quarta-feira, 23 de maio de 2012

O Cavaleiro do reino Petrolífero (12). Reino Jingola, algures no Golfo da Guiné.



É nacional, irracional, é neocolonizado, eu gosto!

Assim que a jovem princesa saiu, a rainha sentiu as asas da sua voz e deu-lhe liberdade.
- Estou bem fodida com esta princesa. Esta menina é um novo vírus epidémico para o meu reino. Terei que apartá-la definitivamente antes que ela me tire a coroa. Enviá-la-ei para as calendas do reino Tuga. Quem sabe, lá amarre um branco que a engravide e por lá fique. Que Deus me dê a força do outro… do seu Reino.
Epok acompanha o início da construção da Grande Muralha do Palácio Castelo-forte. Vê um amontoado de gente. Pergunta a um guarda:
- O que é que esta multidão está aqui a fazer?
- Estão à espera do lixo que sai do Palácio… é a única coisa que os alimenta.
- Lixo à espera do lixo. Corram com eles!!!
Com o grande muro, as dimensões do Palácio ficarão mais que enormes. Nada melhor que os operários e engenheiros da Dinastia CIF para construir a Grande Muralha do Grande Palácio. Trabalharam dia e noite como os escravos do Faraó. Afinal os chineses ainda não saíram dos tempos da grande escravatura. Claro, a obra terminou antes do prazo previsto.
Epok não escondia a sua satisfação pela recente, mais uma, importação de piranhas. Por causa disso nasceu um incidente diplomático com o reino do Brasil. Receavam que as piranhas se extinguissem no seu reino. Reivindicaram que as importações seriam suspensas por ora. Em sua substituição propunham jacarés muito mortíferos. Epok respondeu que era desnecessário. Neste reino existiam jacarés a mais. De dia e de noite, nas ruas e esquinas espreitavam as suas presas para desferirem com as suas mandíbulas o ataque fatal. O curioso nisto é que a população protegia-os. Diziam que eram feiticeiros disfarçados. Afirmavam que os animais eram sagrados. Seriam ramificações do antigo Egipto? Só um entendido na matéria o saberá explicar.
Lembrou-se das parecenças de um caso acontecido com um marquês, que não se lembrava qual, também não interessa muito, os marqueses são tantos que se lhes perde a conta. Bom, o marquês entrou na desgraça do rei. Nem conseguiu ser nomeado para uma reles embaixada. Ficou pobre e infeliz abandonado. A sua esposa viu a fortuna minguar, até que se extinguiu por completo. Primeiro instruiu as suas jovens filhas para que conquistassem a qualquer custo um marquês, ou um qualquer nobre endinheirado, de preferência já idoso. Daqueles que só entesam com umas boas chupadelas no seu sexo flácido, devido em grande parte ao álcool consumido.
Nada disto resultou. Falou com um feiticeiro que lhe disse para plantar em casa, residia no primeiro andar do que restava dum prédio, um embondeiro na varanda. Assim fez. O embondeiro cresceu. As raízes já rachavam a varanda. O feiticeiro tinha-lhe dito que os culpados da sua desgraça eram os vizinhos. Assim as raízes cresceriam por todo o prédio e anulariam o feitiço deles. Estava tudo bem. Já cambiava grandes quantidades de dólares. Trocava de mobília todos os meses.
estava, podia-se dizer, rica. O feiticeiro reclamou-lhe os seus direitos. Ela não lhe largava um vintém. Já não necessitava dele para nada. E aconteceu-lhe o imprevisto. Ficou diabética. O médico receitou-lhe tratamento rigoroso. Especialmente abster-se de bebidas alcoólicas. Ela entendeu que o médico era maluco. Decidiu beber cerveja anormalmente. Tinham-lhe dito que isso aceleraria a cura.
Teve o primeiro derrame cerebral. De urgência foi para um hospital real. Saiu de lá zonza. Assim se manteve. As suas amigas insistiam que bebesse pouca cerveja. Aumentou a quantidade. Novo derrame cerebral. Ficou ainda mais zonza. Depois foi-lhe cortado um dedo do pé. Depois outro. Estacionou por enquanto. Mas já não dizia coisa com coisa. O dinheiro, como que por artes mágicas evaporou-se. De vez em quando lembrava-se de afirmar que os vizinhos eram os causadores da sua desgraça. Deixaram de lhe dar importância. O feitiço que procurou já acabou. Misteriosamente o embondeiro secou sem qualquer explicação. Dizem que o feiticeiro libertou o feitiço. A pobre alma vagueia por aí. Quem sabe do seu segredo exclama:
- Os que não sabem procurar nunca encontram o que precisam.
Estava Epok a gozar estes pensamentos quando é interrompido por um mensageiro do Rei.
- Chefe, o rei clama pela sua presença.
- Diz-lhe que daqui a uma hora lá estarei… pelo menos daqui a quatro. O rei vai ter muito que esperar.
Epok imaginou que se considerava o súbdito mais importante. Sabia que o rei dependia muito de si. Era o único do reino que tinha intimidade com ele. Muito mais com a rainha. Agora sentia-se proscrito. O rei proibira-o de qualquer intimidade com a bela rainha. Epok não podia, nem devia, esconder a sua insatisfação. Sentia-se demasiado leal. Seria por isso?
- Chefe, chegou outro mensageiro do rei.
- Diz-lhe que demorarei mais uma hora.
Ele não compra rádios para comunicarmos. Receia que alguém escute as conversas. Arquitecta constantemente estratagemas de segurança. Envia a guarda para uma rua, aparece noutra. Simula que vai sair, não sai. Diz que já saiu, mas está lá dentro. Põe toda a guarda nas ruas, a escumalha aguarda-o, não aparece. Vai tranquilamente para o seu jacto particular. Desaparece, depois informa que já chegou ao destino tal. Este reino está encoberto. Trabalhar assim é uma merda.
Epok comparece na presença do rei. Este anuncia-lhe:
- Cavaleiro Epok, tive uma excelente ideia. Vou mandar construir uma grande catedral de estilo gótico. Chamar-se-á catedral do santo rei. Será bem dimensionada, agigantada para acolher todas as religiões, incluindo a nossa tradicional feitiçaria. Os locais de culto serão protegidos com grossas paredes de concreto para evitar os ataques à bomba, e os confrontos sangrentos que por certo virão. Trata de encomendar as estátuas que serão feitas de oiro. Os fiéis pagarão para acesso uma taxa monetária. Já vistes a mina de oiro que isso nos vai dar?
- É de facto mais uma excelente ideia, majestade. Só me preocupa onde vamos arranjar uma imagem para representar a nossa feitiçaria.
- Qualquer coisa serve. Uma cobra, um jacaré, um osso. Os parvalhões não vão notar nada.
- Meu rei, temos no reino uma empresa que cobra por estátua mais ou menos cem mil dolo. Para não ficarem desempregados vou pedir-lhes para as construírem.
- Não, nada disso. Manda construir naqueles nossos amigos do estrangeiro. Cada uma custará um milhão de dólares. E fazem-nos esse preço porque somos amigos.
- Muito bem magnânimo.
- Piranhar e elementar meu caro Epok… tenho aqui uns decretos reais para publicitares. Vou com a rainha gozar umas merecidas férias no reino do Brasil. Infelizmente no meu reino não há condições para tal. Creio que nunca haverá. Entretanto fique de olho na princesa… e nos republicanos.
- Assim será meu iluminado.

CAPÍTULO VIII
 OS DECRETOS

Epok viu os decretos que seriam publicados:
DECRETO REAL. EXONERAÇÕES
No uso das minhas Reais faculdades, por minha conveniência, e ao abrigo das únicas competências que me atribuo, exonero os seguintes Marqueses:
Marquês do Desemprego, Marquês dos Vice-reinos, Marquês das Terras e Marquês dos Peixes.
Cumpra-se e dê-se à voz dos arautos reais, do reino e vice-reinos. Feito para sempre neste reino. O Rei.
DECRETO REAL NOMEAÇÕES E EXONERAÇÕES
No uso das minhas Reais faculdades, por minha conveniência, e ao abrigo das únicas competências que me atribuo, exonero e nomeio:
Marquês das Sobras da Guerra, para Marquês do Desemprego. Este ocupa-se das Sobras da Guerra. Marquês Sem Ciência, para Marquês dos Vice-reinos. Este ocupa-se dos Sem Ciência. Marquês das Cantinas, para Marquês das Terras. Este ocupa-se das Cantinas. Marquês dos Pasquins, para Marquês dos Peixes. Este ocupa-se dos Pasquins.
A instância do Cardeal representante neste Reino da Igreja de Roma, o Marquês do Santo Oficio acumula a função de compulsivamente usar a polícia na busca dos cidadãos que recusarem os cultos. O Reino apoia sem reservas a Igreja de Roma. Pelo que, todos os lugares de culto receberão enchentes de fiéis. É criado o novo cargo, Marquês dos Reais Mosqueteiros-Mirins. Compete-lhe a obrigação de efectuar o registo obrigatório das crianças desde o seu nascimento até à idade juvenil. Nascerá um exército Real espartano para defender com propósitos bélicos os bons costumes Reais. Serão ensinados a denunciarem pais, mães, namorados ou namoradas, amigos, amigas, e qualquer outra pessoa que não esteja de acordo com as Reais Leis. Os gastos para o seu orçamento inicial e futura manutenção serão como sempre ilimitados. Cumpra-se e dê-se à voz dos Arautos Reais do Reino e Vice-reinos. Feito para sempre neste Reino. O Rei.
Epok intrigava-se muito com os gastos que se faziam nas cozinhas reais. Não era possível que os géneros durassem poucos dias. Passou a vigiar o pessoal. Perguntou a um cozinheiro:
- Os géneros não chegam porquê?
- Antes eram importados. O rei disse que devíamos desenvolver a nossa agricultura. Criar empregos. Só consumir produtos de produção local, real, assim falou ele. A questão é que os nacionais chegam aqui em muito mau estado de conservação. Vai quase tudo para o lixo.
- Quando chegar o próximo abastecimento quero estar presente.
- Sim, meu cavaleiro.



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