Luanda.
Escola primária 1.120, sala 2, período da manhã, a poucos passos do Quinaxixi e
quase encostada à empresa Tecnoserve.
O
professorado está preparado para primeiros socorros? As escolas têm kits de
primeiros socorros?
16abr18,
a greve dos professores acabou e o Marcos regressou à escola.
18abr18, a escola tem sanita, ou tinha,
mas muitas crianças mijam no chão porque lá onde moram decerto esse utensilio
lá não existe. Para resolver a situação o professor arrancou a sanita e pôs
umas chapas no chão.
19abr18, o meu neto não teve aulas, a
professora Rosa não veio porque está doente e o professor que a substitui não
veio. A diretora costuma aparecer ao meio-dia. Entretanto um aluno da sala 1
foi lutar com outro mais velho da sala 2. O aluno da sala 1 foi atirado ao chão
e o da sala 2 dava-lhe bicos e pisava-o violentamente na barriga. Não estava
ninguém para parar com a selvajaria.
20abr18, o meu neto não foi à escola
porque chovia muito e em toda a cidade era muito difícil andar de automóvel
porque as ruas estavam congestionadas, e quando está assim fica difícil ou
impossível ir trabalhar. Aliás em vários locais nem dá para sair de casa porque
se está cercado de água.
26abr18, crianças tão pequenas e já
escravas da maldade. Uma criança rasgou o caderno escolar do meu neto porque
não conseguindo fazer as tarefas escolares… vingou-se no caderno do meu neto
porque ele fez todas as tarefas.
O meu neto queixa-se frequentemente de
que lhe roubam o lápis, borracha, e outras coisas, incluindo a comida que leva
de casa. Tão pequenos e já muito bem-educados na vil arte do roubo. Eis uma
nação sem futuro.
27abr18, o meu neto não foi à escola
porque está com febre.
11mai18, Marcos entrou de férias, até 18
ou 20 de Maio, disse ele.
21mai18, Marcos não foi na escola porque
o Sérgio disse que no primeiro dia os professores não aparecem.
22mai18, Marcos foi para a escola.
04jun18, Marcos não foi para a escola
porque o pai dele ainda não está em condições devido ao fumar muito, beber
muito e duas noites perdidas.
06jun18, uma coordenadora adolescente
bate a esmo com uma régua de madeira nas crianças. Por exemplo, ao bater nas
costas é muito fácil partir uma clavícula. Esta escola parece um hospício, só
lhe falta os choques elétricos e outras terapias similares. São escolas assim
que formam bandidos. Não surpreende pois crianças fujam das escolas, porque em
casa é surra, na escola também, claro que com tal tratamento de choque é
impossível o aproveitamento escolar.
07jun18, as reguadas continuam, pobres
crianças. Proibiram o Ezequiel de mijar, acabou por mijar nas calças.
08jun18, depois do recreio, às dez horas,
as crianças ficaram abandonadas, desesperadas até à chegada dos familiares, que
as fossem buscar.
15jun18, O Marcos não foi à escola porque
disseram-lhe para vir só com trajado de africano, o Sérgio disse que não tem
dinheiro para comprar e disseram-lhe para ir no mercado do S. Paulo que lá tem.
20jun18, dois alunos lutaram, um socou o
outro e ficou a sangrar do nariz e da boca, como se fosse um acto muito banal.
Sim, a violência está muito banalizada.
26jun18, os alunos ficaram na sala sem
professora, o Marcos saiu para urinar, e como se fosse um acto premeditado, no
regresso a directora apanha-o e lança-lhe raios e coriscos.
O ensino da mangueira
Depois da reforma do ensino produziu-se o
ensino da mangueira
Mas estas torturas nas crianças não são
suficientes para que a ministra da Educação e o secretário-geral do Simprof não
se demitam ou sejam demitidos?
27jun18, o Marcos está de castigo numa
carteira, isolado ao pé da porta de entrada. Com tantos terríveis que a escola
tem, qual o motivo de apenas ele estar isolado? Receio que andem a perseguir a
criança.
Dias antes a orelha do Nael foi puxada
com tal violência que até sangue saiu.
27jul18, o Marcos está com a mão direita
muito inchada devido a uma violenta mangueirada dada pela professora (?)
Lisete, que já antes lhe tinha dado seis mangueiradas, não com tal violência.
Perante tal tratamento e perseguição, inclino-me que haja discriminação racial
por trás disto. O Nael, o mais terrível, faz as tropelias e faz com que o
Marcos seja acusado. Quando confrontado, o Marcos nega as acusações, mas isso
não lhe adianta nada.
Falei com a professora (?) Lisete, isto
é, pouco faltou para ser vias de facto, e ela disse-me que foi sem querer, que
lhe bateu devagar, o que é torpe mentira, porque pouco faltou para lhe esmagar
a mão. Disse-lhe que isso são métodos selvagens, de assassinos e criminosos,
pois é um acto desproporcional, ainda mais praticado sob uma indefesa criança.
Disse-lhe também que devia estar na selva a dar aulas a selvagens, pois é lá o
lugar indicado, e que isto não iria, não pode, de amaneira nenhuma ficar assim impune.
Ela desfez-se em desculpas, como o assassino que depois de matar pede desculpas
à vítima. O que se passa nesta escola, e noutras?, é a imposição de um império
da selvajaria que muito pouco falta para lá chegar, o que já é um facto pois
Angola já está minada por ela.
28jul18, apresentei o caso ao subdiretor
pedagógico, que se identificou como Diamante, duvido que seja o nome dele, pois
que fez evasivas, e garantiu-me que ia falar com as professoras, mas eu
esclareci que o que deve ser feito é uma acção disciplinar. Vamos aguardar a
ver se isto vai para a pasta dos habituais assuntos esquecidos da República de
Angola.
02jul18, a professora (?) estagiária,
Domingas, apesar do ocorrido, continua de arma em riste, isto é, com a
mangueira na mão, o actual símbolo do ensino em Angola, a dar duas mangueiradas
numa mão das crianças, satisfazendo os seus instintos sádicos. Assim, prenúncio
que essa escola não vai acabar bem.
Professorado sem pedagogia é desastre no
ensino.
Gil Gonçalves, avô do Marcos.
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