Carrega-me nos teus braços e voemos sob o oceano Atlântico e na tua praia
da embaixada da paz desemboquemos, aterremos, pernoitemos e novas descobertas
singremos, no nosso voo, na viagem de estudo sobre as margens da marginalização
do Brasil, de todos os brasis. E ao festejarmos a rota de James Cook e Charles
Darwin terminaremos no destino dos amotinados da Bounty.
Este planeta não nasceu apenas para alguns seres humanos que escudados nos
seus exércitos, a cada minuto galgado mais um pedaço lhe desgraçam.
E navegados na nossa nau carregada, remada por multidões de jasmins, os mares
sulcaremos, velejaremos, e com o nosso perfume tudo conquistaremos, os mares,
as marés e as terras venceremos.
Lixo, água e comida.
Na transfusão diária
à nação, o boom
da cólera expandiu trinta mil infectados e morticínio
de quase mil.
A acção planejada das chuvas divulgará
subitamente a epidemia. Na terra
ávida por
cadáveres, a cólera
diminuirá quando a população
escassear.
E os comerciantes aventureiros só
usam fax, para não deixarem pistas que comprometam as suas irregularidades, como
num jogo de dados viciados. Num país governado por crápulas as piranhas tomam
banhos de sangue na manada humana colocada à disposição.
E um grupo de jovens saúda a reeleição fraudulenta de um presidente com
socos na sua foto.
Enquanto um idoso há longo tempo arrastado para a hercúlea margem da intolerância
ditatorial, não se cansa e ainda tem forças para lembrar: «Não
estou interessado na habilitação literária do homem,
o que quero é homens
que trabalhem, e saibam trabalhar.»
E cinicamente como lhes compete, os salafrários masturbam-se numa rádio
deles: «Os salários dos professores são
dos mais elevados
na SADC.» Mas continua-se a morrer à fome.
Ser humano é quem inventa coisas,
faz os outros ganhar
dinheiro, e no fim
morrem todos poluídos.
Os falsos amigos
lembram o que aconteceu a Galileu, estão sempre
prontos a entregar-nos à Inquisição.
O médico é o primeiro
medicamento, mas convém recordar que a palavra e o carinho
são bons
medicamentos.
Tantos ares-condicionados, com o calor muitos cabos eléctricos vão
incendiar, como a democracia. Por incrível que pareça, em Jingola persiste a
luta contra o comunismo. É necessário lutar contra os restos deste comunismo
fora de moda. Os maquinistas da destruição de 1975 permanecem nas células
adormecidas.
Até fábricas funcionarão nos prédios, então chamar-se-ão prédios
industriais.
Agora… há cerca de quinze dias vê-se muita
agitação humana.
Diariamente aumentam os confrontos que antes eram verbais, agora
estão irracionais. Muita
agressividade com agressões
físicas. Já
reina a imoralidade
totalmente descompensada. Na rua é inseguro andar. Os animais humanos estão brutais,
selvagens abissais.
Já ninguém
se conforma. Ninguém acredita em
ninguém. Todos
cansados do hediondo regime.
Em revolta
permanente. A qualquer
momento, o que
resta desabará nas ruas,
na revolta geral.
O quotidiano está numa confrontação permanente.
Antes, ainda
se guardava silêncio e contenção. Agora são pequenos tumultos que
ecoarão como vulcão.
Portugueses têm a papelada preparada
para a retirada. Todos acreditamos que
o fim se aproxima.
Ultima hora: 11.45 da manhã, neste momento os fiscais
do governo da província
de Luanda roubaram vendedores de rua. Estes
invadiram-lhes o carro, lutaram com eles e recuperaram
os seus haveres. Inclusive
coisas que
não lhes
pertenciam. Os fiscais reagem, oferecem resistência. Então,
os jovens unem-se e lançam chuva de pedras
ao carro e aos fiscais. São quatro, alguns estão feridos. Se resistirem mais, vão
matá-los, destruí-los. Os jovens gritam: É a guerra!
É a guerra! É a guerra!
Os fiscais abandonam o terreno. A população
agora resiste, guerreia.
E nesta Jingola ilhada onde os discursos do petróleo permanecem inalteráveis,
o povo jingola sente renascer-lhe a miséria quando depois da saída do pódio presidencial
os canos dos canhões se lhes apontam, prontos para esmagarem qualquer
imprecação dirigida ao tirano. Custa a entender que em tempos tão democráticos ainda
subsistam ditadores porque os falsos democratas os apoiam, atirando com os seus
povos para a sarjeta da história. E os discursos demagogos prosseguem e se aplaudem,
tudo na defesa da democracia. Quando chego aqui fico sempre muito confuso
porque não consigo entender o que é democracia. É bem-estar para alguns e espoliação
de outros povos, não é?!
Os países da África Negra, rápida e seguramente encaminham-se para a grande
Somalilândia.
Já não há Setembro, Outubro, nem Novembro, perdi-me nos meses porque o
clima está tão alterado, tão louco como nós.
Cada vez mais se acelera para um país de geradores de corrente eléctrica,
só o fumo..! Fica mais um recorde mundial: o da poluição. Geradores nos
terraços, nas varandas, nas escadas dos prédios. E com a invasão de
reservatórios de água, mais desabamentos certeiros, mais ruínas. A destruição
de Jingola prossegue a bom ritmo.
Desde 1975 a
vida decorre normalmente, o quadro é tipicamente colonial.
E as estruturas dos edifícios vão cedendo, ruindo, à espera do desabamento.
Não é preciso terrorismo, ele está sempre presente.
Máquinas da destruição, quadrilhas internacionais, construtores da
destruição.
E os prédios que estão a construir, conforme garantia de um arquitecto, são
para durar vinte anos. Nas condições da actual anarquia em três anos começam a
ter problemas.
Multidões e multidões de idiotas…
Oiço o latido comovente de despedida de um cão que foi atropelado. Ninguém
lhe ligou, como se fosse uma coisa inútil e sem valor, lixo. Porque há muito
que deixaram de ser pessoas. São animais sem sentimentos e assim os cães são
mais valiosos que os seres humanos.
A maldade criada vira-se sempre contra o seu criador.
Nós sabemos para onde vamos mas o nosso futuro já não. Com tantas
exasperações humanas, desumanas, o nosso planeta sabe: a nossa extinção. Era
previsível que tal acontecesse, mas a maldita mania de desafiar as forças da
Natureza triunfou e tudo soçobrou e nada mais sobrou. Apenas destroços de um
progresso inexistente, perigoso. E depois da destruição deste planeta, o homem
já pensa na conquista do caos de outros.
Não brinques nem
nunca atraiçoes o amor. Porque ele arde de ódio e rebenta de violência
indescritível. É que o amor não é solitário.
Oh! Como são
inevitáveis as tragédias do amor. A bela Helena de Tróia fez a guerra do amor.
Como ele é tão avassalador e destruidor. Nunca provoques a ira do amor.
Imagem: angeosofia.com
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