30
de Maio
Essa feitiçaria de chama sem luz lá se
foi outra vez, para onde ninguém sabe, eram 22.06 horas e veio-nos às 22.39
horas.
E a tragédia nacional adensa-se, mais um
país que não demorará muito a entrar nos escombros da história. Sem energia
eléctrica a aposta na miséria assegura-se violenta, tenebrosa, tumultuosa.
E por cá, manos e manas, o nosso Governo
sempre atento, já descobriu como resolver o problema da delinquência juvenil.
Afinal é muito fácil, é só desempregar os jovens.
“ E quando me tocam na família, viro
bicho-do-mato.”
A herança de um regime irresponsável: o
pai carregava água para o quarto andar do prédio, o filho também e o neto já
aprende os caminhos da escravidão.
No prédio ao lado houve-se o habitual
barulho do partir paredes. Onde a idiotice do petróleo manda, as paredes nunca
se erguem porque onde há desordem, há sempre falsas paredes.
Quem oprime, coloniza, nos apelida de ofensivo,
e nomeia chauvinista ao colonizado, pois é uma palavra inventada para reprimir
os espoliados, os escravos. É preciso denunciar isto: então os estrangeiros
espoliam as terras, os empregos, impõem-nos culturas sociais de escravidão,
etc., aos mwangolés e ainda com escárnio lhes dizem que são preguiçosos?! E
porque é que as igrejas não denunciam isto? Porque também estão coniventes,
recebem os elevados dízimos dos opressores. E que não, que os estrangeiros não
têm culpa nenhuma disto. Pois, no Julgamento de Nuremberga, logo depois do
término da Segunda Guerra Mundial, os nazis também diziam o mesmo. Que apenas
cumpriam ordens do chefe, Hitler.
Das 04.00 às 06.00 ficámos outra vez sem
luz, ou energia eléctrica, apagão, enfim, qualquer serve.
31
de Maio
Outra vez de
castigo, roubaram-nos a luz às 08.57 e ligaram-na às 09.42 horas. Depois às
16.03 outra vez, até às 16.37 horas.
Outra acabada de
chegar: o português foi de férias para Portugal e não assinou a documentação
que permite aos trabalhadores receberem os seus vencimentos através do banco.
Só regressará lá para o meio do mês. Irresponsabilidade ou malvadez? Parece
mentira mas é pura verdade. Mas o que é que estes tipos estão aqui a fazer?
P*** que o pariu.
Aos vários novos
amigos que continuam a pedir-me amizade, recordo-lhes que o Facebook ordenou-me
numa execução extra-judicial, catorze dias de prisão, de preso incomunicável,
na prisão solitária, como se eu fosse um perigoso criminoso.
01 de Junho
Quem submete
pessoas à escravatura, arrisca-se a qualquer momento a uma revolta dos
escravos, e em consequência à perda da sua vida.
Pelo menos
lembrem-se de Agostinho Neto. Isto não lhes é suficiente? Se não for, então
preferem, querem mesmo a hecatombe? Digo-lhes, garanto-lhes que isto não dá
mais para aguentar. Já ultrapassámos o limite da miséria, e isto é muito
perigoso.
“Uma das consequências da falta de
liberdade é o subdesenvolvimento económico, científico, técnico e cultural. Os
países explorados tornaram-se economicamente débeis e em muitos casos, lançados
numa situação caótica que os obriga a retomar ou a continuar a sua dependência
dos outros países mais desenvolvidos. Libertar é transformar pela violência uma
ordem social estabelecida por minorias. E por isso mesmo libertar uma
sociedade, é fazer a revolução. É preciso libertar o Homem não só do
esclavagismo colonial, mas ainda de qualquer forma de dominação social no
interior de cada país. Nenhuma classe deve poder explorar outra.” In Agostinho
Neto. 20 De Janeiro de 1978. Discurso na Universidade de Ibadan, Nigéria.
Em guerra de elefantes quem paga é o
capim, diz-se. No nosso descaso, os elefantes são os escravos e o capim os seus
senhores.
Hoje parece que não teremos almoço, não
sabemos o que comeremos porque não temos nada para comer. Mas vejo muita
riqueza e muita, muita pobreza. Tenho dinheiro para receber de três trabalhos
mas até agora nenhum caiu. No resto da família também ainda ninguém recebeu,
dependem dos portugueses. Pois, é chauvinismo.
02
de Junho
Que bela receita sim senhor: qualquer
problema que haja é a Polícia que resolve. Criticar pela falta de água, energia
eléctrica, desemprego, Angola entregue ao desbarato a estrangeiros, já está
total e completa em poder deles, miséria, escravidão, futuro negro, hediondo,
não é o Governo que resolve, é a Polícia.
E as coisas por aqui, as diferenças
políticas, resolvem-se do modo mais fácil, carregar no gatilho, a coisa que
qualquer um sabe fazer, a coisa mais fácil que existe no mundo… resolver tudo a
tiro.
E a Constituição, a democracia e as
liberdades nela consagradas, esfumaram-se, é que nem rastos lhe sobram. Porque
em Angola matam-se pessoas com extraordinária facilidade. De facto o que
impera, o que ordena é a democracia da monstruosidade.
Baseado num facto verídico.
Os mais velhos e mais velhas daquele tempo
da Ilha da Cazanga, em Luanda, acreditados e sacramentados pelos mais puros e
nobres juramentos do que está devotado nos seguidores de nosso Senhor Jesus
Cristo, que ele virá e nos libertará de tudo o que é maldade, e que só os puros
de coração no mundo reinarão, e quem nisso não acreditar será para julgar e
condenar na fogueira do Inferno. Estas almas foram evangelizadas de acordo com
os mais nobres desejos religiosos da Santa Mãe Igreja de Nosso Senhor Jesus
Cristo, a Igreja Católica, e eles não devem odiar, mesmo na fome e na tremenda miséria
que nos assolam, não ousam insultar o santo nome de Jesus Cristo, e em Deus nem
pensar, perfeitos escravos para sempre obedientes, nunca transgridem, porque: «Deus
vai-me castigar e jamais me receberá no céu, que Deus me perdoe, não posso
pecar.» E assim se construíram, destruíram civilizações, se evangelizaram povos
na escravidão do Senhor, Dele não, de muitos senhores terrenos que favorecidos
por isso se mantêm no poder, porque entre religião e política não existe nenhuma
diferença, porque quando chega a hora da verdade todos dizem que obedeciam sob
a vontade de Deus, e daqui as diatribes que os povos conhecem… chicote e torturas
de alicate.
É neste ambiente democrático que um
pequeno grupo de ferrenhos idosos cristãos da Igreja vaticana católica, os imaculados,
decidem quebrar os laços que os uniam ao Todo-poderoso e nisto quebram os votos
do silêncio e passam ao barulho da revolta: Um mais-velho fala como se fitasse
uma cruz no céu: «Está tudo em poder dos estrangeiros.» Outro mais-velho
corrobora-o: «Sim, até as fábricas, abocanharam tudo, é tudo deles.» Ainda
outro mais-velho, cansado de tanta escravidão e de cruzes sem céu, reforça:
«Daqui a pouco nem nos podemos mexer, pois se até os passeios das ruas também
já são deles.» E ainda outro mais-velho, como a espada do Senhor nunca mais vem
para fazer justiça, faz os sinos dobrarem: «Temos que acabar com isto, quando
muitos corpos de estrangeiros aparecerem por aí espalhados nas ruas, então será
feita justiça e a escravidão acabará e Angola voltará a ser nossa.» Uma
mais-velha, fanática das coisas do Senhor, nunca permitiu nem aceitou que se desejasse
mal ao próximo, fosse ele quem fosse, fala, prevê o que irá acontecer: «Sim, é
verdade, os estrangeiros dominam-nos, daqui a pouco até para irmos cagar temos
que lhes pedir autorização, temos que revoltar-nos, acabar com isto, muitos de
nós morrerão, mas temos que correr com os estrangeiros da nossa terra, ANGOLA É
NOSSA! Esses que estão aí no poder serão todos queimados. Tenho pena dos meus
netos que sofrerão, morrerão, mas temos que libertar a nossa terra dos estrangeiros.
Sim, é verdade, está tudo em poder deles, a nossa vida está outra vez escrava.
Mas porque é que eles fogem dos países deles e nos vem para aqui escravizar? Em
todo o lado só se vêem estrangeiros, e os angolanos estão aonde meu Deus? Já acabaram
com eles? Angola é nossa, não, já não é não, está na hora de lutar e a revolta
começar! Aqui fica mais este alerta, que claro não será tido em conta… até à desgraça
final.
E a nossa jovem do carro vermelho, outra
vez mais vinte mil kwanzas para uma nova pintura, tudo maravilhoso, o carro
dela todo bonito, estacionou-o, de manhã ao ir para o trabalho lá está outra
vez… a pintura estragada, depravada, as mesas letras pintadas: «PUTA.» Ela
jurou que vai arranjar uma pistola para matar o gajo.
Amanhã mais um dia de miséria nos
espera. Os senhores dos chicotes estão por todo o lado, no rapto para as
empresas (?) dos chineses que necessitam de mão-de-obra escrava.
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