22 de Junho
14.33 horas. O jovem quase que se encosta no carro.
Depois abre-lhe a porta e antes de se sentar vira a cabeça muito rápida em
todas as direcções para ver se está, ou se aproxima alguém para o assaltar. Por
aqui se vê facilmente que uma paz podre é afinal uma poderosa insegurança.
Pelas arbitrariedades de intenso amargo sabor colonial
ainda recente, e vigente de vários tugas, receio que os portugueses serão outra
vez ruados de Angola.
23 de Junho
E que chegaram umas moças do Brasil, bem bonitas. Os
homens fazem bicha, andam muito nervosos.
24 de Junho
A balada e a abalada dos bairros são o uísque Best
Whisky: «Bebeu, tossiu e morreu!»
25 de Junho
Nos bairros nunca se deixam as casas sem ninguém. Quando
o marido sai, fica a esposa em casa. Quando a mulher sai, fica a o marido em
casa. Porque se os bandidos sabem que não está ninguém em casa, assaltam-na,
levam tudo, não deixam nada.
26 de Junho
Mais um apartamento onde se partem paredes para alugar a
estrangeiros, até o prédio desabar. É mesmo de “puro mwangolé”: «Quero lá saber
se o prédio vai desabar, o que eu quero é facturar.»
Vice-presidente de
Angola, Manuel Vicente, em entrevista exclusiva à SIC:
“É um processo, não
se pode acabar com a corrupção de hoje para amanhã.”
Só que nunca se
sabe qual é o hoje e qual é o amanhã.
27 de Junho
15.20 horas. Os escravos da fome já fazem espera nos
contentores do lixo. Quando alguém deixa um saco no contentor, logo um
abandonado do reino petrolífero lança-se vitorioso na esperança de encontrar
algo para comer. E teve sorte, porque assim que abriu o saco, começou a
mastigar bolachas. Este desabrigado do petróleo é um escravo cheio de sorte.
Quase vinte e
quatro horas depois alguém se lembrou que estávamos sem energia eléctrica e
ligaram os interruptores às 14.56 horas.
José Severino,
presidente vitalício da AIA – Associação Industrial de Angola, alertou no
programa Vector, da LAC – Luanda Antena Comercial, que existem muitos estrangeiros
que não pagam impostos, não se sabe o que fazem, e que exercem pressão sobre os
bancos para transferirem grandes somas de dinheiro para o estrangeiro. Qual é a
actividade destes estrangeiros em Angola? Como é que eles conseguem o dinheiro?
Angola já é uma gigantesca lavandaria internacional de dinheiro?
No noticiário das 12.30 horas, a Rádio
Ecclesia informou que no hotel Epic Sana, na rua da Missão em Luanda,
propriedade de portugueses, (conforme pesquisa na NET, Pinhal do Concelho,
Praia da Falésia Olhos de Água, Albufeira 8200-593, Portugal), mais de
quatrocentos trabalhadores entraram em greve. O motivo principal é o salário de
12.000.00 (doze mil kwanzas, pouco mais de cem dólares. E como é que os
portugueses resolveram o diálogo? Chamaram, fizeram combina com a Polícia, e
quando os trabalhadores chegaram para se concentrarem no local de greve
indicado, atiraram-lhes com cães e muita, muita surra. Alguns ficaram muito
feridos, nem uma jovem mamã que estava com o seu filho de dois meses foi
poupada, surra em cima dela. Mas não é assim que se faz com os escravos?
O que faz falta é também os portugueses
alimentarem a carnificina angolana, o que faz falta.
28 de Junho
Tudo indica que JES-MPLA repete o que o colonialismo
fazia: repressão sem limites – e o incrível é que como movimento de libertação,
JES-MPLA, exagera, ultrapassa os limites da selvajaria – e sabemos o que
aconteceu pouco antes e depois da independência: uma carnificina. Se JES-MPLA
insistir na repressão, do tudo resolver a tiro – Moçambique já lá está no reino
da carnificina – então teremos outra carnificina que a História registará como
das mais horrendas. Quem não abdica do: toda a gente fuzilar, incluindo
mulheres grávidas e crianças, arderá na fogueira da História. Exagero?
Alarmismo? Incitação não sei de quê? Até que não, pois os factos estão aí nas
ruas, nas esquinas, nos cidadãos que falam do mundo real que vai explodir,
porque é inconcebível que trabalhadores ganhem doze mil kuanzas, e que não têm
direito à greve, enquanto biliões de dólares enchem os bolsos de muitos
estrangeiros e de alguns outros estrangeiros disfarçados de nacionais,
angolanos.
29 de Junho
Lições de informática: qualquer arquivo de trabalho que
não tenha cópia de segurança, não tem nenhum valor.
Escravos da vida de miséria nos seus países e que aqui
desembarcados, são engordados, patrões com escravos seus empregados, tão
revoltados.
30 de Junho
A nossa miséria da energia eléctrica fugiu-nos às 14.09 e
veio para casa às 14.37 horas.
E os tais que gastam o dinheiro que não lhes pertence,
continuam na azáfama do construir paredes e depois derrubá-las. Este é o nosso
presente incansavelmente destruidor.
Aí pelas sete da manhã de todas as manhãs e de todos os
dias, começa a barulheira da música que estremece os vidros das janelas,
vizinhos loucos, possuídos pelo demónio, vizinhos do primeiro andar.
01 de Julho
Para sobrevivermos a política do regime obriga-nos a todos os expedientes
de sobrevivência, então, como é que os estrangeiros dizem que estão aqui para
nos ajudarem?
Para conseguir uma simples latinha de leite para o seu bebé, o mwangolé
vale-se de mil e um expedientes no seu emprego, ou fora dele o que é mais
usual. Que merda esta que nunca mais acaba.
02 de Julho
Mas quem é que
disse que não há manifestações em Luanda? Em cada esquina está um bandido para
nos assaltar, ou matar. Nos bairros dos mabululos, (periferia), - os tais que o
MPLA jurou antes da independência que acabaria com eles e que daria uma nova
vida aos colonizados - quando o marido sai a esposa fica em casa, quando a
esposa sai, o marido fica em casa, porque se saírem os dois, quando voltarem
não encontrarão nada em casa porque os gatunos levaram tudo. ISTO ESTÁ MUITO
PODRE! Pode-se assegurar que Luanda já está em estado de sítio. E as demolições
continuam a produzir mais “terroristas”, o roubo descarado dos empregos também.
Parafraseando Agostinho Neto: contra milhões de espoliados ninguém combate, e
quem o fizer será vencido. E os investimentos estrangeiros e a grande invasão
de portugueses? Mais uma tragédia?!
A podridão da
energia eléctrica deles apodreceu-nos, abandonou-nos às 16.01 horas.
Acabo de receber a informação de que em
Viana, crianças quando saem das escolas são raptadas. São vários os casos e
isso já acontece há vários dias. A Polícia não se pronuncia sobre isso, porquê?
Aprendi que este
mundo é cruel e maldoso, aprendi também que a religião era o meu refúgio, a
minha esperança, mas depressa verifiquei que era hipócrita, maldosa, sem
esperança. Também aprendi que existem algumas pessoas que a todo o momento
praticam actos de amor, de heroísmo para salvarem, ajudarem os milhões de seres
humanos que vivem na degradação, na escravidão. Independentemente da sua
religião, da sua política, há seres humanos que merecem, vai a minha admiração,
pois sem eles o Mundo há muito já teria desaparecido. Se não fosse essa meia
dúzia de seres humanos que tudo fazem desinteressadamente pelo bem-estar do
próximo, este Mundo seria totalmente bem selvagem. Mas atenção: é que esse
pequeno grupo diminui assustadoramente como a camada de gelo dos pólos e
doutros locais. E se esses queridos seres humanos continuarem no degelo, a
diminuir, então não haverá mais esperança. Por isso façamos um esforço, não
deixemos que aqueles que defendem um mundo livre de corruptos desapareçam. As
nossas vidas e a humanidade dependem deles. Sobretudo lutemos para que cada
criança tenha uma alimentação e educação condignas, porque depois enfrentaremos
criminosos e uma trágica multidão de terroristas. Este mundo é, está terrível
de se viver porque nele acontece a batalha de um pequeno grupo de corruptos
contra a população mundial.
Só me faltava mais esta: agora sou obrigado a comprar tudo made in China?
Obrigam-me a comprar lixo, pois é tudo aldrabado, muito mal pirateado.
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