sexta-feira, 18 de maio de 2012

O Cavaleiro do Reino Petrolífero (11)



Reino Jingola, algures no Golfo da Guiné

Os Jingola não são preguiçosos, são africanos.

O destino deste reino está no exílio local. Temos que continuar a luta fora de portas. Lentamente matam-nos um a um. Aqui não conseguiremos sobreviver. Temos que fugir para o estrangeiro. Renovar a verdadeira luta de libertação nacional. Só assim conseguiremos os nossos verdadeiros objectivos. Os marqueses dos nossos gloriosos exércitos tomam de assalto as ruas. Estamos a ficar sem elas. A rádio dos republicanos disse que o bispo do vice-reino da Ponta do Padrão ficou com muitos estragos. Os jovens invadiram o local do culto e caíram-lhes em cima. Atiraram-se a ele como mabecos.
- Isto está a ficar confuso. Os republicanos já lutam entre eles. Os mosqueteiros agora têm que resolver os problemas dos republicanos? – Preocupou-se o rei.
- Excelso rei, prendo-os?
- Não, deixa-os morrer à fome.
- Vou acabar a leitura. Eh! Eh! A maioria da população é constituída por marqueses e marquesas. Não gostamos da cor da bandeira do reino porquê?! O vermelho e preto há mais de trinta anos que nos promete muita coisa. Só nos dá fome. Por isso não gostamos deste reino. Fomos concebidos para viver, mas não nos deixam fazê-lo. Apenas quero amar uma mulher. Verdadeiramente amá-la. Acho que nunca conseguirei isso neste reino. O meu coração diz-me que ficaria muito feliz. Na realidade não somos nós que amamos. O nosso coração é que ama. Só ele sabe sentir o que é o amor. Sente-se eternamente feliz quando ama. Só ele conhece o segredo do amor. O meu coração sente necessidade de amar uma mulher. Não sei, nem imagino onde ela se encontra. Que se acabem os documentos, os passaportes, as nações e que o mundo seja só um. Procuremos o nosso amor, em qualquer parte do mundo. Sem qualquer documento. Que se acabe com a ONU e outras coisas iguais. Passamos a vida a viver de ilusões neste reino parte casebres. Estrangeiros já violam as nossas filhas. Obrigam-nas a prostituírem-se para arranjarem trabalho. A única liberdade que lhes resta é abrirem as pernas para o reino das piranhas.
Depois da audição o rei não mostrou nenhum sinal de compreensão.
- Sabe Epok, não perco tempo com essas coisas. Tenho muito onde ocupar o meu precioso tempo. Isso… são devaneios da juventude. Piranhar meu caro Epok!

CAPÍTULO VII
A PRINCESA

«E envolvem actividades tão diversificadas como o comércio de armas, a agricultura destinada à fabricação de entorpecentes, os desmatamentos ilegais que devastam grandes regiões no mundo, a sobrepesca em áreas fragilizadas, os loteamentos ilegais de especuladores imobiliários que jogam populações miseráveis em áreas de mananciais, o comércio internacional de prostitutas infantis, o tráfico de órgãos humanos para transplante e assim por diante.»
In Políticas Municipais de Emprego. http://www.dowbor.org/
Ainda o casal real dormia com um olho aberto e outro fechado numa bela cama estilo Luís XIV, quando a princesa abriu a porta com a chave que surripiou à mãe. Senta-se na cama ao lado da progenitora, acorda-a. A rainha levemente assustada levanta a cabeça, pergunta à filha:
- Que horas são?
- São cinco horas mãe.
O rei desperta completamente, ouviu o cinco horas da manhã da filha, e repreende-a.
- Filha bonita do papá e da mamã, se não tiveres um bom motivo para nos acordares a esta hora, vou-te dar uns bons açoites no teu real rabinho.
- Meu senhor, se ousardes tal façanha, verá tal angústia minha, que preferirei viver como uma rameira. – Ousou a Rainha.
- Senhora minha, deixai-me educar os meus filhos. Eles têm pai, só mãe não é suficiente. Noto que a educação que lhes dais, é indigna de uma verdadeira rainha.
- Senhor meu… ide à merda!
- Como prefere ser rameira, se já o é?!
- Irreal senhor, não me obrigue a devassar o seu íntimo!
- Sinto-me sem integridade moral. Vejo-me forçado a utilizar as mãos, e ferir talvez a indelicadeza dos seus lábios!
- Real atrevido, como ousa? Tente e verá, arrependêreis-vos ad aeternum.
O esposo levanta a mão, a esposa procura um objecto. A princesa dá um grito, que de certeza se ouviu no Castelo e arredores.
- CALEM-SE!!! Porras!!!
Chora. As torneiras dos olhos parecem os tubos e condutas da Real Empresa de Águas, sempre a estoirarem, a rebentarem. As lágrimas correm como a cachoeira do Sumbe pelos declives das faces. A rainha comove-se.
- Nunca a vi chorar assim.
- Tal mãe tal filha. Já não se pode dormir no meu reino. Vou bazar e tratar dos assuntos de Estado. Isso é mais importante. As rameiras que se entendam. – Disse o rei em retirada e atirando com a porta com tal violência que lascas saltaram. As duas abraçam-se. A mãe faz um gesto de desprezo na direcção da porta. A princesa observa. 
- Piranhar minha cara mãe.
- Estás a ficar conspurcada como a ralé. Vou evitar que saias muito do Palácio.
- Aprecio muito viver com a ralé. Aprende-se muita coisa.
- Por exemplo o quê!
- A fome. Isto não é um reino. É um campo de concentração onde as pessoas morrem à fome.
- Tem o que merecem. Não é só aqui que existe fome. Muitos reinos adernam sem salvação castigados pelas independências selvagens. As pessoas esqueceram-se que para serem independentes têm que trabalhar muito.
- A questão é essa… dêem-lhes trabalho. Todos querem trabalhar. A fome é merecimento para alguém…?
- Fumaste não é?!
- Não, Deus me livre!
- Então… passada para os republicanos?
- Não, passada para o lado da justiça dos esfomeados.
A rainha guardou silêncio. Não sabia como reagir às inesperadas afirmações da filha. Tentou as habituais artimanhas de mãe.
- Os teus dezoito anos de idade surpreendem-me. Vives bem, não te falta nada. O que mais queres?
- Vivermos sempre encerrados num castelo é viver mãe? Sempre com medo que alguém à mínima distracção nos abata? De que nos servirá o líquido negro se dentro de pouco tempo o vulcão popular o destruirá?! Note que já existem vários opositores e todos os dias aumentam. Ninguém se lembrou disso não é?! Pensavam que era tudo fácil. Escolheram o caminho errado, agora nunca mais teremos paz. Na verdade já estamos no purgatório. E isto é apenas o início. Não estamos a lutar contra animais. Estamos a lutar contra seres humanos.
- A minha filha pretende mudar o mundo? Eles já estão habituados a isso. Já nasceram escravos. Não se podem dar condições a escravos, senão revoltam-se contra o seu senhor. Não quero que isto aconteça no nosso reino.
- Não é nada disso mãe! Ontem havia ricos e pobres. Hoje há opulentos e esfomeados. Teimam que amanhã só existirão opulentos. Não entendem que isso não é possível? Não foi assim que originaram Bin Laden e a Al-Qaeda?! Os esfomeados antes de serem exterminados imolar-se-ão num inferno jamais visto na História. Lutaram contra o colonialismo a favor do marxismo-leninismo. Impuseram-nos o esclavagismo. Onde está o progresso que tanto apregoavam? Não se esqueçam que, quem com ferros mata com ferros morre.
- Filha… naturalmente que existem classes sociais com as suas diferenças fundamentais.
- Não há diferença nenhuma. No primitivismo roubavam, no mercantilismo, comunismo, capitalismo e outros ismos roubavam. No neoliberalismo rouba-se mais que em todos os sistemas anteriores. Mas que merda de mundo é este?! Todos pensam só em roubarem? E depois? Quando não houver mais nada para roubarem? Não era melhor voltarmos ao primitivismo? Pelo menos sempre havia alguma coisa para comer. Agora, nos espaços que deveriam ser utilizados para plantar, constroem hotéis, torres, condomínios… arranha-céus. O tempo do inferno terminou. Agora estamos no purgatório!
- Minha princesa governar não é fácil.
- Pois não, governar não é dirigir guerrilheiros na mata. E contra milhões de esfomeados ninguém combate. Os jovens querem estudar, trabalhar, não conseguem. Passam fome. Têm que se revoltarem. A Humanidade ainda não saiu da selvajaria, porque continuamos a trabalhar para patrões.
- Querida filha! Não sei onde falhei na tua educação. És tão diferente da tua irmã.
- A minha irmã?! Ela tem tudo! Banca, lixo, cimentos, diamantes, telecomunicações, líquido negro… toda a Jingola, etc, etc! Não sei onde ela consegue arranjar tanto dinheiro. Ela tem tudo mãe, eu não tenho nada!
- Também terás. Ainda és muito jovem. Esforça-te um pouco mais… aproveita as sobras da comunicação social estatal.
- Está bem mãe... quero fazer-te um pedido.
- O que é?
- Vou pôr vasos de flores em alguns locais.
- Só isso?! Acho muito bem minha querida ecologista.
- Gosto muito de ti mãe.

1 comentário:

  1. Os golpes no reino do Zé Mau



    O Golpe de Bissau

    tem o apoio do Bloco Regional.

    Espero que não sejam todos traficantes

    como a maioria os governantes

    no reino do Zé Mau.

    Este impôs uma Presidenta da Comissão Eleitoral,

    mas não perdeu na demora,

    e mandou o tribunal

    destituir a senhora,

    porque parecia mal,

    junto das populações,

    tanta manipulação das eleições.

    E Também mandou as televisões e os jornais,

    os ministros, governadores e os paralamentares

    desdizerem o que disseram nos discursos eleitorais

    (se quiserem manter os seus bons lugares).

    Tentou acusar a oposição

    de ter provocado toda essa situação.

    Ele procura assim demonstrar que os tribunais

    do seu reino são totalmente imparciais.

    Se o sistema fosse honesto e equilibrado

    os traficantes governantes,

    os generais, outros mandantes,

    o Zé Mau e muitos ricos fulanos

    estariam presos por crimes contra o Estado

    e contra os direitos humanos.

    Os media fiéis ao Zé Du

    seriam convertidos em papel

    para limpar o cu

    e os milicias ficariam como gorilas do bordel,

    onde quem é prostituta ou proxeneta

    continua a gritar: a Vitória é Certa.

    António Kaquarta
    http://miradourodoplanalto.blogspot.com

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