Os mercenários, mercadores
imobiliários desenvolvem-se. A revolta da população também.
Reino Jingola, o único reino do
mundo onde a população é clandestina, estrangeira, ilegal.
A rainha não
resiste. Aproxima-se de uma jovem que espreguiça o belo
corpo, acariciado e modelado pela luz solar. Dança sensualmente.
- Suas desavergonhadas estão todas nuas porquê?!
- Não temos nada
para vestir, vocês roubaram-nos tudo!
- Prostitutas… deviam ir para
a Santa Inquisição, tenham vergonha!
- Prostituta? Eu? Isto que tenho aqui
é propriedade privada.
Para usar e abusar. Felizmente não é descartável como as vossas obras. Isto não é para quem quer mas para quem merece. Se fosse rainha
neste reino também não me faltaria nada.
- Isso não
é justificação, ordinárias, suas moles sem cultura.
Andam à toa, vistam-se se faz favor.
- Não vês
que nos
espoliaram a roupa!
- Assim é que
estão bem vestidas. Ih!
Ih! Ih!
- Ai é?! Viver num campo
de nudismo é muito
saudável, sabias?
A jovem põe as mãos na cabeça.
Invoca um feitiço. Ouve-se um grande estrondo vindo do céu. Um poderoso raio
de luz agita
o seu corpo que
se transforma na poderosa Deusa Africana da Dança.
Estremece, agita-se, segue comandada por
som invisível.
Dança a eterna
sensualidade negra,
da qual só
elas conhecem o segredo.
Canta:
Sou Jingola, meus antepassados, todos andaram e beberam aqui (mostra o sexo). Sinto-me orgulhosa por ter
nascido assim (mostra o sexo). Isto é a minha epidemia. Oh! Minha Jingola Oyé! Oyé! Viva o rei das piranhas Oyé! Oyé! Viva a rainha
das piranhas Oyé! Oyé!
Atingidos pelo som
e pela dança,
a amálgama de corpos
desperta. Sentem o ritmo na alma e no corpo.
O silêncio chega,
torna-se confrangedor. Ouve-se um lamento.
- Põe essa merda outra vez a tocar!!!
Infelizmente ninguém dá resposta.
Como renascidos das trevas,
olham para os seus
corpos nus.
Uma jovem duma igreja
rigorosa grita.
- Onde estão as nossas roupas?!?!
Alguém obriga a multidão a olhar na direcção da sua
mão. Num pau
espetado no chão vê-se um soutien, uma
tanga e um papel
escrito: A QUADRILHA
DO ROBIN ALAMEDA SQUAD PASSOU POR AQUI.
Uma maratonista está prestes a dar à luz, a adquirir um
bonitinho. Põe as mãos na barriga,
improvisa uma dança e implora ao próximo esfomeado que lhe renasce:
- Estás com medo
de nascer, né!? Sai bonitinho… que
a fábrica da mamã tem leite para alguns meses. Depois
não sei. Olha!
Aprende a viver com
a fome. É esse
o teu destino.
Vou atirar-te para o caixote
do lixo, pode ser
que algum
novo-rico do palácio petrolífero te recolha.
Obrigaram-se a limpar os restos da orgia, melhor dito, da
maratona. Limparam as espinhas do peixe
que pareciam terem saído
duma imensa fábrica
de transformação de gataria e canídeos, dessas made in China. Claro que foram
as mulheres que
trataram disso arrastando as filhas para as
ajudarem. Os homens bem
escondidos, disfarçados atrás das árvores continuavam na bebida.
Mas tinham um sinal
secreto. Quando
o accionavam era sinal
para os filhos
trazerem a bebida. Se algo corresse mal era
feito outro
sinal e vinha água
para regar. Uma pobre
planta inventada, acabada de plantar nesse momento.
Com os divinos rastos, (não são
restos não) do Dão Meia Encosta a fugir do cérebro, um
Jingola recorda-se que deixou a esposa no pardieiro a aquecer o que se ajeitava no
leito. Uns papelões dos electrodomésticos das lojas dos asiáticos. Jingola
ainda será uma província asiática. Enfrenta-se com a estátua
da rainha e confunde-a com a sua esposa.
- Querida, finalmente
atingi os píncaros dos poetas. Querida
sou eu... mais um poeta. Já cheguei,
abra a porta… é, sou eu. Ai! Ai!.. as minhas
mãos. Você
mudou as tábuas da porta porquê!? A minha
querida esposa é a única que entende a minha
poesia. Minha querida
esposa quando nos libertamos de uma
esposa aparece outra pior, porque esqueci-me de lhe
mudar as pilhas do reino
do Dubai. Tudo que carregamos não é nosso é dos estrangeiros.
Entretanto, a esposa já há muito que o procurava. Encontrou-o ainda
no diálogo com a rainha, no martírio
da estátua. Tira um
chinelo e dá-lhe um monte de chineladas.
- Vá, vamos para casa
seu putanheiro de merda!
Chegam a casa. O marido senta-se à porta.
Não quer
entrar com medo de mais chineladas, tenta
o artifício da retórica.
- Contrariamente ao que pensamos
a vida é muito
fácil. Basta
libertarmo-nos dos ditadores. Eles escolhem o que
comem. Nós comemos tudo
o que nos
dão, que nos aparece pela frente.
- Que puta é essa que te ensinou isso? Vá diz-me, para lhe arrancar a rata à dentada.
Essas putas de merda gostam muito de roubar os maridos
das outras.
De repente serena,
sente ultra compaixão pelo
pobre marido e pela diferença do género.
- Vá, vai dormir... não
te bato mais.
Amanhã tens que
ir trabalhar, SENÃO PONHO-TE FORA
DE CASA!!!
Epok, narra ao rei os últimos acontecimentos.
Pede-lhe que se faça justiça.
- Meu rei! As nossas diferenças
do género no feminino estão impassíveis, impossíveis, insuportáveis…
depravadas. Estão a transformar tudo o que
temos de belo num reino pagão. Tenho que
importar mais
piranhas. Desta vez
juro que
acabo com elas.
Nem a rainha
respeitam, não respeitam ninguém. Quanto
mais lhes
chamamos a atenção, fazem pior. São mais horríveis que as piranhas.
- Epok, tem que ver
duas coisas: a primeira
é que temos que
evitar a todo
o custo qualquer
conflito com
elas. As mulheres
Jingolas são muito pacíficas, mas quando se
revoltam são terríveis.
Temos que aprender
a conviver com
elas. Afinal,
são as que
temos e nos outros
reinos dizem que
são as mais
bonitas do Mundo. Existe já um número considerável
delas que escolhem o suicídio… isso é muito
preocupante porque já
não suportam viver
no nosso reino.
Em segundo
lugar, se cairmos em
cima delas a rádio
dos republicanos a cada minuto estrondeará que
estamos a exterminar as negras. Que
fomos nós que
acabámos com elas. O paladino Divad sempre com as
Mãos Livres, qual Jesus Cristo, pregará a parábola
do bom semeador.
Bom, construindo um
muro bem alto à volta do
Castelo resolve-se o problema.
- O meu rei
é um iluminado! O único, o arquitecto da
sabedoria.
- Piranhar meu caro Epok, é por
isso que
sou o rei. Que
mais temos?
- Com o Banco
Real de Investimentos
que a princesa vai criar,
vamos ficar com
o controlo do dolo. Asfixiar
a concorrência... brilhantina
ideia.
- Quem te
disse?!
- A rainha.
-!!!... A partir deste momento
proíbe-se manter qualquer contacto com ela. De contrário mando-o atirar para o fosso das piranhas. Quanto
menos souber, mais
aprende.
- Eh! Estou lixado. Dei com
a língua nos
dentes. Como
é que me
vou safar desta? Já
sei. Meu rei,
o cavaleiro La Padep pôs a circular
um panfleto
que está a causar
muita agitação
no reino. Tenho uma cópia,
solicito permissão para
a ler.
- Concedida.
- O paladino Divad sempre com as
Mãos Livres disse: se o rei desse um campo do líquido
negro à população a miséria
acabaria. Aqui não
há lugar para
pessoas inteligentes,
cultas. Estamos a reviver o grau
de destruição Fahrenheit
451. São muito
mal-educados. Não
são elegantes.
Nunca pedem desculpas
a ninguém pelos
males que
nos fazem. Consideram uma obrigação o
sermos governados assim. Como na Idade da Pedra, no Neolítico. Parece que não
conhecem nada da História
Universal. Todos
os ditadores acabaram mal. Como vamos
viver num reino
cheio de maldade?
Há muitos ratos
no reino. Ainda
bem sempre se come alguma carne. Mas por vingança comem o pouco
que temos. Roem-nos até
à nossa alma.
As empresas criaram um
novo método
de pagamento. Não
pagam a ninguém. Os meses vão-se
acumulando sem pagamentos.
Não há dinheiro
para ninguém.
Onde estão os biliões
do líquido negro
e dos diamantes? Não
dão alimentação aos trabalhadores. Ficam
sem dinheiro para pagarem as rendas
das casas. Depois
vão para a
rua incomodar os pobres ratos. Dizem que
não são
obrigados a pagar
nada. O reino
do Grande Sam oferece 10.000.000.00 de dolo para combate à malária. Não temos programas
de combate para essa epidemia. La
Padep disse, jurou, jura que
já estamos colonizados. Está tudo nas mãos
de estrangeiros. Temos que revoltar-nos, para isso basta um mosqueteiro. Um
republicano da União Total
disse que a situação
é gravíssima. Temos que criar
uma frente de libertação
nacional. Quem
tiver medo que
fique de fora. O arauto
do Grande Reino ONU disse, que os reinos que não consigam proteger os seus cidadãos enviarão uma força
especial. Quando
os povos de todo
o mundo aprenderem a revoltarem-se jamais haverá fome.
Meu rei,
a parte que
se segue é muito interessante:
- Temos o direito de ir para onde
quisermos e nos apetecer.
O mundo não
pertence a ninguém.
O mundo é nosso.
Por exemplo:
hoje quero ir
para a Antártida, quem
me vai impedir?
Deixem-nos à vontade. Queremos a liberdade. O mundo
não é de ninguém.
Queremos ser livres.
Quero ir com
a minha namorada
e dizer-lhe: isto não
tem dono. Os donos
do mundo somos nós.
Que se acabem com
os malditos passaportes.
Queremos ser livres…
criar uma Nova
Mensagem. O truque,
o truque deles é este:
Obrigarem todos a ficarem na miséria, para depois comprarem os seus
bens a preços
baixos. Isso
é tão antigo
como a humanidade.
Os primeiros especuladores humanos fizeram exactamente assim.
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