domingo, 29 de dezembro de 2013

Mais guerra na república do porta-aviões?!





Angola comprou um porta-aviões
Para bombardear as manifestações
Do convés com os seus aviões

2014, Angola esforça-se para a peleja
Preparou-se, comprou um porta-aviões
Para muitas maratonas da cerveja
Maria Carey veio à festa dos milhões
Caíram-lhe em cima de bandeja
E para nós zeros nem uns tostões
A Odebrecht faz filmes de terror
Do trabalho escravo, mas que horror

O porta-aviões veio para morar
Será o símbolo da nossa liberdade
E a corrupção da Espanha apoiar
Neste mundo de cumplicidade
Ainda prevalece a arte do judiar
Onde tudo se esfuma na mediocridade
Comprou um porta-aviões
Por quantos bilhões?

Angola comprou um porta-aviões
É Natal, Angola quer mais contenda
O milagre dos ovos faz biliões
Compra-se a Forbes, Deus nos defenda
Na Angola da pátria das exclusões
Já tem dono, agora é fazenda
Quando um líder vende uma nação
É a prenda de Natal da população

Nas costas da mãe chora a criança
A água está como jogar na lotaria
Imponente o porta-aviões avança
Portugal saúda-o da sua lavandaria
A corrupção de Angola é a sua abastança
Da internacionalização da putaria
É mais um país africano sem futuro
Que nasceu de um parto prematuro

Um porta-aviões e navios de escolta
E submarinos de vigilância
Do orçamento anual que se revolta
Da epidémica beligerância
Nos outros dias a polícia anda à solta
Aos sábados e Domingos há mendicância
As carpideiras choram a sua histeria
Do hara-kiri político da rataria 

Um porta-aviões é desenvolvimento
Numa nação de grande progresso
E neste Natal do abalroamento
À Tarrafal mais um sucesso
Só nos resta o feitiço do perecimento
Porque só ele temos em excesso
Foi mais um ano de vitórias
Dos programas das coisas ilusórias






sexta-feira, 27 de dezembro de 2013

A intolerância ecológica





A
José Quitério

Que civilização é esta que enclausura o ser humano na prisão sem vegetação?
Dantes existiam muitas árvores e poucos seres humanos. Agora há muitos seres humanos e poucas árvores.
Qual é a diferença que existe entre um especulador imobiliário e um tubarão? Nenhuma… são imprevisíveis.
Não existindo árvores as nossas crianças poderão existir? Sem árvores as nossas crianças não verão, não saberão o que é o verde, essa cor maravilhosa que nos dá tranquilidade. Sim, a cor verde dos campos, dos bosques interpretados como na sinfonia das Quatro Estações de Vivaldi, ou a sesta e sétima sinfonias de Beethoven que nos musicam que a nossa mente se impossibilita de viver sem o verde das deusas árvores.
Antes da civilização do betão as árvores eram respeitadas, actualmente na civilização do betão as árvores nasceram para serem derrubadas.
E as tempestades ciclónicas não se podem conter porque a civilização do betão pretende substituir, plantar árvores de betão, e as chuvas sem vegetação ficam com os caminhos libertos, inundam, arrastam a civilização do betão. É que as árvores são uma muralha que contém os ventos e a chuva, e não é por acaso que se ouve nos noticiários que os ciclones estão cada vês mais devastadores. Não é por acaso que os Índios e os Celtas veneravam as árvores como deuses porque eles sabiam que sem elas o seu futuro se encerraria, a sua civilização se extinguiria. Considero um tremendo erro o cristianismo acabar com esses cultos da adoração da Mãe Terra em nome de um Deus que não admite a Natureza nos seus altares.
Todos os dias – quando me é permitido – costumo levar ao colo o meu neto de dezanove meses e digo-lhe: «Bebé, olha aí o verde das árvores, é muito bonito, não é?» E a criança sorri, porque a cor verde tranquiliza o cérebro e inspira a mente.
Creio que se Galileu (1564-1642), fosse vivo e agora debaixo de uma árvore de betão, não diria que lhe caiu uma maçã na cabeça, mas um pedaço de betão, e a célebre lei da queda dos corpos seria substituída por outra: lei da queda do betão sem lei.
Olho para a cidade e vejo-a despida, roubaram-lhe a roupagem da arborização e assim persistimos que quantas mais árvores derrubarmos, mais no vazio nos encontraremos e as nossas vidas subjugaremos, porque existe algo de mais valioso do que o maravilhoso trinar de um – por exemplo – um beija-flor no seu incessante, feliz e pairado voo na busca da perfumada seiva das flores a anunciar que o dia rejuvenesceu e o jardim floresceu?
E como os namorados farão mais promessas de amor sem o mundo verde, inspirador? Decerto será um amor seco, frustrador.    
Creio que tinha vinte anos quando a despediram da vida. Era muito atraente, oferecia, tinha ainda muitos promissores frutos proeminentes em frente. Cheios e cheia de saúde e assim morrer tão prematuramente… os frutos saborosos com que nos deliciava, a sua sombra e a sua frescura terminaram no reino inglório do lixo, em mais um monte de madeira para cozinhar refeições e aquecer dos dias e das noites frias.
Era uma árvore, uma mangueira altiva e muito orgulhosa, nunca se deitava e não se cansava de viver sempre em pé. Convivia, participava, acompanhava as nossas vidas. Fincou raízes nas traseiras de três prédios, num grande largo que a juventude utilizava para disputar campeonatos de futebol. Junto dela vivia um homem de idade avançada, numa modesta habitação, e porque a saúde lhe desistia contactou um general para a sua venda. Feito o negócio, ainda se sentia o frio das notas bancárias e já alguns militares, mais um arquitecto e um engenheiro começam a rodear a mangueira. Com curiosidade olham-na de cima a baixo. Depois faíscam-na como inimiga, soldados trepam-na, e a rir como a festejar grande vitória contra um inimigo poderoso, tratam de esquartejar primeiro os seus ramos mais pesados, mais volumosos. A árvore rapidamente sente o fim aproximar-se, e entre suspiros e lamentos, gritos silenciosos, como só as árvores fazem, sons que os seres humanos não ouvem, não querem ouvir.
E a árvore continua a resistir ao assédio. Heroicamente resiste a cada golpe que sem piedade lhe assestam os seus inimigos poderosos. Já estava quase careca, desnuda. Creio que se sentia muito envergonhada da sua nudez. Restava apenas o tronco que teimosamente insistia em estar ligado à Terra Mãe, aquela que a viu nascer. E a Terra sentia-se ferida. E num ronco descomunal surgiu uma fera de metal, que lançava fumo por todos os lados, como um dragão invencível… e com uma pá de aço mergulhou nas entranhas da Terra e retirou as raízes, o esqueleto, o pouco que restava da pobre árvore, deixando lá uma cratera, o que alegrou os militares habituados aos cadáveres no campo de batalha. E gritaram numa só voz como que ao comando do seu chefe: «Madeira!!!»
Depois, entre o tilintar de copos de bebida, o general, os seus soldados, o arquitecto e o engenheiro beberam à saúde de mais um inimigo aniquilado. A seguir veio a máquina niveladora, nivelou a terra, apagou os vestígios da descomunal batalha. Seguiu-se outra máquina que despejou cimento e areia. Os tijolos e demais materiais já aguardavam para iniciar mais uma obra da especulação imobiliária. Passados poucos dias já ninguém se lembrava que ali existiu uma árvore, uma mangueira. No seu lugar cresceria mais uma árvore de cimento e areia, de betão.
Quem não dá valor a uma árvore decerto maltrata também os animais e considera os seres humanos como irracionais.
Quando era criança, com os meus sete anos, recordo-me das minhas brincadeiras, das minhas aventuras entre eucaliptos e pinheiros. E ainda sinto as vozes surdas do vento vindo deles. Sozinho, sentia medo como se uma multidão de pessoas me sussurrasse, me perseguisse, como se cada eucalipto e cada pinheiro fossem pessoas que de repente se desprendessem da terra e me quisessem agarrar. E quando havia tempestade o barulho do movimento dos troncos impressionava-me, como um mundo desconhecido dos humanos.
Acabar com as árvores é acabar com os sonhos do nosso inconsciente colectivo.
E nos dias, nos tempos seguintes os nossos avós recordarão aos seus netos que lhes contarão em forma de lenda: «Era uma vez uma árvore que diariamente nos saudava, fazia parte das nossas vidas, era como uma filha.»

sábado, 21 de dezembro de 2013

As milícias da nossa implacável destruição





As milícias atacam sorrateiras
Na defesa das fortunas pessoais
Com canhões e aríetes, desordeiras
Protegem os estrangeiros marginais
E os vendedores de palmeiras
E os seus pentelhos anais
Forças da ordem não, milícias sim
Dos bajuladores tipo assim

O mapa cor-de-rosa de Angola
Está redesenhado
Portugueses, chineses, brasileiros
Por todo o lado
E o povo angolano na nova vida
Desesperado
Em Angola há muito para fazer
Para o estrangeiro bem viver
E os mwangolés nem capim ver
Para comer

A grande família está de rastos
Vagueia no rumo do triturar
Das imensas riquezas, nunca fartos
O mais importante é facturar
E nunca se sentem exaustos
O resto – nós - é para abandonar
Um país infestado de seguranças
De fardas que seguram as abastanças

Do Brasil vem a prostituição
Do negócio dos milhões de dólares
O general nega, diz que não
Apoiado pelo palácio e seus pares
E que ninguém se oponha senão
Beneficiará de tormentos exemplares
A mortandade da vida diária
Nesta casta de gente latifundiária

Vivem na esperança da vinda do senhor
Na Angola de 2014 o ano do crescimento
Subiram os indicadores sociais do torpor
As estradas reabilitadas pelo aliciamento
Os objectivos da miséria há que impor
O Jornal de Angola noticiará virulento
Uma classe empresarial forte nascerá
A Nação está forte mas nada crescerá

As sirenes e as escoltas do poder local
E do poder da economia da cólera
Tanto tomate a apodrecer, nacional
Da miséria económica que cá mora
Preferem importá-lo de Portugal
Tudo de Angola se vai embora
Pago a peso de ouro irracional
Na Angola agiota desproporcional

A injustiça há muito que se decretou
Os campos não estão lavrados
O poder já sabemos quem o comprou
Só vivemos de produtos importados
A epidemia da corrupção tudo levou
No intenso cheiro a gasóleo eliminados
Numa mão a Constituição adulterada
E na outra a sanguinolenta espada









quinta-feira, 19 de dezembro de 2013

Até nos roubam o verde da vegetação






para que pereçamos sem respiração

Com 300 mil portugueses a abarrotar
as coisas deviam melhorar
mas não, está tudo a piorar
e a corrupção está de arrepiar
então, como  nos vamos safar?
e muitos mais portugueses a chegar
com as grilhetas do nosso escravizar

Finalmente temos um regime militar
e que mais para nos sortear?
para nos desorientar?
que mais podemos esperar?
sem freio nos dentes, o galopar?
só para estrangeiros, o desterrar?
nesta pátria a cambalear

Pátria há meio século de luto
amortalhada sob um poder dissoluto
com repressão de milícias à bruto
assim exige o poder absoluto
do escondido lobo astuto
na terra sem vida do povo devoluto
onde todo o negócio é prostituto

E tu invasor estrangeiro
que só vens por dinheiro
um empresário açougueiro
neste terreno fértil aventureiro
neste a ocidente bandoleiro
e de negócios só de biscateiro
avivar, perdurar este chiqueiro

Telefones sob escuta da oposição
e de todos os que digam não
assim é muito fácil a repressão
e o rapto para a invisível prisão
como viver na boca do canhão
nesta democrática condução
investida na sábia militar direcção

Viver nos comunicados dos terrores
sempre das ordens superiores
dos omnipresentes senhores
dos castelos dos horrores
de pesos de chumbo esmagadores
sempre nos assaltos de predadores
na mentira constante enganadores

E na miséria nacional saliente
só se sobrevive miseravelmente
onde uns quantos são gente
a população abandonada, indigente
escapar da epidémica fome, sobrevivente
há quase meio século na estúpida mente
onde o boçal bajulador é subserviente

É o inglório ilegalizar do Islão
nunca, jamais, a corrupção, não!
eis o estado da nação
o Islão não é uma religião?
então o que é? Corrupção?
arrasar mesquitas é a solução
nesta desgraçada laicização