quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

DIÁRIO DA CIDADE DOS LEILÕES DE ESCRAVOS. 13 A 20 de Dezembro de 2012




13 de Dezembro
14.45 horas. O “terror negro”. Com trinta graus de temperatura à sombra, as milícias do GPL – Governo da Província de Luanda, sempre na perseguição das camboenhas, porque dos grandes peixes como os pungos não se atrevem, pois Neptuno protege-os, defende-os com o seu tridente, uma jovem aí para os seus vinte e cinco anos, perseguida de outros mercados onde vendia a miséria do petróleo, abancou num passeio nas proximidades da Liga Africana e no chão fez uma passarela de sapatos. Mas o “terror negro” prepara-se para a emboscar. Advertida por transeuntes que o “terror negro” se prepara para lhe violentar a mercadoria, a sua sapataria da moda, ela entra em pânico e dá uma louca corrida parecendo judeus na fuga de um campo de concentração Nazi. Consegue embrulhar muitos sapatos mas vários ficam para trás, e uma jovem caridosa apanha-os nas calmas e faz-lhe a entrega. Será que a vendedora votou na CASA-CE ou na UNITA?
Mas os constantes cortes no fornecimento de água, luz e Internet em Luanda, não se consideram actos de difamação e injúria à população, porquê? Creio que o Mwangolé há muito que perdeu a noção do que é um ser humano. E colocar as pessoas na expectativa também não é crime de injúria e difamação? Vejam como se destrói um país… nas calmas.
Entretanto, vendedoras abandonam o mercado (?) Panguila por motivos de segurança: via estreita, muitos acidentes, camiões dos chineses que carregam areia espalhando-a na via. As vendedoras levantam-se às quatro horas da manhã e regressam às catorze. As vendas não vencem os custos. Regressam em multidão para o mercado do Kikolo. Mais um desaire, um fiasco, uma fraude para o Partido UPPC - Um Pouco de Paciência e Compreensão.
Nunca vi tantos intelectos enlatados.
E como é deveras bonito acordar às seis horas da manhã sob o som do serrar ferros e do martelar em chapas metálicas. E embalado pelo ribombar das sirenes das escoltas diárias, mais uma praga que assola a cidade, melhor, o que dela ainda não se arrasou, pessoalmente já não sei, porque ao ritmo da destruição actual, até ao fim deste ano, apenas restarão nostálgicas poeiras.
E não é a cepa torta, mas todo o vinhal, todo o campo de vinho.
Angola já não é um país, é um templo religioso em cima de um vulcão petrolífero.
Também diria que estas apanhas de uvas das cepas tortas, civilização dos imbecis e canalhas, deve-se a que já não se sabem alimentar, isto é, será, estou convicto que sim, da comida enlatada? É que tudo vem em latas e em embalagens liofilizadas. Os nossos gloriosos tempos dos momentos intelectuais apagaram-se. Nem uma réstia se desenlatou.
Os amigos chineses do Partido, UPCC - Um Pouco de Paciência e Compreensão, fazem tudo o que querem na Angolanidade deles. O diâmetro do rolo de papel higiénico, antes com 4,5 centímetros de diâmetro, já está nos cinco. Pouco falta que ao comprarmos um rolo de papel higiénico, ele traga apenas uma ligeira fatia de papel enrolado. Mas isto não é a entrega de Angola ao desbarato? Isto não é ultrapassar os limites impostos pelo neocolonialismo? Afinal Angola não passa de um estúpido e ilegal rolo de papel higiénico chinês?
14 de Dezembro
Angola avante, revolução! / pelo Poder Popular!/destruímos o trabalho/ e o homem novo a naufragar.
E nos acordos da cooperação chinesa, técnicos chineses já formaram vários quadros angolanos na especialidade do corte de tubos de ferro e bater em chapas metálicas com um martelo. Esta técnica dominada pelos chineses passa para o domínio angolano, uma mais-valia. E quem quiser serrar tubos de ferro, chapas metálicas com um martelo, os chineses deve contratar, pois só eles dominam estas técnicas.
Curso de corte e de martelar chapas metálicas:
Terá início mais um curso de corte de tubos de ferro e martelar em chapas metálicas. O curso será ministrado, como sempre, por técnicos chineses. As cargas horárias serão ilimitadas. Prevendo-se um grande afluxo de participantes, as aulas teóricas e práticas serão no estádio da Cidadela. Os preços de inscrição são uma verdadeira pechincha, apenas mil dólares para a sua inscrição.
Observação: os alunos far-se-ão acompanhar por uma rebarbadora, um martelo, tubos de ferro e qualquer chapa metálica.
15 de Dezembro
A vela de cera chinesa desfaz-se em pouco tempo, tal e qual como o Partido, UPPC - Um Pouco de Paciência e Compreensão, e há sempre o perigo de incêndio.
Afinal, no assalto à Pomobel, os jovens assaltantes não roubaram dinheiro, só comida. Tá-se mal, tá-se tá-se.
A grande barulheira continua. Sete da manhã, o vizinho do apartamento de cima escuta música, claro, com o som muito elevado. Deve estar bêbado, coisa mais natural neste mundo imundo de Luanda, com a agravante que tem uma criança de poucos meses. Mas não há respeito por ninguém, é assim a cultura actual bantu, é a lei dos fora-da-lei, a continuação da aberração sem futuro à vista da nação, de um povo que tende a desaparecer.
Depois de provavelmente pelas 01.00 horas da manhã, a Net foi-se.
No prédio em construção do general Led, ou destruição?, os trabalhadores mwangolés andam a imitar os chineses, imitam qualquer um como os papagaios, mas que imitação mais grosseira, trabalham todos os dias, sábados, domingos e feriados. Até no dia da independência. É pá!
13.26 horas. Os três geradores gigantescos arrancam, o fumo intenso entra pelas janelas.
De repente dei-me com esta: Angola, Moçambique, Portugal etc, são a história de um suicídio?
16 de Dezembro
Apesar das chuvas intensas, a barragem de Kapanda ainda não tem água suficiente. Afinal, para que serve Kapanda? Uma barragem da propaganda leninista? Viva a democracia dos geradores. Qual será o próximo PT, posto de transformação que se incendiará?
12.43 horas, iniciou mais um apagão. A luz retornou às 12.43 horas.
Há empresas de segurança que ficam quatro meses sem pagar, ou mais, e só pagam um mês, não dão comida. Os seguranças fogem e essas empresas admitem outros e o ciclo anterior repete-se. Não são só, não eram, os colonos/brancos, estes tipos também são hábeis no tráfico humano de escravos.
A água veio de manhã cedo, e durante o resto do dia não apareceu mais.
17 de Dezembro
Continuamos sem água.
18 de Dezembro
A água chegou de manhã cedo e depois não voltou mais.
19 de Dezembro
Segundo a minha fonte: 00.20 horas, selvajaria no prédio em construção (?) do general Led. Quarenta anos depois a imposição do Poder Popular permanece actual. Não deixam ninguém dormir. È martelar, serrar ferros e madeira com serra eléctrica, imaginam o barulho, não é?! Esta espécie de indivíduos estão perdidos no tempo da grande selvajaria, isto é África, apenas como única alternativa de futuro, a selvajaria mais primitiva. Basta ver na cor amarelada do pilar rectangular, o que significa que só tem areia e cascalho. Aquilo vai desabar. Têm mais dois pilares só com areia e cascalho. As traseiras de três prédios estão fechadas. Quando chove ou não, não há escoamento das águas. O largo e a rua também foram fechados. Se houver um incêndio? É uma grande desgraça. É a ilegalidade na selvajaria do petróleo, e não se faz a demolição porquê?! É do general Led, nas traseiras da Pomobel, Zé Pirão.
O general Led disse-lhes, para os moradores dos prédios: «Vocês têm os dias contados!»
As falhas na Internet continuam, mais parecem os apagões da barragem de Kapanda. Aqui na banda já há dias que a energia eléctrica está restabelecida, mas há quatro dias que um gerador num terraço de um primeiro andar trabalha noite e dia. Será vaidade, tipo eu tenho um gerador?, ou há muito dinheiro para gastar proveniente de fontes duvidosas petrolíferas, ou é da máfia chinesa?
Internet, cerca das doze horas… foi-se.
E as sirenes das escoltas dos intocáveis não param. Oh!, como tudo é epidémico nesta cidade.
20 de Dezembro
Continuamos sem Net. Será que um camião chinês derrubou a antena da Angola-Telecom? A máfia chinesa roubou a antena e já está na China? Vou outra vez escutar no meu rádio de ondas-curtas o que se passa pelo mundo.
A água chegou… sim temos luz, por enquanto.
19.24 horas. O provedor TVCabo repôs a ligação à Internet. Não se sabe o que se passou. Talvez um “drogado” com um portátil fez alguma experiência e deu cabo de tudo?

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