Todos os anos havia um
concurso de corrupção na terra corrupta, e claro que a ele só podiam
candidatar-se corruptos, daqueles famosos, e outra vez, claro, que só um
corrupto o podia ganhar. E foi anunciado o vencedor, era quase sempre o mesmo,
e a imprensa corrupta falada, escrita, televisionada, na Net, teceram rasgados
elogios ao corrupto que conseguiu tal feito. Que isso, usando o conhecido slogan,
“isto não é para quem quer, é para quem merece.” E o vencedor corrupto, parece
que pela vigésima vez, agradecia: “Estou muito grato a todos os que votaram em
mim, a todos os que acreditaram em mim. Muito obrigado a todos pela confiança
que em mim depositaram. Não há futuro sem corrupção. Aproveito para dar uma
sugestão a todos os corruptos nacionais e internacionais: Que tal mais uma
cadeira no nosso ensino, ou melhor, criar universidades para o ensino da
corrupção? Saibam que professores, e dos melhores, não faltam por aqui e por
esse mundo fora. Muito grato pela vossa atenção. Viva a corrupção!”
Vamos diversificar a
economia! Qual economia?!
Ocorre-me que a corrupção
é como um iceberg, onde só se vê um pouco à superfície e por baixo não se vê
nada.
“Renunciar à tarefa de
reformar a sociedade é renunciar à responsabilidade de um homem livre.” “O
único que tem o poder totalmente é o amor, porque quando um homem ama, não
busca o poder, e portanto o tem todo.” (Alan Paton, escritor sul-africano
anti-apartheid, 1903-1988)
Enquanto a corrupção
não acabar, não haverá economia… não haverá nada. Nada de nada.
E fatalmente terminámos
na prisão da poluição política.
Será possível que um
governador não saiba o que se passa nos bancos da sua província? Por exemplo,
na Rádio Despertar foi anunciado que funcionários do BCI-Banco de Comércio e
Indústria, em Benguela, torturaram um empresário porque ele teve a coragem de
denunciar a máfia de divisas praticada por esse banco.
O dinheiro não está
difícil, vai ficar impossível.
Nos noticiários da
corrupção noticiam-se as desgraças pelo mundo fora, enquanto por aqui as
notícias dizem-nos que vivemos num mar de felicidades. Omitir a carga de infelicidades
que já não se pode mais suportar, isto é fazer a corrupção. Custa a acreditar
que com tantos e notáveis avanços científicos conquistados ainda existam
impérios da corrupção. E isto, parece que não, é um acto de desestabilização
nacional, mundial.
O mistério de Samakuva
continua a atormentar-me quando ele disse num discurso para os seus
correligionários, “conquistámos mais lugares no parlamento.” Até agora ainda
não consegui decifrar este mistério. Quer dizer, penso que os partidos
políticos nos desiludiram porque afinal não cumpriram nada do que prometerem na
campanha eleitoral. Se constantemente reiteram que desta vez não haverá fraude,
então porque a aceitaram e se acomodaram? Mas, bem visto, isto também é fraude,
não é amigo leitor?
Onde há escravidão,
miséria, fome, não há patriotismo. A sociedade desaparece porque fica sem
regras. Fica a luta pela sobrevivência, a lei da estafada selva, salve-se quem
puder, a selvajaria, que já demoniacamente se instalou.
E quando há qualquer
problema, seja ele qual for, as igrejas mandam rezar. Sim, rezar, há mais de
dois mil anos que mergulhamos nisto, atolados na oração. Quanto mais se reza há
um fortalecimento da desgraça que sorridente agradece. É mais este absurdo que
comanda a vida humana.
Quando o muangolé um
dia souber o que é um democrata, distinguir o verdadeiro de um falso democrata,
então sim haverá democracia.
Se não derem condições
à massa cinzenta e estrangeiros residentes devotados aos interesses de Angola,
não vale a pena pensar Angola como país do futuro. Vale mais pensar em país sem
futuro. E não é isso que há muito acontece? Caminhamos para a falência do
Estado?
Sem contabilidade a
corrupção é um êxito.
Até parece que a
principal actividade dos serviços secretos angolanos é a implacável perseguição
a jornalistas. Aconteceu com o “pobre” jornalista do Folha 8, Pedro Teca, que
cobria a tomada de posse do PR João Lourenço. O “coitado” ficou como que preso,
interdito, durante um tempo por ser jornalista do Folha 8. Há interesses
obscuros em acirrar os ânimos? Voltamos ao tempo dos bolcheviques (maioria) e
mencheviques (minoria? Se disto não passaremos ao dia de amanhã não chegaremos.
Se não se pode suportar, se não se pode ter opiniões divergentes, críticas e coisas
similares, então continuaremos com os estatutos de Lenine.
Orgulhosamente sós,
não, orgulhosamente sempre acompanhados pela nossa inseparável amiga corrupção.
Vamos combater a
corrupção! Dizem, mas não se sente nenhum mecanismo para a combater. Isto quer
dizer que é só para muangolé ver.
Já vai para um mês que
não consigo assistir, (a única coisa que restava) ao rodapé dos noticiários da
TPA-Televisão Pública de Angola. Definitivamente, TPA nunca mais. Isto está a
ficar bonito, está.
A minha última
descoberta: Angola ainda não tem classe política. Por enquanto tem uma classe
de palradores políticos.
Para manter a
corrupção sempre no activo há que afastar os indesejáveis, isto é, os
opositores e os críticos.
Principal regra de um
bom corrupto: lutar pela corrupção é fazer revolução. Como as cosias andam sob
o domínio completo da corrupção, há, como já dito atrás, que declarar a
falência do Estado, da nação.
Outra coisa que não se
entende é o deixar as lâmpadas acesas noite e dia nas residências. Será isto
mais um caso de saúde mental? Inclino-me que sim, e é mais uma epidemia de
débeis mentais, onde a corrupção é lei. E quem mais sofre, sempre, são as
crianças que ficam como que abandonadas em campos da morte. Toda a gente sabe
disto, fazem-se os habituais belos discursos… e nada mais.
Quem se manifesta
contra as arbitrariedades de um incapaz regime, cai-lhe em cima a acusação de
perturbador contra a ordem pública. De sublevação contra a autoridade constituída.
Isto para que a corrupção continue impune, num Estado não de facto, num Estado
não de direito. Uma nação envolta em corrupção, nada nos tem para dar, não.
Trabalhadores do Porto
do Lobito em greve à Rádio Ecclesia: “não têm dinheiro para nos pagar, mas têm
dinheiro para pagar aos estrangeiros.”
Custa a crer mas é a
pura verdade. Na Rádio Despertar, ouvi um membro da Omunga de Benguela em
entrevista na DW, que os professores no Bocoio, em Benguela, estão a ameaçar de
morte as crianças nas escolas porque os seus pais são da Unita. Francamente,
então o que é que as indefesas crianças têm a ver com isso? Estamos em presença
de tribalismo político? Para onde vai Angola? Pelos vistos vai para o desterro
político. Mas tem mais: foi acrescentado que a Omunga recebe dinheiro dos
americanos para desestabilizar a população. E que o governador se mantém
indiferente Claro que fiquei, estou muito apreensivo porque isto me faz lembrar
aqueles tempos em que mostrar uma nota de dólar ou vestir uma camisola com a
bandeira dos EUA, era logo acusado de agente do imperialismo. Assim a
desagregar-se para onde é que Angola vai? Sempre para o partido único? Sempre
com os mesmos ideólogos e logo sempre com a mesma ideologia? Não se pode pensar
a não ser de acordo com o pensamento oficial das estações de rádios, de televisões
e jornais da lavagem cerebral, da alienação total? Os azares estão lançados,
diria hoje o célebre romano Júlio César. Vai haver mais perseguições, mais
purgas políticas? Pelos vistos creio que sim.