quinta-feira, 12 de dezembro de 2013

O PARAÍSO PERDIDO A OCIDENTE (01)





Prefácio

Après moi le déluge. Depois de mim o dilúvio.
Máxima egoísta, atribuída a Luís XV, rei de França, que previa a derrocada próxima da monarquia, mas esperava que esta ainda durasse pelo menos tanto quanto ele próprio. In Dicionário Lello)

Começo com uma simples pergunta: a democracia é um mal necessário?
Todos lutamos por melhores condições de vida.
Não é possível, viver, sobreviver numa sociedade sem solidariedade e sem educação. 
Quando jovens acreditamos, sonhamos que brandindo flores nos transporta para uma revolução e que após isso vemos, temos o caminho aberto definitivamente para a conquista da felicidade e de todos os nossos problemas resolvidos, um mundo de amor, de concórdia, de paz e onde todos os seres humanos se abraçam, se entendem e que jamais haverá guerras, uma sociedade perfeita sem miséria, com muita riqueza, com muita sabedoria, extrema alegria.
Os agitadores políticos tudo nos prometem que se o poder for derrubado, haverá riqueza para todos e nada nos faltará, como o prometido divino Maná.
E nós arriscamos, damos as nossas vidas para que possamos conquistar esse paraíso que nos cai de bandeja, mas depois verificamos com tristeza que onde há muita riqueza há a certeza da abundante pobreza.
E nas universidades começa a agitação estudantil que chega nas fábricas e o operariado impõe greves selvagens para que a economia se arruíne e o país desfeito caia nas mãos dos revolucionários.
E depois marchamos, de corpos trucidados ficamos na defesa de ideologias políticas que afinal nada nos contemplam, em nada nos sustentam. E que mais tarde essas ideologias políticas se transformam em corporações do mal e com o maior à-vontade incitam à guerra e assim destruam nações, povos, genuínas ideologias do mal.
E tudo aquilo que foi prometido, e pelo qual o povo lutou em vão, convencido, vencido, é assim a revolução.
E se a revolução não for votada pelo povo, jamais os revolucionários serão democráticos.
E porque os democratas vivem na miséria democrática? E aceitam-na como a panaceia de todas as virtudes? Sabendo que laboram no erro deixam-se arrastar para a morte lenta da fome vitoriosa que sempre desperta, triunfante os espera. E deixam-se embalar no som da morte como a coisa mais natural que possa existir, deixando-se roer pelos ratos, que sem forças para lutarem contra eles lá vão com a sua existência sem sentido, do viver para morrer na execução do pelotão de fuzilamento da democracia.
Quem perde a coragem de lutar, deixa-se escravizar, entrega-se ao poder que se diz democrata, e não é capaz de dizer, basta!
Este é o bem-estar que a revolução de Abril nos sorteou, nos aprisionou. Passados quarenta anos – e por quanto tempo mais? Porque a trama parece infindável numa revolução permanente, incoerente – as multidões de escravos seguem em filas indianas no trajecto da escravidão, sem solução que se aviste pois o seu periscópio nada consegue ver à superfície pois está cego, embaciado, totalmente opaco.
São tantos os desiludidos no cume das democracias mundiais que ninguém os pode contar.
Um cortejo fúnebre de desempregados cerca o mundo.
E também são tantos os terroristas mundiais que ninguém os consegue contar.
E a juventude cai outra vez - como uma menina que na sua candidez se entrega no aríete carnal do pedófilo – no engodo de mais alguns propagandistas que exigem que os sigam - que ao contrário dos déspotas esclarecidos, estes são democratas assumidos, corrompidos – e mais revoluções se semeiam, para mais um pequeno grupo de indivíduos dominarem a seu bel-prazer os destinos (?) dos navios naufragados.
Sim! As revoluções actuais são – como as catástrofes mundiais – um mal necessário.
E nas democracias consagradas como viver é um prazer, não há assaltos, não há roubos, não há despejos de idosos e crianças para o frio glacial das ruas.
Há sessenta anos que o meu comboio circula por revoluções, e a minha vida não se compõe, anda aos tropeções, a minha vida se descompõe.
E quando depois de uma revolução – quando antes o fornecimento de energia eléctrica e água funcionavam normalmente – os revolucionários não conseguem abastecer de água e energia eléctrica uma cidade, não estão lá a fazer absolutamente nada, porque quem não consegue garantir estas coisas não consegue garantir seja o que for. Porque sem isto não é possível realizar nada. É conversa balofa, de escroque.
E a África Negra continua a fiel, a fértil fábrica de escravos à disposição de quem lhes pague o menos possível, sem salários. É o baluarte seguro do nascimento de novos terroristas. Assim, no futuro teremos as democracias que deram origem ao terrorismo, na prática com as suas instituições obcecadas, com as suas populações mobilizadas e os seus recursos monetários utilizados para sobrevivência contra a luta dos povos marginalizados, abandonados. Porque considerados seres inferiores, servindo de pretexto para a mão-de-obra escrava, sem dispêndios financeiros, e daqui o incremento de milionários com populações esfomeadas, com tão rudimentares meios de sobrevivência inimagináveis, quando se previa que no planeta Terra todos seriamos felizes.
A hipocrisia destrói a cidade e a nação.
E depois dos anos 60 o mundo acabou.
Eis a aventura épica de um ser humano honesto que na ditadura salazarista vivia na pobreza, e que depois livre pelo 25 de Abril continua na constante luta para se libertar dos latifúndios bancários democráticos.
Esta é a história de um humilde e simples homem que acreditou na mudança, na abastança das várias revoluções que prometiam o bem-estar, democracia, liberdade, quando na realidade ano após ano os cortejos fúnebres carregam cadáveres como num extermínio da espécie humana, com prisões superlotadas e cemitérios insuficientes. Na realidade são os cemitérios das democracias cadavéricas.

Dat veniam corvis, vexat censura columbas. A censura poupa os corvos e persegue as pombas.
Verso de Juvenal (Sátiras, II, 63). Cita-se todas as vezes que são perseguidos os inocentes e se deixam impunes os culpados. (Dicionário Lello)

Gil Gonçalves

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