Naquele campo ermo desfilam deportados
Carregados de chapas metálicas, os
escravos
Persegue-os uma quarentena de anos
Um poder que nos faz de parvos
Especuladores imobiliários nacionais e
internacionais
Mercadores de escravos, da escravidão
Quadrilhas sem lei matam crianças
De chicotes em punho, outra vez na
servidão
Helicópteros, cães, e muitos exércitos
Atirados contra indefesos espoliados
O comandante-em-chefe ordenou
A miséria acabará com eles, os desterrados
E no orçamento da caça aos escravos
Novas contas se abriram
A dotação da caça ao escravo
Implacável perseguição aos que ainda não
fugiram
E até um advogado dos pobres
Desses com carta de alforria
Que ousou defender os injustiçados
O poder impune proibiu-lhe a advocacia
Todos os caminhos conduzem à escravidão
Bairro Mayombe, Cacuaco, Angola
Em tendas, chapas de zinco, à chuva, ao
sol
Angola dos campos sem futuro, como o da
Tchavola
Torres e fundos marinhos petrolíferos
Enriquecem uma família imperial, a nação
Aos escravos, gotas de água e de luz
Do apoio internacional corrupto,
podridão
Pelo fim do colonialismo e da escravidão
Se lutou, se sacrificou o angolano
E em quarenta anos de história
A escravidão se contempla ano após ano
Não, não, o petróleo não é do povo
É do senhor dos escravos e estrangeiros
Do turismo sexual, do estado pedófilo
Dos chineses, portugueses e brasileiros
Igrejas que favorecem o terrorismo
Deus do petróleo da abençoada fé global
E aqui qualquer um desaparece
Neste terrorismo de estado, tão nacional
Estado de facto e de jure de escravos
Nem terras têm para serem enterrados
E ninguém lhes liga, estão esquecidos
Nas contas do corrupto petróleo,
devorados
E os colonos que nos governam reeditam
A invasão dos fazendeiros cafeicultores
O trabalho escravo é intenso
No cheiro a suor, chicotes
neocolonizadores
E nas crianças tudo se cumpriu
As meninas são escravas sexuais
A fome e a miséria exterminam-nas
Nas ruas e nos mercados informais
Foto: Ermelinda Freitas
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