segunda-feira, 14 de março de 2016

DIÁRIO DE UM FAMINTO (02)




19 de Fevereiro de 2016
As únicas coisas que funcionam, a corrupção e a fome.
Supermercados com prateleiras vazias em Luanda. Ricardo Mendonça: Ainda não se lembraram de colocar só as embalagens... Como na Coreia do Norte...
Lucia Mateus: agora só chega 1/3 aos supermercados do que chegava antes. Não há divisas.
Fernanda Silva Nandasilva: Também acho há tanta gente que nem consegue comprar um pão para comer, nós ainda vamos conseguindo comer.
20 de Fevereiro de 2016
Hoje safei-me comendo arroz.
Do Jornal, O PAÍS: “O mais agravante é que muitas empresas quer do sector público como privado, ainda não honraram com os compromissos salariais até ao momento. Explico-me: Muitos armazéns estão fechados, por não haver produtos. Alguns estão a comercializar as últimas caixas. Quase que não há nada. E se houver só vendem por cliente uma única caixa.
Estamos a entrar em colapso. Um grande clima de instabilidade social adivinha-se. Basta-nos sintonizar a rádio Luanda para não citar a Despertar, que todos os dias nos trazem relatos tristes da actual situação. Por consequência desses fenómenos, o mercado informal inflacionou de forma “drástica”.
A senhora ministra do Comércio, Rosa Pacavira, disse esta semana que não há motivos de alarme porque há stock. Sinceramente não sei em que galáxia esta nossa dirigente está ou vive. Também pudera, estamos juntos mas não estamos misturados, como sói dizer-se.”
21 de Fevereiro de 2016
Hoje comi arroz.
A crise: Num voo da TAP, uma viatura de marca Ferrari desembarca no aeroporto de Luanda. O preço mínimo para África – só se fabricam por encomenda – desta ostentação de riqueza é de “apenas” duzentos e cinquenta mil dólares.
Em Portugal, o procurador da república, Orlando Figueira, é detido sob a acusação de arquivar processos-crime dos corruptos angolanos. Manuel Vicente, vice-presidente de Angola está com a cabeça na “bastilha” da justiça portuguesa, para já, porque muitos mais o seguirão, incluindo o ex-primeiro ministro Passos Coelho? Pesa também a acusação de branqueamento de capitas. O procurador foi premiado com um milhão de euros depositados em paraísos fiscais. Aqui aplica-se muito bem o ditado popular: quem tudo quer tudo perde.
22 de Fevereiro de 2016
Continuo com a minha “dieta” de arroz. Apesar de dois apelos lançados a dois amigos para me socorrerem com latas de atum, sardinha, etc, até agora nada consegui. Até já dinheiro para o pão está difícil e acesso à Net é feito por um vizinho, mas ele já está de saco cheio. Não estou a ver nada de futuro nesta terra que só serve abutres e quadrilhas mafiosas, o que faz com que não seja mais possível aqui viver.
Neste regime da fome, os trabalhadores são escravos e as empresas são os seus capatazes, e o poder é o senhor esclavagista.
Se és corrupto, então serás um bom governante, porque a arte de bem governar é deixar-se corromper, nas ondas da corrupção se arrastar.
23 de Fevereiro de 2016
Sinto-me como se estivesse outra vez na tropa do tempo colonial, poucos anos antes da independência, tal é o ambiente criado, igualado. Esta cidade de Luanda é mato.
Quando a energia eléctrica falha o gerador do banco Millenium Angola na rua rei Katyavala em Luanda, é geradores por todo o lado, nesta Angola sem lei, a lei da morte. Nas traseiras do prédio onde habito, portas e janelas têm que se fechar, estancar como se fosse um submarino. Na frente do prédio o fumo dos geradores também faz o ar irrespirável, da morte. E não há combate a esta horrível ilegalidade, crime de morte. Matar é desporto, é passatempo deste infernal poder africano, que já não tem salvação.
24 de Fevereiro de 2016
Num mundo de corruptos e de Igreja e igrejas corruptas, obrigam-nos a orar porque a fome é a nossa salvação.
A economia de um país faz-se com muito, muito trabalho. Talvez que um dia alguém se lembre de trabalhar.
Marcolino Moco: “Eles (do Mpla) fingem que são militantes.” Sdiangani Mbimbi, presidente do PDP-Ana: “Já o barco (do Mpla) dentro de poucos meses vai afundar, e esses militantes de fingir vão fugir para outros países.
Ao obrigarem os seus trabalhadores a ficarem sem os seus salários durante vários meses, algumas personagens do governo e de empresas privadas, utilizam este estratagema financeiro para se auto-financiarem e fazerem as suas negociatas. É que isto é mais uma das inúmeras actividades criminosas que nos impede de caminhar, porque a democracia jamais se pode decretar. Significa que na prática continuamos governados pelas leis comunistas e pelo seu principal preceito que é o de extinguir a população pela fome. Enquanto os líderes supremos vivem, ostentam o permanente luxo dinástico, nós já não somos povo, somos fome!
25 de Fevereiro de 2016
Os fiscais do governo da província de Luanda, em serviço no distrito da Ingombota, que pela sua actuação mais parecem, - ou serão de facto – milícias governamentais, protagonizam cenas de indescritível horror. Na sua azáfama do tudo carregar de quem vende na rua, mas os estabelecimentos comerciais estão isentos de fiscalização porque sistematicamente há quarenta anos que fogem ao fisco, porque isso é um dever revolucionário, então essas milícias fiscais rapinam tudo o que podem porque há meses que estão isentos de salários, outra medida revolucionária marxista-leninista, porque quem o é não tem direito a salário, investiram os seus carros de assalto sobre uma desgraçada – Angola é a terra eleita dos desgraçados, dos famintos - que tudo faz para sustentar os seus filhos, mas mesmo assim os marxistas-leninistas não autorizam, porque quem é mwangolé é para exterminar, levaram-lhe o fogareiro e mais umas pobres coisas de quem tenta sobreviver, porque aqui já não se consegue viver, e um cesto com um… bebé que nele dormia. Se não fosse a vizinhança o inocente bebé morreria pelo caminho, pois era considerado como algo de aproveitável, produto perecível, comestível. Cena extremamente chocante e digna das execuções do EI-Estado Islâmico. Sinceramente, já não acredito mais em Angola, e muito menos na África porque são reinos da perdição e já não há nada nem ninguém que os salve.
A crise. Janaina Fidalgo: Boa tarde. Procuro um carro para comprar, alguém a vender em kzs (máximo 2 milhões). Façam as vossas ofertas. Obrigada.
Pedro Carvalho: Pois.....isso é outra questão.....justo talvez... na cabeça deles porque assim acabam às parcerias obrigatórias ou seja trabalha pula... mas como estava tudo parado desde nov/2012.....e assim pra quem pode... tipo chinês que nasceu em Xangai e apresenta-se com Bi angolano.....evolução no seu melhor.

Armando Dias: Depois da descolonização Portuguesa, vieram os Cubanos e os Russos colonizar Angola. Ou melhor dizendo, roubar o que os Portugueses deixaram. Agora são os Chineses. Se Angola se fecha desta maneira vai sufocar na sua própria arrogância. É pena...Os Angolanos não merecem esta triste sina!

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