Enquanto a empregada
executa o pedido, entram dois portugueses fugidos da
reforma agrária do Zimbabué. Encostam-se ao balcão
e observam o que a parabólica
transmite. Está num canal que só
transmite música com
negros e negras. Pessoalmente
apreciava, aprecio, especialmente a dança sensual dos corpos das negras, a
naturalidade genética. Para mim
as negras eram… são, muito bonitas e extraordinariamente sensuais. Um dos portugueses reclama para
a empregada:
- Tira essa merda daí, põe isso noutro canal!
Vieira grita para o irmão. Heitor
aproxima-se com o telemóvel a tocar. Olha para o número que está no visor
e não atende. Comenta:
- É uma gaja. Dei-lhe
algumas fodas, agora quer dinheiro para os medicamentos dos filhos.
- Está bem!.. Heitor, eu e o
contabilista vamos para minha casa!
- Concordo. Têm o direito de
descansar porque hoje já trabalharam muito.
A empregada
colocou tudo numa caixa.
Vieira faz-lhe sinal para
lhe segredar algo no ouvido.
Ela baixa-se demasiadamente.
Fica numa pose bastante
provocadora. Consigo ouvir
o que Vieira lhe
diz:
- A partir
de amanhã vão
passar a andar nuas.
Quero ver aqui
muitos clientes.
Acho que a casa
vai ficar cheia.
E depois
voltando-se para mim, reforça:
- Mas digo-o com toda a
sinceridade. Qual é o problema de as pessoas andarem nuas?! Custa-me também a
entender que para fazermos amor, que é um acto perfeitamente natural, temos que
nos esconder?!
- No tocante a isso tenho a minha opinião.
- Vamos embora. Continuamos em minha casa. Vais ver o meu
carro novo.
Saímos e parámos junto
ao carro. Vieira abriu as portas, entrámos e diz-me orgulhoso:
- Já viste este Lancer?! Fiz um
trabalho para um gajo, ele não me queria pagar, fiquei-lhe
com o carro.
- É todo preto,
preferes essa cor?
- Sim. Porque não se nota a sujidade. Um
carro branco
é trabalhoso a limpar, este
mesmo que estando carregado de sujeira não se nota nada.
Havia pastas de arquivo, livros,
e papéis espalhados em cima de mesas,
cadeiras e sofás. Enquanto
Vieira, na cozinha preparava a comida, consegui arrumar o local para nos instalarmos. Ele
atrapalha-se:
- Não consigo encontrar o saca-rolhas para abrir a
garrafa.
- Arranja um parafuso comprido e um alicate.
Enrosquei o parafuso
na rolha de cortiça,
depois com
o alicate puxei com
força, e consegui retirá-la. Vieira dá
uma ideia:
- Já viste o negócio se aquelas gajas andassem nuas, era casa cheia de dia e
de noite.
- Vieira, no tocante
a isso tenho opinião
formada. Foi o cristianismo que nos impôs o
andarmos todos tapados. É pecado mostrar a nudez.
- Não acredito em Deus!
- Porquê?
- Isso é tudo uma grande
aldrabice. No fundo é uma grande empresa de estrutura vertical.
O Papa é o presidente
do conselho de administração.
Os Cardeais são administradores. Os
Bispos são directores. Os Padres, chefes
de departamento e os Fiéis, são os operários.
- Vieira, não
acreditas em Deus… ou
na Igreja?
- Nem numa coisa nem noutra.
- Ensinaram-me que quanto mais o negares, mais nele
acreditarás.
- Mas o que é que tu queres?! Sou ateu. Não posso ser
ateu? Não perco tempo com religiões.
- Parece-me que
o ateísmo é uma religião.
É como aquele
indivíduo que
diz que não
quer saber de
política, mas na realidade
está a exercer um
acto político. O de não
ser político. Quando
nos sucede algo
que não
podemos controlar, gritamos. Ai meu Deus!
- Mas
o que é que
tu queres?! Mantive um
estreito relacionamento com um padre católico.
A nossa intimidade
fazia-me crer que
a amizade seria eterna.
Dei o meu contributo com algum dinheiro para ajudar
a Igreja. Num determinado
momento senti-me numa situação aflitiva.
Roguei-lhe o seu apoio. Pura
e simplesmente fui abandonado,
desprezado. Quanto à nudez,
até os dicionários
há bem pouco
tempo evitavam falar sobre
tudo o que
se relacionasse com o sexo… isso deve-se
à Igreja.
- Não te esqueças que a Igreja é composta simplesmente
por seres humanos.
- Mas o que é que tu queres?! Por
seres humanos (?). Então
não dizem que
o Papa é eleito por
Deus? Não
sabes que o Papa
João Paulo II tentou interferir na Internet? Queria controlo, que
a Internet deixasse de ser
livre, mas
ninguém lhe
ligou. E ainda bem.
Abrimos a segunda
garrafa, Vieira exclama:
- Sinto-me orgulhoso
em ser português por causa destes vinhos. Viva o Dão Meia
Encosta!
- Mas és português ou angolano?!
- Eh pá!.. não me
fodas! Aqui sou angolano, em Portugal português. Já te disse que sou um cidadão do mundo.
Olha… os pregos
no pão já
acabaram. Vou retirar algumas lagostas
da arca e preparar
um molho
que…
- Com o bom azeite…
- Sim tens razão. O bom azeite português. Outro
produto do qual muito me orgulho. Viva Portugal! E os portugueses pedófilos que
se fodam. Entretanto a Igreja parece que não se dá conta de que promove a
pedofilia. E ficam incólumes.
- Vieira, já te disse que são apenas seres…
- E também querem promover o homossexualismo, mas o
Papa não admite isso. Então para os chatearem, vários países já o legalizaram.
Pouco falta para se estender ao resto do mundo.
- Na África não.
- Oh! Esses são uma cambada de atrasados.
- Vieira, apenas
defendem as suas tradições.
- Enquanto assim procederem nunca avançarão em nenhuma
frente.
- Mas agora somos todos obrigados a sermos
homossexuais?
- Mas o que é que tu queres?! Se eles já nasceram
assim, temos que respeitá-los.
- E casados? Como farão filhos?
- Adoptam-nos.
- E depois educam-nos para serem também homossexuais?!
- Não é nada disso, se não
fazem filhos, não
será por causa
disso que a humanidade
se extinguirá. O homossexualismo existe desde a criação
do ser humano.
Legalizando-o até tende a diminuir.
Vieira abre a terceira
garrafa e canta:
- Ai meu vinho Dão Meia Encosta, não há
cor igual
há à tua. Porra! Isto
é mesmo bom!
Não existe no mundo
nada igual.
Nem o paraíso
se lhe compara. Entre
uma boa gaja e este
vinho, escolheria o vinho.
- Sabias que o vinho nos seus primeiros tempos era
considerado uma droga, divino,
assim como
a oliveira, reis
eram ungidos com azeite.
- Sim sei disso. O culpado disto tudo foi o Carlos
Magno. Antes de uma grande batalha, sonhou que viu uma cruz no céu. Ganhou a
batalha e tratou de entregar tudo à Igreja. Por isso o Papa Leão III em gesto
de agradecimento corou-o como Imperador do Ocidente. É como o Marx. Ele é o
Cristo e Estaline a Igreja.
- Vieira, não
estou a entender.
- Mas o que é que tu queres?! A igreja
ficou com tudo.
Depois aniquilaram os Cátaros e os
Templários, apenas para
os roubarem. Nem as terras
escaparam. O Infante D. Henrique, o Navegador, conseguiu as suas
aventuras marítimas à custa dos bens
dos Templários. A história do cristianismo é uma história
de massacres, genocídio
de povos, roubos
das suas obras
literárias, e dos seus conhecimentos científicos.
Com a Inquisição
terminam, finalmente por aniquilar qualquer oponente,
e ficar com
os seus bens.
Quando um
membro da Inquisição sabia que alguém tinha algo valioso que
lhe interessava, enviava-o para o braço secular do Santo Ofício,
sem testemunhas
para se defender. Tudo em nome de Deus. Mas a melhor
monstruosidade que a Igreja Católica
inventou, foi um demónio chamado
Torquemada. Este demónio inventou instrumentos de tortura,
que duvido existirem no inferno. Era mais ou menos como o
007, tinha ordens
para matar. Tinha um prazer divino em matar. Como
é que eu
vou acreditar nesta quadrilha
de malfeitores?!
Sem comentários:
Enviar um comentário