terça-feira, 21 de janeiro de 2014

Nós queremos a democracia mas eles não querem





Problemas? Não! Não! Piores dias virão!
Eles desfazem e nós comentamos.
República das torturas, das milícias e das demolições
Diário da cidade dos leilões de escravos
06 de Dezembro
Mwangolés! A escravidão total e completa é iminente. Muito pouco falta – que pouco?! – para que os estrangeiros tomem conta de Angola. Os mwangolés são escorraçados de todo o lado e atolados em campos de concentração a que hipocritamente chamam de zangos. Os estrangeiros estão em tudo e em todas. Prevê-se – não é nada difícil – outra luta pela libertação e independência de Angola. O que impressiona é a invasão portuguesa como num crescendo que estupidamente acalenta o sonho da dominação colonial do antanho. Que na opulência fingem não ver a escravidão mwangolé, porque os mwangolés são mesmo assim. Contentam-se com muito pouco, não gostam de trabalhar, gostam de viver na miséria, na fome e na escravidão. Nasceram para serem dominados. De Angola está tudo vendido, que mais resta?
O português da TDA- Teixeira Duarte Angola, está nas traseiras de uma agência do Banco Millennium Angola, com um jovem mwangolé. O jovem com uma rebarbadora corta um bocado de ferro de um portão. O pó voa, sem protecção nenhuma o jovem mwangolé está exposto como numa mina de carvão da escravidão. E o português, sem fazer a ponta de um corno, ordena - português é mesmo assim, não gosta de trabalhar, só gosta é de mandar-: Mexe-te caralho! Corta aí caralho! Estás a demorar muito caralho! Ó caralho mostra aí essa merda… já está bom caralho. Estás a olhar pra mim pra quê caralho?! Etc. Sim, Angola está a evoluir.
Foi num início de tarde, daquelas onde o sol persegue impiedosamente quem o ouse enfrentar, assim como as milícias fazem a quem se manifestar. Onde os corpos se não fossem as leis arcaicas do cristianismo que manda tudo tapar, mas lá nos secretos conventos é tudo para destapar. Mas no fundo o sol é muito nosso amigo porque deixa o mais sagrado, do nosso agrado que existe e coexiste, no corpo xuxuado, no camel toe destacado. Mais um português chegou, lá em Portugal a sua esposa deixou, abandonou, e com uma jovem mboa daquelas com diamante na testa se concubinou. O português tinha quarenta e cinco anos – idade mais do que suficiente para ter juízo, dentro e fora dele – claro que a mboa o aceitou e planos para o seu futuro iniciou. Viviam muito felizes e nunca se cansavam das etapas do amor. Assim, logo que venciam uma etapa já se preparavam para outra, como o atleta de alta competição que está sempre dedicado a ultrapassar o seu próprio recorde. Ou não sabiam que o amor se pratica por etapas? Passaram-se alguns anos e entretanto a mboa já lhe conseguiu apanhar uma bruta casa daquelas construídas a gosto do cliente. E a esposa e filhos do português a passarem fome em Portugal, ou apenas com a simbólica quantia do: «sabes meu amor isto aqui em Angola está muito mau, cada vez pior, ainda não consegui o que queria… sabes meu amor aguardo há vários meses, melhor, alguns anos que me paguem o que me devem, mas estou convencido que as coisas melhorarão e então já conseguirei enviar-te o que necessitas para que vivas bem, tu e os nossos filhos. Meu amor… amo-te do mais profundo do meu coração. Ardo de desejos por ti, não imaginas o meu sofrimento por não poder estar em cima de ti, na nossa cama abençoada, tão profundamente manchada, amada.» E a mboa conseguiu o que lhe faltava na sua trajectória de caçadora do amor tuga: um bruto carro desses todo o terreno, tipo cápsula espacial. E largou-o, deixou-o em porto aberto e rumou para o seu mwangolé, o verdadeiro amor da sua vida.
07 de Dezembro
E lá se foi essa coisa de brincar à energia eléctrica. Bazou às 06.01 e pairou às 08.58 horas.
Questão: os portugueses em Angola são todos comunistas? Têm que ser, senão como é que o Minoritário lhes vai pagar o kumbu? Claro que são ultra comunistas/comodistas.
08 de Dezembro
Treze horas e doze minutos. Ouvem-se três tiros, o habitual, de quem convive com este som familiar. Os povos correm para lugar seguro, talvez a lembrarem-se de que a etapa da luta na República Centro Africana aqui também chegou. Mas não, ainda não, são tiros que se vendem em sacos de plástico. Como? Tiros que se vendem em sacos de plástico? Sim, é isso mesmo. São tiros de brinquedo que vêm dentro de um saco de plástico e quando atirados contra o chão disparam, isto é, rebentam a imitar tiros. Só nos faltava mais esta, numa cidade completamente aterrorizada. E quando forem tiros reais ficamos na dúvida. Tásse mal, tásse, tásse.
Bom, costuma-se dizer que o assaltante não gosta de ser desafiado, porque ele também tem o seu brio profissional. É como aquelas pessoas que publicitam que têm seguranças armados e que quem tentar leva tiro. Bom, significa que os assaltantes já estão prevenidos e assim quando vão no local a primeira coisa que fazem é dispararem para os seguranças, pois se disseram que eles atiram a matar. Bom fim-de-semana.
14.38 horas. Ali, para os lados do Kinaxixi? Forte explosão.
15.00 horas, Luanda, mercado dos congolenses. Multidão de bandidos ataca e arranca o dinheiro dos compradores. Ninguém lhes escapa. Vale tudo, até cabeçada.
E apagou-se outra vez, a energia eléctrica, às 22.54 horas.
09 de Dezembro
A energia eléctrica voltou às 01.10 horas. Horas depois apagou-se de novo – este país está muito apagado – das 10.31 às 11.18 horas. 
Batem à porta, as pancadas não são as habituais – durante longos anos, quase uma vida, tinha uma campainha com som, pode-se dizer, agradável, melodioso de se escutar, mas a criançada decidiu tecer um interminável concerto, escancarávamos a porta e não estava ninguém, então decidi que o melhor era acabar com o desconcerto sinfónico e desliguei, melhor, cortei os condutores eléctricos, e agora ouvem-se os sons aterradores das pancadas humanas como num castelo assombrado – e logo fico apreensivo a pensar no inglório rosário: no, são eles que me vêm buscar, porque não se pode ter opinião pessoal sobre isto ou aquilo. Abro a porta preparado para o pior, pronto para o assalto, mas não, é apenas um amigo que não via há longos anos. «Oh! És tu?! Quantos anos se passaram, os anos e o tempo não perdoam.» Disse-lhe emocionado. Falámos sobre várias coisas, claro, o que mais me afectou foi quando ele me confessou que estava hipertenso, e que intimamente vi a população angolana hipertensa, sim tudo é hipertenso, e acredito que os animais também. Actualizámos as moradas dos nossos telefones, e antes do abraço da despedida, perguntei-lhe: «Ainda estás na mesma empresa?» «Não, os portugueses compraram-na, e agora está com outro nome. Estamos fodidos, os portugueses estão em tudo e em todo o lado. Vão vir muitos problemas!»
Pouco falta para as treze horas. Entretanto numa dependência bancária do Banco Millenium Angola, um jovem trabalhador mwangolé sob um sol abrasador, à sombra 33 graus, trabalha, trabalho escravo sob as ordens de um capataz português. Os mwangolés não têm o direito sagrado do horário do almoço? Tenho-os visto também noutros locais aos sábados a trabalharem sob o chicote psicológico neocolonial português. Recebem horas extras? Porquê trazem para aqui as leis de Portugal? As leis do trabalho em Angola estão corrompidas como o lodo do petróleo.
Mas, porque será que os portugueses em Angola estão camuflados de comunistas? É para agradar ao actual MPLA, para que as transferências bancárias para Portugal lhes caiam nas contas? E por isso mesmo, este investimento a curto prazo dos portugueses é o que lhes soçobrará.
Cerca das vinte e três horas. Preocupação de uma vizinha que acaba de chegar em casa. «Isto está muito mal, há muitos bandidos, há muitos assaltos. Passam junto das pessoas e roubam-lhes as pastas.»
10 de Dezembro
Para mim a personalidade do ano no Facebook é a Ana Margoso, pelo seu protagonismo especial no desvendar da Angola perdida em fotos, e pelo seu desempenho político didáctico e informativo.
Onze horas e trinta minutos. Detectei dois chineses a apontarem com os dedos das mãos para as traseiras de três prédios. Faziam medidas com gestos dos braços e das mãos, riram-se dos ares-condicionados instalados de um conhecido banco. Será que vão ocupar, destruir as traseiras dos três prédios à força, isto é, com a bênção do nosso supremo líder da revolução?
Nesta santa terra do sol aplica-se bem este pensamento: os que até agora fizeram a revolução, isto é, os que fazem a revolução fazem a destruição.
E para terminar miseravelmente o dia eis que mais um apagão surge para nos lembrar que nós somos trevas e a elas voltaremos, e delas jamais sairemos. Das 13.54 até às 18.54 horas a merda da energia eléctrica fugiu para a China. Esta merda já dura há quarenta anos, para recordar que África é a personificação da miséria.

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