terça-feira, 30 de julho de 2013

03 A 08 de Julho de 2013. Diário da Cidade dos Leilões de Escravos




03 de Julho
Bom-dia apátridas de Kabinda ao Kunene.
Eu sou angolano, nasci em Angola e aos cinco anos de idade vim para Portugal, ou: os meus avós nasceram em Angola, etc., nunca mais ouvi falar de Angola, mas considero-me genuinamente angolano, espero muito em breve ir para lá trabalhar, qualquer emprego me serve. Evidentemente que esta – estas - alma há muito tempo que é português, não entende nada do povo angolano, mas como a miséria lhe obriga a reivindicar o estatuto de “refugiado” angolano, então surge como o máximo expoente da angolanidade, um angolano genuíno, salvador da Pátria. Há poucos anos isto era impensável mas como a miséria obriga.
Considero que a coisa mais horrível que nos pode acontecer é ver um bebé chorar intensamente com fome, e não ter nada para lhe dar. E presentemente vivemos muito disso, como a coisa mais natural deste mudo, porque se perdeu a noção do que é um ser humano. Estamos muito bem civilizados porque matar é civilizar.
A política salarial vigente também é uma poderosa ferramenta de enfrentamentos sociais. Então, para o mwangolé, salário de miséria. Para qualquer estrangeiro, salário de riqueza. E porque não o contrário? Isto não é discriminação social? Racial?
Para quem não sabe as coisas acontecem assim: uma manifestação ali, uma manifestação aqui, outra acolá, outra mais lá, outra lá mais longe, outra acoli, outra acolém, outra para além, outra mais para além, e de repente a manifestação generaliza-se por toda a Angola, com o povo nas ruas. Só que por estas bandas será, será, será… nacional, é boa, eu gosto. Então, se a governação teima no mesmo crasso erro, o que se espera?
E continuam com a mesma parvoíce de sempre: já te ligo, depois ligo-te, depois falo contigo, depois passo aí, está descansado que já resolvo isso, não estou em Luanda, estou na Namíbia. Não passam de pobres diabos!
Bom-dia desempregados e desabrigados de Kabinda ao Kunene!
De um mais velho: Savimbi está invisível no meio de nós.
Mas é assim tão difícil fazer um estudo que prove que de tempos a tempos nasce uma geração de acéfalos que onde se instalam arrasam tudo e só deixam famintos?
Será que Passos Coelho e Paulo Portas depois dos seus mandatos – pelos vistos terão que sair à força? – serão exemplarmente julgados, condenados e entregues a carcereiros?
Hoje à tarde fui convidado por dois amigos para irmos até uma esplanada próxima. Depois de cerca de uma hora e meia já nos preparávamos para sair quando um português grita, como se o fizesse para um cão, que quer pagar a sua conta. Revelando má-educação repete o mesmo desprezo. O empregado chega e o português para pagar a conta de mil kwanzas, retira do bolso um enorme monte de notas e grita não se sabe bem para quem: «Queres beber mais uma cerveja?» Ao mover-se choca com um militar das FAA, no lugar de pedir desculpa, ainda lhe faz frente vangloriando-se: «É pá, eu não tenho medo de vocês, eu fui pára-quedista.» A sorte dele foi que o militar não lhe retribui a má-educação, revelando alto sentido de responsabilidade e preferindo-lhe o desprezo. Imaginem o espanto dos presentes, não é?! Bom, o português lá se foi a cambalear… estava bêbado. Agora não sei se alguém lhe montou alguma emboscada ou não.
Ainda há por aí alguém que acha que o povo angolano não se manifesta? Sabem como é que os mwangolés se vingam dos desaforos que quotidianamente lhes caiem em cima? Combinaram-se e estão todos a roubar. Sim, está tudo no roubo, no saque. É demais! Agora digam que os mwangolés são burros. Não conhecem o povo angolano.
Empregados e empregadores em Angola: sempre na expectativa que pingue, se ilumine qualquer coisa, que caia o dinheiro do salário, como a água e a luz, nem todos claro, mas são a maioria. E não dão qualquer satisfação, porque o tempo é de renovada escravidão.
Quando estrangeiros invadem um país que colonizaram, impondo outra vez as regras escravocratas do colonizador, esses estrangeiros chamam-se tragédia, loucura, porque não existe nenhum povo que aceite tal imposição. E isto é incitação à violência.
04 de Julho
A actual situação da anarquia da invasão portuguesa em Angola ultrapassa de longe o período colonial? É que estas coisas feitas sem regras, como tudo que funciona sem elas, tende a evoluir para uma catástrofe talvez sem precedentes, porque antes a colonização imperava, e agora na Angola independente os mwangolés continuam a sofrer os vexames da invasão neocolonialista portuguesa. Um povo independente tem o direito de se libertar da imposição da dominação estrangeira, ou não é assim?
05 de Julho
E depois de consumada a grande invasão portuguesa, naturalmente que os portugueses proclamarão unilateralmente a independência de Angola? República Portuguesa de Angola?
06 de Julho
Bom-dia mwangolés sem salários de Kabinda ao Kunene.
07 de Julho
Temos que fazer alguns cortes de energia eléctrica de vez em quando, senão não se vendem geradores, e neste mundo global a facturação também é global. Assim, lá tivemos que fazer um corte para que os vendedores de geradores se preparem, porque alguns clientes em pânico lá aparecerão. E então hoje apagámos das 10.12 até às 11.17 horas, é essa a nossa missão. Mas o que é que vocês querem?!
08 de Julho
Bom-dia vítimas dos constantes assaltos de Kabinda ao Kunene. É nacional, é bom, eu gosto.
Nova Vida (a chamada urbanização nova vida) torna-se a cada dia que passa um dos bairros mais inseguros de Luanda. Roubos e tentativas de roubo à mão armada a residências e viaturas são cada vez mais comuns, esta manhã assaltaram o meu Hyundai, roubaram-me os faróis e os stops, agora eh k tô lixada, os gatunos estão localizados só a Polícia eh k não faz nada: são os que se fazem de lavadores de carros, a maioria deles vive nas favelas que circundam o nova vida mas outros vêm do golf, etc. Ir dar queixa na Polícia é só se estressar, fica só assim... vamos fazer justiça pelas próprias mãos... In Olinda Cô Viê. Facebook

domingo, 28 de julho de 2013

O Cavaleiro Mwangolé e Lady Marli na Demanda do Santo Graal (40)





Náufragos sem luar

Neste mar naufragado lá vou como Ulisses, já várias vezes dele escapei de afundar afogado. Há muitos milhares de milhas, quase há infindáveis quarenta anos delas, que anseio pelos braços, familiares abraços de Penélope. Receio que nunca mais a verei, e também da minha família que nunca mais saberei. Ordeno à minha tripulação que escolha o rumo certo e siga os melhores ventos do mar que nos levem de feição. Mas por mais que navegue, de milha em milha há perigos que me esperam, terríveis homens armados saem das profundezas e impedem-me a marcha. A nossa luta pelo viver - já não é, agora é sobreviver - é a constante batalha contra os monstros que nos desejam subjugar, é o confronto eterno do livro da nossa liberdade.

Eu estou longe, muito longe, mas isso não impede que o meu espírito navegue, e te encontre, reencontre, pois não há distâncias que separem a amizade, ela fica tão curta, tão curtíssima, quanta mais longa a distância, mais o abraço da amizade se conforta. Tão distantes e contudo tão próximos nos nossos inseparáveis destinos.

Nos tempos passados havia tempo para nos amarmos, agora resta-nos muito tempo para nos odiarmos e nos armarmos.
Tanto tempo perdido nas estações do ódio, nas montanhas da morte.
Sabem, já existiu um tempo glorioso de magia com músicas maravilhosas, e que esses tempos se perderam, mas as suas músicas perduram porque abandonaram o mundo alienado e refugiaram-se na dimensão, Lay Down Candles In the Rain, Here Come the Sun, In the Search of the Lost Chord, 2000 Man, Fare Thee Well 10,000 Miles etc, etc. Oh, o corvo que é tão preto, meu amor, mudará a cor para branco.

E oiço uma trompete solitária que me recorda os rios, as montanhas, as águias e outra imensidão de aves, a pureza da chuva que regava a vegetação, agora rega poluição, as ondas do mar que batiam nas praias, agora já não batem, desfazem-se, desfazem as torpes negociatas das construções à beira-mar, abençoadas por clérigos que obrigam as populações a orarem porque assim está escrito.
Os sacerdotes como porta-vozes de Deus afirmam categoricamente, tal como Deus lhes faz crer, que Ele gosta de todos e de tudo, excepto os homossexuais, Deus odeia-os. Mas que sacerdotes mais libertinos, porque em boa verdade nunca lançariam tais labaredas das suas bocas fedorentas, porque Deus ama-nos – na verdade Deus apenas ama sacerdotes, pois foram eles que o inventaram – então se Deus é abundante de amor, como é possível que rejeite homossexuais? Há religiosos que não mudam o seu pensamento porque se o fizerem o seu tempo de hipocrisia terminará. De qualquer modo a impureza da religião não triunfará, e na verdade perecerá, porque a mudança dos tempos não perdoam, e enganar os seres humanos analfabetos através da religião é a coisa mais fácil que existe, e a sua aliada democracia e os seus aliados democratas testemunham-no.

Sem dúvida alguma que os seres humanos foram inventados por um louco, o péssimo invento de todos os tempos. Só assim se explica a extrema crueldade, a incrível selvajaria que em nós reina. A todo o momento corremos desesperados na busca de um refúgio, porque a selvajaria humana sempre em maioria, há milénios que implacavelmente nos persegue.
“Sou um filho do universo?” De qual universo? Deste não sou com toda a certeza absoluta, porque de maneira nenhuma me identifico com os promotores das carnificinas diárias. E aqui já não há tempo para começar porque já há muito se findou. Este nosso tempo é de desespero, do tem cuidado, porque até já o céu não é livre, também já o colonizaram. Já não posso declarar o que sinto, porque um exército de forças especiais me aponta armas, porque sou um perigoso terrorista. Em nome do terrorismo qualquer coisa que escreva que não seja do agrado dos bancos, enviam-me para a única liberdade que agora me resta: a morte!
Tenho que me deslocar com imenso cuidado, porque os computadores da democracia estão sempre atentos, com os seus programas que me espiam, vigiam dia e noite. Nestas democracias somos todos terroristas, porque já não se consegue distinguir quem é honesto e desonesto, quem trabalha e quem não trabalha. Mas os espiões electrónicos da democracia não conseguem detectar, vigiar os corruptos porque deles e dos bancos é este reino democrático.
Esta democracia já chegou ao fim, estamos à espera de quê para encetarmos os nossos caminhos da liberdade e democracia sem políticos? Esta classe de sacerdotes que fizeram da democracia a sua religião e colocaram as multidões como seus crentes, serventes. Este é o tempo das multidões que governam, sem necessidade de governo, sem eleições. Aos corruptos que destroem o nosso planeta - não é deles não, se fosse ele seria bem estimado – façamos um abaixo-assinado e que depois eles entrem calmamente nas prisões que os esperam, e que de lá jamais saiam. É necessária outra Inquisição para perseguir os corruptos, e os conduzir ao moderno braço secular. Enquanto um corrupto se mantêm activo, milhares de vidas perecem, porque os políticos democráticos fazem parte da sua confraria.

Já virei a esquina, e não encontro a vida que lá me disseram ser a sua morada. Encontrei o terror do nosso dia-a-dia, porque democracia há muito que está adiada.

Tão corrompido que está isto
E ainda há quem acredite nisto
Como é possível este Poder seguir
Se tudo é para destruir?

22 De Junho a 02 de Julho de 2013. Diário da Cidade dos Leilões de Escravos.




22 de Junho
14.33 horas. O jovem quase que se encosta no carro. Depois abre-lhe a porta e antes de se sentar vira a cabeça muito rápida em todas as direcções para ver se está, ou se aproxima alguém para o assaltar. Por aqui se vê facilmente que uma paz podre é afinal uma poderosa insegurança.
Pelas arbitrariedades de intenso amargo sabor colonial ainda recente, e vigente de vários tugas, receio que os portugueses serão outra vez ruados de Angola.
23 de Junho
E que chegaram umas moças do Brasil, bem bonitas. Os homens fazem bicha, andam muito nervosos.
24 de Junho
A balada e a abalada dos bairros são o uísque Best Whisky: «Bebeu, tossiu e morreu!»
25 de Junho
Nos bairros nunca se deixam as casas sem ninguém. Quando o marido sai, fica a esposa em casa. Quando a mulher sai, fica a o marido em casa. Porque se os bandidos sabem que não está ninguém em casa, assaltam-na, levam tudo, não deixam nada.
26 de Junho
Mais um apartamento onde se partem paredes para alugar a estrangeiros, até o prédio desabar. É mesmo de “puro mwangolé”: «Quero lá saber se o prédio vai desabar, o que eu quero é facturar.»
Vice-presidente de Angola, Manuel Vicente, em entrevista exclusiva à SIC:
“É um processo, não se pode acabar com a corrupção de hoje para amanhã.”
Só que nunca se sabe qual é o hoje e qual é o amanhã.
27 de Junho
15.20 horas. Os escravos da fome já fazem espera nos contentores do lixo. Quando alguém deixa um saco no contentor, logo um abandonado do reino petrolífero lança-se vitorioso na esperança de encontrar algo para comer. E teve sorte, porque assim que abriu o saco, começou a mastigar bolachas. Este desabrigado do petróleo é um escravo cheio de sorte.
Quase vinte e quatro horas depois alguém se lembrou que estávamos sem energia eléctrica e ligaram os interruptores às 14.56 horas.
José Severino, presidente vitalício da AIA – Associação Industrial de Angola, alertou no programa Vector, da LAC – Luanda Antena Comercial, que existem muitos estrangeiros que não pagam impostos, não se sabe o que fazem, e que exercem pressão sobre os bancos para transferirem grandes somas de dinheiro para o estrangeiro. Qual é a actividade destes estrangeiros em Angola? Como é que eles conseguem o dinheiro? Angola já é uma gigantesca lavandaria internacional de dinheiro?
No noticiário das 12.30 horas, a Rádio Ecclesia informou que no hotel Epic Sana, na rua da Missão em Luanda, propriedade de portugueses, (conforme pesquisa na NET, Pinhal do Concelho, Praia da Falésia Olhos de Água, Albufeira 8200-593, Portugal), mais de quatrocentos trabalhadores entraram em greve. O motivo principal é o salário de 12.000.00 (doze mil kwanzas, pouco mais de cem dólares. E como é que os portugueses resolveram o diálogo? Chamaram, fizeram combina com a Polícia, e quando os trabalhadores chegaram para se concentrarem no local de greve indicado, atiraram-lhes com cães e muita, muita surra. Alguns ficaram muito feridos, nem uma jovem mamã que estava com o seu filho de dois meses foi poupada, surra em cima dela. Mas não é assim que se faz com os escravos?
O que faz falta é também os portugueses alimentarem a carnificina angolana, o que faz falta.
28 de Junho
Tudo indica que JES-MPLA repete o que o colonialismo fazia: repressão sem limites – e o incrível é que como movimento de libertação, JES-MPLA, exagera, ultrapassa os limites da selvajaria – e sabemos o que aconteceu pouco antes e depois da independência: uma carnificina. Se JES-MPLA insistir na repressão, do tudo resolver a tiro – Moçambique já lá está no reino da carnificina – então teremos outra carnificina que a História registará como das mais horrendas. Quem não abdica do: toda a gente fuzilar, incluindo mulheres grávidas e crianças, arderá na fogueira da História. Exagero? Alarmismo? Incitação não sei de quê? Até que não, pois os factos estão aí nas ruas, nas esquinas, nos cidadãos que falam do mundo real que vai explodir, porque é inconcebível que trabalhadores ganhem doze mil kuanzas, e que não têm direito à greve, enquanto biliões de dólares enchem os bolsos de muitos estrangeiros e de alguns outros estrangeiros disfarçados de nacionais, angolanos.
29 de Junho
Lições de informática: qualquer arquivo de trabalho que não tenha cópia de segurança, não tem nenhum valor.
Escravos da vida de miséria nos seus países e que aqui desembarcados, são engordados, patrões com escravos seus empregados, tão revoltados.
30 de Junho
A nossa miséria da energia eléctrica fugiu-nos às 14.09 e veio para casa às 14.37 horas.
E os tais que gastam o dinheiro que não lhes pertence, continuam na azáfama do construir paredes e depois derrubá-las. Este é o nosso presente incansavelmente destruidor.
Aí pelas sete da manhã de todas as manhãs e de todos os dias, começa a barulheira da música que estremece os vidros das janelas, vizinhos loucos, possuídos pelo demónio, vizinhos do primeiro andar.
01 de Julho
Para sobrevivermos a política do regime obriga-nos a todos os expedientes de sobrevivência, então, como é que os estrangeiros dizem que estão aqui para nos ajudarem?
Para conseguir uma simples latinha de leite para o seu bebé, o mwangolé vale-se de mil e um expedientes no seu emprego, ou fora dele o que é mais usual. Que merda esta que nunca mais acaba.
02 de Julho
Mas quem é que disse que não há manifestações em Luanda? Em cada esquina está um bandido para nos assaltar, ou matar. Nos bairros dos mabululos, (periferia), - os tais que o MPLA jurou antes da independência que acabaria com eles e que daria uma nova vida aos colonizados - quando o marido sai a esposa fica em casa, quando a esposa sai, o marido fica em casa, porque se saírem os dois, quando voltarem não encontrarão nada em casa porque os gatunos levaram tudo. ISTO ESTÁ MUITO PODRE! Pode-se assegurar que Luanda já está em estado de sítio. E as demolições continuam a produzir mais “terroristas”, o roubo descarado dos empregos também. Parafraseando Agostinho Neto: contra milhões de espoliados ninguém combate, e quem o fizer será vencido. E os investimentos estrangeiros e a grande invasão de portugueses? Mais uma tragédia?!
A podridão da energia eléctrica deles apodreceu-nos, abandonou-nos às 16.01 horas.
Acabo de receber a informação de que em Viana, crianças quando saem das escolas são raptadas. São vários os casos e isso já acontece há vários dias. A Polícia não se pronuncia sobre isso, porquê?
Aprendi que este mundo é cruel e maldoso, aprendi também que a religião era o meu refúgio, a minha esperança, mas depressa verifiquei que era hipócrita, maldosa, sem esperança. Também aprendi que existem algumas pessoas que a todo o momento praticam actos de amor, de heroísmo para salvarem, ajudarem os milhões de seres humanos que vivem na degradação, na escravidão. Independentemente da sua religião, da sua política, há seres humanos que merecem, vai a minha admiração, pois sem eles o Mundo há muito já teria desaparecido. Se não fosse essa meia dúzia de seres humanos que tudo fazem desinteressadamente pelo bem-estar do próximo, este Mundo seria totalmente bem selvagem. Mas atenção: é que esse pequeno grupo diminui assustadoramente como a camada de gelo dos pólos e doutros locais. E se esses queridos seres humanos continuarem no degelo, a diminuir, então não haverá mais esperança. Por isso façamos um esforço, não deixemos que aqueles que defendem um mundo livre de corruptos desapareçam. As nossas vidas e a humanidade dependem deles. Sobretudo lutemos para que cada criança tenha uma alimentação e educação condignas, porque depois enfrentaremos criminosos e uma trágica multidão de terroristas. Este mundo é, está terrível de se viver porque nele acontece a batalha de um pequeno grupo de corruptos contra a população mundial.
Só me faltava mais esta: agora sou obrigado a comprar tudo made in China? Obrigam-me a comprar lixo, pois é tudo aldrabado, muito mal pirateado.


segunda-feira, 22 de julho de 2013

O EMPRESÁRIO LUSO-ANGOLANO (12)




Enquanto a empregada executa o pedido, entram dois portugueses fugidos da reforma agrária do Zimbabué. Encostam-se ao balcão e observam o que a parabólica transmite. Está num canal que só transmite música com negros e negras. Pessoalmente apreciava, aprecio, especialmente a dança sensual dos corpos das negras, a naturalidade genética. Para mim as negras eram… são, muito bonitas e extraordinariamente sensuais. Um dos portugueses reclama para a empregada:
- Tira essa merda daí, põe isso noutro canal!

Vieira grita para o irmão. Heitor aproxima-se com o telemóvel a tocar. Olha para o número que está no visor e não atende. Comenta:
- É uma gaja. Dei-lhe algumas fodas, agora quer dinheiro para os medicamentos dos filhos.
- Está bem!.. Heitor, eu e o contabilista vamos para minha casa!
- Concordo. Têm o direito de descansar porque hoje já trabalharam muito.
A empregada colocou tudo numa caixa. Vieira faz-lhe sinal para lhe segredar algo no ouvido. Ela baixa-se demasiadamente. Fica numa pose bastante provocadora. Consigo ouvir o que Vieira lhe diz:
- A partir de amanhã vão passar a andar nuas. Quero ver aqui muitos clientes. Acho que a casa vai ficar cheia.
E depois voltando-se para mim, reforça:
- Mas digo-o com toda a sinceridade. Qual é o problema de as pessoas andarem nuas?! Custa-me também a entender que para fazermos amor, que é um acto perfeitamente natural, temos que nos esconder?!
- No tocante a isso tenho a minha opinião.
- Vamos embora. Continuamos em minha casa. Vais ver o meu carro novo.
Saímos e parámos junto ao carro. Vieira abriu as portas, entrámos e diz-me orgulhoso:
- Já viste este Lancer?! Fiz um trabalho para um gajo, ele não me queria pagar, fiquei-lhe com o carro.
- É todo preto, preferes essa cor?
- Sim. Porque não se nota a sujidade. Um carro branco é trabalhoso a limpar, este mesmo que estando carregado de sujeira não se nota nada.
Havia pastas de arquivo, livros, e papéis espalhados em cima de mesas, cadeiras e sofás. Enquanto Vieira, na cozinha preparava a comida, consegui arrumar o local para nos instalarmos. Ele atrapalha-se:
- Não consigo encontrar o saca-rolhas para abrir a garrafa.
- Arranja um parafuso comprido e um alicate.
Enrosquei o parafuso na rolha de cortiça, depois com o alicate puxei com força, e consegui retirá-la. Vieira dá uma ideia:
- Já viste o negócio se aquelas gajas andassem nuas, era casa cheia de dia e de noite.
- Vieira, no tocante a isso tenho opinião formada. Foi o cristianismo que nos impôs o andarmos todos tapados. É pecado mostrar a nudez.
- Não acredito em Deus!
- Porquê?
- Isso é tudo uma grande aldrabice. No fundo é uma grande empresa de estrutura vertical. O Papa é o presidente do conselho de administração. Os Cardeais são administradores. Os Bispos são directores. Os Padres, chefes de departamento e os Fiéis, são os operários.
- Vieira, não acreditas em Deus… ou na Igreja?
- Nem numa coisa nem noutra.
- Ensinaram-me que quanto mais o negares, mais nele acreditarás.
- Mas o que é que tu queres?! Sou ateu. Não posso ser ateu? Não perco tempo com religiões.
- Parece-me que o ateísmo é uma religião. É como aquele indivíduo que diz que não quer saber de política, mas na realidade está a exercer um acto político. O de não ser político. Quando nos sucede algo que não podemos controlar, gritamos. Ai meu Deus!
- Mas o que é que tu queres?! Mantive um estreito relacionamento com um padre católico. A nossa intimidade fazia-me crer que a amizade seria eterna. Dei o meu contributo com algum dinheiro para ajudar a Igreja. Num determinado momento senti-me numa situação aflitiva. Roguei-lhe o seu apoio. Pura e simplesmente fui abandonado, desprezado. Quanto à nudez, a os dicionários há bem pouco tempo evitavam falar sobre tudo o que se relacionasse com o sexo… isso deve-se à Igreja.
- Não te esqueças que a Igreja é composta simplesmente por seres humanos.
- Mas o que é que tu queres?! Por seres humanos (?). Então não dizem que o Papa é eleito por Deus? Não sabes que o Papa João Paulo II tentou interferir na Internet? Queria controlo, que a Internet deixasse de ser livre, mas ninguém lhe ligou. E ainda bem.
Abrimos a segunda garrafa, Vieira exclama:
- Sinto-me orgulhoso em ser português por causa destes vinhos. Viva o Dão Meia Encosta!
- Mas és português ou angolano?!
- Eh pá!.. não me fodas! Aqui sou angolano, em Portugal português. Já te disse que sou um cidadão do mundo. Olha… os pregos no pão já acabaram. Vou retirar algumas lagostas da arca e preparar um molho que…
- Com o bom azeite…
- Sim tens razão. O bom azeite português. Outro produto do qual muito me orgulho. Viva Portugal! E os portugueses pedófilos que se fodam. Entretanto a Igreja parece que não se dá conta de que promove a pedofilia. E ficam incólumes.
- Vieira, já te disse que são apenas seres…
- E também querem promover o homossexualismo, mas o Papa não admite isso. Então para os chatearem, vários países já o legalizaram. Pouco falta para se estender ao resto do mundo.
- Na África não.
- Oh! Esses são uma cambada de atrasados.
- Vieira, apenas defendem as suas tradições.
- Enquanto assim procederem nunca avançarão em nenhuma frente.
- Mas agora somos todos obrigados a sermos homossexuais?
- Mas o que é que tu queres?! Se eles já nasceram assim, temos que respeitá-los.
- E casados? Como farão filhos?
- Adoptam-nos.
- E depois educam-nos para serem também homossexuais?!
- Não é nada disso, se não fazem filhos, não será por causa disso que a humanidade se extinguirá. O homossexualismo existe desde a criação do ser humano. Legalizando-o até tende a diminuir.
Vieira abre a terceira garrafa e canta:
- Ai meu vinho Dão Meia Encosta, não há cor igual há à tua. Porra! Isto é mesmo bom! Não existe no mundo nada igual. Nem o paraíso se lhe compara. Entre uma boa gaja e este vinho, escolheria o vinho.
- Sabias que o vinho nos seus primeiros tempos era considerado uma droga, divino, assim como a oliveira, reis eram ungidos com azeite.
- Sim sei disso. O culpado disto tudo foi o Carlos Magno. Antes de uma grande batalha, sonhou que viu uma cruz no céu. Ganhou a batalha e tratou de entregar tudo à Igreja. Por isso o Papa Leão III em gesto de agradecimento corou-o como Imperador do Ocidente. É como o Marx. Ele é o Cristo e Estaline a Igreja.
- Vieira, não estou a entender.
- Mas o que é que tu queres?! A igreja ficou com tudo. Depois aniquilaram os Cátaros e os Templários, apenas para os roubarem. Nem as terras escaparam. O Infante D. Henrique, o Navegador, conseguiu as suas aventuras marítimas à custa dos bens dos Templários. A história do cristianismo é uma história de massacres, genocídio de povos, roubos das suas obras literárias, e dos seus conhecimentos científicos. Com a Inquisição terminam, finalmente por aniquilar qualquer oponente, e ficar com os seus bens. Quando um membro da Inquisição sabia que alguém tinha algo valioso que lhe interessava, enviava-o para o braço secular do Santo Ofício, sem testemunhas para se defender. Tudo em nome de Deus. Mas a melhor monstruosidade que a Igreja Católica inventou, foi um demónio chamado Torquemada. Este demónio inventou instrumentos de tortura, que duvido existirem no inferno. Era mais ou menos como o 007, tinha ordens para matar. Tinha um prazer divino em matar. Como é que eu vou acreditar nesta quadrilha de malfeitores?!