quinta-feira, 28 de junho de 2012

OS JASMINS DA LWENA (01)



Parafraseando: violentas se dizem das populações espoliadas, mas não se diz violento o poder que as espolia.

Introdução

Vim ao mundo no reino Jingola, mais um quilombo de concentração de renda… algures no Golfo da Guiné, onde o cinismo e a hipocrisia se institucionalizaram de tal modo que facilmente ultrapassam o Monte Kilimanjaro. Por mais que tente não consigo distinguir se é um reino, uma república, um principado ou qualquer outra coisa atípica. Também ninguém sabe o que é, ou o que será. Actualmente é uma ilha cercada de fortificações por todos os lados. Tem petróleo, diamantes, e uma trilogia informativa dona absoluta dos céus que nenhum medicamento ainda conseguiu desintoxicar. Uma rádio, uma televisão, e um jornal para que a aspereza da nobreza permaneça vitalícia.

É-me extremamente difícil andar constantemente sob os aguçados, apontados fios dos canos das armas sempre apontadas e que ao menor estrilo… nos lembram que se usam para nos liquidarem. Dum lado fome, do outro miséria. Por cima estado de sítio, por baixo repressão. Atrás polícia, à frente prisão. É árduo, dizem os tiranos, é o caminho da desolação. *
*(alusão à obra de W.S. Maugham, O Fio da Navalha.)
Sinceramente… que me desentendo! Primeiro os portugueses, depois os russos, cubanos e mais os do Leste europeu com as suas comunas da Idade Média. A seguir alguns negros no conluio outra vez com os colonizadores que me arrastam para o pau, para apanhar outra vez tautau. Amarram-me as mãos mais fortemente que antanho, inundam-me de nu na cintura outra vez. Repetem-se com o chicote e batem-me nas costas, que até parece serpente, e esticam-na de língua afiada. O neocolonizador lança-a com força, como se fosse um dardo, e não se cansa de tanta repetição. As minhas costas já têm o calejar de tanto apanhar. Evito com dificuldade que não me bata nos seios, porque receio desfear. Porque depois o meu príncipe não me namorará, bolinará, abandonar-me-á e objectará: «os teus seios, os colonos te roubaram com eles… então lhes volta…. Não te desejo!»
Depois das primeiras chicotadas perdi o sentimento da dor. Desvio o pensamento para o mais profundo da minha floresta, e lá está o rio da minha meninice. Vejo-me nele a pescar, e depois peixe para secar. E encanto-me com o meu canto: o que parece um pássaro xirico desencanta-me, apoquenta-me.
Estou super cansada, à espera do momento eterno. Sentada, ainda instalada no meu tijolo, a única sobra da demolição do meu casebre. A noite olha-me de soslaio, convicta da minha vã magnificência. Só as noites são magníficas, eternas, nós somos apenas seus passeantes e efémeros convidados.
Porque é que o nosso cérebro se sente feliz quando “ouve” música?!

Falta serenidade no meu mundo de casebres tão amaldiçoado, e constantemente pelos mesmos inimigos ameaçado. A História ensina-nos a mesmice, e por isso mesmo desentendo porque nos deixamos por eles dominar, escravizar. Se são sempre os mesmos, e já o sabemos, porque aceitamos a sua eterna condenação de nos matarem, e de nos inundarem de luar e fome? É porque preferimos viver na eterna violência das revoluções. Gostamos de pegar, lutar com armas para matar, fazer infindáveis revoluções por causa da fome. Acabamos uma revolução… e damo-nos outra vez conta, que os nossos dentes não têm nada para mastigar. Somos os eternos idiotas da nossa História.
Gil Gonçalves


Só haverá paz em Angola quando desmontarmos a estrutura ortodoxa marxista-leninista do Politburo. Porque o colonialismo e a escravidão ainda não acabaram não. É imperiosa a fundação de outro movimento de libertação.
Ai nosso querido e exemplar Zimbabué! Ainda não lá chegámos?! Já! Tal e qual, muito mais infernal, ao Zimbabué aportaremos, abordaremos. As nossas mentes já são sementes zimbabueanas. Com elas os nossos campos lavraremos, sulcaremos, pejaremos nos cadáveres das partituras sem estruturas dos casebres.
Cumprimos a vontade milenar dos nossos sagrados ancestrais. Miserar, nas trevas concentrar todos os que já não são, que ainda restam de esfarrapados famélicos, moribundos povos enterrados nas cercanias palacianas dos nababos petrolíferos. Governantes travestidos de ouro negro dos excedentes petrolíferos e diamantíferos que investem em campos de concentração, para concentrar a população. Exímio nazismo negro especializado nos comités de especialidade do mais fácil intemporal sacerdotal: Matar! Matar!

Espoliam-nos às claras, claramente, ostensivamente. Com o beneplácito dos amigos, nossos inimigos. Os sempre destruidores, apoiantes, lidadores. Desconseguimos saber que já o zero absoluto atingimos, não somos nada, ninguém O que fazemos?! Não sabemos! Então para que governamos? Para alimentar a ilusão popular que vem aí a Nova Vida. Que tudo vai melhorar mas, outro terrifico Zimbabué está a chegar e vamos nele mergulhar.
Necessita de um campo de concentração? Contacte em qualquer ponto de Jingola uma agência do Politburo, o líder mundial na construção de campos de concentração. Obrigado pela preferência. Garantimos soberba destruição.
Na capital do reino Jingola reiniciaram os trabalhos para a instalação da energia eléctrica experimental. O americano Edison disponibilizou a patente, que roubou a Nikola Tesla, desta extraordinária invenção. Ainda a 130 e com um pico máximo de170 volts, pelo sim pelo não os sem casebres continuam refugiados nos candeeiros a petróleo e nas velas. A energia eléctrica está, sente-se como o poder. Tão esquizofrénica, tão enfraquecida, tão psicopática, tão patogénica, tão epidémica. Sem energia eléctrica vamos para onde?! Para lado nenhum! Não!.. para o Zimbabué!
Não há dinheiro para construir casas mas, não falta para os estádios de futebol e para mais desperdiçar milhões com treinadores. O fascista, colonialista Salazar mandou construir casas económicas. E ainda estão de pé. O estalinismo do Politburo continua a deportar populações para os campos de concentração de Jingola. São ténues governantes a montante e a jusante do sistema que inventaram e neles concentraram. Governantes da maiuia (meia-tijela) que actuam como se todos o fossemos. De matilhas de nababos e desconjuntados se instalam. E já cantam: «Brevemente tudo será nosso e nada nos escapará. A negralhada aviltada empurra-se para o mar, e nele se vão afogar.» Que os jingolanos não prestam, que são boçais. Mas os brancos de outras cores apenas se aproveitam dessa forçada condição. Serve-lhes de proveito para continuarem a secular pilhagem e escravidão. Estes governantes que nos deportam nada têm a ver com o 11 de Novembro da independência. A espoliação da ilha de Luanda prova uma vez mais que: ser banqueiro é fácil, qualquer idiota o é. Afinal, tão tosco roubar não exige intelecto. E são sempre os mesmos a prometerem, a dizerem as mesmas coisas. Governados por generalistas só vamos para um lado... nunca alcançaremos nenhum. Cada dia que passa tudo se complica. Estão tudo e todos abandalhados, tão desprezados. Isto não está nada bom, não. Pressente-se o temor que de um momento para o outro a terra Jingola tremerá. Isto está insustentável e polícia e exército serão insuficientes e ineficientes. Estamos tolamente, totalmente desgovernados, encalhados num mar tormentoso. Mas, os governantes esforçam-se na aventura do analfabetismo, qual cérebro que não funciona com tanto barulho dia e noite. Cérebros que já não o são, de tão apodrecidos. E assim tudo se acabará… nem sequer se iniciará. Esta fantástica barulheira revela que estamos perante mais um país de brincar, mais um estado-falhado. Depois não repitam à bolchevique que foi Jonas Savimbi que destruiu, que demoliu Jingola. Nós, os do Politburo, estamos na libertação da pátria, construindo o socialismo sem trabalhadores. E estes espaços demolidos são agora do povo, nós os libertamos do capitalismo, são espaços para a criação da nova pátria, como diria outro Hugo Chávez. Na segunda guerra mundial num campo de concentração nazi, momentos antes do envio para a câmara de gás, um rabi eleva as mãos ao céu e clama, convicto: «Ó Deus mostra-lhes o teu poder!» Mas nada acontece. Desanimado, entoa convincente: «Ah… Deus não existe!»

Nesta Jingola, a cada momento ultrapassado tudo se torna tão complicado. Estamos abandalhados, desprezados pelos urros dos discursos vigiados que apunhalam o nosso sono já quase moribundos. Esses sons azedos, coloniais, escravos das construções dos prédios desviados do petróleo deles e só para eles. Até as noites nos corromperam, nos espoliaram. São os vampiros das noites que sugam os mártires dos nossos deslocados, abandonados em mais um campo de concentração diário. Nesta Jingola pintada de negro sem futuro. Sempre com os dedos calejados de tanto carregar nos gatilhos das armas enferrujadas que nos apreendem, nos surpreendem, nos prendem sem culpa formada, que a esmo nos eliminam.
Está tudo tão podre, incompetente, irresponsável e tão selvaticamente, eternamente implantado nos palácios da miséria. Caramba! Corrupção agigantada, não contabilizada, que até da noite fazem nascer selvas. «A falta de transparência manter-se-á com a resistência em organizar legalmente os técnicos de contas nacionais e das empresas nacionais de auditoria poderem fazer auditoria às grandes empresas nacionais. Projecta igualmente o Governo estar impune à falta de cumprimento do regime de prestação de contas estabelecido, de acordo com a Lei do OGE.» In OGE 2005 fpdangola.blogspot.com/

É que esta nau abortou num porto tão lodaçal, que faz muito bem lembrar por analogia, a actual irmandade de Portugal. Que deram-se as mãos ao bananal do subdesenvolvimento e os dois governos pantanosos cheiram a podre de muito longe. E das ruínas dos imponentes prédios coloniais saem contínuos jactos de águas baldeadas, imundas do primeiro ao que resta dos outros andares. O chapinhar é intenso mas tudo e todos permanecem impassíveis, impossíveis no sabor da mais pura selvajaria. É mais esta palavra de ordem silenciosa. Destruir tudo o que resta é preciso. O nosso mestre, ainda no Poder Popular, assim nos doutorou e desunidos nos perderemos. Tamanha miséria moral e material para atacar. Mas não… espalhar estádios de futebóis com o dinheiro que resta do fundo a afundar-se. Apenas para manter a glória efémera dos caudilhos desta praça de armas. «O sociólogo critica, com dureza, a incompetência que campeia pelos corredores das universidades, de professores e estudantes; diz que de cada cem novos licenciados, em média apenas dez têm qualidade aceitável.» In Paulo de Carvalho, sociólogo, em entrevista ao semanário, O PAÍS.


O Cavaleiro do Reino Petrolífero (24). vinha lançar em Jingola, o primeiro país do mundo, Ups alimentados a baterias



A vizinha de cima mandou uma criança pedir um fósforo para acender o fogão.
Tudo isto faz lembrar as aves de rapina que surgiram.
O vizinho das traseiras do prédio tem uma vivenda com cerca de vinte casais de pombos. Costumam circular à volta dos prédios, numa formação que lembra uma esquadrilha de pequenos aviões bombardeiros. Vi duas aves de rapina, que tentaram capturar um deles. Então os pombos diminuíram os seus passeios. No prédio da rua principal de doze andares, numa das varandas, alguns pombos costumavam lá poisar. Agora juntou-se mais uma… são três aves de rapina que os perseguem. Ficam no terraço bem escondidas, à espera.
Há pouco ouvi os sons que elas fazem quando caçam. Muito rápido, fui observá-las. Os pombos fugiram aterrorizados. Agora estão no pombal cheios de medo. Evitam sair. As aves de rapina esperam pacientemente um descuido. É para isso que funcionam. São como tubarões com asas que esperam a comida. Mas acho que qualquer coisa não funciona bem. Acabo de contar seis aves de rapina na varanda das traseiras. É a primeira vez que vejo isto. Voam baixo, sem medo, parecendo que me vão atacar. Será um desastre ecológico que aconteceu nas redondezas de Jingola? Não me surpreende, pois estão a destruir a vegetação para construírem tudo de errado que lhes vem à cabeça (?).
Notei que as rapinadoras descobriram uma alternativa. Antes do findar do dia voam das cavernas do prédio algumas centenas de morcegos. Observei que nos terraços dos outros prédios as aves de rapina poisam à espera do banquete… dos morcegos. Costumo amiúde observar o ataque que elas fazem para sobreviverem. Quando caçam uma vítima, voam para o terraço e preparam a mesa. Os talheres são as garras e o seu bico. É bom recordar que viver é apenas uma questão de saciar a fome.
Desejamos que a ONU aprove como lei: que todos os habitantes da Terra têm direito a três refeições por dia. Que não seja necessário o trabalho escravo para comer. Afinal a Terra é de todos. Quem inventou isso da fome foi quem roubou o que nos pertence. Todos temos direito a uma porção da Terra. Basta dividi-la pelos seus habitantes e dar a cada um a parte que lhe roubaram.
A Filda-Feira Internacional Jingola, organizada pela Expo/ Jingola em nada contribui para a economia reinante. Como disse o jornalista Américo Gonçalves, trata-se de uma actividade que serve para encher os bolsos de alguns tubarões. A preocupação deles é importarem, servirem de intermediários e receberem as comissões. Não desenvolvem a economia nacional. Devem ser demitidos e entregar tudo a quem de facto se interesse pelo bem-estar das populações.
Cerca das vinte e duas horas, o jovem desgraçado prepara-se para dormir no camião estacionado. Conseguiu arranjar uma camisa para cobrir o tronco nu, porque as noites esfriam. Cobre-se com um recém-chegado papelão grande e bem conservado proveniente de um qualquer electrodoméstico. Prepara a sua cama. Os gestos demoram-se. A meio do camião há uma corrente que segura os taipais. Pretende passar-lhe por cima mas tropeça e ouve-se o estrondo da cabeça que bate desamparada no tejadilho. Levanta-se a cambalear. Acho que deve ter bebido uma dose de gasolina. Poisa um pé num pneu e desce. Dois seguranças dum banco sem sistema cercam-no desconfiados. Ele pega numa pedra e atira-a contra uma porta metálica próxima. Ouve-se um estrondo. Um dos seguranças dá-lhe uma bastonada. A gemer sobe para o camião. Lentamente enfia o corpo na caixa de papelão. A parte que sobra do corpo tapa-a com outro papelão. Bons sonhos e boa-noite, jovem desgraçado da globalização petrolífera.
Em Londres os corpos das pessoas estão tão mutilados que se torna difícil saber de quem se trata. Lembro-me do maremoto. Pobres vitimas inocentes. Por vezes não consigo discernir quem são os verdadeiros terroristas. São os que nos governam ou a Al-Qaeda? Confesso que já não sei. Como será o dia de amanhã? Também não sei.
O Partido Socialista Jingola está em congresso. Vão gastar 50.000 a 100.000 dólares. O que me surpreende é que não sabem quanto vão gastar. Bom começo de propaganda política.
Filda Expo/Jingola dá emprego temporário a 2.000 jovens. Esta notícia merece supressão. Se estes acontecimentos fomentassem o emprego seria óptimo. Mas não. Em nada contribuem para a economia Jingola.
E este português que acaba de ser notícia…
Dizia ele muito convicto que vinha lançar em Jingola, o primeiro país do mundo, Ups alimentados a baterias que dariam para 24 horas sem energia da rede. Prometia que suportariam tal tempo dependendo das coisas que estivessem ligadas. Quanto menos coisas melhor. O Ups aguentaria mais tempo. Pela conversa entendi que não ligar nada seria o melhor. Mas quando as baterias estivessem descarregadas, ligava-se o gerador para as recarregar, esclarecia ele. Para que serve isto então, se não podemos prescindir do gerador?! O português não sabe, ou finge não saber, que os seus Ups já há muito se vendem em Jingola. Este português ainda não conseguiu sair do século dezanove.
Em Jingola tudo é comerciante, os estrangeiros abastecem regularmente o mercado. Portugueses vendem tintas, chouriço Sicasal, Incarpo e similares que reforçam a neocolonização. Em confraria governamental instalam-se e vendem o que já aqui se consome há muito tempo. A concorrência é sempre desleal, em Jingola nada é leal, tudo é ilegal. Apoiam-se nos amigos da corrupção que nos governam. Mais estrangeiros, comerciantes gatos-pingados vendedores de quinquilharias. Um deles alugou estabelecimento para vender sapatos que serve de disfarce para lavagem de dinheiro.
Na construção civil o português põe cimento, areia e água na betoneira. Também varre o chão. Puxa o balde de argamassa no guincho eléctrico. Veio de Portugal para fazer este trabalho com saudades colonialistas. Com tantos desempregados que aqui podem facilmente fazer este trabalho. E chamam-se… mão-de-obra especializada.
Os portugueses relançam a antiga moda no mercado de trabalho. Pedem-nos para trabalharmos e em paga sai um almoço. Nada mais. Que gatunice e aventureirismo impiedosos. No tempo colonial não era assim tão fácil roubarem. Agora sem controlo é espoliar à vontade.
Regra geral todos os estrangeiros chegam impiedosos e partem quando já têm o suficiente. Não dá para confiar, a África Negra é muito ingrata.
Os espoliadores nacionais e internacionais não se dão conta que produzem mão-de-obra que alimentam a Al-Qaeda e as outras redes de terroristas mundiais. E como tudo continua na mesma, a Europa e os EUA acabarão por sucumbirem (?).
Devido às frequentes, normais falhas de energia eléctrica, os incêndios da luz de vela são frequentes. Os bombeiros reportaram quatro incêndios em três residências particulares e um num contentor, tendo como origem chama de velas.
Na zona da rua do 1º Congresso da capital Jingola existe uma igreja de Indianos. Das 18 às 22 horas os moradores ficam, pode-se dizer, sem acesso às suas residências. Todo o espaço é ocupado pelos seus carros. Quando interrogados respondem:
- Esperar que indiano estar a rezar.
- Vamos queixar-nos à polícia.
- Poder ir, nós pagar bem à polícia!
Ontem houve ensaio de tumultos. Hoje ou amanhã espera-se uma grande contenda.
E tudo se mantém na mesma. Pessoalmente temo que o Politburo anti-republicano prepare um novo conflito para justificar a permanência eterna no poder. Não acredito que eles abandonem tudo o que têm. É tudo deles. A manutenção do terror político a manter-se conduzirá Jingola ao caos. Se não fosse assim não seria África. Nos próximos tempos tudo é possível acontecer. Não duvidamos do que o Politburo pretende. Adoram espoliações, tiroteios e campos da morte. Prevê-se que este ano seja muito quente, acalorado. O vírus do Politburo é muito mais mortífero que o Marburg.
O Politburo sobe no poder há quase cinquenta anos e a água e a luz descem. Foi este um dos prémios que ganhámos da independência. Pensámos e arriscámos as nossas vidas à espera que o colonialismo e a escravidão acabassem. Piorámos muito. A miséria e a falsa democracia estão conforme a Carta da ONU. A democracia hodierna resplandece como no tempo dos romanos contra as hordas bárbaras. Espelha-se no terrorismo internacional.
O filho conseguiu algum dinheiro. Pagámos a conta da luz. Agora é esperar pelo próximo mês. Temo que se um de nós adoecer, não sei como vamos fazer. Não temos dinheiro para medicamentos. Qual é o novo-rico que nos apoiará? Nenhum! Pelo contrário, desejam que todos desapareçamos.
As meninas, do que resta do apartamento de cima conseguiram uma electro-bomba para puxarem a água do rés-do-chão. Ligámos uma mangueira lá para cima e enchemos os nossos recipientes. 
O Cliente não atende o telefone de ninguém, excepto as suas amantes. Falei com o seu empregado e disse-lhe que vou escrever uma carta ao Marquês dos Cofres Gerais a denunciar as fugas ao fisco que os neocolonialistas internos e externos praticam.
A agitação grevista nos petróleos tende para uma situação gravíssima. Pelas exposições dos ouvintes na Rádio Oráculo dos republicanos, alguns com conhecimento de causa, o que se passa é como na propaganda comunista que antes era muito badalada. «Abaixo a exploração do homem pelo homem» … pura demagogia. Os trabalhadores Jingola são tratados como escravos. Não lhes aumentam os vencimentos. Recebem ameaças. Isto é uma grande baralhada pois que o Politburo afirmou que os salários para estrangeiros e nacionais tinham que ser iguais.
«Tudo o que fazem é secreto». Nada mudou desde a independência (?).
Voltando ao secretismo: A deputada do PLD, Partido Liberal Democrata, Marta Cristina, informou-nos exactamente sobre o secretismo. Os números apresentados pelo governo Jingola não são discriminados nas Cortes Gerais. Apenas falam dos totais, nada mais.
Voltando atrás no tempo, repenso no nome adequado da libertação para a nova opressão: PMLP, Partido Marxista-leninista Petrolífero.

terça-feira, 26 de junho de 2012

O Cavaleiro do Reino Petrolífero (23) o Etona disse que há um provérbio Bacongo, onde só uma pessoa não consegue tocar batuque, dançar e apitar.



A jingola petrofaminta, com o filho às costas serpenteia pelos carros. Vai estendendo as mãos na vã tentativa de uma esmola. O vestuário é decerto o mais pobre que existe no mundo Jingola. Talvez por isso ninguém lhe preste atenção. Cansada de estender as mãos retrocede para o passeio. Implora nos jovens tresmalhados, nenhum deles lhe olha. É como se ali pairasse um fantasma. A criança chora ao chamamento da fome. Ela não tem nada para lhe dar. Alguém atira o resto de um cigarro para o chão. Ela apanha-o e fuma-o. Sente-se contente, até faz uns ligeiros movimentos de dança. Pega numa garrafa de plástico e encosta-a a um tubo donde sai água de esgoto. Enche-a, depois bebe-a. Desloca a criança das suas costas e oferece-lhe a garrafa. A criança deixa de chorar. Alguns novos-ricos que estão bem na vida acabam de enganar, mais uma vez, a vida desta mulher (?) e a sua criança.
O premiado artista reconhecido internacionalmente, o jingola Etona, é desprezado no seu reino. As estruturas governamentais não lhe atribuem nenhum valor. Afirmou que obterá outra nacionalidade.
Os casos de tuberculose verificados ascendem a trezentos por mês. Podemos falar de uma epidemia. É necessário rastrear o contacto mantido com os infectados, antes que sejamos todos afectados.
A polícia cercou o pátio do Marquês dos Cofres Gerais e correu com os manifestantes.
Evitam-se por todos os meios o arranque de fábricas. As que existem não se abastecem de matéria-prima, para que deixem de funcionar… para que se possa importar. Os importadores têm amigos no estrangeiro, e empresas lá constituídas que lhes facilitam imenso a vida. Assim é desde a independência (?). Nos últimos anos de paz não houve nenhuma alteração. Os intermediários e beneficiários das importações são sempre os mesmos. A cidade de Jingola está cheia de armazéns de importadores. Não se produz nada. Só se pensa em importar… isto é muito demolidor. Não temos segurança alimentar. Tudo o que comemos é importado. Produtos adulterados, contaminados, fora do prazo. Comemos tudo. Ninguém dá importância. É uma boa piada, o reino Jingola pretender um assento no Conselho permanente dos Reinos Unidos. Reino Jingola, o pior reino do mundo para crianças. Maior índice de mortalidade infantil mundial.
As obras do general continuam. São pessoas muito edificadoras, estão sempre a fazer obras de dia e de noite. Hoje acrescentou umas chapas de zinco no prédio inacabado, para que não possamos ver nada. O que esconderá ele? Qual será o seu receio?
Na tentativa de sobrevivermos a este inferno, lembrei à Lwena que se adoecermos não temos dinheiro. Não sei como será. E os filhos são como se não existissem. Não se preocupam com os pais, com nada.
Eleições?! Quem deixará o poder depois de mais de trinta anos?! Quem?! Estão tão agarrados, tão colados ao dinheiro que não ganham, que nunca permitirão eleições. Quem pensar o contrário, só os incautos.
A liberdade de expressão a todos os vice-reinos continua suspensa. A Rádio Oráculo, por exemplo, não está autorizada a emitir. Isto é um grande reforço para que as eleições não se realizem. As vias de comunicação intensificam a intransitabilidade quando a estação das chuvas se aproxima. Uma coisa é certa: o reino não pode ficar muito tempo sem eleições.
O professor americano Mac Millan da Universidade de Stanford, disse que a corrupção é a única instituição que funciona no reino Jingola. Na guerra que o Marquês dos Cofres Gerais faz ao FMI, por causa disso, os economistas da nobreza Politburo, apoiam a carta que o Marquês enviou ao director do FMI.
Na informação diária sobre incêndios, os Bombeiros Reais Jingola disseram que um cidadão abasteceu combustível no gerador com um candeeiro aceso. Além dos estragos no gerador e no local, o cidadão ficou bem queimado. Lembro-me que há uns meses num barco de pesca, à noite, cheirava a gasolina. Alguém disse para acender um fósforo para ver o que se passava. O barco ficou destruído. Só um pescador se salvou. Numa residência, à noite, às escuras, cheirava a gás. Alguém se lembrou de acender um fósforo para ver donde vinha a fuga.
O general construiu um pórtico de ferro no extremo do terceiro andar. Será para acesso a helicópteros? Ou para um elevador externo?
O meu cliente mandou buscar as pastas com os documentos por causa do advogado, para confirmar os pagamentos que lhe fez. O advogado diz que ele lhe deve seis mil dólares. Vai-me pagar ainda esta semana. Disse-lhe que se não me pagar, farei uma exposição ao Marquês dos Cofres Gerais. O reino sofre um grande rombo com as fugas ao fisco. Pior que o Titanic. No fim de cada ano, se em média uma empresa inventar documentos no valor de um milhão de dólares, vezes mil, duas mil, três mil empresas, isto dá uma quantia astronómica. Daria para criar empregos. Não estou a gostar nada disto. Estamos piores que no colonialismo. Como o reino não tem contabilistas, não os quer, despreza-os, odeia-os, eles aproveitam e enriquecem-se com muita facilidade. E ainda têm coragem de conspirarem contra o Governo do reino Jingola.
A Lwena foi saber a conta da luz. Estamos aflitos porque não temos dinheiro. Estou a ver que vamos ficar desligados.
Na Rádio Oráculo, o Etona disse que há um provérbio Bacongo, onde só uma pessoa não consegue tocar batuque, dançar e apitar. Para isso são necessárias três pessoas. Em Jingola são sempre as mesmas que tocam os mesmos instrumentos.
UNICEF informa que morrem de fome 200 crianças por mês.
É fácil ver que a cidade capital Jingola está completamente gradeada, e com as traseiras dos prédios fechadas. Se houver um incêndio num prédio, não sei como os bombeiros farão. Parece-me que ninguém se lembrou ainda disso. De qualquer modo é só facturar, colonizar. Isto é tudo para destruir.
As explosões de Londres, sem dúvida efectuadas pela Al-Qaeda, lembram uma vez mais que as suas células são, de certo modo, invencíveis. A questão é o dinheiro. As democracias ocidentais e as suas economias só funcionam nos seus países. Nos outros utilizam a democracia para explorarem os seus povos, impondo ditaduras. É uma revolta geral com a criação de mais células terroristas. Se as democracias ocidentais persistirem no neocolonialismo, os actos terroristas aumentarão até conseguirem rebentar alguma bomba atómica?! Afinal, a economia é uma ciência que serve para explorar os povos. E inventaram o telemóvel que serve… para rebentar bombas.
O Bastonário da Ordem dos Advogados informou, que dos setecentos inscritos, só vinte por cento funcionam. Os restantes estão no desemprego. Isto revela o caos sintomático em que se encontra a economia do reino. Já não existem fábricas, transformaram-nas em armazéns ou estabelecimentos comerciais. A MABOR fabricava pneus, agora importam-se, tudo se importa… até mulheres. Com poucas pessoas um armazém faz as suas vendas. Porque não existe produção, generaliza-se o desemprego. Nos vice-reinos as populações morrem à fome. Fogem para a capital de Jingola aumentando cada vez mais o desemprego. É fácil fazer uma pequena fábrica de tomate enlatado e de vinagre. Limão importado que não presta, caríssimo. Na rua compra-se bom limão nacional por baixo preço. Não se entende como é possível importar tomate, limão, vinagre, sal... importar tudo. Na realidade sem nos darmos conta já vendemos o reino.
Na floresta do Kinaxixi surgiu uma nova quadrilha de jovens delinquentes. O Floresta Squad. Sobem e escondem-se nas árvores. É assim que fazem as emboscadas às suas vítimas. Quem passa ou ali vive, sofre o terror constante deste grupo de jovens desempregados. Com armas de fogo, garrafas partidas, catanas e outros objectos, sobrevivem a roubar os bens que restam dos outros esfomeados.
Suicídio no prédio da Chechénia. Mais um jovem atirou-se do nono andar. Não sobreviveu. É a décima vítima. Receio que isto fique contagioso. Que muitos jovens decidam este caminho. Já temos tantas epidemias. Devemos acrescentar mais esta, e tomar medidas antes que seja tarde. São jovens que não chegaram a ver o feixe ténue da luz da vida.  
Um anúncio de uma marca de cerveja, faz questão que jovens meninas numa esplanada, depois em casa, numa festa, a dançarem, com os seus amores, apela para beberem cerveja. Quando acabarem estarão muito bêbedas. E com a cabeça perdida fazem amor à toa. Depois vem a SIDA. Não entendo o porquê deste apelo para alcoolizarem as jovens. Os inventores deste e doutros anúncios deviam responder em tribunal. E publicarem outro anúncio que apelasse às jovens para frequentarem bibliotecas, lerem livros. Praticarem um desporto e assistirem a um filme que retratasse a vida de um grande escritor, escritora, ou algo similar. E beberem um sumo natural. Convém lembrar que quatro cervejas numa jovem equivalem a oito num homem.
O Cliente disse que me enviaria o dinheiro, até agora não o fez. Ele não difere de todos os outros que aqui chegam. A sua missão no reino é roubarem. Rapinar sob a protecção da nobreza. E os roubos não são nada pequenos.
O general fechou o quarteirão com chapas de zinco, e construiu dois prédios até ao terceiro andar. Queria aumentar mais andares, mas há alguns meses que as obras pararam. Acho que alguém se opôs. Como o local é bem escondido, quase que ninguém sabe o que ele lá faz. Asfaltou a rua que dá acesso ao seu palácio, dizem, por cem mil dólares. Construiu uma piscina, o que faz com que a água diminua, desapareça das nossas torneiras. Tem muitos ares condicionados. No tempo do calor a luz não vai aguentar. Mas não o afecta porque tem um potente gerador. Agora está a cimentar as paredes com tijolo na parte externa do outro prédio. Retirou uma das cortinas verdes e está a pôr tábuas de madeira nas escadas. Uma vez ameaçou-nos que nós temos os dias contados. Como é que ele consegue dinheiro para isto tudo? Ele trabalha na Logística Real... é por isso.
O filho com trinta anos de idade passou novamente dois dias na bebedeira. Chegou e desculpou-se que lhe puseram qualquer coisa nas duas cervejas que bebeu. Eles e elas passam a vida nestas coisas. Não sabem fazer mais nada. Estão perdidos sem futuro. Completamente frustrados. Se trabalham dois dias, ou quando apanham algum dinheiro, vai tudo para a bebedeira. Os dias restantes ficam a aguardar que ela passe. Não sabem o que é trabalhar. Sempre com a cabeça no ar, que parece uma máquina de partir pedra. Não sei daqui a quantas gerações é que este reino se vai levantar. 
Olha-se para a rua e só se vêem mulheres com coisas nas cabeças para venderem. E carregam mais coisas nas costas, os seus filhos. Que triste destino e escravidão para estas mulheres no reino, que se diz o mais rico do mundo.