República das
torturas, das milícias e das demolições
Diário da cidade
dos leilões de escravos
29
de Outubro
A governação à africana presenteou-nos
com mais um corte no exíguo orçamento da energia eléctrica. Assim, fomos
abandonados às 10.39 e recuperados às 11.36 horas.
Enquanto os partidos políticos da
oposição persistirem na campanha de desestabilizar o partido Minoritário – não
o deixam pensar, desviam-lhe as atenções para a corrupção – teremos a luz aos
trambolhões, o que para nós povo (?) ainda é um merecedor luxo.
Há que incentivar a população conforme o
conceito leninista de que cada cidadão é e deve sentir-se necessariamente um
comprador do seu gerador. Nem só de petróleo e diamantes vive esta república de
geradores. Amigo leitor, incentive a poluição e morra canceroso mais a sua
família e amigos. Está à espera de quê? Vá já comprar o seu gerador.
Viver, liberdade, é a nossa luta constante
contra corruptos, mafiosos, desonestos, demagogos e fanáticos religiosos.
Enquanto as chefias africanas
continuarem a dirigir os seus países como chefes de tribo, não se despirem do
tribalismo, a África não terá sucesso – nunca será colorida, pelo contrário,
muito esmorecida – apenas retrocesso.
E a corrupção vira-se contra os
corruptos.
Deus escreve por linhas tortas, e os
corruptos também.
Quando as ideias se colam no nosso
cérebro e não se reflectem na prática, não têm nenhum valor. São a modorra do
exercício intelectual, passatempo dos abundantes programas dos políticos e
religiosos, televisivos e radiofónicos.
Quando os corruptos estão no poder,
decretam que a corrupção é legal e tudo o mais é ilegal, incluindo uma falsa
democracia com partidos políticos que se deixam adormecer como ovelhas na presença
do lobo mau. E quem declarar que esse poder tem que ser fiscalizado, logo surge
o decreto das masmorras. Pois, onde a democracia se canta com armas, os
intelectos democratas tornam-se ilegais, militantes da luta clandestina.
E mais outro…
apagão das 14.15 às 15.05 horas
Estou a
construir uma jangada para navegar, rumar a Lampeduza, a ilha da salvação. Se
quiserem aproveitar, tenho lugares disponíveis. A viagem será muito perigosa.
Bastou um pouco
de chuva e esta cidade ficou arrasada. E quando chover um, dois, três dias como
em muitos países?
A luz foi-se às
21.36, pouco depois despediu-se novamente às 23.18 horas, não se sabendo quando
voltará. Será que nunca? Os fundamentalistas tudo fazem para que não tenhamos
energia eléctrica.
30 de Outubro
A maldita luz
chegou às 22.59 horas.
Consultei o meu
saldo no multicaixa e vi que a empresa com que trabalho já creditou o meu
salário. Mas o meu cartão multicaixa – essa invenção que desgraça a vida dos
angolanos – está caducado. Então, vou para a baixa de Luanda – porquê tudo
concentrado na baixa de Luanda como no tempo colonial? – Dirijo-me à entidade
bancária que trata desses assuntos e lá recebo um Pólo Norte – será que esses
dirigentes bancários são pinguins? «Não temos cartões!» Gelou-me um deles. E agora,
como recebo o meu salário? Ninguém me deu atenção porque os pinguins
mergulharam no gelo, no seu passatempo preferido. Ainda gritei mas em vão: «Ó
pulhas! Então não sabem que o salário é sagrado? Que não se deve brincar com
isso?» Este abismo bancário é fácil de desvendar: para justificar a avalanche
de portugueses e os esquemas da nomenclatura que exercem sobre o sistema
bancário para efectuarem as suas transferências para o exterior, usam duas
contas: a sem sistema e a sem cartões. A banca está dominada pelos portugueses,
o PR JES disse que anualmente transferem para Portugal milhões e milhões de
dólares, como se a banca esteja apenas ao serviço de portugueses. Contra os
crimes políticos aplica-se logo a lei dos crimes contra a segurança do Estado e
contra os crimes de natureza económica nada se faz sentir. Como é que querem
que acredite no Governo que há muito nos desgoverna? Depois surpreendem-se com
as posturas de levantamento popular, de revolução, de incitação à violência,
pois se este governar é para ninguém descansar, nem ao menos cochilar. E assim
vai a nossa vida: portugueses nos bancos ao seu exclusivo serviço – como podem
ser quaisquer outros estrangeiros – e chineses que serram ferros e martelam
pequenas chapas dia e noite como na Idade da Pedra, as endireitam e enviam para
a China, pois daqui tudo sai e nada entra, excepto a miséria internacional e a
escravidão. Angola é a capital mundial dos serventuários do crime.
Será que os
chineses também vão comer mwangolés como se fossem cães e gatos? Pouco falta,
não é?
31 de Outubro
E Deus vagueia
no espírito do homem que o inventou.
Pelo contínuo
barulho aterrador das sirenes que todos os dias invadem Luanda – já lá vão
muitos anos - não tenho dúvidas nenhumas de que Luanda está, continua em guerra.
02.14 horas.
Ouve-se o grito de sofrimento, de tortura, forte e prolongado de uma mãe,
acompanhado dos choros de medo de crianças. O que se passa? É o habitual. O
marido – muito naturalmente em estado de embriaguez, esta sociedade está
bêbada, drogada – dá-lhe de presente uma selvática surra para lhe provar que é
um forte macho e que a razão do seu viver está na surra que dá nas indefesas,
na carne para machão. E como batem até matar, ela não deve escapar. É mais uma
mártir ao serviço desta infindável, infernal revolução leninista. E como já não
há ninguém que escuta a voz destas moribundas é bater até desfazer. Ó pobres
corpos que nasceram, e precocemente morreram. No Governo não há ninguém que
tenha compaixão? É só corrupção?
Deus é o mais
perigoso, letal invento que o homem inventou?
Num país a
desabar, tudo o que se constrói, desaba.
01 de Novembro
Tipicamente
português: os portugueses vão chegando do êxodo, sobem as escadas do prédio,
passam pelos e pelas vizinhas mwangolés, não cumprimentam, olham para baixo a
fingir que não há ninguém pelo caminho, como se tivessem viseiras nos lados dos
olhos como os burros. Pobre gente de baixa índole ainda com o complexo do
colonizador.
Mais um prémio de jornalismo deles e
sempre para eles. É o jornalismo da corte. Por exemplo: a Rádio Ecclesia tem
bons jornalistas.
02
de Novembro
África, o
continente dos tiros.
Em Roma sê
romano, em Angola atirador.
A África é um
reino, onde os seus súbditos andam sempre aos tiros, o tal, a raça acaba com a
raça? Um futuro demente como chumbo que faz com que o africano se volatilize.
Já está cansativo e repetitivo. É péssimo quando uma pessoa deixa de acreditar
na governação africana porque é tiroteio por todo o lado, enxameado. O
investimento retrai-se, chegam as aves de rapina, e é o adeus.
Os nossos
camicases nos carros deles: Isso está a generalizar-se, porque aqui na rua das
sirenes vi um de arrepiar, acelerou, eram cerca das 22.30 horas, e como um
míssil voou sobre o cruzamento e prosseguiu viagem rumo ao inferno. Isto está
de meter as mãos na cabeça. Pode-se dizer que não dá para viver, apesar dos
estrangeiros garantirem que isto é bom e do melhor, porque transferem o nosso
kumbu para os países deles.
Cemitério do
Alto das Cruzes, Luanda, dia de finados: um senhor tocou na campa do seu
defunto familiar, de repente sai de lá um bruto enxame de abelhas que começam a
atacar tudo o que é pessoa, que espavoridas abandonam o cemitério. Os bombeiros
foram chamados para intervirem.
De arrepiar,
sete horas da manhã: vejo dois carros parados quase no meio da estrada com a
música a berrar o mais alto possível. Saem jovens, eles e elas, bem
embriagados. Dois jovens dançam em pose sensual para as suas namoradas, elas
fogem-lhes, não lhes prestam atenção. Claro que saíram de alguma festa – tudo
serve de pretexto para festejar – depois arrancam nos seus carros em alta
velocidade de exibição alcoólica. Sem dormirem, embriagados, será que chegarão
vivos aos seus destinos? Que vítimas inocentes também perecerão das suas
loucuras?
E Armando Guebuza,
presidente de Moçambique e do partido Frelimo, tal como Hitler, encetou um Blitzkrieg
(guerra-relâmpago) contra a Renamo, o partido da oposição. Tal como Hitler,
também será vencido, pois sonhar com essas coisas das guerras-relâmpagos cheira
a Tribunal de Nuremberga, agora TPI.
Imaginem
um país inundado pelo mar da corrupção com prémios de literatura e de
jornalismo instituídos. Quem são os beneficiários destes prémios?
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