terça-feira, 31 de maio de 2016

Carta de um amigo de verdade. Carlos Alberto, Dezembro de 1979



Carta encontrada algures “abandonada”. Carlos Alberto, estejas vivo ou morto, o meu abraço, da Tereza, da Dora e do Sérgio, na eternidade jamais te deixará. Meu grande amigo que nunca mais te vi, e que pelos vistos jamais te verei. Mas tens o teu lugar garantido na morada do meu coração. A Tereza, a Dora e o Sérgio também têm moradas permanentes para ti nos seus corações.

Algés, (arredores de Lisboa, Portugal) 20 de Dezembro de 1979
Amigo Gonçalves:
Vai fazer ano e meio que não recebo notícias tuas, ou melhor desde que deixei Angola que não sei nada de ti. Soube há coisa de dois, três meses que já não estás na Contáfrica, que tinhas regressado à NCR. Soube isto por intermédio do G. Marques.
Se não me engano em Abril escrevi-te para a Contáfrica. Não sei se te entregaram a carta. Esta vai registada.
Estou ansioso para saber notícias tuas, da Tereza e dos meninos; notícias da NCR; etc. Praticamente mais nada soube de Angola, desde que daí saí. Recebi apenas notícias do Morais do Departamento Técnico.
Eu encontro-me bem fixe, tanto física como espiritualmente.
Queria-te enviar umas coisas (livros), mas primeiro quero receber notícias tuas.
Estou a escrever esta carta nos meus serviços. Trabalho em Algés, na REDEVENDAS, SARL, é uma empresa que fabrica refeições congeladas.
Se quiseres alguma coisa para os teus Pais, manda dizer.
Não me recordando de mais, termino. Desejo-te um Natal Feliz e um ANO NOVO cheio de REALIZAÇÕES, bem como à Tereza e aos meninos
Recebe um abraço bem fixe do amigo que não esquece os amigos.
Carlos Alberto.
P.S. Anexo uma “LEI DO TRABALHO.” (de Alan Kardec (1804-1869).

Kardecismo. doutrina reencarnacionista formulada por Allan Kardec (pseudônimo de Hippolyte Léon Denizard Rivail, escritor francês, 1804-1869), que pretende explicar, segundo uma perspectiva cristã, o movimento cíclico pelo qual um espírito retorna à existência material após a morte do antigo corpo em que habitava, o período intermediário em que se mantém desencarnado, e a evolução ou regressão de caráter moral e intelectual que experimenta na continuidade deste processo.
In Dicionário Houaiss







sábado, 28 de maio de 2016

O SUBMARINO ANGOLA (02)



Já está na hora do não acreditar.
“O que a África necessita é de instituições fortes, e não de homens fortes.”
“Houston, temos um problema.”
E o nosso submarino Angola lá vai, cai, desgovernado se esvai, ai, ai!
Este nosso submarino não tem escapatória, nem ninguém que lhe abone uma promissória. Este nosso submarino é a nossa nota vexatória.
O submarino Angola sem rumo vai para onde? Vai mergulhando, se afundando, nos abandonando, de presos políticos se enfardando. 
O submarino Angola foi construído para preservar a paz, a reconciliação nacional, a democracia, o bem-estar das populações, o fim da mortandade das crianças, o fim da miséria e da fome. O submarino Angola é a esperança dos dias melhores que já surgem no horizonte do nosso oásis bíblico. O submarino Angola foi abençoado por Deus, o nosso Deus, nada mais dele tendo a exigir ou reclamar. 
Aqui, algures na Ingombota, há trinta dias que estamos sem interrupções de energia eléctrica. A água não falta, apesar de amarelada, isso deve-se às intensas chuvas, mas isso não significa que seja imprópria para consumo. Que Deus abençoe o ministro da energia e águas, João Baptista Borges.
E nesta república do tudo tão efémero, depois do reforço da cooperação com a China, há seis dias que estamos sem água na zona da Igreja Adventista do Sétimo Dia, na Rua rei Katyavala, em Luanda, e que se estenderá por outras zonas, não existindo informação que o confirme. Não se sabe o que aconteceu, ninguém diz nada, como parece ser a agora reforçada normalização da praxis da instituição da imposição do comunismo chinês. Sim, os chineses estão a orientar os trabalhos da água mas ela desapareceu, que pelos vistos foi desviada para a China. Cada vez pior, sem soluções porque creio que já não temos massa cinzenta, - será que alguma vez a tivemos?, - está muito bolorenta. Do partido no poder é só sofrer e da oposição é o ficar sem solução. Angola acabou. 
Patriotismo é libertar os presos políticos e nos seus lugares colocar os corruptos. Enquanto um corrupto não for preso, os argumentos da governação nada valerão. E as leis da Igreja se incendiarão.
O mais importante é saquear. Vamos saquear Angola.
O que é a África? É um gigantesco campo de refugiados, de esfomeados. A África é o continente onde cada ditador faz a sua chacina.
O grande erro de Samakuva na entrevista à TPA – Televisão do “Partido” de Angola: Depois de vinte anos, Samakuva, como uma aparição do além, invadiu os nossos ecrãs, quase todo o tempo de uma hora de programa a falar de eleições. Acontece que nem um momento se referiu sobre os presos políticos. E isto é grave, muitíssimo grave. Torna-se muito difícil aceitar uma Unita assim, que se esquece dos presos políticos. Creio que apenas quer a todo o custo substituir uma ditadura por outra, não dá. Mas que estranha democracia.
Há uma comissão de reestruturação do banco BPC-Banco de Poupança e Crédito. Isso significa que o BPC faliu. Então a bolha bancária vai rebentar nos outros bancos. É isso que costuma acontecer, não é?!
Tudo o que sou devo-o ao meu pai e à minha mãe, pois foram eles que me geraram.
E as crianças muangolés brincam com os seus carros. E as crianças gritam que os carros dos bandidos são muitos e os da polícia apenas três.
Uma receita terrorista? Um libanês de uma pisaria junto à Igreja Adventista do Sétimo Dia, na rua rei Kayavala, levanta pelo pescoço uma criança muangolé de quatro anos, deixa-a numa cadeira e depois exclama triunfal: “Isto faz com que o menino fique forte.” Os pais juraram que nunca mais ali irão com os seus filhos.
Os efeitos da crise: no minimercado Pomobel na rua Rei Katyavala: a batata rena e a banana vendem-se com baratas. As batatas e as bananas estão inundadas de baratas. Prenúncio do horrível futuro que aí vem. As baratas vencerão.
Entretanto oiço o som triste de um piano. E penso no que aqui faz uma pessoa ficar alegre. Nada, absolutamente nada.
Esta expectativa é como o início de uma batalha, onde se faz por adivinhar a estratégia do adversário.
E o submarino Angola lá vai sem rumo. O seu casco tem inúmeros contactos com as superfícies montanhosas, rombos na superfície económica que de tantos já não dão para reparar. Vai metendo água, tudo se improvisa, se resolve durante alguns dias, meses, mas as soldaduras dos rombos regressam como as obras descartáveis. No submarino Angola repara-se aqui e depois surge outro rombo ali. O submarino Angola é como o asfalto das estradas, hoje está muito operacional, amanhã está na evaporação total.


quinta-feira, 26 de maio de 2016

O SUBMARINO ANGOLA (01)



INTRODUÇÃO

Esta é a idade moderna dos submarinos dos países da submersão, que mergulham os seus povos na exclusão, na permanente subversão. Antes foi a idade dos séculos dos reis, agora ainda não se sabe que tempos são estes.
Como uma pessoa que abalou, como uma pessoa que diz adeus a tudo em que acreditou.
As populações perderam a esperança, morrem à fome, mas a Igreja sempre caridosa diz que isso é a vontade de Deus.
Quando o vice-presidente do submarino Angola viaja num avião particular, desses dos tais jet stream, para o Uganda em representação do presidente da república, algo está mal, muita coisa está muito mal porque não é possível perante a anunciada crise petrolífera, sem medicamentos nos hospitais para salvar crianças, as principais vítimas porque indefesas, as pobres coitadas não se sabem defender - que morrem como moscas atacadas por insecticida, o vice-presidente vá esbanjar, a riqueza evidenciar num avião de alto luxo. Crise para nós, opulência para eles. Ó santo Deus! Diabólico Deus que não passas de uma grande merda, pois permites, incentivas tais desprezos pela vida humana. E sendo assim, só o demónio nos salvará.
Depender única e exclusivamente do preço do petróleo, assim como creio que o mais indicado é não perder tempo com essa coisa que dá pelo nome de oposição – os chamados partidos políticos da oposição – porque já nos bastam as desgraças que temos. Oh, como é tudo incipiente!
As nossas vidas dependem dos submarinos políticos, sociais, económicos, da corrupção e nos últimos tempos, dos desastres naturais da política do deixa andar.
Por mais que se tente combater essas tragédias naturais e as outras humanas também naturais, - é tudo tão natural - os submarinos das nossas vidas mergulham-nos no mais profundo abismo das nossas almas. E por todo o lado se escutam os sacerdotes do falso Deus – sim, essa coisa de Deus é a mais atroz falsidade que uma seita de seres humanos, os profetas da malvadez inventaram e que apesar de já quase todos sabermos que isso é a negociata criminosa que abastece a associação de malfeitores da Igreja, ela mantêm-se hipocritamente como a defensora da verdade de Deus, quando na verdade é a grande impostora. O submarino da Igreja é o nosso pior abismo porque ela é a origem dos abismos. Porque morrer em nome de Deus em vão, todos perecerão.
As igrejas do submarino de Angola tentam por todos os meios arrastar o submarino de Angola para o abismo religioso, e creio que já o conseguiram, porque seguem escrupulosamente as estratégias do Ruanda de, quantos mais genocídios melhor. De padres não tem nada e de Bispos é o submarino do abismo da Igreja que se anuncia.
Dominar um povo? É muito fácil. Basta o submarino corrupto de Angola e vacinas diárias da corrupta religião. E com uma dúbia oposição política, o casamento é mais que perfeito, é eterno. Tal e qual como a arca da aliança, o cristianismo é o maior inventor de mentiras. A religião é o submarino político da repressão. Como a hipocrisia dos adultos que fingem esquecer que já foram crianças, que já foram filhos, e tratam os seus filhos como seres de outro mundo.
Disse o Bispo do Uíje, citado por Sediangani Mbimbi: “ o cristianismo veio para África nas costas do Diabo.”
E na sua imensa podridão, de presos políticos vive uma nação, é esta a sua angolanização, a sua condição, é também esta – como não podia deixar de ser - a sua (C)constituição.
Hoje, 13 de Maio de 2016, os preços da comida subiram outra vez. Rápida e seguramente, quer se queira, quer não, não haverá salvação. Sem dúvida alguma que neste momento, e nos próximos, Angola está com desmesurada força desestruturada e descontrolada, porque hoje – e amanhã - os preços da comida voltaram – voltarão - a subir, o que significa que Angola está na bancarrota. Como disse um amigo meu, Angola acabou!
E o submarino dos portugueses, que navega ao deus-dará, muito confiado no submarino de Angola, vive os seus derradeiros dias: “Daniel Rosário. Boa tarde a todos, infelizmente, devido a actual situação do país o meu cunhado viu-se obrigado a comprar euros na rua, mais propriamente na zona da marginal de Luanda junto á Ensa, neste momento está metido numa carga de trabalhos em Portugal, porque metade dos euros eram FALSOS, cuidado pessoal.”
No fundo quer queiramos quer não vivemos como Robinson Crusoe. Angola é a nossa ilha dos náufragos. Como o sempre viver da expectativa da oposição política e da sua incipiente democracia.
Na boca da população: enquanto eles não saírem do poder, a miséria e a fome continuarão, e os preços mais subirão.
Para quê esperar mais que o preço do petróleo suba, para quê perder tempo com isso.
Pela noite já avançada vai uma jovem deficiente física de uma perna, bem cedo vitimada pela poliomielite. Dizem que tem vinte anos. É a miséria total, completa que a faz encostar nos seguranças que vigiam o desespero dos seus clientes dos assaltantes que esfomeados tentam por todos os meios sobreviver. A jovem aleijada manobra para um pequeno grupo de seguranças tentando vender o seu corpo em troca de cem kwanzas – ao que o valor do corpo chegou, ao zero – e logo os seguranças fazem fila. Despachou um grupo deles. Mesmo aleijada consegue facturar, a cupidez saciar. Os seguranças depois de se fartarem do seu corpo prometeram-lhe que dentro de dois dias lhe pagariam. E ela veio para lhes cobrar os serviços prestados e eles pagaram-lhe… com pancadaria, surraram a desgraçada. E ameaçaram-lhe que “queres mais, não te chega?!”.
Ao que chegámos, em que cada país é um submarino onde as suas populações se sentem inseguras porque não sabem se é hoje que chegou a sua hora. Nos dias de hoje é tão facilmente morrer. Quer dizer, saímos de casa e não sabemos se voltaremos para junto dos nossos filhos, se os veremos, porque estamos à mercê, reféns do que se chama civilização. Dum lado a opulência e do outro a subserviência. Dum lado a democracia e do outro a cleptocracia e a democracia que apoia a tirania. A democracia que abandona a África à sua sorte.
E o submarino Angola vai mergulhando, nas profundezas se afundado.

Ao longe ouve-se o cantar de uma música “estamos a sofrer, tenham pena de nós.”

terça-feira, 24 de maio de 2016

QUADRAS. ANTÓNIO ALEIXO (1899-1949)



A fartura ao pé da fome
Raramente se dá bem
Quase sempre quem tem, come
À custa de quem não tem

A fome, a dor, a tristeza
São – por nossa infelicidade
O preço por que a pobreza
Paga a sua honestidade

Há tantos burros mandando
Em homens de inteligência,
Que às vezes fico pensando
Que a burrice é uma ciência

Quem prende a água que corre
É por si próprio enganado
O ribeirinho não morre
Vai correr por outro lado

Sei que pareço um ladrão
Mas há muitos que eu conheço,
Que, não parecendo o que são,
São aquilo que eu pareço

Embora os meus olhos sejam
Os mais pequenos do mundo,
O que importa é que eles vejam
O que os homens são no fundo

Eu não tenho vistas largas,
Nem grande sabedoria,
Mas dão-me as horas amargas
Lições de filosofia

Uma mosca sem valor
Pousa co'a mesma alegria
Na careca de um doutor
Como em qualquer porcaria

Sou um dos membros malditos
Dessa falsa sociedade
Que, baseada nos mitos,
Pode roubar à vontade

Nós não devemos cantar
A um deus cheio de encantos
Que se deixa utilizar
P'ra bem duns e mal de tantos

Veste bem já reparaste
Mas ele próprio ignora
Que por dentro é um contraste
Com o que mostra por fora




sábado, 21 de maio de 2016

DIÁRIO DE UM FAMINTO (12)



De facto o ódio não resolve nada, por isso usem a cabeça. Há sempre uma solução para tudo. Sobretudo, nunca entrem em pânico. Há que manter a cabeça fria.
Todos querem dominar o mundo, mas esquecem-se que o mundo tem milhões, muitos milhões de pessoas.

O mais importante é pensar… se nos deixarem, claro, o que por aqui é quase impossível porque somos comandados por um exército de não pensadores.
António Pereira de Campos. Escola Secundária do Fundão. Concordo com a sua... insinuação... contudo pelo que vemos e lemos, o mundo entrou todo, sem excepção, na corrupção e por inerência dessa corrupção, envolveu-se nos off-shores. Como o dinheiro não tem religião, partido ou cor, se não entrar no nosso País, irá entrar noutros Países também não escrupulosos. As decisões têm de vir de cima, porque isolados nada conseguiremos e tudo se manterá favorecendo outros e deixando o nosso País (Portugal) na... agonia... da falta de fundos/dinheiro.
Isto por aqui está a ficar bom demais porque me confidenciam, me garantem que a mulher é a serpente mais perigosa que existe no mundo.
Creio que deve ser criada uma lei universal que obrigue as famílias a viverem para sempre juntas e, mais do que tudo, em paz.
Como é muito triste assistir à ruína de tudo.
O segredo de viver, de sobreviver neste mundo, é sem dúvida alguma a hipocrisia. E necessita-se de muita experiência para se atingir tal desiderato.
Onde há fome, há muita confusão.
Na província de Benguela os centros de hemodiálise estão em risco de parar porque não têm medicamentos, porque a centralidade de Luanda não os envia. São cerca de quatrocentos doentes que abandonados não conseguirão sobreviver, porque o petróleo os abandonou. Petróleo, o grande amigo de alguns e feroz inimigo de milhões.
Por aqui todos os caminhos nos levam à infelicidade.
E os mwangolés descobriram o segredo de como acabar com a miséria e a fome. Vão todos os dias para as igrejas rezar, na vã, na falsa esperança que um malvado bispo ou padre lhes salve. Mas não, porque quanto mais rezarem, mais fome será a sua salvação.
Sem acção, as palavras ficam inúteis. Como aquele ao que se grita que não nade na praia no local do perigoso redemoinho. Ele insiste, é arrastado no turbilhão das águas e desaparece.
Dúbias ambições políticas não conduzem a nada.
Creio que por vezes a oposição angolana confunde-se muito com o partido no poder. É só linguajar e isso não nos liberta da miséria e da fome, muito pelo contrário, é o acentuar da desilusão. Têm que dar lugar a outras vozes, rejuvenescer.

Os mercenários portugueses tudo fazem para se manterem no saque.
Incluindo o declararem-se grandes amigos do povo angolano e louvando os desaires da miséria e da fome da grande maldição do petróleo.
Como o português – mais um - andarilho cigano, Francisco Moita Flores, em entrevista ao Jornal de Angola para defender o seu negócio da voraz rapina que considera que "muitos dos críticos das decisões das autoridades angolanas estão armados de um paternalismo moral, muitas vezes a rondar a beatice". E o diabólico dinossauro adianta para encher os seus bolsos, enquanto nós por aqui já não acreditamos nessa tal maldita esperança: “ Na maioria são ignorantes das realidades que criticam.” Mais um para a majestosa fogueira da bastilha.
Quando alguém diz – e todos dizem – que Angola não tem dólares nem euros, aparece sempre um militante do PCP-Partido Comodista Português, ou similar, a defender que as divisas dos bancos são enviadas para as ruas. Mas o que acontece é que nas ruas também não há dólares nem euros. Creio que já é hora dos comunistas/comodistas portugueses abandonarem a política da terra queimada, porque isso também os incendiará. Como é impressionante verificar que passado um ror de anos a África negra ainda contrata, depende de mercenários para ultrajar e manter na miséria e na fome as populações à mercê, reféns de tal bandidagem. Ó brancos!, deixem os autóctones em paz.
Um amigo português confidenciou-me que a principal característica deste mercenarismo é que quando um português está com angolanos fala mal dos portugueses e quando está com portugueses fala mal dos angolanos. Mas, se estamos na miséria extrema como é possível ouvir esses mercenários tecerem considerações de que Angola ainda é um paraíso, o local eleito por Deus para se viver. Essas intempéries de palavras provocam ódio, mal-estar, desgraça e como sempre sucede, os inocentes é que sofrem as consequências.
Para tais mercenários o que importa é defender a corrupção como factor de desenvolvimento, que daqui a pouco tempo tudo se resolverá, uma nova vida surgirá. Sim, sim, só para eles e para nós nada será.
Pois não, eles nunca falam da corrupção, porque senão não se alimentarão. E devido a isso só provocam mais confusão. Quem nos dias de hoje não se sente aterrorizado pelo simples facto de ser assaltado em qualquer lado, até em casa. Como o último exemplo de há dois dias, de noite quatro bandidos tentaram entrar no prédio, mas foram interceptados por seguranças, senão seria uma razia em todos os apartamentos. Claro que para os mercenários isto são coisas normais, não há motivos para alarmes.
Angola é a pátria, o santuário dos mercenários.
E nesta correnteza de incerteza um caudal é certo: o desgovernado submarino Angola continua no seu mergulho para as profundezas abissais, porque não há ninguém com coragem para assumir o seu comando e o liberte da incomensurável tragédia que se faz presente do comando ausente.
Entretanto a Ibéria, uma companhia aérea espanhola anunciou que a partir do próximo dia um de Junho de 2016 não efectuará mais voos para Angola. Significa que a crise se agudiza, que outras companhias seguirão o mesmo caminho e depois só … a nado.

Frases
A diferença entre uma democracia e uma ditadura consiste em que numa democracia se pode votar antes de obedecer às ordens. (Charles Bukovski. 1920-1994)
As guerras demoradas terminam sempre com a destruição ou a desgraça dos dois beligerantes. (Xenofonte. ?430-354 BC)
A tirania é um hábito com a propriedade de se desenvolver e dilatar a ponto de tornar-se doença. (Dostoyevsky. 1821-1881)
Destino: aquilo que autoriza os crimes do tirano e serve de desculpa para os fracassos do idiota. (Ambrose Bierce. 1842-?1914. Um escritor americano conhecido pelas suas curtas histórias, desaparecido no México onde nunca foi encontrado)
Entretanto, bajulando os pintos vão piando, e sem asas, inúteis voos vão alçando.




quinta-feira, 19 de maio de 2016

Eu queria cantar para dentro de alguém. Rainer Maria Rilke (1875-1926)


Chegou sozinha. ELPAIS


PARA RECITAR ANTES
DE ADORMECER

Eu queria cantar para dentro de alguém,
sentar-me junto de alguém e estar aí.
Eu queria embalar-te e cantar-te mansamente
e acompanhar-te ao despertares e ao adormeceres.
Queria ser o único na casa
a saber: a noite estava fria.
E queria escutar dentro e fora
de ti, do mundo, da floresta.
Os relógios chamam-se anunciando as horas
e vê-se o fundo o tempo.
E em baixo ainda passa um estranho
e acirra um cão desconhecido.
Depois regressa o silêncio. Os meus olhos,
muito abertos, pousaram em ti;
e prendem-te docemente e libertam-te
quando algo se move na escuridão.

SOLIDÃO

A solidão é como uma chuva.
Ergue-se do mar ao encontro das noites;
de planícies distantes e remotas
sobe ao céu, que sempre a guarda.
E do céu tomba sobre a cidade.
Cai como chuva nas horas ambíguas,
quando todas as vielas se voltam para a manhã
e quando os corpos, que nada encontraram,
desiludidos e tristes se separam;
e quando aqueles que se odeiam
têm de dormir juntos na mesma cama:
então, a solidão vai com os rios…

Os poemas constam de O Livro
das Imagens, e transcrevi traduções
de Maria João Costa Pereira,
em publicação de Relógio d’Água
Editores, Lisboa, 2005.

Da Vikipédia:
Sua poesia provocava
a reflexão existencialista e instigava
os leitores a se defrontarem com
questões próprias do desencantamento
da primeira metade do século XX.
Sua obra foi influenciada pelo
Expressionismo e influenciou muitos
autores e intelectuais de diversas
partes do mundo.



segunda-feira, 16 de maio de 2016

O Que Faz Falta. José Afonso (1929-1987)



Quando a corja topa da janela
O que faz falta
Quando o pão que comes sabe a merda
O que faz falta
O que faz falta é avisar a malta
O que faz falta
O que faz falta é avisar a malta
O que faz falta
Quando nunca a noite foi dormida
O que faz falta
Quando a raiva nunca foi vencida
O que faz falta
O que faz falta é animar a malta
O que faz falta
O que faz falta é acordar a malta
O que faz falta
Quando nunca a infância teve infância
O que faz falta
Quando sabes que vai haver dança
O que faz falta
O que faz falta é animar a malta
O que faz falta
O que faz falta é empurrar a malta
O que faz falta
Quando um cão te morde a canela
O que faz falta
Quando a esquina há sempre uma cabeça
O que faz falta
O que faz falta é animar a malta
O que faz falta
O que faz falta é empurrar a malta
O que faz falta
Quando um homem dorme na valeta
O que faz falta
Quando dizem que isto é tudo treta
O que faz falta
O que faz falta é agitar a malta
O que faz falta
O que faz falta é libertar a malta
O que faz falta
Se o patrão não vai com duas loas
O que faz falta
Se o fascista conspira na sombra
O que faz falta
O que faz falta é avisar a malta
O que faz falta
O que faz falta é dar poder a malta
O que faz falta


quarta-feira, 11 de maio de 2016

OS ABANDONADOS DO PETRÓLEO



A infantil prostituição
É o ganha-pão
E os pedófilos
Nunca dizem que não

Nesta república das mentiras
Onde todos os dias são 1 de Abril
Tudo corre às mil tiras
E de desgraças mil

Oposição que muito fala mas nada faz
Claro que é ineficaz
De nada mais é capaz
É mais um prometido cabaz

De tantos militantes falsos
Que nos levam para os cadafalsos
E lá nos deixam silenciados
Desaparecendo aos bocados

E da oposição pobre coitada
Dela não se espera nada
A efeméride da efémera oposição
Como o ladrar de um cão

E tudo cada vez mais se complica
Porque nada se edifica
É como dirigir um país com chicote
Sem que dele nada mais brote

E nestas matanças
Onde hajam crianças
E das prisões arbitrárias
Dos presos políticos nas celas solitárias

Até nas demolições
Cortam cabeças de crianças
Vêm com camiões
E outras bélicas alianças

Nas ruas não se pode vender
Não é possível comer
É impossível viver
O pior está para acontecer

A morte está em todo o lugar
Não há como lhe escapar
Não dá para a taxa do lixo pagar
Sob a palavra de ordem desempregar

Os presos políticos lá estão
Abandonados pela oposição
E pela Igreja da falsa religião
Como isto vai acabar não sei não





terça-feira, 10 de maio de 2016

DIÁRIO DE UM FAMINTO (11)



Somos seres humanos, mas na política somos desumanos
Que nos outros países, até no mais avançado, também têm taxas de pagamento do lixo. Pois é, só que nesses países a lei cumpre-se e por cá é de fingir, fugir.
Liguei do meu telemóvel para o que ainda creio que resta de um amigo, ele está mesmo como um monte de destroços porque me disse que está há seis dias sem energia eléctrica e que os seus vizinhos estão a morrer, muita gente a morrer. E que me defendesse, que nos defendamos. Disse-lhe que, creio que isso é o facto consumado da extinção da África Negra. Ele insistiu, é pá, defendam-se! Desliguei-lhe o telefone porque ainda não faço parte desse clube dos malucos.
Mesmo independente, por incrível que pareça o saque da África Negra continua muito voraz.
A opinião que se tem é o do voltar atrás, para o saudosismo do passado mantendo o ser humano apenas numa linha de pensamento, proibido de pensar, ficando tudo como estava no terror da repressão.
Durante meia dúzia de anos andou por aqui nesta Rua das Sirenes, um chinês das multitarefas. De repente desapareceu, passados quatro meses alguém o viu nos Mulemvos. Ele preparava-se para fugir para a China, foi apanhado em plena fuga, não quer mais ficar em Angola. Está preso em regime de trabalho forçado porque não acabou o seu contrato de trabalho com um general.
Apoiar ditaduras é fortalecer, é manter invencível o terrorismo.
Quando penso no estado caótico de Angola, sem querer rio-me de tal absurdo.
Até dá a impressão que a principal função do Governo Provincial de Luanda, é perseguir mulheres indefesas, excluídas dos circuitos da corrupção. Nas ruas diariamente enfrentam os inescrupulosos cumpridores das leis do livre-arbítrio. As desalojadas da vida já nem dinheiro conseguem ganhar para comprar um pão, quanto mais para pagar o imposto do lixo. Os cidadãos deviam isso sim, pagar voluntariamente uma taxa para limpar a grande lixeira instituída.
Na Guiné-Equatorial, Teodore Obiang, foi reeleito com noventa e oito por cento dos votos para um quinto mandato. Pela evolução, facilmente se depreende que infalivelmente no sexto mandato será reeleito com… duzentos por cento dos votos.
De, Costa Junior: “Esta manhã, 25 de Abril 2016, num debate na LAC (onde fui convidado por iniciativa do NCC em parceria com a Universidade Lusíada), o Deputado João Pinto afirmou, esclarecendo-nos a todos que: "as autarquias e o poder local não fazem parte do programa de governação do Mpla"!...
A função da religião é o analfabetismo das populações, e assim no obscurantismo, as subjugar. Escravas do medo ficam submissas a dois poderes: o poder de um Deus inventado, e o poder na terra Dele imanado em governos. Duas ditaduras, uma no céu e outra na terra. Utilizando o estratagema de Deus, reprime-se, age-se à plena vontade. E quem destas leis sair fica preso político. Um país de presos políticos.
A panela de Angola está a ferver?, está?! Deixa-a ferver, põe-lhe mais lenha para lhe atiçar o fogo. Hum, hum, mas que grande fogueira vai dar.

Viver dos sonhos do petróleo origina os pesadelos da miséria e da fome
E para Angola é melhor preparar já um fundo de emergência para a catástrofe humanitária que se aproxima. A fome e a anarquia governam Angola.
Angola, a refém da máfia chinesa e portuguesa.
Os dias que se aproximam são os dias da morte, só os governantes, da morte escaparão, as ruínas de Angola serão o matadouro da população. E do poder da morte desta governação ninguém lhe escapará. É a minoria que finge governar, mas que infelizmente corre o risco de não se poupar, porque povo sem pão, é morte, é o caos da revolução. Povo à fome abandonado é povo amotinado, do tudo queimado.
Aqui nem sobreviver dá, porque se multiplicam os canibais.
Por incrível que pareça, nota-se claramente que há uma vontade férrea de transformar Angola noutra Coreia do Norte. O sintoma mais visível é a declaração nacional da fome, um país, um exército de famintos. As esposas arranjaram namorados para sustentarem os seus lares.
Se até agora os países africanos não conseguiram as suas verdadeiras independências, então nunca o conseguirão.
Já lá vão quatro manhãs de chá de cascas de banana.
A oposição quer o poder em 2017, ano das eleições, mas até lá quantos eleitores sobreviverão das epidemias, da miséria e da fome. Quando o corpo não recebe alimento as epidemias alastram, matam como moscas a caírem sob a acção de um insecticida.
Empresários do dinheiro do petróleo que nunca fabricaram nada e como não sabem fazer nada nunca sairão da crise, muito pelo contrário, ela se exacerbará.
Quando carregava a minha penn drive de acesso à Net da Unitel, com novecentos kwanzas tinha de bónus cem por cento, agora só fico com uns míseros quinhentos megabites.

Não há vencedores sem vencidos. Só que os vencidos são aos milhões e os vencedores apenas meia dúzia, são deuses e os vencidos seus escravos.
Se o ministério da saúde não faz pulverizações para eliminação dos mosquitos, quer dizer que há interesses inconfessos, negociatas para vender muitos medicamentos e com isso ganhar as célebres comissões. Creio que a vacina contra a malária já está pronta, claro que é preciso guardar segredo, adiar porque senão perde-se o negócio.
Pergunta: se os presos políticos angolanos são acusados de receberem apoio do Ocidente, então Angola recebe apoio da Coreia do Norte? Isso, porque o jovem Nito Alves, na prisão como preso político, em mais um processo-crime por escrever na sua camisola foi acusado de destruição de bens públicos. É bem notório, pois os seus captores disseram-lhe que apodrecerá na prisão. O que não tem nada de extraordinário, pois que é normal regimes autoritários em fim de carreira assim procederem.
Quando uma sociedade perde a universalidade dos seus valores, desaparece, extingue-se, porque o poder que a domina, para sobreviver chama a invasão de estrangeiros para a perpétua dominação. Mas isto é um dos capítulos da ensanguentada revolta da história universal dos escravos.
O poder e os seus servos portugueses e chineses cavam as suas desventuras. Porque quem fiel aliado da corrupção, bom fim não tem, não.
Comércio livre é importar o lixo comercial, industrial e a poluição da China.
Desistir, abandonar as memórias do passado nas quais acreditamos, e que no futuro verificamos serem inúteis., exceptuando pai e mãe, tudo o mais se revela de uma atroz inutilidade. Tanto que acreditámos nos nossos amigos do passado, e no futuro por eles abandonados. Tão vastos anos a contar com a incondicional amizade deles. Sim, é verdade, a vida não tem sentido. As pessoas perderam as suas faculdades intelectuais. Verificamos que apenas alguns resistem, sobrevivem. Sempre foi assim, e assim sempre será.
Só o crime triunfa.
O maior problema de Angola é que há muitos declarados criminosos que a todo o momento atentam contra a vida das populações. Protegidos, porque sem lei exercem as suas actividades comandados pela morte. E isto traz, trará, funestas consequências.
As independências na África negra não resolveram problemas, muito os complicou. Assim a África negra está a falir.

Frases
“O inferno está vazio e todos os demónios estão aqui.” (William Shakespeare. 1564-1616)
“Você já sustentou um corrupto hoje?” (Autor desconhecido)
É preferível morrer pelo fogo, em combate, a morrer em casa, pela fome. (Fidel Castro)
“ Se todo o dinheiro desviado pelos corruptos tivesse sido usado para construir e manter hospitais, quantas vidas não teriam sido salvas? Todo o corrupto é assassino.” (Autor desconhecido)

Entretanto, bajulando os pintos vão piando, e sem asas, inúteis voos vão alçando.

segunda-feira, 9 de maio de 2016

A REPÚBLICA DAS MENTIRAS



Esta é a república do todos os dias
São dias da mentira
É a república do fingir
Dela todos a fugir

E quem a miséria e a fome denunciar
É preso político para esquartejar
Da instituição nacional do torturar
Como desgraçados nas prisões acabar

Contra os ventos da história a lutar
Com mais um abanão o poder vai acabar
A fingir que há democracia
A fingir que a noite é dia

Fazer de Angola e África um braseiro
E pelo mundo inteiro
É no que dá apoiar corruptos
E os seus poderes absolutos

E nesta filial chinesa
E também portuguesa
Todos para a prisão irão
De presos políticos jaz esta nação

Ah! Se pudéssemos acabar com a oposição
E dos críticos, essa aberração
Finalmente sós num só partido
Num estado totalitário pervertido

A corrupta Igreja de Angola nos abraça
Com o chicote de Deus nos ameaça
Estamos muito felizes na desgraça
Os padres fingem que nada se passa

Ovos serão produzidos aos milhões
Cacussos, outros peixes e mexilhões
No país das mentiras aos trambolhões
Não se produz nada, só ilusões

Os fiscais na república do saque andam
Com os corruptos no alto a ordenar
As ordens superiores a encomendar
Os parcos bens da população a saquear

Os corruptos têm muitos projectos
Seremos na África o seu celeiro
Levam-nos a todos os caminhos incertos
Aos projectos agrícolas grandes desertos

Mais megalómanos projectos em curso
Com o apoio chinês como recurso
E o incondicional apoio português
Esta pátria será comunista outra vez