mulher é passear na rua e de repente parar, e se apressar porque alguém está a vender algo, um simples saquinho com muitas flores que ela de imediato compra.
Ser mulher é ser a rosa que o seu cavaleiro imaginário lhe tenta arrancar as pétalas mas que nunca consegue, porque também o amor se envolve de espinhos.
Mulher é como um jasmim no jardim que necessita de rega todos os dias. Porque senão o seu perfume esvai-se, e ela murcha no reino da solidão.
E que nunca ninguém ouse dizer que conquistou o coração de uma mulher, porque na verdade ela é que o conquista. Ela é sempre a vencedora.
Finalmente, é importante considerar que a nossa vida só tem validade se conseguirmos obter o consentimento do amor para amar a mulher que nos acompanhará na infinita viagem planetária da nave espacial rumando ao planeta do amor.
Os suspiros da glória dos nossos intermináveis desejos temporais entrechocam-se, e quando isto acontece, o rio da nossa alma se enobrece, e o amar se enriquece, e a nossa memória não esquece.
O tempo é, pois, não infinito, mas muito ínfimo comparado com a inevitável grandeza do amor. Amar é, pois, ultrapassar os espaços dos rastos perdidos, deixados ao abandono dos tempos, mas recuperados nas nossas doces recordações. E como o destino dos nossos anseios é navegar, deixa-me segredar, onde existir génios e mar. Perante as inolvidáveis violências diárias que nos assaltam, como se os momentos fossem, são, os nossos tormentos, pouco ou quase mais nada de tranquilidade se adquire, pois até isso se compra e se vende.

Deixa-me dizer-te, sem sorrir, até o amarelo do sol das nossas tardes africanas já corromperam. E quando ao amanhecer olho para as ainda tranquilas, como se fosse um lago, águas do desaguar rio Kwanza, revive-se a aurora do regresso de Kalunga.
Lembra-te! Lembra-te de mim, e por entre o sol, as margens dos rios e do mar, encontrarei os sons dos teus passos que as memórias das areias guardaram, segredaram. A vida e o amor são como perenes florestas virgens que explodem no nosso interior e revelam as cidades perdidas, o desfolhar dos nossos universos constantemente desfeitos, mas sempre refeitos num terno e doce sorriso de uma criança.


Com generais no poder em todas as esferas da sociedade, estamos na presença de uma República da Guarnição Militar de Jingola?

Quem maltrata, destrói, arrasa, despreza, desmata, mata as florestas, as árvores e a nossa esperança de vida, o que fará às pessoas, que destino cruel lhes reserva? Quem governa tem que obedecer e respeitar as leis da Mãe Natureza, porque quem não isso fizer, a curto prazo verá o destino fugir-lhe, debaixo dos pés ruir-lhe.
E o silêncio das noites mórbidas de Jingola festeja-se no constante ribombar dos escapes das motas dos tresloucados e abandonados jovens que privatizam as ruas, já são deles, e tal como a epidemia dos que desmaiam sem motivo aparente nos aterrorizam. Os prodigiosos chefes jingolas são categóricos: «A Polícia não dorme.» Pois, só prendem menestréis, trovadores e opositores, sejam de que espécies forem. Então, a Polícia é incapaz de acabar com esta epidemia dos horríveis escapes das motas que nos infernizam as noites? Já não nos bastam os tsins com as suas empreitadas?
Um responsável da Educação ameaça demitir directores de escolas onde houver desmaios, e o que fará de Jingola se está tão desmaiada?
Em Jingola, o negócio que bate bem, que está a dar mesmo, é o da feitiçaria. O capital investido tem retorno rápido, custos insignificantes, excepto os funerais das infaustas vítimas, quando muito naturalmente as mães do feitiço afirmam sem qualquer pejo que se for necessário matam até um filho para enriquecerem. É fácil de ver que este é o negócio do século, ou melhor comprovado, do milénio. Só é pena não existir ainda nenhum banco do feitiço. Se calhar até já há, só que nós desconhecemos. E como em Jingola faz-se tudo no secretismo, é capaz mesmo de algum banco por aí ter criado já a conta: financiamento bancário para apoio e desenvolvimento do feitiço. Acredito que os juros devem ser altíssimos, é só taxar e arrecadar.
O plano da invasão estrangeira junta-se ao da exterminação do povo Jingola, que seguem em grande cavalgada. Dentro de pouco tempo ao procurarmos ruas com o nosso cândido olhar, só veremos passear indivíduos claros. Jingolas, os escuros, estarão em minoria. E decerto uma mais-valia se edificará na nova sociedade vanguardista.
Dantes era: aproxima-te mas não te eleves. Eleva-te, mas não te aproximes. Agora é: não te aproximes, nem penses em elevar-te.
Se o mercado está saturadíssimo de empresas, como é que todos os dias surgem novas, estarão a fazer lavagem de dinheiro da droga?
É vulgaríssimo o anarquista convicto espalhar por aí que não há ninguém insubstituível. E a Natureza e o Universo? E Deus? E quem se mantém quase há quarenta anos no poder, o que é?!
Onde há muita incompetência, há muita promessa de nova vida, e de oito milhões de empregos. Estamos de rastos? Não! De derrocada geral.
Sem soluções, quem mais as poderá ter? Quando chegamos a este estádio, a ditadura está nas ruas da amargura. Sempre o mesmo candidato nas eleições. Mas isto é eleição? Não! É o mandato da renovação. Se em Jingola estão a fechar as ruas, a selvajaria imobiliária obriga, quantas vão sobrar? Nenhuma? Uma? Isso mesmo, uma, para a nomenclatura. E Jingola passará a chamar-se: Jingola de uma só rua.
Deputado, ministro e outros inúteis, são cargos políticos que para a eles ascender basta mentir que a miséria vai diminuir. Nada tem a ver com cargos profissionais, porque para trabalhar é necessário usar o cérebro. E como novos-ricos e outras igualhas não têm isso, nem sabem o que isso é, não admira que a miséria das populações alastre proporcionalmente ao número de deputados e ao elenco governativo. É muita gente para a população sustentar, já não bastam as seitas religiosas?
Hoje, vi sete jovens na casas dos vinte anos a espalharem o lixo, aqui, onde o vento faz a curva, na esperança de seleccionarem algum objecto e comida. Isto faz-me recordar que o combate à pobreza está a funcionar, faz a miséria aumentar, e é assim que deve funcionar, para a quadrilha governar.

O teu melhor amigo é o teu bloco de apontamentos.

Jingola, de clima quente, agora também na negociata de país da neve. Até já tem estâncias turísticas e a próxima olimpíada de inverno será organizada por Jingola. Um mar de neve… é o que Jingola também é.
Estado da corrupção democrática. Estes democratas são muito convictos nas ideologias da liberdade. Basta observar as suas contas bancárias, e quando Jingola compra participações na banca emboaba, mais, querem comprar bancos na sua totalidade. É que assim as transferências dos biliões de dólares asseguram-se, e o reino Emboaba corrompe-se. Jingola e Emboaba são de facto e de jure os campeões da corrupção.
Quando o povo é burro, que dizer de quem o comanda. É como as pragas que duram muitos anos.

Onde está a democracia? E os democratas?

Imaginemos uma empresa onde alguns, ou todos os trabalhadores fumam, essa empresa não é nada saudável, e evidentemente não tem futuro. É uma empresa doente com trabalhadores débeis e precocemente idosos, cancerosos. É assim o poder corrupto, quanto mais tempo no poder, na espoliação, maior a explosão do vulcão.
É a mesma coisa que colocar um coração novo num doente com os vasos sanguíneos em cancro terminal. E em Jingola só restam mangas podres para os porcos do poder se banquetearem.
Quem é que está a encher os bolsos com a grande negociata das seitas religiosas? Como matilhas de cães selvagens que nos devoram aos pedaços. Isto, meus senhores é terrorismo. Os ditadores de todo o mundo vão desaparecendo, esta ditadura jamais, nunca cairá porque foi Deus quem a elegeu.
Quanto mais poderosa é a opressão também assim será a reacção. Isto é dos primados das leis da física que os ditadores desconhecem. Também às leis eles estão imunes. O mais espantoso é que continuam a agir, a reforçar a vigilância e a espoliar contra a população num ambiente tenso de crispação que teimam estupidamente levar à aniquilação da oposição. Quando enveredam pelos caminhos sanguinários, apressam o seu fim vampiresco sempre facilmente notado no seu rasto de sangue.
E insistem nos seus mórbidos discursos: «Desiludam-se porque não estou aqui para vos governar, mas para tudo vos espoliar. Trabalho, trabalhar? Só para estrangeiros que até a terra lhes irão rapinar. E têm que respeitar as leis se quiserem chegar aos cabelos brancos.»
O poder já tudo nos levou e mais não sei o quê nos quer tirar. Até um banco me enviou que me espoliou o terreno e um gerador eléctrico para me torturar lentamente até me matar.

E o eterno líder também me enviou um general, que cumprindo zelosamente as ordens superiores da lavagem do dinheiro da especulação imobiliária, vai destruir três prédios, enviar para o relento os seus moradores para construir uma espécie de arranha-céus. Sem água e sem energia eléctrica, mas o que importa? O mais importante é a lavagem do dinheiro sujo do petróleo, o negócio dos camiões-cisternas e dos geradores que também estão com a grande liderança.
Onde há paz, bem-estar e felicidade, o ditador chega e começa a espoliação, a destruição, a violência e a guerra. Os filhos desta revolução ainda não a acabaram, não. Prometem-nos mais quase outros quarenta anos de lutas, de sacrifícios. Porque a vitória final desta revolução vai acabar num grande desastre. E assim marchamos para a rua dos enganos dos nossos amos, murchamos.
E qual é a utilidade pública das empresas de construção civil? Rebentar com as condutas de abastecimento de água, com os cabos eléctricos e de fibra óptica, com a complacência do executor.
Como pode o alcoolismo acabar se as empresas que o vendem são dos Lordes. Como pode a violência doméstica acabar se alguns deles, do corrupto poder, são os principais instigadores dela, da desgraça dos nossos lares. Nesta fábrica os apagões laboram em pleno.
Até o emprego me roubaram. Chegou um estrangeiro desempregado e tumbas! Empregou-se e desempregou-me. Até os passeios das ruas nos espoliaram. A seguir serão, com as ruas acabarão?, é muito natural.

Estava numa boa, gostava daquele do coração, mas quando ele me renovou no futuro incerto, a minha vida foi-se. O do coração, sem ele fiquei, dele bazei, é apenas para decoração, é meu inimigo porque comigo luta ferozmente. O sem coração já deixou de ser meu amigo. Tenho que me defender, não me vou deixar morrer.
Eles, os Lordes, ameaçam claramente quem quer que seja: «Eliminamos qualquer adversário político, ou outro que nos incomode… é muito fácil. Temos biliões de dólares.» Jingola é um Estado corrupto porque os corruptos não têm noção de propriedade?

Mas porque só inaugurar academias militares e não academias de teatro, de música, de literatura, de ciências, porquê?! Porque para bem dominar é importante “analfabetizar”.
O conflito armado acabou e outro recomeçou? O nosso PIB é o melhor do mundo. E a nossa miséria é a pior do outro mundo.
Os cadáveres democráticos do nosso navio fantasma vão continuar, ver os sem futuro da podridão, da corrupção desta guerra que nunca mais acaba. Que a bestialidade do chefe e líder não se prolongue, e que mais este nazismo africano se acabe.
Vamos desvendar o número desta besta.
É interessante como esta ditadura e os seus defensores glorificam os seus feitos. Do lixo das suas obras edificadas em pântanos, onde o cheiro nauseabundo da inundação das suas palavras a que sadicamente musicam de democracia. Especular e corromper até aos últimos minutos, eis a réptil sobrevivência que escondem com a invasão Tsin. Exército sombra? Para lutar contra quem? Contra os Jingolas, claro! A miséria é o nosso hino e a nossa bandeira, é os programas da governação que conduzem à corrupção.
Se está tudo errado, nada dá certo, para quê mais governar? Porque é que a justiça não condena corruptos? E só persegue os pobres que abandonados tentam sobreviver à imposição do campo de concentração? Porque é que se prende qualquer prevaricador, e não se prende nenhum corrupto, porquê! Porque é que só os bajuladores têm direito a cargos e a todos os prémios instituídos e distribuídos pela ditadura? É por isso que surgem poetas como moscas e escritores que descrevem a invenção dos heróis corruptos dos Lordes. Se o fim da ditadura é um facto consumado, para quê continuar com falsas remodelações e promessas de que a nossa vida vai melhorar, se tudo está a desabar? Porque é que não se calam de uma vez, as vossas mentiras são insuportáveis, calem-se!!! Não têm olhos para ver que isto está insustentável? O dinheiro que esbanjaram, e esbanjam, chega muito bem para resolver a miséria da população. Mas não, que dentro de alguns anos teremos bons níveis de vida, quando há quase quarenta anos mergulham-nos nas vossas areias movediças.
Já não há cemitérios que cheguem, até neles erguem o vosso betão da lavagem dos endinheirados barris de petróleo. Enquanto existir corrupção, nenhum projecto funcionará, apenas aumenta o muro da desolação. Governar afinal é assim? Afinal governar é destruir a vida das pessoas? Qual é a intenção macabra de concentrar toda a população de Jingola na sua capital? Para se tornar mais fácil a sua exterminação? Quando é que acaba o nosso tormento? Não conseguem distinguir que governar assim tão desastrosamente, é impossível de continuar? E que continuando, como é que esta tralha vai acabar? Onde há muitos ministros das propagandas só se houve grasnar, e onde há muitas palavras não há nenhuma obra visível, porque o invisível está no meio de vós.
Para quando a indemnização das vitimas das casas partidas, dos mercados desfeitos, nem um mercado municipal existe. Mais tendas? É natural, neste reino seja o que for resolve-se com tendas. E a última carruagem do comboio das ditaduras descarrila.
Em Jingola a juventude considera-se um estorvo, um incómodo e um perigo para o Poder. Uma juventude sacrificada nos preços que sobem constantemente e ninguém dá explicações. Não lhes chega o que têm e querem mais, sempre mais, e nós sempre menos, zero. Este Regime faleceu há muitos anos. Então estamos a ser dirigidos por espectros, por assombrações, por fantasmas?
Quem tem medo dos Jingolas residentes no estrangeiro? O Estado da desestabilização da nação. Por princípio, qualquer problema surgido na população de um país tem como origem aquele que nos governa, pois é ele o chefe, o mau chefe. Jingola não consegue a plenitude do desenvolvimento intelectual porque está como uma criança que há quase quarenta anos não consegue passar da primeira classe do ensino primário.
E do rebanho Jingola restam apenas esqueletos. Jingola dos Lordes é um conto de terror de Stephen King. Já notaram que em tantos anos enrolados, a governação sem desplante, sem ética, eles sabem lá o que isso é, ainda nos espantam com: «Nós estamos preocupados com a situação.» Os jingolas são todos parvos, não é?!

Será que a única utilidade dos bancos em Jingola é para lavagem de dinheiro e desfalques vultuosos? Um país, um reino, pode funcionar sem sistema bancário? Exceptuando a corrupção, em Jingola é isso que acontece, simplesmente não há nenhum sistema que funcione. Quem é que confia nestes bancos?!


Eis Ulisses olhando para o comovente clarão da luz envolvente de Penélope em Ítaca. E quanto mais dele se aproxima, mais ele se afasta como num sonho. Ulisses está abandonado, na ilha dos desejos navegado, mas nem um pode pedir, porque esta ilha não tem génios, só demónios. Mas, Ulisses é perseverante, destemido, e não há marés que não conheça, porque a luz que o persegue e tenta agarrar-lhe a mão, é a sua Penélope que anseia pelo seu amor distante. E já Ulisses prepara o seu barco e a sua tripulação para mais uma odisseia. Afinal, a nossa vida é uma curta existência porque mareamos sempre na aventura incontida da luta pelo encontro do amor de Penélope.
Imagem: Poema de Fernando Pessoa. Postado por Jander Cardoso às 11:48 0 comentários. linguaportuguesajander.blogspot.com






sábado, 17 de março de 2012

O CÓDIGO DE BARRAS


Conselho de todos os tempos: nunca se pode manter indefinidamente um status quo.
(Código de barras: padrão usado, para representar números e caracteres através de um conjunto de barras paralelas de diferentes larguras que podem ser lidas por uma máquina de leitura óptica.) In Dicionário Electrónico Houaiss.
Nunca se deve forçar a barra.
Impuseram-nos o viver como cães num canil. E como no conhecido dito: «O cão come os ossos porque a carne come-a o dono». Só que aqui os nossos donos comem tudo e nem os ossos nos dão. E sendo assim só nos resta ladrar, manifestar o nosso reivindicar. Mas até este único osso nos querem tirar, amordaçar.
Adaptando Engels: imprescindíveis são os homens que durante toda a sua vida missionaram, praticaram, desenvolveram a corrupção. De facto, um Estado moderno não sobreviverá sem um grande esforço nacional na corrupção.
O espírito das águas ainda não se rejuvenesceu porque a sua poesia está congelada, fria. Escutam-se os rumores dos tambores nas savanas acariciando o humedecido capim das noites de vigília sem tectos. Ao longe ouve-se o agitar de asas das perecidas aves do contagiante rumo incerto. As lutas e as nossas aspirações conduzem-nos às convulsões dos olhares carregados de traição, humilhação e espoliação. Viver é combater, para melhores condições de vida obter. Revolucionário é apenas uma mera palavra que aquele que de facto o é, nunca a utiliza. Poeta é saber contemplar, saborear os movimentos de uma tela parada mas mostrando-nos os movimentos da História da escravidão e da infâmia humanas.
Mas, o melhor é lerem as seguintes regras de caça: «Quando se vai à caça sozinho, a caçadeira deve ser levada aberta, no braço ou no ombro, como uma medida de precaução, e somente deve ser fechada para a engatilhar quando o cão pára e der o sinal. Nunca se deve caçar nas proximidades de casas nem nas reservas de caça.
Naturalmente que não se deve apropriar nunca de caça levantada pelo cão de um outro caçador, e, se por engano isso acontecer é de bom-tom oferecê-la ao dono do cão.
Se um caçador é acompanhado por alguém que não seja caçador, essa pessoa deve seguir uns passos atrás e em silêncio. Quando se é convidado a participar numa caçada, as regras dos caçadores devem ser respeitadas. Para uma batida, todos os caçadores colocam-se em linha num local previamente determinado ou numerado. Cada um mantém-se nesse lugar sem se mexer até à abertura da batida, anunciada por uma trompa. Os batedores colocados à frente dos caçadores, a cerca de quatrocentos metros, e avançam na sua direcção, fazendo muito barulho para assustar a caça. Assim que um caçador avistar uma presa, só poderá disparar sobre ela se estiver na sua frente e nunca por cima da cabeça do seu vizinho. Os caçadores não apanham a caça abatida, sendo os batedores os encarregados de o fazer.
O final da batida é anunciado com um segundo toque de trompa. A caçadeira deverá então ser aberta, para evitar quaisquer acidentes. Em regra todas as modalidades de caça têm as suas próprias regras.» in portugalprotocolo.com
Apresentamos então, o prato especial de presos políticos espetados e torrados na brasa à Barra l’avant garde, em molho de ossos devidamente amassados. Para beber, o habitual sangue fresco dos espoliados.
O som epidémico das sirenes dos nossos heróicos batedores polícias do trânsito faz parte da paisagem diária de Luanda. Os nossos governantes movem-se rápidos no rumo acelerado da resolução dos problemas petrolíferos do povo. Sim, porque estes nossos governantes são todos abnegados empresários ao serviço da sua nação. A título de exemplo, entre as sete e as sete e vinte ouvem-se as sirenes de seis cortejos de colunas civis/militarizadas. De tal modo que a rua mudou de nome: agora chamam-na… rua das sirenes.
Nos outros países as barras de ferro utilizam-se para os mais variados fins. Em Angola, o seu uso destina-se exclusivamente à escultura e lapidação de pessoas que se manifestem a exigir água e luz, o que em Angola é considerado heresia, e como tal passível da pena de lapidação, ou melhor, barração.
Angola, onde governar parece massacrar. E onde continuamente se escutam as sirenes de luxuosos carros que anunciam o cortejo do terror dos nossos comandantes deste campo de concentração.
A falta de água e de luz não tipifica o crime de ultraje e insulto?
Mas, porque será que quem não sabe barração insiste em fazê-lo? E depois, ainda adianta que tem experiência de barração e os outros não, que ele é a pessoa indicada para a barração sem conseguir abastecer as populações de água e energia eléctrica e logo o acúmulo da miséria. Para isto governar na barração é necessária experiência, ou uma forte compleição de barração?
Que Angola caminha para um beco sem saída, porque as milícias da barração atacam tudo e todos por todos os lados. E depois, as outras milícias/barrações que serão criadas para se defenderem das milícias da grande barração, colocarão Angola nos destinos da banalidade africana: as lutas entre milícias que não pouparão ninguém, incluindo os que se mantém no Governo da barração.
E que tal um pouco de humor?
«Mas, você está a falar a sério?» «Estou!» «Logo vi, olhe que comigo ninguém brinca.» E segurando no casaco do outro e puxando-o com força: «Não me agarre, não me agarre! Olhe que uma vez enfrentei vinte, se não fujo não sei o que seria.»
E parece que se ultimam os preparativos para o grande invento, claro que é evento, de todos os tempos em Angola. Já algumas delegações de países amigos se vão instalando para o Primeiro Congresso Mundial do Massacre de Manifestantes. Claro que o êxito está assegurado, desconhecendo nós quem serão as primeiras vítimas, muito em especial secretários-gerais de partidos políticos. Pois, pergunto: e quando for ao contrário? Clamarão que é intolerância?
“Para mim, notícia é tudo aquilo que um político profissional não quer que seja publicado sobre ele. O resto – aquilo que o mesmo político quer que se publique – é propaganda e não notícia” – Lula da Silva, ex-presidente da República Federativa do Brasil. In canalmoz
Angola é um talho, e os opositores políticos são a carne que o abastece?
E o enviado especial da primeira-ministra da Austrália, Julia Gillard, a Angola, Neil Mules, segundo a Angop, disse: conclui-se que a Austrália e Angola têm “muitas coisas em comum (…) são grandes com riquezas e recursos naturais e também possuem desafios relativamente ao desenvolvimento das nossas economias”.
Mas que dinheiro do petróleo mais estranho, só serve para partir paredes?
“Estou aqui para servir o país. Seria incapaz de alguma vez me servir dele...” - Manuel de Arriaga (8 de Julho de 1840 - 5 de Março de 1917)
Sem sonho não existe existência. Sem ele, sonho, é impossível vivermos.
E alguém sonhou e o mundo (se) transformou.
Entretanto, o massacre da energia eléctrica persegue o rumo do inferno da nossa vida. Por este descaminhar, este mês, Março, será o mais massacrado de todos os tempos na história de Angola dos últimos quarenta anos de massacres.
Sujeitar populações sem energia eléctrica, sem água, e como se não bastasse, expô-las ao fumo tóxico, mortal, de geradores, isto não é uma coisa muito terrível? Parece que não, é normal.
Resta-me confiar nas nossas mulheres, deixando-lhes esta mensagem: Eis o eterno paraíso perdido da mulher nunca desvendado. Sem esse quadro a nossa existência desvanecer-se-ia. O infinito do Tempo e do Espaço chama-se mulher. Não é por acaso que surgiram rosas e jasmins, e também não é por acaso que exalam perfume, e que só ela o sabe, mas nunca no-lo desvenda. E não é necessário imaginá-la, porque ela é a inesgotável fonte da imaginação, a origem da nossa inspiração
Nós queremos construir as nossas vidas, mas com este governo é impossível, porque ele empenha-se em no-las destruir?
E inventaram um país e deram-lhe o nome de Angola. Mas não tinha luz nem água. Então não era país, claro que não, era um feudo de corruptos.
Em Angola não existe corrupção, existem apenas algumas anomalias de gestão?
A pobreza da população de um país vê-se na riqueza dos seus dirigentes.



sexta-feira, 16 de março de 2012

O Menestrel - William Shakespeare


Depois de algum tempo você aprende a diferença, a sutil diferença entre dar a mão e acorrentar uma alma. E você aprende que amar não significa apoiar-se. E que companhia nem sempre significa segurança. Começa a aprender que beijos não são contratos e que presentes não são promessas.
Começa a aceitar suas derrotas com a cabeça erguida e olhos adiante, com a graça de um adulto e não com a tristeza de uma criança.
Aprende a construir todas as suas estradas no hoje, porque o terreno do amanhã é incerto demais para os planos, e o futuro tem o costume de cair em meio ao vão.
Depois de um tempo você aprende que o sol queima se ficar exposto por muito tempo.
E aprende que, não importa o quanto você se importe, algumas pessoas simplesmente não se importam… E aceita que não importa quão boa seja uma pessoa, ela vai feri-lo de vez em quando e você precisa perdoá-la por isso. Aprende que falar pode aliviar dores emocionais.
Descobre que se leva anos para construir confiança e apenas segundos para destruí-la…
E que você pode fazer coisas em um instante das quais se arrependerá pelo resto da vida. Aprende que verdadeiras amizades continuam a crescer mesmo a longas distâncias.
E o que importa não é o que você tem na vida, mas quem você tem na vida.
E que bons amigos são a família que nos permitiram escolher.
Aprende que não temos de mudar de amigos se compreendemos que os amigos mudam…
Percebe que seu melhor amigo e você podem fazer qualquer coisa, ou nada, e terem bons momentos juntos. Descobre que as pessoas com quem você mais se importa na vida são tomadas de você muito depressa… por isso sempre devemos deixar as pessoas que amamos com palavras amorosas; pode ser a última vez que as vejamos. Aprende que as circunstâncias e os ambientes têm influência sobre nós, mas nós somos responsáveis por nós mesmos. Começa a aprender que não se deve comparar com os outros, mas com o melhor que pode ser.
Descobre que se leva muito tempo para se tornar a pessoa que quer ser, e que o tempo é curto.
Aprende que não importa onde já chegou, mas para onde está indo… mas, se você não sabe para onde está indo, qualquer caminho serve.
Aprende que, ou você controla seus atos, ou eles o controlarão… e que ser flexível não significa ser fraco, ou não ter personalidade, pois não importa quão delicada e frágil seja uma situação, sempre existem, pelo menos, dois lados. Aprende que heróis são pessoas que fizeram o que era necessário fazer, enfrentando as conseqüências. Aprende que paciência requer muita prática.
Descobre que algumas vezes a pessoa que você espera que o chute quando você cai é uma das poucas que o ajudam a levantar-se. Aprende que maturidade tem mais a ver com os tipos de experiência que se teve e o que você aprendeu com elas do que com quantos aniversários você celebrou. Aprende que há mais dos seus pais em você do que você supunha.
Aprende que nunca se deve dizer a uma criança que sonhos são bobagens…
Poucas coisas são tão humilhantes e seria uma tragédia se ela acreditasse nisso.
Aprende que quando está com raiva tem o direito de estar com raiva, mas isso não te dá o direito de ser cruel. Descobre que só porque alguém não o ama do jeito que você quer que ame não significa que esse alguém não o ama com tudo o que pode, pois existem pessoas que nos amam, mas simplesmente não sabem como demonstrar ou viver isso.
Aprende que nem sempre é suficiente ser perdoado por alguém…
Algumas vezes você tem de aprender a perdoar a si mesmo.
Aprende que com a mesma severidade com que julga, você será em algum momento condenado.
Aprende que não importa em quantos pedaços seu coração foi partido, o mundo não pára para que você o conserte. Aprende que o tempo não é algo que possa voltar.
Portanto, plante seu jardim e decore sua alma, em vez de esperar que alguém lhe traga flores.
E você aprende que realmente pode suportar… que realmente é forte, e que pode ir muito mais longe depois de pensar que não se pode mais. E que realmente a vida tem valor e que você tem valor diante da vida! Nossas dúvidas são traidoras e nos fazem perder o bem que poderíamos conquistar se não fosse o medo de tentar.
http://williamshakespearewilliam.blogspot.com/2008/03/o-menestrel-william-shakespeare.html
Imagem: O MENESTREL– WILLIAM SHAKESPEAREUm dia você aprende.
psicologiaevidalivres.blogspot.com

quinta-feira, 15 de março de 2012

SONHO DE UMA NOITE TROPICAL (15)


- É difícil encontrar um de nós que não tenha traumas devido à guerra. Creio que é por isso que a nossa sociedade está cheia de desumanidade e hipocrisia. O que vimos e fizemos tornou-nos apáticos. Somos quase mortos-vivos. É por isso que bebemos para esquecer o pouco que resta dos nossos sentimentos. – Lapidou o Vodka.
- Ó… ó… Vodka.
- Sim Almirante.
- O Hepatite esteve vários anos na URSS numa academia militar. Chegou e foi promovido a oficial superior. A sua esposa licenciou-se em informática no Zimbabué. Falava e escrevia inglês fluentemente, lia Shakespeare. Tinha um bom emprego. Era independente em meios financeiros. Tinha um carro, comprou outro para ele. Ao Hepatite não lhe faltava nada. Vestia-se com boas roupas, levava dinheiro, pegava no carro e ia à caça das meninas. Tinha muitas namoradas. A esposa falava-lhe, chamava-lhe a atenção mas ele não se emendava, pelo contrário. Eram noites consecutivas de bebedeira com as várias amantes. O dinheiro começou a faltar. A esposa não aguentou e abandonou-o.
- Almirante manda-me descansar!
- Descansa.
- Enquanto outros oficiais abandonaram as esposas porque as consideravam indignas, incultas, porque eles estudaram em academias e elas ficaram a vender gelo, cerveja e outras coisas para sobreviverem. Mesmo que quisessem não tinham meios para estudar, e eles abandonaram-nas. – Concluiu o Almirante.
- Juro! Hoje vou matá-los.
- O Parricida acordou. – Disse o Vodka.
- É o bebe e dorme. De tal modo que fica dois e até três dias a dormir para passar a bebedeira. – Informou o Almirante.
- Não trabalha?
- Não. Ou melhor, de vez em quando. Numa empresa conseguiu aguentar três dias. Noutra uma semana.
- Está a fazer progressos. Onde consegue o dinheiro para beber? – Quis saber o Vodka.
- Rouba o pai e a mãe.
O Parricida pôs-se a cantar um lamento:
- Difícil é andar onde não há dinheiro. Onde não há trabalho. Difícil é andar onde não há bebida. Dum lado sede. Do outro sede.
E então fui na festa/ E lhe vi/ A mulher que mais amei/ Ane Marie.
- Almirante manda-me descansar.
- Descansa.
- Vou votar… não vou votar.
- Pelas oito pragas que nos afligem.
- Se não houver reformas urgentes, vamos ficar como o império romano do ocidente e do oriente, ou pior. – Supôs o Almirante.
- O regresso à eterna escravidão. – Calculou o Vodka.
- Uma escravidão substitui a outra. Não existe uma escravidão melhor. Os que nos escravizam não são diferentes, são iguais. – Apoiou o Almirante.
Ou piores. – Martelou o Vodka.
- Devemos investir mais na corrupção. – Corrompeu o Hepatite.
O Almirante olha para a garrafa de uísque que está a ficar leve. Contrapõe:
- Todo o poder é corrupto. As pressões constantes ao seu redor a isso o obrigam. O ser humano adora o poder. Antes de ser concebido, um dos progenitores foi corrompido. Por isso o ser humano nasce corrupto. Havendo instituições que façam com que os seus defensores sejam independentes, a Lei passa a funcionar como um submarino. Fica completamente estanque, não há furos por onde a água passe. Quanto mais tempo um ser humano dominar o poder, mais aumentará a corrupção. Cada ano que passa é inevitável que surja outro poder paralelo. É como uma mina de diamantes. O ser humano não pode ficar muito tempo no poder. Até consegue corromper Deus. Depois vem a hipocrisia e a superstição. Cortando o acesso à informação, surge a ignorância, depois a pobreza e a fome. Quanta mais ignorância existir, maior será o número de esfomeados.
O Presidente floreia:
- Mas teremos de nos esforçar para ver quem é que, no seio do MPLA, pode de facto ter essa honra de pertencer ao Partido. Quem é que terá essa capacidade revolucionária, capacidade política, para poder pertencer ao partido. Mas será que estamos, de facto, a utilizar toda a nossa inteligência, toda a nossa capacidade de análise para resolver este problema? Eu creio que não. Será que nós podemos fazer aquilo que queremos? Ou não podemos? E se a nossa capacidade é pequena o que é que vamos fazer para resolver? Por vezes, os problemas «acabam» com um telegrama, que se envia à capital e depois fica-se à espera, quando nós próprios sabemos que a capital também não pode resolver esse problema. Só o poder político não chega, porque fica-se sempre dependente doutrem. Há inúmeros camiões, automóveis, avariados. Será que nós não podemos cuidar melhor dos carros? In Agostinho Neto. 5 De Fevereiro de 1977. Discurso na assembleia de militantes em Ndalatando.
O Hepatite está afastado, ocupado com um jovem. Nota-se que algo não está bem. O jovem caminha na direcção da porta de uma vivenda.
O Almirante interroga:
- Hepatite, qual é o problema?
- Era o segurança do brigadeiro. Vinha com a pistola na mão e disse-me, que lhe apetecia dar tiros.
O Almirante abanou a cabeça contrariado. Interpôs:
- A democracia como hoje é concebida está ultrapassada. Para acabar com as questões de fundo que são sempre as mesmas, vota-se de quatro em quatro anos, e a vida das pessoas não melhora. E continua-se a votar na esquerda, no centro, à direita e as coisas ficam tortas. Isto já não funciona. Ninguém acredita nos políticos. É necessário que se altere as coisas…
- Como por exemplo? – Quis saber o Poeta.
- Vamos pôr a Liberdade no concurso de misse. É tão bonita e perfeita de corpo que facilmente sai vencedora.
- Poluição da informação cultural. – Objectou o Poeta.
- Se alguns partidos políticos que não tem nenhuma expressão na nossa sociedade, pedem, e dão um ultimato, que querem um milhão de dólares, quanto pedirei eu que já fiz muito? É o descalabro. Já não existe bom senso. Todos à procura do dinheiro. Quando uma sociedade atinge o estádio final da hipocrisia, a seguir vem a violência. A repetição da Revolução Francesa. Depois surge um Napoleão, este vai e aparece outro. Esta é a fórmula para os países dominados. Queremos o vosso dinheiro, não queremos o povo. A história do PIB é muito engraçada, muito terrífica.
- O que é isso? – Solicitou o Hepatite.
- O Petróleo Interno Bruto. No próximo ano terá uma taxa de rendimento entre 26 a 27 por cento. Dizem que vai ser o país com a taxa mais alta do mundo, mas atenção: isso é só para o petróleo e para o PID, o Produto Interno dos Diamantes. Quer dizer que é o único país do mundo onde não há população. É uma ilha de petróleo.
- Investimentos só para o petróleo. Podíamos cultivar e exportar a famosa rosa de porcelana. Nem isso conseguimos. Não restam dúvidas, finalmente neocolonizados. – Desgostou o Poeta.
- Não são os rendimentos do petróleo que estão mal distribuídos. São os rendimentos do álcool. – Alcoolizou o Hepatite.
O Filósofo historia:
- A África Negra não mudou nada. Está como no tempo do império britânico na Índia. O Lorde chegava e dizia à Rainha: As populações estão descontentes, querem a independência, receio que não possamos aguentar por muito mais tempo. Não havia a vontade de civilizar, mas comerciar. A religião fingia, os sãos princípios a seguir. Até lhes chamavam inferiores devido ao vestuário. Eram necessários mais escravos para solidificar a fé. Porque sem eles, com a superstição a um Deus que ninguém conhece, assim a religião escravizava outros povos. Infelizmente ainda tenta continuar de modo subtil, fingindo que defende os oprimidos, o que nunca fez. Está a perder terreno. É necessário rever tudo o que dizem sobre o Fundador, porque já não nos convencem. A Companhia da Índia Oriental foi substituída por outra estatal. As pessoas não se apercebem disso. O sistema de exploração colonial permanece intacto. Delenda Carthago.