quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

O cavaleiro Mwangolé e Lady Marli na demanda do Santo Graal (06)


O maior perigo da política é quando os declarados, conceituados idiotas decidem intervir. E como já ninguém acredita na democracia e nos seus mentores, os bancários gestores, é tudo para destruir. Não é por acaso que se fala, que se espera, o alimento do desespero da terceira guerra mundial. Porque o Triunfo dos Porcos permanece omnipotente, com os suínos bem disfarçados no poder democrático. São como as religiões que arrastam as suas multidões para os abismos da miséria e da fome. E sempre insistem que rezar é a única esperança de salvação. A fórmula dos políticos idiotas não diverge muito: «Confiem em mim que melhores dias virão.» Ou: «A nossa governação assenta nos mais grandiosos projectos das nossas centralidades, no rumo de uma nova vida e bem-estar das nossas populações. O futuro é por isso mesmo certo. Brevemente, prometo-vos que a pobreza, a fome, e a miséria das populações melhorarão significativamente.»
Os políticos idiotas são demais, em maior número, claro, têm tudo a seu favor no analfabetismo projectado, bem programado, para vencerem. Estão em todas, por todo o lado. São os senhores, os melhores em tudo, intocáveis, até deixaram de ser pessoas, são génios, deuses, os tais imortais que vindos do Olimpo se disfarçam entre nós de humanos.

Em Cuba, a partir das dezoito horas há recolher obrigatório, o policiamento entra em acção. Os estabelecimentos fecham, logo, ninguém vende nas ruas. Ainda existem destas coisas pelo mundo fora, como se fosse uma partícula que as leis da Física desconhecem.
Vontade dos príncipes jingolanos para implantarem tal saudosismo leninista não lhes falta, mas o povo jingola já jurou: leninismo nunca mais. Apenas se lamenta que a miséria prossegue e que os estrangeiros aos poucos lhes invadem a terra, e os olham como estorvos para o prosseguimento da sua ocupação total e completa. Mas, brevemente isso acabará, prometem muito convictos, os sem a escada do futuro.
Quem tomar o poder pela força, também pela força sem ele ficará.
O jingolano já aprende a manifestar-se. Quase todos os dias assim acontece. Até que mais dia, menos dia manifestar-se-á na totalidade e ninguém o conseguirá apaziguar, parar.
Reino maravilhoso, onde até vulgares contrabandistas de armas são recebidos e honrados como heróis da pátria, no navio alcoólico que nada em álcool e que depois nele se afogam.

Vinte e uma horas. Ouve-se um estrondo muito forte, tipo daqueles dos escapes das motorizadas dos nossos gloriosos malucos das motas voadoras. Espreito da varanda e vejo cinco carros danificados. O causador do infausto acontecimento é um vizinho que mal consegue sair da sua viatura. Acaba por desenvencilhar-se do interior do seu bólide alcoólico mas, mal consegue equilibrar-se. Está escravo, possesso pelo álcool, um dos carros terá que ser substituído por um novo, o motor faleceu. O álcool, tal como uma epidemia alastra-se vitorioso. É caso para dizer: contra milhões de alcoólicos – essa instituição nacional - ninguém combate. O arrasador justificou-se, alegou em sua defesa: fui encadeado pelos faróis do outro carro. Claro, do outro veículo alcoólico.

Estavam mal preparados para a guerra, que não passou de mais uma negociata, quanto mais agora para governar um país.
A única coisa que funciona é os dividendos do petróleo nas contas bancárias da nomenclatura. Esta tragédia vai passar a figurar como um acto normal. É assim como uma espécie de quarto-mundista. E uma espessa cortina de chumbo caiu sobre Jingola.
O melhor indicador da nossa pobreza é o petróleo. Quanto mais o preço sobe, também a nossa miséria. Que paradoxo, não é?!

A mãe com as duas tenras crianças, uma às costas e outra a arrastar os pés pelo chão, já sem forças, dominada pelo doentio poder do petróleo. Senta-se num pequeno muro do diminuto jardim de uma instituição bancária, ou melhor, tentou, porque um zeloso segurança sempre no cumprimento das deificadas ordens superiores, de que essa gente vem para aqui fazerem-nos feitiço, são todas feiticeiras, e as palermices habituais de quem obteve dinheiro sem trabalhar:
- É pá, não podes estar aqui!
- Porquê, vocês também compraram os passeios?
- É pá, ó senhora, é melhor bazares já, não sabes que Jingola tem dono, não é?!
- Esperem só, que a vossa hora está a chegar, vão pagar muito mal pelos males que nos fazem. O castigo será terrível.
E a espoliada até dos passeios ruada, parou mais à frente, encostou-se num pilar, relíquia do tempo colonial ainda milagrosamente viva, e deu de mamar ao mais pequenino, enquanto a outra criancinha chorava-lhe encostada no ombro da fome ainda não melhorada, nada mitigada. E os novos-ricos descem dos seus veículos luxuosos, adquiridos na corrupção petrolífera, e olham-nos, a mãe e as suas crianças como lixo humano. Como são do poder principesco, lá insistiram com os seguranças para que retirassem o estendal humano da rica paisagem petrolífera. O petróleo é a força, o rei dos poderosos, e o inimigo dos andrajosos.
Para onde olhássemos deparávamos sempre com o mesmo incomensurável cenário: um oceano de homens fardados, e outros à paisana da secreta do rei vigiavam para que a manutenção do poder se perpetuasse, porque os reis não reinam na terra mas no tempo eterno. Quer dizer, há dois tempos: um para os reis, imortais, e outro, o dos pobres mortais.
Jingola, como reino exemplar da injustiça, o seu rei marimbava-se para a justiça popular revolucionária dos pneus incendiados na cabeça dos sentenciados desgraçados, imolados. A moda estava de tal modo disseminada que dir-se-ia como os inúmeros concursos de misses disto, daquilo e daqueloutro. Era perfeitamente naturalíssimo despertar de manhã e assistir ao macabro teatro de cadáveres rodeados, queimados pela justiça do pneu queimado enfiado no pescoço das vítimas, que morriam incineradas pelos desmandos do tentarem surripiar qualquer coisa ao êxodo dos esfomeados. Era, de certo modo, uma concorrência desleal aos corruptos petrolíferos, que não cansados do espúrio das terras, dos parcos bens do outro povo. Sim, Jingola, tem dois povos. O dos que usurparam o poder e o dos que nada têm, apesar de hipocritamente lhes chamarem de, o nosso povo.

Imagem: povodearuanda.wordpress.com

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