quinta-feira, 10 de maio de 2012

O Cavaleiro do Reino Petrolífero (10)



Os mercenários, mercadores imobiliários desenvolvem-se. A revolta da população também.
Reino Jingola, o único reino do mundo onde a população é clandestina, estrangeira, ilegal.

A rainha não resiste. Aproxima-se de uma jovem que espreguiça o belo corpo, acariciado e modelado pela luz solar. Dança sensualmente.
- Suas desavergonhadas estão todas nuas porquê?!
- Não temos nada para vestir, vocês roubaram-nos tudo!
- Prostitutas… deviam ir para a Santa Inquisição, tenham vergonha!
- Prostituta? Eu? Isto que tenho aqui é propriedade privada. Para usar e abusar. Felizmente não é descartável como as vossas obras. Isto não é para quem quer mas para quem merece. Se fosse rainha neste reino também não me faltaria nada.
- Isso não é justificação, ordinárias, suas moles sem cultura. Andam à toa, vistam-se se faz favor.
- Não vês que nos espoliaram a roupa!
- Assim é que estão bem vestidas. Ih! Ih! Ih!
- Ai é?! Viver num campo de nudismo é muito saudável, sabias?
A jovem põe as mãos na cabeça. Invoca um feitiço. Ouve-se um grande estrondo vindo do céu. Um poderoso raio de luz agita o seu corpo que se transforma na poderosa Deusa Africana da Dança. Estremece, agita-se, segue comandada por som invisível. Dança a eterna sensualidade negra, da qual só elas conhecem o segredo. Canta:
Sou Jingola, meus antepassados, todos andaram e beberam aqui (mostra o sexo). Sinto-me orgulhosa por ter nascido assim (mostra o sexo). Isto é a minha epidemia. Oh! Minha Jingola Oyé! Oyé! Viva o rei das piranhas Oyé! Oyé! Viva a rainha das piranhas Oyé! Oyé!
Atingidos pelo som e pela dança, a amálgama de corpos desperta. Sentem o ritmo na alma e no corpo. O silêncio chega, torna-se confrangedor. Ouve-se um lamento.
- Põe essa merda outra vez a tocar!!!
Infelizmente ninguém dá resposta. Como renascidos das trevas, olham para os seus corpos nus. Uma jovem duma igreja rigorosa grita.
- Onde estão as nossas roupas?!?!
Alguém obriga a multidão a olhar na direcção da sua mão. Num pau espetado no chão vê-se um soutien, uma tanga e um papel escrito: A QUADRILHA DO ROBIN ALAMEDA SQUAD PASSOU POR AQUI.
Uma maratonista está prestes a dar à luz, a adquirir um bonitinho. Põe as mãos na barriga, improvisa uma dança e implora ao próximo esfomeado que lhe renasce:
- Estás com medo de nascer, né!? Sai bonitinho… que a fábrica da mamã tem leite para alguns meses. Depois não sei. Olha! Aprende a viver com a fome. É esse o teu destino. Vou atirar-te para o caixote do lixo, pode ser que algum novo-rico do palácio petrolífero te recolha.
Obrigaram-se a limpar os restos da orgia, melhor dito, da maratona. Limparam as espinhas do peixe que pareciam terem saído duma imensa fábrica de transformação de gataria e canídeos, dessas made in China. Claro que foram as mulheres que trataram disso arrastando as filhas para as ajudarem. Os homens bem escondidos, disfarçados atrás das árvores continuavam na bebida. Mas tinham um sinal secreto. Quando o accionavam era sinal para os filhos trazerem a bebida. Se algo corresse mal era feito outro sinal e vinha água para regar. Uma pobre planta inventada, acabada de plantar nesse momento.
Com os divinos rastos, (não são restos não) do Dão Meia Encosta a fugir do cérebro, um Jingola recorda-se que deixou a esposa no pardieiro a aquecer o que se ajeitava no leito. Uns papelões dos electrodomésticos das lojas dos asiáticos. Jingola ainda será uma província asiática. Enfrenta-se com a estátua da rainha e confunde-a com a sua esposa.
- Querida, finalmente atingi os píncaros dos poetas. Querida sou eu... mais um poeta. Já cheguei, abra a porta… é, sou eu. Ai! Ai!.. as minhas mãos. Você mudou as tábuas da porta porquê!? A minha querida esposa é a única que entende a minha poesia. Minha querida esposa quando nos libertamos de uma esposa aparece outra pior, porque esqueci-me de lhe mudar as pilhas do reino do Dubai. Tudo que carregamos não é nosso é dos estrangeiros.
Entretanto, a esposa já há muito que o procurava. Encontrou-o ainda no diálogo com a rainha, no martírio da estátua. Tira um chinelo e dá-lhe um monte de chineladas.
- Vá, vamos para casa seu putanheiro de merda!
Chegam a casa. O marido senta-se à porta. Não quer entrar com medo de mais chineladas, tenta o artifício da retórica.
- Contrariamente ao que pensamos a vida é muito fácil. Basta libertarmo-nos dos ditadores. Eles escolhem o que comem. Nós comemos tudo o que nos dão, que nos aparece pela frente.
- Que puta é essa que te ensinou isso? Vá diz-me, para lhe arrancar a rata à dentada. Essas putas de merda gostam muito de roubar os maridos das outras.
De repente serena, sente ultra compaixão pelo pobre marido e pela diferença do género.
- Vá, vai dormir... não te bato mais. Amanhã tens que ir trabalhar, SENÃO PONHO-TE FORA DE CASA!!!
Epok, narra ao rei os últimos acontecimentos. Pede-lhe que se faça justiça.
- Meu rei! As nossas diferenças do género no feminino estão impassíveis, impossíveis, insuportáveis… depravadas. Estão a transformar tudo o que temos de belo num reino pagão. Tenho que importar mais piranhas. Desta vez juro que acabo com elas. Nem a rainha respeitam, não respeitam ninguém. Quanto mais lhes chamamos a atenção, fazem pior. São mais horríveis que as piranhas.
- Epok, tem que ver duas coisas: a primeira é que temos que evitar a todo o custo qualquer conflito com elas. As mulheres Jingolas são muito pacíficas, mas quando se revoltam são terríveis. Temos que aprender a conviver com elas. Afinal, são as que temos e nos outros reinos dizem que são as mais bonitas do Mundo. Existe já um número considerável delas que escolhem o suicídio… isso é muito preocupante porque já não suportam viver no nosso reino. Em segundo lugar, se cairmos em cima delas a rádio dos republicanos a cada minuto estrondeará que estamos a exterminar as negras. Que fomos nós que acabámos com elas. O paladino Divad sempre com as Mãos Livres, qual Jesus Cristo, pregará a parábola do bom semeador. Bom, construindo um muro bem alto à volta do Castelo resolve-se o problema.
- O meu rei é um iluminado! O único, o arquitecto da sabedoria.
- Piranhar meu caro Epok, é por isso que sou o rei. Que mais temos?
- Com o Banco Real de Investimentos que a princesa vai criar, vamos ficar com o controlo do dolo. Asfixiar a concorrência... brilhantina ideia.
- Quem te disse?!
- A rainha.
-!!!... A partir deste momento proíbe-se manter qualquer contacto com ela. De contrário mando-o atirar para o fosso das piranhas. Quanto menos souber, mais aprende.
- Eh! Estou lixado. Dei com a língua nos dentes. Como é que me vou safar desta? Já sei. Meu rei, o cavaleiro La Padep pôs a circular um panfleto que está a causar muita agitação no reino. Tenho uma cópia, solicito permissão para a ler.
- Concedida.
- O paladino Divad sempre com as Mãos Livres disse: se o rei desse um campo do líquido negro à população a miséria acabaria. Aqui não há lugar para pessoas inteligentes, cultas. Estamos a reviver o grau de destruição Fahrenheit 451. São muito mal-educados. Não são elegantes. Nunca pedem desculpas a ninguém pelos males que nos fazem. Consideram uma obrigação o sermos governados assim. Como na Idade da Pedra, no Neolítico. Parece que não conhecem nada da História Universal. Todos os ditadores acabaram mal. Como vamos viver num reino cheio de maldade? Há muitos ratos no reino. Ainda bem sempre se come alguma carne. Mas por vingança comem o pouco que temos. Roem-nos até à nossa alma. As empresas criaram um novo método de pagamento. Não pagam a ninguém. Os meses vão-se acumulando sem pagamentos. Não há dinheiro para ninguém. Onde estão os biliões do líquido negro e dos diamantes? Não dão alimentação aos trabalhadores. Ficam sem dinheiro para pagarem as rendas das casas. Depois vão para a rua incomodar os pobres ratos. Dizem que não são obrigados a pagar nada. O reino do Grande Sam oferece 10.000.000.00 de dolo para combate à malária. Não temos programas de combate para essa epidemia. La Padep disse, jurou, jura que já estamos colonizados. Está tudo nas mãos de estrangeiros. Temos que revoltar-nos, para isso basta um mosqueteiro. Um republicano da União Total disse que a situação é gravíssima. Temos que criar uma frente de libertação nacional. Quem tiver medo que fique de fora. O arauto do Grande Reino ONU disse, que os reinos que não consigam proteger os seus cidadãos enviarão uma força especial. Quando os povos de todo o mundo aprenderem a revoltarem-se jamais haverá fome. Meu rei, a parte que se segue é muito interessante:
- Temos o direito de ir para onde quisermos e nos apetecer. O mundo não pertence a ninguém. O mundo é nosso. Por exemplo: hoje quero ir para a Antártida, quem me vai impedir? Deixem-nos à vontade. Queremos a liberdade. O mundo não é de ninguém. Queremos ser livres. Quero ir com a minha namorada e dizer-lhe: isto não tem dono. Os donos do mundo somos nós. Que se acabem com os malditos passaportes. Queremos ser livres… criar uma Nova Mensagem. O truque, o truque deles é este: Obrigarem todos a ficarem na miséria, para depois comprarem os seus bens a preços baixos. Isso é tão antigo como a humanidade. Os primeiros especuladores humanos fizeram exactamente assim.





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