sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

O cavaleiro Mwangolé e Lady Marli na demanda do Santo Graal (07)


As Tchavolas desordenavam-se pelas ruas confundindo-se com o chão, já faziam parte dele, pois as suas vidas dependiam em absoluto do que vendessem ao ar livre, e o seu estatuto de indígenas indigentes ainda estava em vigor, apesar de que o rei lhes prometia há mais do que uma eternidade a nova vida, um milhão de centralidades e outros absurdos. Afinal, é fácil de verificar que reinar é escravizar. E as Tchavolas olhavam para todos os lados, pois que os fiscais não lhes davam tréguas - Jingola parecia, apesar do rei e seus parasitas bajuladores avançarem que não, um teatro de guerra – porque há nove meses que não recebiam, então lançavam-se como tubarões sobre as suas presas, que indefesas e amarradas na protecção das suas crianças, choravam o infortúnio da melhoria das condições de pobreza. Os polícias também aproveitavam, também saqueavam. Jingola estava a saque. As esposas dos polícias revoltavam-se porque eles nem um biquíni e um sutiã lhes conseguiam comprar. Era caricato ver polícias e fiscais espoliarem e vandalizarem as esposas dos colegas, e elas lamentavam-se-lhes: «Hum, afinal foi você que me assaltaste, me roubaste! Hum, afinal vocês são todos bandidos.»
Os Lordes, os senhores todos poderosos de Jingola limitavam-se a observar as suas esposas que para não morrerem de tédio, passavam o interminável tempo a limarem as unhas, a experimentarem biquínis, sutiãs e baby-dolls. Tinham várias criadas, vários motoristas, e então chateavam o tempo a darem desordens nas criadas e a circularem nos carros sempre a esgotarem os estoques das casas de modas, que depois amontoavam num improvisado armazém das suas casas, pois que também tinham mais que uma.
Os Lordes mantinham o seu passatempo preferido, que consistia no arrebanhar das esposas Tchavolas. Como as suas amadas não davam nada para o sexo devido à sua condição existencial, eram muito frígidas, eles então assediavam as Tchavolas que facilmente aceitavam o estatuto de amantes. Os Lordes juravam por entre o tilintar de várias garrafas de uísque que fazer sexo com as Tchavolas era a coisa mais deliciosa do mundo. Elas, afirmavam eles sem pudor, eram como gazelas na cama, e quentes como o sol abrasador da estação do calor.
Os Lordes aumentavam os seus pecúlios constantemente porque usurpavam dos Tchavolas o seu petróleo, diamantes e todas as demais riquezas de Jingola, incluindo a água. O petróleo jorrava e incendiava as contas dos Lordes, que para não darem nas vistas, abriam contas bancárias em nome das suas esposas, dos filhos e das concubinas. Sim, o petróleo não parava, até demais circulava e nos bolsos dos Lordes chafurdava.
Os Lordes tiveram uma ideia genial - aliás todas as ideias deles primam pela genialidade e originalidade – que culminou na importação desenfreada de chineses e vietnamitas que trabalhando como escravos – ainda disso não se libertaram – davam graças aos seus senhores, os Lordes, por lhes proporcionarem o paraíso na terra – agora também do Celeste Império - Jingola. Trabalhavam e deixavam-se recompensar por tuta-e-meia, o que magnificava os cofres dos Lordes, mas miserava os Tchavolas no desemprego e chamava, cultuava Spartacus. Jingola ensombrava-se, tumultuava-se, mas os Lordes marimbavam-se, tinham mais que fazer, para o atroz sofrimento dos Tchavolas que ruminavam planos de revolta, e que a qualquer momento surgiria. Mas os Lordes esperavam-nos com helicópteros, mísseis, tanques, cães, mercenários e todo o tipo bélico deste e do outro mundo.

A capital de Jingola – aliás como em todo o reino – fervilhava de actividade missionária. Por todo o lado e em todas as portas se pregava o santo evangelho e as santas escrituras. Os sacerdotes escrutinavam, descortinavam o fim do mundo que há mais de dois mil anos estava cada vez mais próximo. E as desordenadas ovelhas Tchavolas deixavam-se ir na conversa de que depois do fim do mundo o Senhor os esperava para lhes abençoar e oferecer-lhes uma casa que em Jingola era coisa impossível, porque um dos passatempos do rei consistia em derrubar-lhes, transformar-lhes as casas em pó. Provavelmente era para cumprimento da profecia bíblica de que ao pó voltarás.

Em Jingola, por incrível que pareça existiam mais de mil seitas religiosas. O tal negócio da China. Um bom negócio, diga-se de passagem, pois bastava observar a riqueza fácil que os bispos conseguiam, inventando coisas sobre Jesus Cristo e Deus. E invocavam a promessa habitual aos seus fiéis de que todos ficariam ricos se seguissem os seus ensinamentos, pois eles eram os representantes, os eleitos de Deus e de Jesus Cristo na terra. O rei apoiava-os, pois que dominavam e embaralhavam as suas populações, incutindo-lhes a superstição de que quem se revoltasse, caluniasse, injuriasse, ou até fizesse uma simples greve contra o rei, Deus lhes enviaria pesados castigos. E davam-lhes exemplos: a falta de água e energia eléctrica, a fome, não eram já castigos mais que suficientes? E os Tchavolas refugiavam-se no temor. E o exército sacerdotal de bíblia sempre nas mãos, lá vagueava. E um cónego se destacava, imitava muito mal Lutero, pois que militava do lado contrário. Isto é, defendia, elogiava e bajulava os Lordes, que agradecidos uns barris de petróleo lhe ofertavam.
Como habitualmente o nosso confessor está no seu hábito, no seu púlpito a oficiar na sua capela da Igreja de Nosso Senhor do Kremlin. Nas preces que faz ao seu deus leninista, e sempre consequente no cumprimento de ordens superiores, corrompe-o desmesuradamente com quantias incomensuráveis. Qual é o deus que não se deixa corromper por astronómicas quantias monetárias? Vá, digam-me um que não o faça. Todos os deuses adoram as riquezas terrenas, e de tão corrompidos que estão, debandaram todos para Jingola. É por isso que o céu está tão despovoado, tão imigrado.
E um deus que se preze, ama, chama a juventude para o seu partido – se calhar não sabem, ou fingem, que a religião também é um partido político – com promessas de vida no além mundano, de carros e chorudas quantias de dólares existentes num saco pessoal dos ritmos petrolíferos. A juventude acorria-lhe depois da desgraça das contínuas maratonas em saudação disto e daquilo. Festas partidárias em saudação aos santos leninistas de cada dia do ano, aos aniversários dos chefes, das suas esposas, dos seus filhos, filhas e dos altos e baixos funcionários que atapetavam a casa real.
E depois das maratonas os jovens lá acorriam ao nosso bom cónego missionário na esperança de que caísse alguma coisa generosa para, conforme confessavam, organizarem as suas vidas. O cónego missionário ligava do seu telemóvel e rapidamente chegava uma mala bem atestada de dólares. E o padre interrogava-os, porque quem dá dinheiro a alguém sem mais nenhuma explicação, é porque exige, espera algo em troca: «Bom, eu vou-lhes dar algum, mas já sabem como é.» «Sim, senhor missionário, como é o quê?» «Já tem o cartão da LORDE/JOTA?» «Já!» «Ai é, então mostrem!» Exigia o missionário desconfiado. E os jovens não tinham outra alternativa senão a de se sujeitarem, irem para a capela ao lado e lá registarem-se e obterem o cartão da LORDE/JOTA, que lhes daria, abriria as portas para tudo e mais alguma coisa que fosse necessário ou desnecessário. E se denunciassem todos aqueles do contra, os arruaceiros, os que falassem mal do eterno delfim, os opositores, em troca receberiam uma considerável quantia determinada pelo serviço prestado. Aqui convém esclarecer que alguns cidadãos da nossa praça estão consideravelmente ricos devido a esse expediente do centralismo democrático.
E a Igreja do Kremlin continuava, labutava no ardor, no louvor ao seu senhor. A fama do missionário da juventude já ultrapassava fronteiras, devido há sua proverbial magnanimidade. Quando questionado sobre a proveniência de tantos fundos monetários, o nosso bondoso missionário nem pestanejava, pelo contrário, olhava para o céu, enlaçava as mãos e orava: «Obrigado meu santo leninista pelos desvios milagreiros que fazes do céu jorrar e nas minhas mãos aterrar.»
Num belo momento o missionário recebeu uma missão especial. A conversão de jovens manifestantes/arruaceiros que não aceitavam corromperem-se pelo deus leninista. Intrigado, o sacerdote dirigiu-se à prisão onde os desgraçados se encontravam e abordou-os, melhor, interrogou-os: «Meus irmãos, estais aqui porquê?» «Não sabemos, ninguém sabe.» «Hum! Não é difícil de saber. Manifestaram-se com cartazes a falar mal do nosso deus?» «Sim padre, é isso!» «Logo vi. Bom, vamos dar um jeito nisso. Tenho poderes de como influenciar o Juiz polémico que condenou os nossos irmãos, a converter as penas dos dezassete presos em multas… passando assim todos à liberdade… e prometo-lhes ainda outros bens materiais. Vocês sabem que eu sou o divino empresário da juventude.» Os jovens mantinham-se num silêncio irredutível, até que um deles quebrou-o: «Não somos arruaceiros, xibados, ganzados, kuachas, guerrilheiros, ou outro epíteto pejorativo que insistem em atribuir-nos.» E o eclesiástico sem rodeios elucidou-os a modos de pregação: «Se eu tivesse mandado alguém, podem ter a certeza que nem sequer teriam saído do bairro».
Só que o generoso missionário não se deu conta, não desconfiou, nem tão pouco suspeitou que a conversa foi gravada, e posteriormente denunciada por todos os meios de informação, exceptuando os órgãos estatais do clero leninista. Mas mesmo assim o ministrador da Igreja leninista pregou os santos sacramentos dos cânones da praxis: «Só um partido leninista é que está apto a conduzir os destinos do maravilhoso povo jingolano. Os outros partidos são fantoches, e se não seguirem os paradigmas leninistas estarão condenados ao fracasso. Só um verdadeiro partido condutor de massas garante estabilidade e paz. E com o tenaz apoio internacionalista dos partidos, governos, e de todos os países amigos que seguem a mesma senda - o rumo do desenvolvimento - a vitória é certa. Os povos amantes da paz e da liberdade vencerão. E os nossos inimigos figadais em qualquer esquina tombarão e abandonados lá repousarão.» E um dos arruaceiros tchavolano destaca-se sobranceiro: «Não confiemos nas igrejas, elas estão ao serviço do deus nosso senhor dos Lordes.»

A suave brisa matinal atrai-nos. Já atingimos finalmente o pôr-do-sol onde o amor guarda secretamente os nossos desejos. Nas espumas das marés transparentes e irreverentes dos ciclos que parecem repetitivos, caminhamos incertos nas buriladas areias que escorrem, deitam-se ondeadas. A suave brisa matinal atrai-nos para os confins da irreversibilidade do tempo do amor. O murmúrio dos ancestrais fósseis invade as nossas memórias do início do primeiro amor. E rejubilamos porque finalmente reencontramos o amor perdido, e dele não desejamos mais sair, porque receamos desmaiar nos insondáveis caminhos dos olhares de paixão não retribuídos, não compreendidos. Como na ascensão e queda das ditaduras.

Não acredito em escritores, poetas e demais livreiros ao serviço e galardoados pela corte palaciana dos Lordes. Porque quem apoia a escravidão dos rendimentos do petróleo, neles naufraga. É como no tempo dos pescadores de homens, onde havia, coexistiam intelectuais que compunham odes, liras, enquanto nos campos de concentração milhões de almas eram sacrificadas em nome de um poder eterno… das cinzas. Como se fosse possível um país viver comandado apenas por um grupo de águias de rapina. Os mestres da conspiração diziam que primeiro estava tudo bem, mas que agora caminhamos para o desastre global. Quer dizer que estamos a ser governados por víboras.

As ditaduras vão caindo dos seus poleiros como aves no gélido frio invernal.

Os poemas dos poetas da corte Jingola enlevam-nos nas teias da corrupção. Onde há muito petróleo, também há muitos poetastros desbotados nas turbulentas correntes submarinas das jazidas petrolíferas. Não sabemos como será o nosso futuro. Que faremos sem os nossos melhores amigos ditadores que um a um vão desaparecendo. O cão é o melhor amigo do homem, o petróleo é o seu pior inimigo. Este petróleo atrai muita miséria. E imprimir a tolerância zero, é reduzir as finanças a zero, zerar tudo. Quanto mais tempo demorarem com as reformas profundas que a população exige, mais o incêndio tumultuoso se propagará. Não é hora de se perder tempo, adiar, fingir implementar promessas que nunca se cumprem. Isto está a complicar-se, a descontrolar-se. A literatura de Lenine continua presente.
Jingola é pois um estado pirata, o local ideal para todos os piratas mundiais.
Quanta mais a pobreza mental de quem nos governa, mais a pobreza guerreira aumenta.
continua

terça-feira, 27 de dezembro de 2011

SONHO DE UMA NOITE TROPICAL (05)


- A minha alma sente-se inundada com tanta cerveja. – Vaporizou o Filósofo.
- A Ilha do Cabo, a Marginal de Luanda e a Ilha do Mussulo vão desaparecer, vão ficar cobertas de água. – Alertou o Branco
- Bom negócio para as cervejeiras. – Previu o Almirante.
- Porquê?
- A água é de borla. A cerveja quase que é só água, os refrigerantes também. A privatização das cervejeiras vai ficar com a equipa.
- Pelas sete pragas que nos afligem. – Praguejou o Pragador.
- Ó senhora traga mais cerveja, mas não aumente a conta porque estamos a controlar. – Preveniu o Vodka.
- Não dá, vocês são os nossos melhores clientes. São os que dão vida ao lugar do Pauauschwitz.
Mais uma festa ia começar, de arrombar. O barulho da música era insuportável. Para ouvir o que conversávamos, elevávamos a voz, quase gritávamos. Dizer aos jovens para baixarem o som não era aconselhável. Isso significaria uma provocação e muito provavelmente garrafas voariam, não se sabendo onde aterrariam. Chegam alguns carros com jovens. Depois deles saídos nota-se que estão muito agressivos. Dirigem-se para a festa. Ouvem-se muitos gritos. Começa a pancadaria habitual. Garrafas são partidas. As suas namoradas vestidas com um calção muito curto, rasgado, partem garrafas e atacam. Parecem piores que leoas. O vidro da montra de um estabelecimento com sapatos resiste à tentativa da pilhagem. Vizinhos ligam para a polícia, mas esta virá mais tarde, ou não virá. Os elementos componentes desta quadrilha estão armados. Se a polícia aparecer no momento crítico será um brutal tiroteio. Depois da demonstração dos filhos da revolução, os apóstolos da violência entraram nos seus carros e abandonaram o local.
- Estamos no ano da grande matança. – Observou o Almirante.
- Porquê? – Quis saber o Vodka.
- Nunca se viu tanta gente morrer. O mundo está dominado pelo terror. Está enfeitiçado.
O Almirante chamou um jovem marinheiro que estava no seu carro. Era, podia-se dizer, um guarda-costas. Ordenou-lhe:
- Ó marinheiro… vai a bombordo do meu navio terrestre e retira de lá umas garrafas… umas cargas de profundidade. Depois faz o mesmo na ré.
O marinheiro chega e faz a entrega de três garrafas de uísque. O Almirante recomenda-lhe:
- Leva uma e guarda-a. Temos que ficar com munições de reserva.
- Parecem as cápsulas de bazucas, ou melhor dito, de mísseis. – Comparou o Vodka.
- O comunismo lixou-nos a vida. Este país está a ficar impossível para viver. – Provocou o Branco.
- Pior que este não há. – Disse convicto o Almirante.

O Presidente acrescenta:
- A Grã-bretanha, por exemplo, país que possui em Angola o maior volume de capitais investidos, ou os Estados Unidos da América com crescentes interesses na economia e ansiando dominar a posição estratégica do nosso país, assim como outros países da Europa, da América ou da Ásia, concorrem para a dominação do nosso Povo e a exploração dos bens que nos pertencem. Muitas vezes se confunde o inimigo da África com o branco. A cor da pele ainda é um elemento que para muitos determina o inimigo. In Agostinho Neto. 7 De Fevereiro de 1974. Discurso na Universidade de Dar-Es-Salam, Tanzânia.
Meteorologia para hoje. O céu será azul, o dia claro, a noite será amarela devido ao luar, soprará vento do mar. Boas perspectivas para maus negócios. – Previu o Filósofo.
- Vou votar… não vou votar. – Disse indeciso o Eleitor.
- Tive um sonho. Que a nossa moeda era preferida ao dólar e ao euro. Era a mais forte do mundo. - Sonhou o Poeta.
- Isso não é um sonho, é um grande pesadelo. – Advertiu o Almirante.
- O director geral do FMI chegou e disse: vamos investir três biliões de dólares porque finalmente atingiram a perfeição. – Noticiou o Poeta.
- Isso saiu aonde? – Perguntou o Vodka.
- Na informa com a verdade.
- Uns bons copos de uísque ajudam-nos a sonhar. – Aconselhou o Almirante.
- Para viver tenho que roubar algumas vezes. – Disse desmoralizada a Liberdade.
O Branco começa a beber uísque. Comenta:
- Cerveja com uísque? Parece-me que desta noite não passamos.
Depois de alguns uísques, o Branco sente uma inspiração repentina. Continua:
- A independência era uma intenção, e ainda continua a ser. Não basta um governo, um soberano, com uma guarda, policia e um exército. Povo não existe. Nem é necessário. Basta copiar os modelos feudais, e nasce mais um país, um reino. Basta ter o nome de independente, e já está. Perderam por completo a consciência e voltaram ao estado primitivo. Estão à procura da centelha divina que desapareceu.
O Vodka olha para a Liberdade. Diz-lhe:
- Sobre, o para viver tem que se roubar, lembro-me de um caso caricato. Foi assim: Um segurança acompanhou o gatuno junto com a polícia. Mas os polícias vendo que o segurança tinha dinheiro, consideraram que ele era o gatuno. O gatuno aproveitou, saltou um muro e fugiu.
- Quando Deus criou Adão e Eva eles estavam muito felizes. Mas Deus criou mais alguém para lhes fazer companhia. – Disse enigmático o Filósofo.
O Almirante contra-ataca:
- A questão é: onde estão os nossos intelectuais? Simplesmente quase não os temos. Fugiram, porque só podia existir um. Os que ficaram tornaram-se mordomos. Hoje restam apenas uns poucos. Portanto não temos intelectuais. É verdade que num país onde abunda a ignorância, aparecem sempre milhares de poetas e doutores, que incentivam o aparecimento de falsos profetas. É por isso que é um bom negócio montar uma igreja numa qualquer esquina. Descrentes não faltam.
O Filósofo agita-se. Prepara-se convenientemente para a contenda despejando mais uísque no seu copo. Desfere:
- O que interessa é honrar a memória do nosso herói nacional. Na verdade somos todos revolucionários. É por isso que nos inspiramos na bebida. É ela que nos dá a força e o espírito, porque não temos mais nada que nos inspire. Somos os gloriosos sonhadores das noites tropicais. Sonhar é preciso, desde que haja alguma coisa para beber. Só que não conseguimos concretizar os nossos sonhos, talvez que se acabassem com a bebida…
O Hepatite não vai na conversa:
- Isso nunca, nunca. Perderíamos a nossa liberdade para sempre. Voltaríamos a ser escravos. Somos livres porque bebemos quando e onde nos apetecer a quantidade que desejarmos. Não se esqueçam disto, porque daqui depende a nossa sobrevivência. Somos considerados seres humanos porque bebemos
O Presidente com os olhos tristes, olha para longe e cita:
- A sociedade criada pelos colonialistas, criou vários mecanismos de defesa racial, postos ao serviço do colonialismo. O mesmo camponês pobre, miserável, oprimido e explorado na sua terra, é alvo de atenção especial quando se fixa numa das suas colónias. Ele não é só imbuído de mitos patrioteiros, como também começa a gozar de privilégios económicos e sociais de que nunca pôde dispor antes. Assim, entra no sistema. O colonialismo começa a servir-lhe o apetite e passa a ser o cão de guarda dos interesses da oligarquia fascista. In Agostinho Neto. 7 De Fevereiro de 1974. Discurso na Universidade de Dar-Es-Salam, Tanzânia.
Ao longe ouve-se a sirene de uma ambulância. – O Poeta aproveita para lembrar:
- Enquanto espero a ambulância que me vai transportar, pelas ruas onde os carros estão parados. Não vou chegar ao hospital, nem a lado nenhum, pois morrerei pelo caminho. Mas os nossos nobres escapam porque enviam as motos da polícia de trânsito, e logo a seguir um carro equipado com polícias armados para que o nobre chegue rapidamente à sua clínica privada.
A Qualquer Um Serve, olha para uma garrafa plástica de água, vazia. Dá-lhe um nobre pontapé para outro local, como se estivesse a limpar o sítio. Apenas a mudou de posição.
Imagem: Imagem de Stock: Sonho tropical. pt.dreamstime.com

segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

A Associação Angolana dos Inimigos da Democracia


República democrática dos geradores, algures no Golfo da Guiné.
E sem democratas se faz democracia.
Como é possível o BNA – Banco Nacional de Angola, afirmar que a taxa de inflação está a desacelerar, se todos os meses os preços sobem?
São surpreendentes os olhares de desprezo que os nossos novos-ricos lançam sobre os que espoliaram, e espoliam despudoradamente.
E o comité de especialidade das épocas de caça declara que: até que enfim, já é oficial. A partir de hoje e de sempre, abriu a época de caça ao opositor político. Assim, e durante os próximos tempos os nossos caçadores podem premir os gatilhos das suas armas e dispararem à vontade, estão legais. O número de peças a abater é ilimitado. Podem, e devem, eliminar as peças de caça que quiserem.
Restaurante Kremlin, prato do dia: em alusão à abertura oficial da caça ao opositor político, o nosso célebre Cozinheiro-chefe recomenda vivamente a caça efectuada pelos seus caçadores privativos/furtivos.
E um novo horizonte de esperança nasceu, com a fundação de mais um órgão político: o comité de especialidade dos desterrados e espoliados. E logo outro se lhe seguiu: o comité de especialidade dos sem-terra.
A nossa vanguarda revolucionária continua a assestar golpes demolidores nos arruaceiros e demais oposição. E como a Rádio Ecclesia se ufana, aos nossos inimigos nem um mastro de antena, porque o direito à informação apenas é garantido, está há muito estabelecido, patenteado ao partido revolucionário que guia, comanda a nossa sociedade. E por isso mesmo o nosso querido, ferido e martirizado povo está muito bem informado, e como tal não necessita de democracia. Isso de liberdade democrática há muito que está consagrado na nossa gloriosa Constituição que, como todos sabem, elaborámos, porque só nós sabemos o que o nosso povo deseja. Ele já está muito maduro, e não necessita de apanhadores de fruta. Ninguém se pode arrogar na libertação do nosso povo. E só um partido, o da classe operária e camponesa, pelas gloriosas e inesquecíveis batalhas em prol da luta de libertação encetada, continuada e terminada pelo mais clarividente partido político que dirige a nau popular, de vitória sobre vitória. Uma pátria leninista daqui jamais sairá. E aos incautos políticos sem experiência de governação, pois nunca rodaram o leme do destino do nosso povo, advertimos que a nossa vigilância canina, equídea, e demais forças estão aptas, devidamente super apetrechadas para desferirem qualquer golpe quando se achar necessário, ou desnecessário.
Bom, parece-me que já conseguimos mais um feito notável: é a Angola da China, a Angola do Brasil, de Portugal, dos vietnamitas, dos novos-ricos, e Angola dos mwangolé? Nada, pois claro, a não ser a Angola dos desterrados. Quando a corrupção se avantaja e definitivamente se instala nos tronos, não há rei nem reino que não soçobre. Eles com o petróleo, com tudo, até as praias privatizaram, e nós sem nada, excepto o direito de vivermos ao ar livre, no relento do morticínio, como os campos da morte da Tchavola. Direito a manifestação, não!!!
A nossa vanguarda revolucionária permanece no rumo, somos muito teimosos o que é que querem?, do centralismo democrático, daí a origem das novas centralidades. Faremos de Angola, não um canteiro de obras, mas uma plantação de centralidades. O nosso povo finalmente terá o direito, a dignidade de uma habitação. É verdade que existem esses da Tchavola, dos Zangos, das tendas, devido aos nossos projectos da especulação imobiliária nacional e internacional, e agora com a recessão/depressão mundial a bater forte, fortemente na China no sector imobiliário e outros, há que apostar seriamente no emprego chinês, então há que ocupar muitos, muitos milhões de chineses nas moderníssimas centralidades e nas muitas barragens três gargantas, e Angola será betonada de Kabinda ao Kunene. Angola será centralizada numa nova, República das Centralidades dos Kilambas.
É proibido ter ideias, porque os nossos amos aniquilam-nas e aniquilam-nos. E com arruaceiros se faz história, liberdade, democracia e independência. Dos corruptos não reza a História. Neste sempre tristonho, medonho memorial leninista assalta-me sempre a mensagem da anunciação da imorredoura prisão em que mergulhados no tempo, nas agonias dos dias, trespassados pelas ditatoriais profecias de um Poder que nos abrasa e escurece o ser, como no testemunho bíblico do meu amigo António Setas: «Olha, por aqui está fresquinho, há falta de luz todos os dias e água já nem se pode dizer que falta, pois há quase um ano que não a temos na Corimba.»
E restou-me responder-lhe: «Como estou? Olha, receio que por aqui o amor já acabou, e que dele apenas resta a extinção da chama de uma vela de fabrico chinês.»
Porque será que em Angola existem “milhares” de analistas internacionais? Será porque quem não sabe fazer mais nada, segue esta profissão?!
A nossa querida e revolucionária liderança há muito que luta pelo bem-estar e anseios mais prementes das nossas populações. Apesar de longos anos de luta ainda não conseguiram sair da miséria, porque será? É bem simples: o inimigo imperialista externo e interno não desarma. Agora vem com as promessas de democracia e liberdade… de libertação do nosso povo da opressão, vejam só. O que eles querem é a continuação da pilhagem das nossas riquezas e neocolonizarem-nos, mas o nosso povo já é mais que suficientemente, isto é, tem muita maturidade forjada nos longos anos de lutas sabiamente conquistadas pela nossa sábia liderança. Só os nossos chefes entendem o que é isso de dirigir, e quem nunca dirigiu, governou um país, não está minimamente preparado para governar seja o que for. Agora andam com essa da corrupção, que a nossa veterana equipa é toda corrupta, ninguém escapa, se safa do TPI – Tribunal Penal Internacional. Digam-me uma coisa, e o nosso povo é o melhor juiz, quem é que não é corrupto em Angola? Quem? Apontem só uma pessoa. E no Mundo, também existe alguém que não seja corrupto? O que faz avançar as sociedades modernas rumo ao desenvolvimento económico e social não é a corrupção? Não?! Então o que é, e quem é?! Sem corrupção não é possível existir bem-estar e felicidade na nossa Nação.
Quem retira a essência cultural de um povo, a sua música e os seus cantares, retira-lhe tudo, que é o que está a acontecer. E depois resta-nos a amostragem no jardim zoológico como espécie em vias de extinção? É evidente que estamos a ser invadidos pelo neocolonialismo em todas as suas vertentes, e quase já nenhum espaço de manobra temos, pois que estamos inexoravelmente a sermos empurrados, encurralados em Babaorum, o único reduto que nos resta.
Comentário de um segurança: a esta hora, vinte e duas horas, há bairros em que já não entras por causa dos tiroteios.
Existe alguma diferença entre políticos e banqueiros?
Em Roma sê romano, em Angola sê angolano.
Segundo informação de um familiar, cidadãos brasileiros sentindo-se inseguros fogem do Lubango. Entretanto a invasão chinesa/vietnamita prossegue.
Entretanto, o neocolonialismo avança imparável? Há uns poucos de anos estava numa boate e o canal da TV estava no "Black Music" e um português exigiu à empregada que mudasse para outro canal. Claro, que eu não queria acreditar. Temos que pôr ordem na nossa casa, senão daqui a pouco vamos para o olho da rua, o que aliás já nos acontece.
Quando um governante vê, mas ele não consegue ver, que não consegue fazer o mínimo pelo seu povo, deve demitir-se. Aliás neste momento para que é que nos servem os políticos e os banqueiros?
Na Rádio Ecclesia, 16 Dezembro, ouvi uma senhora pelo telefone que se lamentava da compra de uma viatura a uma empresa portuguesa da qual resultou em vigarice. E mais informou que não tem onde se queixar.
Humor negro: Oh! Não imaginam as imensas saudades que sinto dos constantes cortes de energia eléctrica, a beleza de tantos apagões. Mas como agora já temos (?), teremos (?), centrais térmicas que dão mais energia. Camarada Lenine, não lhes perdoe porque eles sabem o que sabem.
Incitar à corrupção não é incitar à violência? Porque onde há muita corrupção, também há muita violência. A corrupção só é possível, porque vive da violência. Resumindo: Angola é uma gigantesca mina, onde uma família e um partido nela garimpam. Portanto, temos uma família e um partido de garimpeiros.
Pacientes de tuberculose são internados numa pocilga de porcos, no Centro de Tratamento de Tuberculosos Santa Teresinha do Menino Jesus, a quinze quilómetros da cidade de Benguela. In Rádio Ecclesia. Bom, depois de muita luta conseguimos finalmente o cobiçado, aprovado, estatuto social de porcos. Que outro estatuto mais social nos espera?! O da porcaria?! Será que o lixo se tornou mais valioso que nós, porque se recicla, dá dinheiro? E se mais tempo demorar, aonde vamos chegar?!
Neste Natal meus amigos, como lhes desejar um Natal feliz porque sei que isso é impossível. É mais um Natal dos miseráveis que vivemos, cada vez pior, sem que se aviste solução. Um Natal é sempre um sonho sentado numa nuvem. Sonhamos que atravessamos a nuvem e do outro lado deparamo-nos com a realidade do pesadelo que é a vida… desumana angolana. E de tão surpresos desejamos regressar para a nossa nuvem, como a criança que anseia amiúde reentrar no ventre da sua mãe. As nossas devoções encontram-se numa simples folha de uma qualquer planta. É lá que está a nuvem e o sonho, é lá que se realizam os tesouros inexplorados da nossa vivência. E ao explorá-los, é assim que nascem/renascem as palavras que se transformam em poemas de liberdade, em livros, em suma, a literatura angolana que nos falta.
Feliz Natal para os próximos anos, e que as nossas palavras por dias melhores se estabeleçam na fortaleza do nosso amor. Porque unidos venceremos!
Imagem: estrada-para-democracia-em-angola-road-for-democracy-
gazetadeluanda.com

domingo, 25 de dezembro de 2011

O Sporting Club de Portugal na Tchavola



E às nossas Tchavolas havemos de voltar

O Sporting Club de Portugal na Tchavola

E chegou a Luanda para jogar
o Sporting Club de Portugal
Vai no estádio a céu aberto
da Tchavola/Tarrafal
que desencontro tão desigual

Leva oitocentos mil dólares
para ajudar os vitimados
dos 36 anos sem independência
defraudados
No campo ao ar livre
no estádio 11 de Novembro da Tchavola
abandonados

Do Governo de Angola
há uma grande campanha humanitária
para a população da Somália que padece
e para os nossos irmãos da Tchavola
nem o lixo que apodrece

O Sporting Club de Portugal
jogará com a selecção da Tchavola
a receita arrecadada será para a nossa Somália
jogar à bola
E para os miseráveis da Tchavola
nem uma esmola

E as nossas manas para conseguirem
trabalhar
o sexo do patrão estrangeiro
têm que chupar

Os nossos bombeiros chegaram
não demoraram
o incêndio assustou-se
e apagou-se

Que poços petrolíferos
muito interessantes,
muito intolerantes

Esta Pátria é obra de generais

A corte marcial do 27 de Maio continua
A irmandade têm fome

Nos desportos estamos bem
na arena internacional
Com muitos estádios de futebol
parados, abandonados
Esta Pátria é também obra de uma família
Há muitas sirenes que buzinam
Estridentes, a furarem
Têm carros blindados e seguranças
para protegerem o Grupo Santos, Sarl
Não é possível implementar seja que plano for
enquanto não se acabar com a teia
da corrupção que nos prende
nos ofende

Para que acabe o nosso padecer
que se exorcize o demónio do poder
E o nosso Augusto empareda-nos vivos
como o povo se trasladou
para a oposição
O grande líder se vingou
tudo se acabou
a água, a luz e o pão

Imagem: por favor nao fiques triste por estas,salas improvisadas vao albergar alguns ...
brisadokapangombe.blogspot.com

sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

Até as praias privatizaram


E a terra angolana treme
dos milhões de miseráveis
freme
que nela deambulam foragidos
pelas forças da repressão e da espoliação
reprimidos
nas imensas Tchavolas
espoliados e esfomeados
em agonia
concentrados

Arruaceiros das manifestações
o GPL-Governo da Pancada de Luanda
saúda-vos… com bastões

E os portugueses vem para Angola
trabalhar
E os angolanos vão para Portugal
passear
Lá não há trabalho, é só
desempregar

Quanto mais no tempo, no poder
mais miséria vamos ter
nos suceder
em Roma sê romano
em Angola sê corrupto
onde a ditadura se implanta
a feitiçaria suplanta-a
que a nossa vida, que está tudo a melhorar
claro, a corrupção até está no altar

Há homens que destroem lares
mas um só homem destrói uma nação

Sem energia eléctrica dão-nos o golpe final
O incremento da miséria não lhes assusta
Eles já estão habituados, programados
e têm muitos chineses
muitos estrangeiros a trabalharem
e os mwangolés?!
É para os desempregarem

Ele quer-nos mortos, humilhados
presos e executados
Nos campos da morte
fuzilados
E não podemos nem devemos
reclamar
Estão de armas aperradas
estão para nos silenciar
matar
Neste diabólico poder
a esperança que nos resta
É o morrer
Eles cada vez mais ricos
em beleza
E nós cada vez mais podres
de pobreza

§ Único. Não são permitidos honestos neste reino.
A nossa força está na corrupção.

Imagem: Luanda: Privatizada praia no morro dos Veados
patriciaguinevere.blogspot.com

segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

SONHO DE UMA NOITE TROPICAL (04)


O Presidente diz:
- Em Portugal, aumenta o movimento de deserções dos soldados. Muitíssimos jovens preferem fugir do país ou correr o risco da prisão a participarem neste crime que é a guerra colonial. O MPLA inclina-se perante estes heróicos e generosos combatentes, muitos dos quais se tornaram imortais pelo sangue que derramaram nos campos. A guerra de libertação nacional que o MPLA começou a dirigir com firmeza, exige orientação, clareza de objectivos, política de acção e honestidade. A luta não poderá desenvolver-se com incitamentos ao tribalismo, à divisão, com apelos à superstição e aos instintos primários e sem claros objectivos políticos. In Agostinho Neto.1 De Janeiro de 1967. Mensagem de ano novo.
As garrafas continuam a despejarem-se, e logo prontamente substituídas por outras cheias. O ambiente está quente, tropical. O Branco pretende distrair os presentes. Grita:
- Kwanzaa! Kwanzaa!
- Já estás bêbado? O que é que estás para aí a dizer? – Perguntou o Vodka.
- Kwanzaa! Kwanzaa!
- Explica lá o que é isso. – Pediu o Vodka.
- Deve ser uma nova marca de cerveja. – Esclareceu o Hepatite.
- Está bem vou explicar. – Informou o Branco.
- Kwanzaa, é um feriado afro-americano baseado no festival africano tradicional da colheita, das primeiras colheitas. Começa no dia 26 de Dezembro e dura sete dias. A palavra Kwanzaa, também soletrado Kwanza, vem de uma frase que significa frutas em Swahili, um idioma da África Oriental. O feriado foi desenvolvido em 1966 nos Estados Unidos por Maulana Karenga, professor de estudos pan-africanos e líder cultural negro. Combina práticas africanas tradicionais com aspirações e ideais afro-americanos. O feriado centra-se ao redor do Nguzo Saba, os sete princípios da cultura negra que foi desenvolvida por Karenga. Estes princípios são Umoja (unidade), Kujichagulia (autodeterminação), Ujima (trabalho colectivo e responsabilidade), Ujamaa (economias cooperativas), Nia (propósito), Kuumba (criatividade), e Imani (fé). Cada dia de Kwanzaa é dedicado a um dos sete princípios. Pela noite, familiares iluminam uma das sete velas num kinara (castiçal) e discutem o princípio durante o dia. Elementos de muitas famílias trocam presentes alguns dos quais são caseiros. Quando se aproxima o fim do feriado, a comunidade junta-se para um banquete chamado karamu. Um karamu típico caracteriza-se na comida africana tradicional, cerimónias que honram os antepassados, avaliações do ano velho e compromissos para o novo, desempenhos, música, e dançando. In World Book. Enciclopédia da IBM.
O Almirante está encostado no seu carro. Olha para o que lhe parece ser uma praia onde acabaram de desembarcar os seus fuzileiros. Com voz triunfante declara:
- Meus fuzileiros! Sentimo-nos orgulhosos quando abandonamos o local da bebedeira e deixamos os despojos espalhados por todo o lado. Trabalho não falta porque o consumo da bebida aumenta, o lixo também.
A Treze Anos vê que o Almirante está com os copos, e aproveita:
- Estão a vender boas aparelhagens. Batem bem, só o barulho…
- Estão a vender aonde?
O Hepatite tenta explicar:
- Eu sei onde estão a vender. Bom, a… a… vai-se na direcção da grande cervejaria, depois vira-se à direita… onde está o grande bar, depois à esquerda até… chegar à cervejaria monumental. É aí.
- Isso não é cerveja a mais? – Disse a Treze Anos.
- Não, por acaso… a da monumental até é muito boa. – Elucidou O Hepatite.
- Daqui a pouco vou para Moscovo, até amanhã. – Ironizou o Almirante.
- O que é que ele quer dizer com isso? – Quis saber a Treze Anos.
- Quando quer ir para casa, diz sempre que vai para Moscovo. Tem saudades dos velhos tempos. – Insultou o Branco.
- Tenho que apanhar um terreno. – Sonhou o Vodka.
- Já apanhei um em Malanje com vinte hectares. – Disse satisfeito o Almirante.
- Suicidar as populações é preciso. – Lembrou o Branco.
- Suicídios são na África do Sul. – Declarou o Almirante.
- Os quinhentos anos foram um ensaio. Agora é que o colonialismo é a sério. – Disse o Branco.
- Isso é porque os que estão em cima são piores que os que estão em baixo. – Rematou o Filósofo.
- É por isso que somos considerados o pior país do mundo para se fazer negócios. – Declarou o Almirante.
- E no entanto temos financiamentos internacionais de biliões de dólares. – Vaporizou o Poeta.
- Os juros serão pagos com a cerveja que consumimos. – Jurou o Vodka.
A Caribenha ouviu e pediu:
- Isso é muita cerveja. Quem é que me paga os juros de uma?
- São todas iguais. – Disse convicto o Poeta.
- São como a cerveja. Todas têm o mesmo sabor. – Foi a opinião do Almirante.
- Vou votar… não vou votar. – Prometeu o Eleitor.

O Presidente discursou:
- É também a expressão mais vasta do desejo comum do Homem sobre a terra, de se considerar livre, capaz de se desligar das amarras de uma sociedade em que estiola e morre, como ser humano. Não pode haver outra tendência sobre a terra. O isolamento é impossível e é contrário à ideia de progresso técnico, cultural e político. Para alcançar a liberdade e sem o qual o comportamento do homem será o de quem sai de uma forma de discriminação para cair numa outra forma tão negativa como a primeira, uma simples inversão dos factores intervenientes. In Agostinho Neto. 7 De Fevereiro de 1974. Discurso na Universidade de Dar-Es-Salam, Tanzânia.
O Filósofo lembrou-se do que ouviu na rádio.
- Sabem o que é que o Justino Pinto de Andrade falou hoje? Falou que as empresas de vestuário estão a fechar em Portugal devido aos preços baixos dos tecidos Chineses, então provocou muito desemprego, e um jornalista do Jornal, O Público, disse que era a altura para virem para Angola, que podiam trabalhar na agricultura. Como são originários de um vale, o Justino opinou que podiam aqui ficar no Vale do Cavaco. O Justino também disse que são os vapores do petróleo.
- Ele bebe? – Perguntou o Vodka.
- Não.
- Ah! Se não bebe não tem interesse. Nunca será nosso amigo.
- Ele queria dizer que lá a democracia não consegue arranjar emprego para os desempregados.
- Pois não, por isso envia-os para as novas colónias em África.
O Poeta tenta impressionar a Liberdade:
Preso nos céus dos encontros/ Do centro das suas pernas/ A clamar/ Que isto é a minha beleza/ Nada há melhor que isto/ Mergulha-me no meu melhor/ É apenas isto que tenho/ Não te chega? / Que queres mais? / Isto é melhor que qualquer noite.
Ela diz-me sempre/ Ai! Minha vida! / Mas sou mais bela que qualquer noite/ Peço-te por favor/ Mergulha uma vez na noite/ Do meu ventre/ Tenta compreender/ Ao menos uma vez/ O perfume e o aroma dele/ Passa os teus lábios no meu clítoris/ E sente o desconhecido/ Da vida, do viver/ Não sabes quantos segredos/ Guarda um clítoris.
Os segredos da vida/ Do amor, das nações/ Estão secretamente guardados/ Num clítoris.
Que Deus abençoe o mel planetário/ Dos nossos clítoris.
O Presidente diz:
- Esta forma de colonização visível, clara, aberta, não impede que uma outra exista no nosso continente, outra forma de dominação mais subtil conhecida pelo nome do neocolonialismo, em que o explorador já não se identifica com o nome de colonizador, mas que actua da mesma maneira a vários níveis. Se para uns, colonialismo significou e significa trabalho forçado, para outros é discriminação racial; para outros ainda, é a segregação económica e a impossibilidade de ascensão política. Mas o roubo das terras africanas pelos colonizadores, a escravização do trabalhador, o castigo corporal, ou a intensiva exploração dos bens que nos pertencem, são formas do mesmo colonialismo. In Agostinho Neto. 7 De Fevereiro de 1974. Discurso na Universidade de Dar-Es-Salam, Tanzânia.
Imagem: Os jovens angolanos e o alcoolismo;-O limite aqui não é o chão,é o subsolo!
vencendo-o-alcoolismo.blogspot.com




sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

Nunca tão poucos destruiram tantos


Se fosse instituído o campeonato nacional da hipocrisia, quem o ganharia? Ela, a hipocrisia, é tamanha que já ganhou foro de poluição nacional.
Fazer manifestações contínuas de apoio incondicional ao grande e incontestado líder, no tempo colonial também se fazia o mesmo, sucediam-se manifestações de apoio pela continuação das também incontestadas chefias colonialistas.
O Jornal, O País, na sua edição do dia 10 de Dezembro noticiou que por mês morrem 24, vinte e quatro pessoas devido ao uso dos geradores. Entretanto, o fornecimento da energia eléctrica vai piorando, até ultrapassarmos o zero?
Parece que não existe ninguém capaz de colocar esta coisa no caminho certo. Na realidade está tudo muito incerto. Para onde vamos? Para a queda, sem alternativa.
Eis os apagões da nossa estatal energia eléctrica alternativa, ou como o Inferno também é futuro.
12Dez 09.01 até às 01.05 do dia 13Dez 11Dez 07.49-16.26 09Dez 18.14 até às 16.56 do dia 10Dez 07Dez 10.51 até às 08.19 do dia 08Dez 06Dez 10.44-10.54 05Dez 15.49 até às 01.57 do dia 06Dez 03Dez 12.25-14-06, 16.52- 18.03 01Dez 12.18 até às 12.43 do dia 02Dez
E quem de Angola quiser fazer/ o seu amor/ e nela conseguir sobreviver/ terá que comprar um gerador.
Mesmo sem luz, todos os meses está lá a factura para pagar o que não se consumiu. Perante tanta macabra idiotice, só nos resta o sorrir com escárnio da condição leninista da transformação, do grande apagão da nossa sociedade.
Os vinte dias da manutenção dos geradores da barragem de Kapanda ainda não terminaram? Estão a negociar mais vinte dias, vinte anos?
E pelas ruas circulando em andores ouve-se o pregão: «Comprem geradores! Acabem com a escuridão, minhas senhoras e meus senhores!»
Será que também é necessário importar estrangeiros para fundarem um partido da oposição? Já nada me surpreende. São demasiadas as nuvens que obscurecem o nascer do sol da oposição.
E essa dos e das mwangoles quando no telemóvel prometem-nos: «Eu já vou ligar, ligo-te daqui a pouco. » Pobres cretinos e cretinas que desconhecem que isso é mais uma tara mental.
Escuridão? Vote no partido da vela. É o Governo a trabalhar, a nos apagar.
Quando a vigarice se instala no poder, é até arder.
Quando o poder das trevas dirige um país, os dias ficam na mais tenebrosa escuridão. Quando o petróleo é muito bruto, os cérebros embrutecem. Os barris de petróleo, de redondos, ficam quadrados na vegetação dos pobres de espírito, mas ricos na riqueza dos caudais dos filões petrolíferos. E governar na escuridão é suma destruição. Este é o fruto colhido da plantação chinesa, brasileira e portuguesa.
É a manipulação da informação, para que não se saiba que reinamos na completa escuridão. Manter a população na escuridão, é o futuro desta nação. É uma governação com os fusíveis há muito fundidos, e até agora não substituídos. É edificante, gratificante, um governo governar, obrigar a sua população a viver na mais negra escravidão? Quando se está sem rumo, de todas as direcções surgem escolhos desmedidos, e não há como evitá-los. É o naufragar no lodaçal petrolífero. E mesmo na mais retrógrada escuridão, promete-nos sempre uma nova vida, o líder da nação.
Já nos resta a sobrevivência da ténue chama de uma vela. Governar é mentir, é o ludibriar, abandonar. Muito tempo no poder até morrer, e um filho segue no poder. Permanecer por longos anos na vigarice do poder, e disso não se dar conta, abdicar, é sem dúvida um caso de patologia irrecuperável. Trinta e seis anos mergulhados na escuridão, e que no próximo ano teremos luz, mais trinta e seis? Mas quem lhes disse que governar é não nos alumiar? Ser irracional é que é o normal?
Brevemente os problemas da água e da luz serão ultrapassados, melhorados, porque há grandes investimentos nestes sectores da economia indispensáveis para o bem-estar das nossas populações.
E se virem por aí algum dos partidos políticos ditos da oposição, digam-lhes para emergirem, para a continuação da escuridão. Algumas pessoas gostam de viver na escuridão, e desgraçadamente impõem-na a todos os outros viventes. Ao insistirem na negação da luz, e nas promessas da escuridão como energia alternativa, o Poder convence-se que nos faz um grande favor.
Se eu descrevesse aqui o que realmente penso, sinto, como milhões de outras pessoas em absoluto desprezadas, creio que se assustariam. É preferível não divulger tais cogitos, porque são demasiado terríficos, mortíferos. E uma boa governação faz-se com uma óptima escuridão.
O nosso glorioso partido da vanguarda revolucionária sem energia eléctrica, nasceu, nos escureceu, para governar até à eternidade. Não surpreende pois que os nossos incontestáveis líderes sejam eternos. Como partido de vanguarda, já resolvemos os problemas candentes da saúde das nossas populações. Não necessitamos de hospitais, ou algo que se lhes compare, porque na nossa república popular… ninguém morre. E mais conquistas surgirão, porque a nossa experiência de governação é inigualável. Avante, pois com os nossos queridos e imortais líderes. E com o apoio das nossas igrejas também dominaremos os céus.
O leninismo é por excelência a única forma de governo que permite governar em paz as massas. Porque neste regime não há descontentes, há pão, água, luz e trabalho para todos. Só este sistema político permite a felicidade duradoura dos povos. Perguntem ao povo angolano se está ou não feliz. Claro que está. E não é necessária essa coisa da democracia que só complica a vida das pessoas, onde toda a gente fala e ninguém se entende. Já viram o que é gastar milhões e milhões de dólares com partidos políticos? Poupa-se muito dinheiro, não é?! O nosso querido Estado e o nosso querido Líder, sempre cada vez mais sábio, não necessita ir a universidades e mais o nosso super-estimado Politburo, garantem-nos tudo o que é necessário e desnecessário para enfrentarmos a vida. E todos os que se opõem a esta mais que provada clarividência, o local indicado é nos canis, sim são piores que os cães, sem direito a pão nem água.
E o involuir da história repete-se a cada momento quando o meu alaúde se solta e me “trova ao vento que passa”. Afinal, para alguns o viver é perseguir indiscriminadamente o seu semelhante. O petróleo simboliza a catástrofe do purgatório humano/angolano. Esta ditadura anuncia, renuncia, inicia o vento Sul da amargura. Mobiliza-nos, já nos aprontamos na formatura da Liberdade! Ordena-nos, solta as nossas asas, porque o voo da democracia, se anuncia. Eis que as nuvens da inspiração descem sobre nós, e outra Excalibur renasce, floresce, e outro ciclo, outra Távola nos desperta. Os novos paladinos cavaleiros Arturianos libertam o Santo Graal, há muito prisioneiro na fraude da ditadura, que teimosamente perdura. Basta-lhe que leve vaia, o seu palácio caia, e tudo à sua volta se desmaia.
Luanda, mas que contemplação. Vi, na rua da Angop, Rei Katyavala, a Odebrecht a asfaltar a rua. Mas, e os esgotos? Taparam-nos, e quando chover com força, ou não, como será?! É sempre a mesma coisa, arranjar de um lado e destruir do outro.
A maioria das pessoas anda com a cabeça no chão, e claro, com os pés no ar. Uma pequena minoria, que se pode contar, anda com a cabeça no ar e com os pés no chão. Será devido a isso que a terra treme muito?
Uma das coisas mais bizarras que acabo de ver em Luanda, foi um, dos muitos e muitos descendentes da luta de libertação de Angola, com um saco de plástico nas costas, UNITEL, a vasculhar nos contentores do lixo algo que se coma, coisa aliás corriqueira por aqui, apesar dos milhões de barris de petróleo que despejam diariamente também milhões de dólares. É o progresso do apoio das democracias ocidentais à nossa mediocracia.
Amigo leitor, esta é demais sobre a cor preta.
Faz-me lembrar um livro que li do Isaac Asimov (1920-1992) onde recrio uma cena muito interessante: na escola, o aluno só escrevia e desenhava tudo com a cor preta. O professor preocupou-se, claro, chamou e falou com a mãe. Acharam por bem consultarem um psicólogo ou um psiquiatra porque a criança não estava bem da cabeça. Decidiram-se pelo psiquiatra. Pegaram na criança e lá foram. Chegaram no consultório do doutor, este olha para a criança e pergunta-lhe: «Porque é que desenhas e escreves tudo com a cor preta?» A criança respondeu muito naturalmente: «Porque é a única cor que tenho.»
Entretanto, o Executivo investe em larga escala num outro empreendimento de vulto: a perseguição e caça ao opositor político, onde em prisões superlotadas, os proibidos da liberdade de expressão e manifestação se encerram em prisões, que depois de lá saírem irão directos para o cemitério, pois que a intenção é acabarem com eles através da morte lenta, isto com o apoio incondicional dos amigos chineses, brasileiros e portugueses.
Cuidado ao se libertarem de um ditador, porque outros chafurdam na forja, como as serpentes venenosas a espreitarem, a aguardarem.
Porque será que o empresariado angolano/estrangeiro, salvo raríssimas excepções, prima pela vigarice/escravidão dos seus trabalhadores?

Imagem: primeira tentativa de lançar o homem na Lua.
Cartoon de Marc S.) maquinaespeculativa.blogspot.com



quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

O cavaleiro Mwangolé e Lady Marli na demanda do Santo Graal (06)


O maior perigo da política é quando os declarados, conceituados idiotas decidem intervir. E como já ninguém acredita na democracia e nos seus mentores, os bancários gestores, é tudo para destruir. Não é por acaso que se fala, que se espera, o alimento do desespero da terceira guerra mundial. Porque o Triunfo dos Porcos permanece omnipotente, com os suínos bem disfarçados no poder democrático. São como as religiões que arrastam as suas multidões para os abismos da miséria e da fome. E sempre insistem que rezar é a única esperança de salvação. A fórmula dos políticos idiotas não diverge muito: «Confiem em mim que melhores dias virão.» Ou: «A nossa governação assenta nos mais grandiosos projectos das nossas centralidades, no rumo de uma nova vida e bem-estar das nossas populações. O futuro é por isso mesmo certo. Brevemente, prometo-vos que a pobreza, a fome, e a miséria das populações melhorarão significativamente.»
Os políticos idiotas são demais, em maior número, claro, têm tudo a seu favor no analfabetismo projectado, bem programado, para vencerem. Estão em todas, por todo o lado. São os senhores, os melhores em tudo, intocáveis, até deixaram de ser pessoas, são génios, deuses, os tais imortais que vindos do Olimpo se disfarçam entre nós de humanos.

Em Cuba, a partir das dezoito horas há recolher obrigatório, o policiamento entra em acção. Os estabelecimentos fecham, logo, ninguém vende nas ruas. Ainda existem destas coisas pelo mundo fora, como se fosse uma partícula que as leis da Física desconhecem.
Vontade dos príncipes jingolanos para implantarem tal saudosismo leninista não lhes falta, mas o povo jingola já jurou: leninismo nunca mais. Apenas se lamenta que a miséria prossegue e que os estrangeiros aos poucos lhes invadem a terra, e os olham como estorvos para o prosseguimento da sua ocupação total e completa. Mas, brevemente isso acabará, prometem muito convictos, os sem a escada do futuro.
Quem tomar o poder pela força, também pela força sem ele ficará.
O jingolano já aprende a manifestar-se. Quase todos os dias assim acontece. Até que mais dia, menos dia manifestar-se-á na totalidade e ninguém o conseguirá apaziguar, parar.
Reino maravilhoso, onde até vulgares contrabandistas de armas são recebidos e honrados como heróis da pátria, no navio alcoólico que nada em álcool e que depois nele se afogam.

Vinte e uma horas. Ouve-se um estrondo muito forte, tipo daqueles dos escapes das motorizadas dos nossos gloriosos malucos das motas voadoras. Espreito da varanda e vejo cinco carros danificados. O causador do infausto acontecimento é um vizinho que mal consegue sair da sua viatura. Acaba por desenvencilhar-se do interior do seu bólide alcoólico mas, mal consegue equilibrar-se. Está escravo, possesso pelo álcool, um dos carros terá que ser substituído por um novo, o motor faleceu. O álcool, tal como uma epidemia alastra-se vitorioso. É caso para dizer: contra milhões de alcoólicos – essa instituição nacional - ninguém combate. O arrasador justificou-se, alegou em sua defesa: fui encadeado pelos faróis do outro carro. Claro, do outro veículo alcoólico.

Estavam mal preparados para a guerra, que não passou de mais uma negociata, quanto mais agora para governar um país.
A única coisa que funciona é os dividendos do petróleo nas contas bancárias da nomenclatura. Esta tragédia vai passar a figurar como um acto normal. É assim como uma espécie de quarto-mundista. E uma espessa cortina de chumbo caiu sobre Jingola.
O melhor indicador da nossa pobreza é o petróleo. Quanto mais o preço sobe, também a nossa miséria. Que paradoxo, não é?!

A mãe com as duas tenras crianças, uma às costas e outra a arrastar os pés pelo chão, já sem forças, dominada pelo doentio poder do petróleo. Senta-se num pequeno muro do diminuto jardim de uma instituição bancária, ou melhor, tentou, porque um zeloso segurança sempre no cumprimento das deificadas ordens superiores, de que essa gente vem para aqui fazerem-nos feitiço, são todas feiticeiras, e as palermices habituais de quem obteve dinheiro sem trabalhar:
- É pá, não podes estar aqui!
- Porquê, vocês também compraram os passeios?
- É pá, ó senhora, é melhor bazares já, não sabes que Jingola tem dono, não é?!
- Esperem só, que a vossa hora está a chegar, vão pagar muito mal pelos males que nos fazem. O castigo será terrível.
E a espoliada até dos passeios ruada, parou mais à frente, encostou-se num pilar, relíquia do tempo colonial ainda milagrosamente viva, e deu de mamar ao mais pequenino, enquanto a outra criancinha chorava-lhe encostada no ombro da fome ainda não melhorada, nada mitigada. E os novos-ricos descem dos seus veículos luxuosos, adquiridos na corrupção petrolífera, e olham-nos, a mãe e as suas crianças como lixo humano. Como são do poder principesco, lá insistiram com os seguranças para que retirassem o estendal humano da rica paisagem petrolífera. O petróleo é a força, o rei dos poderosos, e o inimigo dos andrajosos.
Para onde olhássemos deparávamos sempre com o mesmo incomensurável cenário: um oceano de homens fardados, e outros à paisana da secreta do rei vigiavam para que a manutenção do poder se perpetuasse, porque os reis não reinam na terra mas no tempo eterno. Quer dizer, há dois tempos: um para os reis, imortais, e outro, o dos pobres mortais.
Jingola, como reino exemplar da injustiça, o seu rei marimbava-se para a justiça popular revolucionária dos pneus incendiados na cabeça dos sentenciados desgraçados, imolados. A moda estava de tal modo disseminada que dir-se-ia como os inúmeros concursos de misses disto, daquilo e daqueloutro. Era perfeitamente naturalíssimo despertar de manhã e assistir ao macabro teatro de cadáveres rodeados, queimados pela justiça do pneu queimado enfiado no pescoço das vítimas, que morriam incineradas pelos desmandos do tentarem surripiar qualquer coisa ao êxodo dos esfomeados. Era, de certo modo, uma concorrência desleal aos corruptos petrolíferos, que não cansados do espúrio das terras, dos parcos bens do outro povo. Sim, Jingola, tem dois povos. O dos que usurparam o poder e o dos que nada têm, apesar de hipocritamente lhes chamarem de, o nosso povo.

Imagem: povodearuanda.wordpress.com

terça-feira, 13 de dezembro de 2011

A VELA DA EDEL É A MINHA COMPANHEIRA FIEL


A maior desgraça de uma nação pobre é que em vez de produzir riqueza, produz ricos. Mia Couto
E esta adaptação de António Aleixo, (1899-1949) adequa-se perfeitamente ao nosso Estado da Nação: Se conheces um corrupto/ e o pretendes enfeitiçar/ chama-lhe honesto/ se o pretendes dominar.
Há trinta e seis anos que se fazem estudos para resolver o problema da energia eléctrica, da água e da habitação. O estudo para combater a pobreza é muito complicado devido às assimetrias abrangentes a jusante e a montante do sistema, o que implica uma menos-valia macroeconómica. O único estudo que se fez até agora e se cumpriu, cumpre, a cem por cento como todos sabemos, e que funciona em pleno é a corrupção. É impossível uma manifestação a exigir o fim imediato dos cortes na energia eléctrica? Da água, da miséria e da fome? Quem não nos consegue abastecer de energia eléctrica e água, ainda nos faz mais promessas? É que não podemos viver como se estivéssemos assolados por terramotos, vulcões, ciclones e todas as intempéries conhecidas e desconhecidas. O que não falta por aí é gente capaz, competente, para dirigir os actuais incompetentes que apenas adquiriram o mestrado da corrupção sem diploma passado, claro, quem sabe se até o têm.
E o que dizem os nossos donos eternos? «O MPLA governa e dirige Angola desde a independência». E mais nos garantem: «Temos que aprofundar a democracia». «E o ocidente impôs-nos a democracia». Claro, em mediocracia nunca pode coexistir a democracia.
E a célebre invenção, invasão leninista: O MPLA tem responsabilidades históricas, da paz e justiça social, do desenvolvimento económico. O MPLA conseguiu a independência de Angola. Não devemos copiar os outros, isto aqui não é nenhuma primavera. Mas já foi um Inverno/Inferno russo/cubano e agora chinês/brasileiro/português/Eternos. No nosso mais que perfeito leninismo ninguém necessita de alimentação, de água e energia eléctrica, pois que o Estado garante-nos as trevas que nos sustentam adequadamente.
Luanda. Falência do sistema da rede eléctrica: Conforme temos vindo a alertar ao longo dos últimos anos, que o fornecimento de energia eléctrica à cidade de Luanda acabaria no caos, devido principalmente às novas centralidades (?), prédios, condomínios, e demais construções anárquicas da nomenclatura que nunca são demolidas, e aí está… um notável desaire devido ao incremento da especulação imobiliária desenfreada. Temos um partido/estado que move gigantescos empreendimentos imobiliários sob exigência de uma classe que: ou fazem o que queremos ou então não há empréstimos nem apoios.
Em declarações à RNA – Rádio Nacional de Angola, no noticiário central das vinte horas, 23 de Setembro, o engenheiro João Barradas da ENE – Empresa Nacional de Electricidade, confessou que Luanda continua com um défice no fornecimento de energia eléctrica. Mais informou que também prossegue a manutenção (?) nas centrais de Capanda e Cambambe, e os projectos de recuperação das turbinas a gás. Lá para Dezembro estará a situação regularizada. Resta comentar que estamos perante mais uma avantajada vigarice para apascentar ao tal milhão de promessas?
No tempo colonial, o da miséria, a electricidade e a água não nos faltavam. E agora, finalmente libertados, essas coisas desaparecerem. Então, libertaram-nos do quê?!
Essas tias novas centralidades que no fundo não passam de meras negociatas, deviam contemplar as províncias, para que Luanda se descongestionasse. Mas não, é precisamente o contrário. Luanda congestionasse ainda mais, até rebentar de vez, sem electricidade e sem água. Isso dos geradores eléctricos, outra grande negociata, é uma utopia, um veneno. Luanda, novas centralidades em execução. A partir das 19 horas os “desperados” assaltam os sacos das senhoras. Enquanto isso os chineses trabalham dia e noite nos projectos imobiliários do Grupo Abençoado, Sarl. O mwangolé desempregado vive do cangaço. Mais um projecto nova-rica. O palmarés da corrupção lança-nos as suas garras. É como a energia eléctrica da fraude, em que se segue mais um apagão. É impressionante como uma família, um grupo de pessoas mantém Angola sobre permanente estado de sítio, isto é, sem energia eléctrica e sem água, como se de sitiados se tratassem, mas é que estamos mesmo sitiados. Mas esta governação nunca mais se acaba, apaga? A Dilma Roussef disse que Angola está no caminho certo, então ela e o Brasil estão no caminho errado? A quadriga do Poder arrasta-nos para a arena deste circo romano, sem bóia de salvação. Sofremos mais uma interrupção no fornecimento de energia eléctrica, coisa muito normal, pois há mais de trinta anos parece que estamos em guerra. E manter-nos no ciclo reprodutivo sem água, sem energia eléctrica, sem direito a nada, apenas com a garantia da miséria, e entregar-nos as almas aos estrangeiros. Pensam e decidem em tudo. Mas esquecem-se que Angola tem população. O dinheiro do petróleo sobra em demasia na minoria. E nunca chega, nunca beneficia a grande maioria. Quando se houve muito estardalhaço sonoro das escoltas policiais, buzinas sempre estridentes no dia-a-dia deste caos irremediável, são os nossos governantes muito apressados, estressados, muito preocupados na resolução dos problemas do nosso sofredor e infeliz, mártir povo.
E a oposição não consegue uma manifestação nacional para a reposição do sinal a todo o espaço da República do Petróleo de Angola. Porque sem informação é impossível acontecer, a oposição sobreviver.
Isso de que a nossa vida vai melhorar… os preços sobem desordenadamente. Está certo, isto é o diabolismo, porque a nossa vida (?) está a piorar. Eles estão a nos infernizar. Este é o trânsito da nossa política engarrafada. Com duas rádios e dois jornais e restrições na internet, estamos no totalitarismo absoluto, absolutismo.

A água para todos e para ninguém.
E vi uma doença que afligia muito os nossos novos-ricos. Derrubavam paredes e voltavam a edificá-las, e tornavam a parti-las e outra vez as erguiam e repetiam esta desgraça, incansáveis. E compreendi o porquê deste mal que tanto os aflige. É que o dinheiro do petróleo é tão imenso nos bolsos deles. Que além do harém concubino, não sabem como o gastar. E assim justificam-no no parte/derruba paredes. É o secador, apagador das nossas vidas. Eu quero governar sem parar. E a água, a energia eléctrica lhes vou tirar.
Uma invasão de mercenários estrangeiros e de bancos da razia com esquemas de nos afastarem e demolirem as nossas casas para construírem os seus prédios. A energia eléctrica e a água estão também nestas condições de espoliação. Roubam-nos os empregos para eles, para as suas famílias e amigos empregarem. Tudo o que é feito com base na trapaça, vigarice, a mentira, corrupção, origina que fiquemos sem o mais importante: a energia eléctrica e a água. Que em Angola nada funciona? Dizem, mas a corrupção abunda em força.

Haverá alguma solução para trinta e seis anos sem soluções?
Que fique bem claro: o insulto infundado é a arma dos imbecis e dos canalhas.
Em Angola não existe ditadura, o que existe de facto é uma feroz repressão, mas ditadura, isso não. No fundo são como os islamitas, não deixam construir igrejas cristãs, nem tão pouco praticar o culto, mas disseminam as suas mesquitas por todo o lado. O clima adensa-se, está carcomido, e será devorado pela sua intolerância política. O nosso futuro e o nosso destino estão traçados na nossa luta correcta rumo ao paraíso celestial que o nosso partido da vanguarda há muito nos traçou. O nosso rumo é só um, o nosso e mais nenhum.
A nossa vanguarda revolucionária segue os trilhos dos grandes líderes mundiais, aqueles que ofereceram as suas vidas pela causa justa das lutas dos povos sofredores, e agora finalmente libertados. Na nossa Pátria, Angola, edificámos finalmente o socialismo científico, a ciência dos povos oprimidos, e o nosso povo caminha feliz rumo ao desenvolvimento. O nosso líder máximo, eleito naturalmente pelas massas está atento, e qualquer tentativa de desvirtuar a nossa revolução, será severamente punida. Vivam os povos oprimidos de todo o mundo! Viva a classe operária e camponesa!

Martelo demolidor ataca sites angolanos
O martelo demolidor arrasou o Club-K, Angola24horas, e a makaangola do Rafael Marques, foram demolidos para nos seus lugares se edificarem novas centralidades com dinheiros públicos. Estas medidas estão enquadradas no novo plano de reconversão da informação angolana recentemente aprovado pela mais alta estrutura da Nação, com o apoio dos habituais amigos estrangeiros.
Depois do término destas centralidades por construtoras chinesas, brasileiras e portuguesas, a informação em Angola dará saltos muito qualitativos, antevendo-se uma mais-valia significativa no bem-estar das populações.
É o Governo de Angola a trabalhar para o nosso bem-estar. Só quem não o compreende o pode insultar, sempre pelos mesmos mal-educados, invejosos, arruaceiros que não desejam o bem do povo angolano. Este povo tão escravizado, tão torturado, tão espoliado, das casas desalojado pelo sempre mesmo imperialismo internacional e seus lacaios internos que nunca desarmam.
Angolanos e angolanas, não se deixem levar pelas falsas informações que esses vende-pátrias lhes promovem. A liberdade e a democracia vivem num só partido: O partido de sempre, aquele, o tal da vanguarda revolucionária. Muitas vitórias nos esperam. E a principal delas, a pobreza, em poucos dias terminará.
A coisa está feia, até as praias privatizaram.

sábado, 10 de dezembro de 2011

SONHO DE UMA NOITE TROPICAL (03)


O Hepatite e a Qualquer Um Serve desconversam. O Hepatite pergunta-lhe:
- Acreditas em Deus?
- Sim, dá aí mais uma cerveja, põe na conta Dele. E unidos beberemos.
-A grande epidemia nacional. As crianças também são incentivadas pela família a beber. – Comenta o Vodka.
- As festas costumam acabar em pancadaria e tiros. – Acrescentou o Almirante.
A senhora da cerveja trouxe mais uma caixa. A orientação que tinha era quando a cerveja acabasse, que a renovasse. Claro que estava sempre atenta. O Almirante bebeu e tagarelou:
- Isto não tem nada de extraordinário. Há quinhentos e tal anos que praticamos este desporto tradicional. Claro que agora exageramos. Somos o que resta da nossa civilização, e como o nosso tempo está a acabar, nada melhor do que acabarmos em beleza com a nossa raça. Temos pouco tempo para beber porque o nosso fim está próximo. Queremos acabar com a nossa existência bebendo dia e noite… morrendo felizes.
- Um copo para todos e todos para um copo. – Apoiou o Vodka.
- Boa noite dedicados apóstolos. Como adoro esta magia, este feitiço nocturno.
- Boa noite querido Pragador. – Respondeu a Caribenha.
- Pelas sete pragas que nos afligem. Só uma pessoa me saúda?
- Nunca ouvi falar dessas pragas. Prefiro estas maravilhas. Observou o Almirante olhando para as cervejas.
- Sabem quantas maravilhas existem no mundo? – Perguntou o Pragador.
- Não, ninguém sabe. Se fossem marcas de bebida. – Respondeu o Hepatite.
- Eu sei, são sete. – Afirmou o Filósofo.
- Não, são oito. – Explicou o Pragador.
- Duas fábricas de cerveja, uma grande garrafeira, as maratonas, as festas de aniversário e casamentos, as importações de bebidas, e uma grande cervejaria. E sabem qual é a oitava? É a fome! As sete maravilhas da nossa desgraça são: a malária, a Sida, a doença do sono, a tuberculose, o sarampo, acidentes de automóvel e o álcool. Uma praga especial que origina as outras é as comissões.
- Tem muita razão. – Concordou a Caribenha.
- Como lhes prometi, já acabei de compor a minha versão do Pragador. Se me derem licença gostaria de lê-la em primeira…
O Pragador é interrompido por gestos nervosos do Vodka. Este olha para a esquerda e para a direita. Diz:
- Agora não, noutro dia, noutra noite.
- Pelas sete pragas que nos afligem. – Praguejou o Pragador.

A caminhar calmamente aproxima-se mais um apóstolo. De fato e gravata, sapatos pretos que brilham com a luz das velas acesas das vendedoras. Cabelo bem penteado. Muito altivo e sereno. O seu corpo e os óculos que usa lembram alguém muito conhecido, muito admirado. Cumprimentou com voz firme:
- Boa noite camaradas!
- Boa noite camarada Presidente. – Entoaram todos.
Entretanto, o Almirante explica em voz baixa ao Vodka, que o recém-chegado não bebe, e que as suas conversas são sempre citações do falecido presidente Agostinho Neto, daí o nome de camarada Presidente, ou simplesmente Presidente. Costuma citar que haveremos de voltar a assumir os destinos do País. Quando fala os presentes ficam muito pensativos, e escutam-no também com muita atenção. O Presidente diz:
- Juramos-te camarada Presidente, que levantaremos cada vez mais alto o facho aceso do teu exemplo, da tua determinação e perseverança lutando para merecer cada vez mais a honra de pertencer ao destacamento de vanguarda da classe operária que tu tão fielmente dirigiste. In 15 De Setembro de 1979. Juramento do Comité Central do Mpla.
Uma zungueira corre pela rua a gritar O alguidar baloiça-lhe na cabeça, as coisas no interior querem saltar. Um carro da polícia persegue-a, pára e descem dois agentes. Atiram-se à zungueira e roubam-lhe o alguidar. A Caribenha prepara-se para auxiliá-la, mas o Almirante segura-a. O carro arranca veloz na companhia da noite. O Almirante comenta:
- Isto é uma república das bananas.
- República da selva. – Diz o Filósofo.
- República sem bananas. – Acrescentou o Vodka.
- República dos bananas. – Insultou o Branco.
- Deixa lá que no teu país… – Não terminou o Hepatite.
- No meu país?! O povo gosta muito de votar num partido em que se ganha dinheiro sem trabalhar. A actividade principal é assistir a jogos de futebol. Por causa disso abandonam o trabalho. A outra labuta é falarem muito. Votam muito num candidato que lhes promete que ganhar dinheiro é fácil. É o fardo do fado. São todos fadistas. Carregam o embalar dessa nostalgia, à espera que o nevoeiro se dissipe, e chegue o Desejado. Os desejos são poucos. Sem enfado do vinho, aprecia-se um bom fado.
O Presidente finaliza:
- Em Angola vive-se um clima de mobilização geral. Os colonos estão armados e organizados em milícias como em 1961; o período de prestação de serviço militar foi prolongado para 4 anos e o orçamento português prevê 42% do seu total para as despesas com a guerra colonial: mais de 6.000 milhões de escudos! O inimigo procura também desmobilizar o Povo com a corrupção e com algumas concessões às reivindicações do nosso Povo. Sem dúvida que a alguns sectores da nossa população foram concedidas melhores condições de vida, mas não se modificou certamente a base material em que vive a grande maioria. In Agostinho Neto.1 De Janeiro de 1967. Mensagem de ano novo.
- Bom, vamos bebendo as nossas cervejas. – Disse o Vodka.
- Bebem e não comem. Isso faz mal. – Criticou o Branco.
- Prefiro gastar o dinheiro na bebida. – Desabafou o Hepatite.
Ouve-se como que uma só voz saída das habitações. Um oooh!, muito longo.
- Mais uma falha de luz para nos confundirmos com a noite. – Falou o Filósofo.
- Porra!. Nem se consegue ver a telenovela! – Disse uma jovem na janela.
- Vai lavar a loiça. – Disse um vizinho.
- Hoje não é o meu dia, seu atrevido. – Esclareceu.
Sentia-se como que numa vitória o aumento do caudal das latas e garrafas espalhadas pelo chão. As mamãs ao amanhecer cuidarão devidamente do local.
A Treze Anos, é este o nome devido à sua idade, grita.
- Quem me dá o saldo? Quem me dá o Saldo?
- Aqui não há ninguém com saldo. Já perderam a tesão por causa da cerveja.
- Seu mal-educado. Saldo para o telemóvel, o prazo termina hoje.
- E o que é que me dás em troca?
- És muito interesseiro.
- Vou-te dar o saldo, mas depois vais dar uma volta comigo.
- Está bem.
O Eleitor repete sempre a mesma coisa.
- Vou votar… não vou votar.
Um grupo de jovens aproxima-se do embondeiro. Estão agitados.
- O que é que se passa aí com os jovens? – Pergunta o Almirante.
- Não sei. – Respondeu o Vodka.
Um jovem sobe pelo embondeiro, enquanto outros aguardam em baixo na expectativa. Em seguida um camaleão cai no chão. Um jovem dá-lhe um pontapé. Outro apanha-o e coloca-o numa caixa de papelão. O Almirante fala-lhes:
- Não façam mal ao animal, é inofensivo, só come insectos.
- Puseram-no aqui para nos fazer feitiço. – Informou o jovem.
- Ó jovem chega aqui. – Ordenou o Almirante.
- Sim pai.
- Conta lá bem como é que foi isso.
- Os escuteiros colocaram o camaleão no embondeiro e ele subiu muito devagar até esconder-se lá em cima, num ramo. Estava muito verde. Os escuteiros tiraram-lhe muitas fotografias, até o filmaram. Disseram que estavam a contribuir para o equilíbrio da natureza. Era grande, tinha mais ou menos quarenta centímetros de comprimento. Depois dos escuteiros saírem alguém começou a dizer que isso era para fazer feitiço. Depois começamos a sentir medo.
O Almirante perde a calma, enerva-se, a sua voz parece um trovão:
- Aqui temos as taras mentais, os sindromas da guerra. Tão cedo não nos libertaremos disto. Um grande manicómio é o que somos. Um ser humano que mata um animal inofensivo por pura maldade, por pura selvajaria, não merece viver. O seu lugar é na selva, junto com os animais mais ferozes. São piores que eles. Têm instintos de maldade, matar, matar seja o que for. Sempre protegidos pela impunidade. Creio que nem daqui a cem anos ou mais conseguiremos ressuscitar os nossos belos costumes perdidos. Se Deus realmente existe, o que duvido, Ele deve ser terrível.
- Porquê? – Perguntou intrigado o Vodka.
- Deve sentir-se muito contente com a maldade, que é o que mais se vê, porque bondade também não se vê. Uma sociedade educada na maldade acaba sempre em escombros. Como se costuma dizer, nem os sapatos se aproveitarão.

sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

A renovação da nossa desgraça nos meses de Novembro, Outubro e Setembro


Um país superdesenvolvido como Angola, não necessita de energia eléctrica, porque o nosso Governo finalmente decidiu-se, inventou um sistema revolucionário que permite extrair energia eléctrica das nuvens. Isso mesmo: então as nuvens não estão carregadas de partículas eléctricas? E depois? É isso mesmo, com uma bruta antena e com um dispositivo inventado pelos nossos cientistas, com o apoio incondicional do nosso Instituto Nacional para o Desenvolvimento da Ciência, conseguimos. Ainda em fase experimental, a coisa promete. Tanto é assim que o nosso Governo promete-nos que a partir de Dezembro, cortes, apagões, nunca mais. Viva o nosso Governo!

Entretanto:
Novembro, apagões eléctricos:
30Nov 04.38-05.43 28Nov 07.34-09.34, 10.19-11.35 24Nov 18.26 até às 17.23 horas do dia 25Nov 21Nov 02.20 até às 10.52 do dia 23Nov 18Nov 17.58 até às 19.56 do dia 19Nov 15Nov 20.14 até às 04.28 do dia 17Nov 14Nov 00.13 até às 04.10 do dia 15Nov 10Nov 09.47-10.38 07Nov 00.14 até às 09.27 do dia 10Nov 06Nov 10.32-10.42 03Nov 09.34 até às 17.10 do dia 05Nov 01Nov 19.37-21.06

Pagámos dois mil e tal kwanzas e no mês seguinte quase seis mil. Então, se estamos desligados, não temos luz, como é que a factura subiu assim astronomicamente? E não vale a pena reclamar porque o sistema leninista vai-te ameaçar, apagar.

Desmaios/apagões da energia eléctrica Outubro
31Out 12.09 até 17.43 do dia 01Nov 29Out 16.41- até às 11.50 do dia 31Out 27 Out 10.19-11.25 18.27- até às 20.55 horas do dia 28Out 26Out 04.00-06.20 25Out 10.42-13.14 24Out 06.49-16.13 23Out 18.30-19.55 20Out 16.01-17.17 17Out 07.57-19.50 15Out 06.35-16.28 e das 17.59-19.34 11Out 06.23-08.29 e das 13.10-14.54 06Out 10.53-11.45 05Out 13.31-23.58 04Out 15.01-16.19 02Out 18.52-05.42 01Out 06.15-17.23

Desmaios/apagões da energia eléctrica Setembro
27Set 13.53-15.35 25Set 08.16-16.29 24Set 05.52-17.10 23Set 03.08-03.51 22 set 08.13-10.32 11.12-12.14 20Set 10.53-11.02 11.05-11.16 17.44- até ás 04.00 dia 21Set 18Set 22.04-23.44 17Set 18.33 até às 09.06 de 18Set 10Set 07.03-18.11 04Set 06.10-09.41

A água, essa miragem neste deserto.
O prédio da nomenclatura recentemente inaugurado tem piscina no terraço. Os povos juram que é da nossa princesa Isabel dos Santos. Não dá para muito comentar porque decerto vem me matar. Como é que a água nos há-de chegar? Até a água é só para eles. E até as praias privatizaram.

A água a secar no mês de Novembro
08Nov. Não foi só um dia não, porque isso é impossível, mas como perdi o registo, paciência.

Desmaios/apagões da água Outubro
17Out 14Out 11Out 10Out 08Out

Desmaios/apagões da Água Setembro
30Set 29Set 13Set 11Set

INTERNET
A Internet é a ferramenta dos evoluídos e como nós estamos ao contrário, na involução, a ela não temos acesso, isto é, a informação está condicionada, autenticada pela repressão da informação. E com o apoio das democracias ocidentais brancas, porque há duas democracias: a branca e a negra. Então, é como a magia: branca e negra.
Então, como os lucros petrolíferos são um bolo demasiado apetitoso, há que queimar, silenciar, interromper, destruir a informação contrária, do contra, para que os dividendos dos lucros se encaminhem sempre para os mesmos. Há que camartelar com inaudita força os raios lazer sobre os sites inimigos, Club-k.net, angola24horas, e até, imagine-se, o makaangola, do Rafael Marques de Morais. Quer dizer, quanto mais silenciares a informação mais depressa soçobrarás. Porque o silêncio da informação origina o derrube da opressão.

Internet
Comunicado sobre as Interrupções do Portal Angola24horas
NOTA DE IMPRENSA
Cordiais saudações
O Gabinete de Comunicação e Marketing, do órgão acima citado, serve-se da presente Nota, para dar a conhecer aos seus leitores, que a semelhança de outros meios de Comunicação Social Online, o portal ANGOLA24HORAS, tem sido alvo de forma continua e incessante de vários ataques cibernéticos, (Hackers), informamos igualmente, que desde o passado dia 10 de Outubro do corrente que os nossos serviços têm sido violentamente afectados.
Entretanto, o Gabinete de Comunicação e Marketing, vem por este meio, denunciar à Comunidade Nacional e Internacional esta prática que em nada dignifica um Estado que se quer de Direito e Democrático, privando o direito de informar e de ser informado de todos os cidadãos que se revejam num portal como, o nosso que está comprometido com a verdade e a dignidade da pessoa humana.
Pelo que apelamos ainda aos nossos estimados leitores, fiéis ao ANGOLA24HORAS, compreensão e ponderação prometendo estar de volta o mais breve possível, isto é, tão logo ultrapassamos tais dificuldades que nos foram impostas por quem pretende simplesmente matar a liberdade de expressão e opinião, mas alertamos desde já que, não nos vamos render aos caprichos de quem quer que seja.
ANGOLA24HORAS - INFORMAR COM RESPONSÁBILIDADE É O NOSSA DESAFIO!
Luanda, 31 de Outubro de 2011
Angola24horas.com