(Como o crescimento
projectado do Pib era artificialmente inflado, o país
fica endividado além da sua capacidade
de pagamento. Frente
à ameaça da moratória
entra então uma segunda
rodada de negociações, assegurando o controlo por
firmas americanas das reservas de petróleo ou outros
recursos. Em resumo, Perkins era
encarregado de organizar,
para as grandes
empresas americanas, o aprisionamento
dos países na armadilha
da dívida, na chamada
“debt trap”. In Armadilha da dívida. Ladislau Dowbor
…O caso da Arábia Saudita é exemplar: “Eu simplesmente punha
a minha imaginação
para funcionar e escrevia
relatórios que
apresentavam uma visão de futuro glorioso
para o reino.
(Como também se faz em Angola). Eu tinha
referências aproximadas para
as cifras que
eu poderia
utilizar para estimar coisas como o custo
aproximado de produzir um
mega watt de energia
eléctrica, uma milha de estrada, água, esgoto” etc. (...) “Eu
sempre tinha
em mente
os verdadeiros objectivos: maximizar
pagamentos a firmas
dos EUA, e tornar a Arábia Saudita cada vez mais dependente
dos Estados Unidos. (Assim como Angola,
dependerá em absoluto da China). Não
levei muito tempo
a entender como
os dois objectivos se articulavam; quase todos os novos projectos desenvolvidos
exigiriam “upgrading” e serviços de apoio contínuos, e
eram tão complexos
do ponto de vista
técnico que
assegurariam que as empresas
fornecedoras teriam que mantê-los e
modernizá-los.
Na realidade, conforme
eu avançava com
o meu trabalho,
comecei a juntar duas listas
para cada um dos projectos que
eu visionava: uma para
os contratos do tipo
“design e construção”,
e outra para acordos de serviço
e gestão de longo
prazo. MAIN, Bechtel, Brown & Root,
Halliburton, Stone & Webster, e muitas outras empresas
americanas de engenharia e construção teriam lucros
generosos para
as décadas seguintes”.
A expansão das firmas
era acompanhada da negociação da sua protecção militar, evidentemente apresentada como
segurança do país,
convenientemente ameaçado pelas tensões regionais
“A sua presença
(da indústria da defesa)
iria requerer uma outra
fase de engenharia
e construção, projectos, incluindo aeroportos, (como
o novo aeroporto de Luanda) sites de
mísseis, bases de pessoal
militar, e toda
a infra-estrutura associada
com estas instalações”.
Um dos chefes
do Perkins se referia ao reino da Arábia
Saudita como “a vaca
que iremos ordenhar
até que
o sol se ponha sobre
a nossa aposentadoria”…
…É interessante fazer o paralelo entre Perkins, o homem do sistema que
sai denunciando, e Stiglitz, que larga o Banco Mundial e publica “A
globalização e os seus malefícios”, ou ainda David Korten que participa dos
programas da USAID na Ásia e sai denunciando o que se faz na realidade (“Quando
as corporações regem o mundo”). O sistema é realmente bastante podre, e chamar
isto de “livre mercado” é realmente um insulto a Adam Smith» In Actualizações.
Ladislau Dowbor)
Vieira avança:
- Os lucros
do petróleo sobem. Os custos
de importação também.
Não sei onde
está o lucro. Mas
o que é que
tu queres?! Nem
conseguimos fabricar uma bicicleta.
- Vieira, isso não se deve
também ao adiamento constante das eleições?
- Mesmo que outro partido as
ganhe a situação não sofrerá nenhuma alteração. Acho que vai piorar ainda mais.
- Porquê?!
- A corrupção está de tal modo
implantada que não se consegue sair dela. As petrolíferas vão manter ou
aumentar os níveis de corrupção. Qualquer partido político que interfira nos
seus interesses não durará muito tempo.
- Vieira… acredito que são os efeitos da globalização.
- Tantos
intelectos que
existem por aí,
e não têm acesso
à Internet. Convém-lhes um povo completamente analfabeto.
Para quando algum estrangeiro aqui chegar, dar-lhes a volta facilmente. É tão fácil
aos EUA acabar com
os regimes corruptos,
mas isso
não lhes
interessa. E quando um
presidente da república
não lhes
interessar mandam-no passar
férias.
-
Vieira, isso significa que sempre assim foi e sempre
assim será?
- Não
tenho qualquer dúvida.
Outro aspecto
é que não
se pode confiar em
ninguém. Era muito amigo de um comandante da polícia.
Aflito, pois
estava sem carro,
telefonei-lhe para me dar
uma boleia. Disse-me que vinha já.
Esperei, esperei e não apareceu. Depois nem se
dignou falar mais
no assunto. E andava sempre atrás de
mim a pedir-me isto
e aquilo.
- Vieira, a moral é coisa…
… mantinha grande
amizade com
um coronel,
depois foi promovido a brigadeiro, agora
parece que é general. Pensei que entre nós existia uma amizade
profunda e sincera,
mas actualmente como já não
necessita dos meus préstimos,
mandou lixar a nossa
amizade. Enquanto
necessitava de mim, fingia-se meu amigo.
- Vieira, o civismo…
… uma coisa
muito anedótica é quando
um indivíduo
se apresenta com um
cartão de visita
com o nome,
por exemplo,
Abu Bakar. É imediatamente recebido
pelas altas estruturas
do poder... assim não dá. Não se pode confiar
em
ninguém. O que interessa é roubar,
seja o que for. O sistema
está tão implantado, que quem não roubar, morre à fome.
- Vieira, a identidade cultural…
… No fundo
concordo com a política
de Fidel Castro em Cuba. Para resistir
e evitar a escravidão
do seu povo
torna-se ditador. Quando
os EUA pretendem derrubá-lo por todos os meios,
para explorarem as suas
riquezas e fazerem lá
uma colónia de férias, com os grandes lucros que daí
sairiam, ele livra-se disso. E naturalmente apelidam-no de ditador.
Se Fidel Castro obedecesse aos EUA, seria considerado um
grande democrata. Actualmente o que os EUA fazem na África Negra,
e noutros países é simplesmente
aterrador. Não há comparação possível com o colonialismo. Estão como que a matar
milhões de pessoas
à fome.
- Vieira, acho que Marx fortaleceu o capitalismo
porque…
… Mas
o que é que
tu queres?! O culpado não foi o Marx. O Estaline é que
estragou tudo. Ainda
hoje conheço pessoas
que quando
vêem a sigla URSS ficam quase em pânico.
Sentem um mal-estar pelas recordações que
essas quatro letras
lembram. Do mesmo modo
as siglas MPLA, UNITA e FNLA deveriam ser alteradas devido
às recordações que comportam. Lembram o terror das inúmeras matanças.
Trazem sempre muitas memórias
aterradoras. Para terminar
vê o que
apanhei no site do Angonoticias de um tal Grathus que comentava um
artigo sobre
os muçulmanos em
Angola:
«Angolanos. Os muçulmanos estão de tal
maneira implantados que
agora já
nunca mais
os tiramos daqui. Os ismaelitas, que
vieram com uma mão
à frente e outra
atrás, estão milionários
e mancomunados com os nossos ladrões nacionais, por exemplo, sabem quem
é o Amim Bangi, um drogado
que chegou fugido de Portugal, em 10 anos
ficou milionário, como?
Roubando.
O Ministério
das Finanças pagou-lhe milhões de
dólares de mercadoria que nunca
forneceu. Façam uma investigação séria à empresa Marvimport,
ou Vitocaldas e outras que foi utilizando, e descobrirão as fraudes e os comparsas
nacionais. A Imporafrica é outra. O Abdul e o seu
comparsa Faruk, vieram fugidos e falidos
da empresa Tricos de Portugal, agora
são o que
são, estes
índios, foram os mentores
do chamado caso dos biliões
e mais tarde
dos triliões, por acaso
algum foi a julgamento?
Não! Porquê?
Porque os nossos
corruptos estão feitos
com eles,
o dinheiro não
tem cor nem
religião.
Ainda temos aí mais rafeiros como
os da Teorema, os Nizas, pai e filho, os
da Euroafrica, e tal de Jamal da
Socogrel, etc., etc. Por isso Mangolés, qualquer
dia estamos todos
a rezar de cu para o ar, porque os nossos dirigentes
querem é dinheiro, não
querem saber do que
se vai passar em
Angola dentro
de 30 ou 40 anos»
- Vieira, pelos
pormenores que
esta informação contém, parece-me que é alguém que conhece muito
bem os enredos da podridão angolana.
Vieira não comenta, prefere fugir
para a temática das eleições.
- E o partido que oferecer telemóveis à juventude, ganha
as eleições. Mas,
a questão fundamental
é que neste país
não existe oposição.
Apenas oram ou lêem comunicados… dão entrevistas para darem nas vistas. Não
conseguem mobilizar o povo
porque ninguém
acredita neles. Nunca vi em parte
nenhuma, uma oposição como esta. São simplesmente confrangedores. Este
país nunca
sairá deste marasmo. O mais curioso é que os intelectuais
parecem que não
existem. Onde estarão?! Porquê o seu
silêncio (?). Estarão definitivamente
acomodados?!
A aparelhagem
da pista de dança
da boate iniciou a sua actividade, a
costumeira barulheira. O som estava
altíssimo, insuportável. Para conversar
quase que
tínhamos de encostar os lábios aos ouvidos. De
qualquer modo quase se gritava para se ser escutado. Então roguei a Vieira:
- Desculpa, mas com este
barulho não é possível conversar. Não sei como consegues suportar isto.
- Também
não consigo… calma que
já vamos para
minha casa
acabar a conversa.
A empregada
chegou e recolheu o que estava na nossa mesa. Novamente ao baixar-se, os seios mostram-se quase nus, sedutores, e depois de costas, o seu traseiro bem modelado, convida mudo de sensualidade.
Vieira ordena-lhe:
- Prepara quatro pregos no pão,
e trás as seis garrafas de vinho tinto Dão Meia Encosta que estão na prateleira
e põe na minha conta!
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