terça-feira, 31 de julho de 2012

Os Jasmins da Lwena (13) É a civilização da bala no cumprimento do seu destino.



O assalto a uma empresa rendeu-lhe cerca de quatro milhões de kwanzas, mas alguém anotou a matrícula da motorizada do jovem assaltante. Não foi difícil a sua localização pela polícia. Dois indigitados fardados vão na missão do cumprimento do seu dever. Na morada onde a motorizada estaciona abordam um jovem que se identifica como sobrinho, que bem aprisionado desvenda o esconderijo do tio assaltante. Os polícias capturam-no, encontram o dinheiro e livres de testemunhas enchem-no de balas. Depois na esquadra relatam que mataram o bandido porque ele resistiu-lhes com bravura. E o comandante quis saber do dinheiro, claro, e eles: «não vimos, não sabemos de nada, o dinheiro desapareceu».


Na senzala, as senzaleiras espevitam-se. Elas e os ratos naufragam na pequenez da ruela esfrangalhada. Uma senzaleira sem tempo para se coçar, encosta-se no restante tapume. Concerta a carapinha, ajeita o pano, enxota as moscas com a vassoura de mateba. Apela excitada:
- Que vergonha meu Deus! Ó caçulinha da mamã traz a escova e a pasta de dentes! Vou entrevistar-se na rádio!
À velocidade de super-mulher os dentes cariados são escovados. O dentífrico não cumpriu a sua missão porque não se notou mudança no alvar dental. Era de fabrico ocioso, clone chinês. O repórter batia com o pé no chão, pressionado pelos estúdios que queriam e não sabiam se deviam despejar o saco da publicidade para o vácuo. A dama encima o hálito renovado no microfone.
- Prontos! Posso dentar!
- Minha senhora, bom dia!
- Sim, bom dia!
- Como se chama?
- Teresa Maka.
- Tanta comoção, porquê?
- Desde as quatro matinais que estamos com isto, desconseguimos mais nos dormir.
Estampa-se tiroteio. A ruela força-se, abala-se com a rusga pessoal e impessoal. Os desordenados saltam como coelhos na demanda das luras, perseguidos por caçadores do defeso. A senhora, à fula exclama maldizente:
- Ah, já chegou a política Politburo!
Os perseguidores dos ideais da lei, homens nascidos, crescidos, educados e com históricos tiroteios contínuos rebaptizados, calejados nos dedos indicadores, movem-se como gatos retesados de salto sobre os ratos. O oficial, aprumado, nivela por baixo o zelo da leitura dinâmica da lei. Tem o hábito de perguntar. Sem perguntas, sem interrogatórios não é possível cumprir a lei. Interroga a Teresa Maka que está com a esperança renascida.
- Esse estupefaciente está drogado?
- É… é memo!
- Está a tirotear assim porquê?
- Quando engatilha, diz que se liquida.
- Inda não se matou? É pena!
Os polícias estão oásicos, agradáveis, bem acomodados em seguras trincheiras. Não intentam ofensiva. Teresa Maka exaspera-se:
 - Estão a me estressar, avancem, lhe apanhem!!!
- Estás maluca ó quê? Não quero ser balado!
- Ah, afinal vocês têm medo da pistolada?!
- Absolutamente!... Sim… não… não é isso… estamos à espera que o gajo se distraia, ou adormeça, depois enchemo-lo de buracos. Garantidamente que tem o tempo contado, não se lembrará do registo de nascimento. Lembrar-se-á do dia em que morreu.
Mentor, social e religiosamente aprecia factual:
- É a civilização da bala no cumprimento do seu destino. O mais fácil que existe, e não são necessários cursos, escolas, universidades… é carregar no gatilho. A nossa civilização e as nossas vidas dependem apenas de um dedo encostado no gatilho de uma arma. São as armas que decidem o nosso futuro. Qualquer de nós arrisca-se a cada momento no mau caminho. Sem humanismo a vida não tem sentido. Os nossos sonhos dourados, desejados, desaparecem nos anseios de um qualquer com qualquer arma.
Onde há muitos seguranças é porque há muita insegurança. São estátuas humanas empertigadas para segurar o que se rouba, o que não se dá aos esfomeados. Parei junto a dois deles, ouvi diálogo edificante.
- … Filmei tudo! Mandaram-me lá fazer serviço de emergência nessa noite.
- Põe no play.
- Porra! Custa aceitar.
- Oh, fala lá meu!
- Nunca pensei ficar assim destoado.
- Que coisa? Já estou desassossegado!
- Foi na Ilha de Luanda… casais… de marido e mulher. Elas afastavam-se, a porem os pés na estrada, como leoas berrantes que atraem a caça noctívaga. Os carros paravam com olhos de lince, surripiavam uma, o marido esfregava as mãos de contente, aclamava feliz: «já levaram a minha! Já levaram a minha!». Quando a outra se contentava, estava com sorte, o consorte rejubilava: «Hoje vou encaixar cerveja!». Elas faziam rapidinhas o serviço social, e entesouravam nos maridos.
- Eh! Eh! Bem feito! Acreditámos nas promessas do Politburo… vamos enfastiar-nos de colonizadores.
- Ó meu, novos colonizadores novas linguagens.
- E eles sabem falar a nossa língua?
- Não! Temos que aprender a língua deles.
- E vamos ter tempo para estudar tantas línguas?!
- Para quê? Temos a linguagem corporal.
Para ferverem as mágoas do sistema nervoso central, cumpliciaram numa bebida transparente que uma vendedora esquinava.
- Senhora, passa aí duas bombas.
São dois saquinhos de plástico transparentes. Bem visíveis saltam letras maiúsculas: Bad Whiskey. 43% Volume. Rápidos, entornaram a uíscada pelo túnel estomacal. O lirismo invadiu-os. Descolaram mais dois saquinhos que emborcaram. Os desejos reprimidos extravasaram.
- Porra pá! Esta merda é demais!
- Puta que o pariu!
- Hum, se alguém me chata, vamos se matar!
- Apetece-me uma pistolada!
- Eu também!
- Vamos se torrar!
As palavras espumavam bucais nos antes pacatos servidores dos bens alheios. A desfaçatez estonteou-os.
- Ó senhora, bombeia mais dois. Pagamos amanhã.
- Já estão admirados, desestruturados, os olhos orbitados… não vão reassegurar a empresa?
- Quero lá saber da empresa!
- Vamos se encostar no quarto mundo do passado, no presente, sem futuro.
As minhas passadas seguem o habitual ritmo compassado da luta continua… do cantar de José Afonso:
Ó cantador alegre
que é da tua alegria?
tens tanto para andar
e a noite está tão fria

Degeneração moral é vista como inevitável na ausência de controlos sociais contra ganância e competição. William Golding
O homem aprendeu a dominar, a piorar, amarrou a Natureza. Julgou-a como um banco de fundos ilimitados. Saques, saques a fundos perdidos. Finalmente abandonou-a, divorciou-se, desamou-a. A Natureza domina o homem, ele surge nela como planta daninha. Está a mais, não faz parte da equipa. Deus criou os homens para divertimento. Sorri, vendo-os exterminarem-se com as armas que todos os dias inventam. Hipocritamente inventaram a esperança, a espera contínua da morte. Dizem carregados de profunda maldade, que é a ultima coisa que resta. É a maldade sem limites. Matam e depois choram os mortos.
Oh, esta saudade, esta tristeza do alvor da perdida Natureza.
Para quê tantos instrumentos sofisticados, se basta observar formigas para prever as inclemências do tempo que nos desassossegam.
Desentendo porquê os seres humanos estão sempre muito ocupados. Falta-lhes tempo para observarem uma árvore.
As religiões estão ultrapassadas, nada mais têm a desdizer, temos que as substituir por aquelas que amam a Natureza.
O alarde altipotente: vamos trabalhar, viver, conviver diariamente com a hipocrisia e a vigarice? Não é possível desumanizar assim! Temos que refutar, reabituar, resgatar a insolvência da nossa sobrevivência. Lutar antes do entardecer. A limpeza de alma da Natureza ciclicamente destrói os homens. Poupa alguns para recomeçar o ciclo do deixar o circo pegar fogo. Os elementos da Natureza conscientizam-se: «eis que retomam a multiplicação, um nunca acaba, vão hostilizar, cometer as atrocidades anteriores arquivadas no déjà-vu. Quanto baste, acabamos com eles».

domingo, 29 de julho de 2012

O Cavaleiro Mwangolé e Lady Marli na Demanda do Santo Graal (26). O crescimento económico de Jingola sobe, a miséria também.



Neste momento em que caminhas não podes afirmar que o fazes com plena liberdade. Pelo contrário, moves-te com extrema cautela, porque os inimigos do amor perseguem-te, e descuras as tuas defesas. Nunca imaginaste ver descomunal gente a vender amor em todas as esquinas perdidas da vida? Que banalidade apresentar o amor como uma mercadoria. E nós tão cobardes que o consentimos. É, que coisa horrível ver o amor alastrar-se nas ruas da perdição. E a única coisa que nos resta: Será que conseguiremos reviver os ternos enlaces deste passageiro amor?


E depois do festival Wikileaks, resta-nos a certeza que as relações internacionais não passam de uma monumental palhaçada. O cepticismo é geral e uma revolução global é certa. O mundo jamais será o mesmo porque já treme como um forte terramoto.

No acordar (?) de todas as manhãs, ouço sempre a vozearia incompreensível de um salmo chinês. De fugas de água dos reservatórios improvisados que destroem inexoravelmente o que os portugueses construíram e que ainda resistem bravamente. E a fumaceira de geradores que aprovam o nosso crescimento económico, que incentiva os empregos dos milhares de jovens vendedores nas ruas. É um gigantesco projecto governamental que está em carteira: fomentar empregos nas ruas. O preço do petróleo sobe, o fornecimento da energia eléctrica e da água desce. Estes democratas são como um rombo fatal num casco de um navio, por onde se escoa a democracia. De facto é uma democracia arrombada e remendada. Uma juventude inútil, é o que esta vinha do nosso senhor Lorde produz. É notável o silêncio sepulcral sobre a ignomínia perversa do terrífico poder que nos abate as mentes e a miséria de vida que nos instituíram. Até rir já não é o nosso melhor remédio, porque a desgraça impõe-nos a tristeza e cola-nos as bocas. Por enquanto apenas se escutam sonoras gargalhadas nos cofres petrolíferos.

E depois de dezenas de anos, Jingola ascendeu finalmente à destruição total e completa. E pelo navegar da jangada parece que nem para sobras dá. Pintar um prédio, reparar um passeio, chamam-se os chineses. Decididamente, o mwangolé serve para quê então?! Para embelezar, como elemento da fauna jingolana. A peça principal do nosso jardim zoológico. E a água já foi, já era, vamos matar a sede, como é então vocês? Não nos dão nenhuma explicação, porque nos tratam como porcos no curral para abate.

E quando a estação das eleições se aproximar, a população eleitora ora para que tal não aconteça. Porque significa mais guerra, mortes, miséria e fome. Um pesadelo, outro inferno. Uma nação sem água, um deserto. A procura de água continua incessante no planeta Jingola. É um planeta muito engraçado, não tem água, só tem petróleo, não tem mais nada. E sai de vez em quando no que ainda se chamam torneiras, um deserto partidário. O partido LORDE é bom, o que não presta é o seu Politburo. E com o tempo tudo se altera.

Dantes, não tendo mais nada para fazer, os cristãos caçavam crentes islamitas. Agora é ao contrário: os seguidores do Islão caçam sem dó nem piedade os seus milenares perseguidores, os cristãos.

E o gatuno tchavola defendia-se da sua condição, tal como um nobre: «Eu não sou gatuno, apenas mudei de ramo de actividade. Sim, roubei muito, tenho muitos bens, muita riqueza. Só não entendo porque é que têm muita inveja de mim.»
Entretanto a polícia reafirma que não dorme, os bandidos insistem que também não. O nosso governo apenas garante energia eléctrica no Natal e ano novo. Água, os da ralé que se safem como puderem.
Tudo escurece, desaparece. Ainda existem governos que acreditam que o melhor método de governação, é excluir a água e a luz da população. No mar deprimente que é Jingola, cada momento de incerteza é um episódio de humor negro. O poder tem mais uma irresponsabilidade acrescida. Não fornecer energia eléctrica. Um país governado com extrema maldade e em consequência a população segue-lhe os passos. Tudo perecerá tragicamente porque não se pode viver permanentemente na ciência da psicopatologia. Em Jingola, a tirania tem todas as condições exigidas pelo TPI, Tribunal Penal Internacional. Então, porque é que o TPI não emite mandatos de captura?
As lutas de libertação em África foram, como que a continuidade, o clima do colonialismo, desgraçaram, acabaram também com a África? A luta de libertação é terminar uma escravidão e recomeçar outra. Só o roubo, a espoliação e a corrupção nos libertam.
Não ande inseguro, segure-se numa empresa de segurança.

São 02.35, hora do chinês de pegar no telemóvel e fala, não, berra para a China e para nós.

Qualquer conceituado psiquiatra garantirá que são sintomas dos psicopatas. Este poder é incansável na produção de fábricas da fome. E dizem-se inocentes, que não roubaram nada. Mas todos temos a certeza que biliões de dólares desapareceram, e diariamente milhões sempre se esfumam.
Como governo, a nossa maior preocupação é matar a população à fome. E os resultados desta nossa política são bem visíveis, saltam à vista, mesmo daqueles mais desprevenidos. Pois então, exterminar a população à fome é a nossa grandiosa solução final. Há governos que nos iluminam, há outros que nos entrevam.
O crescimento económico de Jingola sobe, a miséria também. Ser jornalista, é enfrentar o pelotão de fuzilamento e a guilhotina da ditadura. Petróleo para alguns e a desolação da fome para milhões. Nesta Jingola do petróleo há democracia? Não! Há petrocracia. Quase há cinquenta anos que não recebemos nada. Como é meus! Aguardamos muito impacientes pela distribuição dos lucros do petróleo que nos pertencem. É muito dinheiro, caramba!

Há governos que não sabem o que é emprego. Por isso têm as suas populações no desemprego constante. E assim, hoje, mais uma onda assaltos nos espera. Mais um dia, o sol nasce, mais um dia em que o sol não é para todos. A governação cometeu mais um erro gravíssimo: transferiu a energia eléctrica e a água para as suas contas bancárias num paraíso fiscal, só pode ser desses das Bahamas. Não! Nós vamos tomar medidas! De qualquer modo nós temos a situação sob descontrolo. E os Lordes cumpriram as promessas de liberdade e do fim da nossa submissão. Contratou, e contrata, milhares de estrangeiros para nos escravizarem. Afinal, a luta pela independência foram os estrangeiros que só lutaram, foi o maior logro, a maior burla de todos os tempos, da nossa história, e o fim da nossa civilização.
Doravante será necessário um exame psiquiátrico a estrangeiros. É que ingola está a ser invadida por psicopatas. O grande problema é que as pessoas só entendem de futebol. E o povo jingolano continua perdido. Exausto, desistiu de procurar as pegadas da sua jingolanidade. E estrangula-se na invasão dos batuques das modas importadas. É batucada de festas infindáveis. Completamente alienado soçobra numa ponte destroçada, como um pêndulo oscilante sob um abismo, e sem retorno quem nele lá mergulhar.
Imagem: noshirtsnoservice.blogspot.com

sábado, 28 de julho de 2012

O Cavaleiro Mwangolé e Lady Marli na Demanda do Santo Graal (25) a água lava tudo, mas os intolerantes e corruptos permanecem imundos.



O nosso cérebro alegra-se, maravilha-se com os sons musicais que lhe adentram. E o estresse é vencido. É muito fácil sermos felizes, mas existe um pequeno grupo que governa o mundo, que não quer, e nos odeia quando exibimos o amor. O perfeito equilíbrio da Natureza existe porque lá imperam as leis sublimes do amor. A Natureza é Deus, e o resto uma perda de tempo. Com tanto desamor evidente, é latente a vingança, o extermínio da espécie humana. Amar o amor da Natureza é o fundamental.

Se todos somos filhos do Universo, porque só alguns, sempre os mesmos, dele beneficiam? Ser pobre é um pecado, ser rico é bom aos olhos de Deus. Nunca entenderei o quanto mais a Igreja clama por Deus, e a nossa miséria não pára de aumentar. Não, não é porque nós deixámos de acreditar em Deus, mas a Igreja com a sua milenar hipocrisia, facilmente destruiu Deus. Acabando com a hipocrisia da Igreja, Deus se aproximará de nós, e julgará, e condenará os falsos sacerdotes que insistem em falar em nome do reino de Deus, sempre eleitos fraudulentamente.

Depois de décadas permanentemente a estupidificarem o povo com ultra doses de analfabetismo, chegou o momento ansiosamente aguardado das eleições. E um grande obreiro apresentou-se perante tão destrambelhado bando populacional e rebentou-lhes: «O nosso caminho é só um! O do voto eterno na escravidão merecida. Votem em mim, e terão miséria certa! Luz, água e casas, tudo reduzido a pó!» e os analfabetos votaram no grande obreiro, e ele ganhou tão folgado, tão não inesperado. Se não se fizer imediatamente uma revolução no ensino, Jingola revalidará de campeã nacional do analfabetismo. E ficará como carreiro de formigas sem rumo, sem destino. Jingola, continuada com os mesmos arautos, a mesma engenharia, arquitectura, doutoráveis, poetas e escritores, que cantarão os feitos da magistratura do grande barqueiro. Os libertadores prometeram-nos a independência e a liberdade. Afinal, de tanto sangue derramado libertaram os poços petrolíferos só para eles. O petróleo da cor do sangue derramado de tantas vítimas inocentes que acreditaram no logro. E Jingola jorra sangue de som petrolífero, de raios diamantíferos. De um só petróleo e de um só diamante jorram as sementes do mal.
E há um país (nadava), agora afogou-se no álcool da propensão. Enquanto subsistir o medo de taxar, declará-lo publicamente que tal governante é incompetente, e enviá-lo para onde nunca devia ter saído, vamos recuando até cairmos na fogueira, na queimada final.

No início do primeiro dia proclamou-se que nunca mais haveria colonialismo e escravidão, e a energia eléctrica e a água jorravam abundantes. Depois desse dia, tudo se afogou e secou. Então que prazer nos dão as promessas das mentiras? Nenhum! Continua tudo na mesma, miseravelmente pior. Campeões invictos da incompetência, da derrocada moral e social, da corrupção… do tudo sem solução. Não é um país, é uma reserva de caça dos caçadores imobiliários neste estado fundamentalista.
Os preços dos comestíveis sobem e dantes o inimigo era o imperialismo, agora é a população. Poder que actua global na fome local.

Ainda continua como fundamental, a aberração da destruição de povos e civilizações. E tudo fica no lendário, num inconsciente colectivo inexistente. Fabricantes não edificantes, mas movidos, possuídos do anormal poder destruidor. E as hordas dos ainda escravos saúdam-nos em mais uma gloriosa luta da libertação da destruição.
Eles são os algozes, e nós os mártires. Isto não é governar, é martirizar. Isto não é Jingola, é o que dela resta. Que pobreza de espírito excepcional que enche Jingola constantemente de novas construções, dos tais legais, e depois anunciarem como se de uma grande descoberta se tratasse: «Temos um grande défice de energia eléctrica e água, são insuficientes, não suportam a actual demanda de consumo.» E uma nação não nasce com inadaptados, muito pelo contrário, falece nas mãos ávidas por um pedaço de pão e na justiça despedaçada. E o constante anúncio, de que a felicidade do jingolano está na miséria. Significa que quanta mais miséria, mais riqueza e felicidade. Então destrói-se um país, e ainda se clama que isto é que é uma boa governação? Ah! Não andamos, nunca saberemos quem somos e para onde vamos. Isto é uma selva de alguns animais humanos ferozes que perseguem um rebanho de vítimas indefesas, tanto nacional como internacionalmente, e delas se alimentam. É o seu privilégio na carnificina consentida e legalizada. Afinal o silêncio é das atrocidades cometidas, é lei. Para quê fazermos planos para amanhã, se a energia eléctrica e a água nos vão mais uma vez. É o sistema político no seu melhor, que às escuras e na sede nos vão deixar. E ainda falta, e acontecerá, o fecho de mais ruas de Jingola para eles construírem mais prédios deles. Algumas ruas e alguns passeios já fecharam, e lá moram as destruições desta urbe.

Já por aqui viver se torna a cada dia que passa uma proeza de subsistência, isto está mesmo periclitante, sem esperança. Mas eles festejam os aniversários das suas festas alagadas com petróleo. São um reino dentro de outro. O reino dos opressores e dos oprimidos, o dos senhores medievais acastelados e o dos servos dos aterros do lixo. Tanto assim retrocedemos no tempo que eles, os nossos senhores, dele não desejam escapar, e nele se desejam eternizar. É tudo deles, e nem para nós uma gota de petróleo derramado sobra. Será uma luta tremenda para escapar-lhes da morte. Impuseram-nos o ambiente do viver em estado de guerra permanente. Só que oficialmente não o declaram. É o triunfo da incompetência e da irresponsabilidade. Não podemos continuar mais a viver nesta podridão de vida, onde já não existe sociedade.

Polícias mata-mulheres. Assim como as coisas estão, nem para sobreviver dão. O desprezo com que nos tratam está a ficar insuportável. E a principal ocupação dos líderes políticos no poder, é a perseguição sem dó nem piedade aos opositores políticos. É horrível viver debaixo de um regime que não nos oferece a mínima garantia de futuro. E assim não adianta traçar planos, porque nunca se concretizarão. Quando conseguirmos líderes competentes, corajosos, e verdadeiramente amigos do seu povo, então sim, seremos finalmente livres, independentes, felizes. Até lá, resta-nos a viagem inglória, o lugar-comum de que Jesus Cristo nunca mais vem. E as prisões já nem chegam para alojar tantos presos. Este é o prémio do juramento que nos prometeram.

Dizem que a água lava tudo, mas as bocas dos corruptos permanecem imundas. E os intelectuais da nossa praça, quando confrontados nas lides das suas ideias por outros antagonistas, de imediato soltam os seus cães de guarda. Porque eles são os únicos, os melhores, os deuses. E não há mais ninguém melhor que eles. Até erguem os seus próprios pedestais onde lá se endeusam e tentam proclamar novas filosofias, novas religiões. E tudo fica tão confuso, tão mesquinho, tão de chafurdar na lama. E todos se enlameiam, conduzidos neste desespero, nesta tirania sem saída. São comboios sem vida que descarrilam na juventude alcoólica dos sem futuro tchavola, sem vida. E a teimosia da manutenção de um só partido no poder, é cavar a sepultura da divisão, da destruição da nação Jingola. Que na realidade actual nada tem de nação. Apenas destroços que deram à costa do grande naufrágio sem timoneiro. O problema é que os abutres são demais, e os despojos não chegam para todos.

É necessário prestar muita atenção à infinidade das seitas religiosas que estão a dividir e a provocar um intenso ódio, antagonismo na população. É a anunciação do princípio do fim da fé. A nossa liderança é a dos esfomeados de Jingola. Estes intelectuais que apenas desejam evidenciarem o protagonismo das suas vaidades. E intelectos podres não têm futuro. Não é o poder que é eterno, a oposição é que é efémera.
Todos os caminhos conduzem ao poder, mas a incipiente oposição perde-se neles.