quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

WILLIAM TONET, O ADVOGADO QUE DESAFIA AS CONTAS DO PETRÓLEO




Esta universidade do petróleo só forma novos-ricos bajuladores, disforma escravos e advogados batizados no rio do petróleo, de margens extremamente violentas, do tipo cartoon homem-bomba que exige aulas práticas.
As eleições foram livres, justas e transparentes como as contas do petróleo.
E sem corrupção, que seria desta nação?
Quem não tem luz nem água levante o dedo.
E quando me tocam na família, viro bicho-do-mato. Beto Gourgel (1940-2006)
Estrangeiro! Bem-vindo à fazenda dos escravos de Luanda, onde os leilões de escravos são diários E podes comprar o teu, ou a tua escrava. Os preços? Uma pechincha.
Você sabia que: A EDEL alterou a sua denominação social para ESEL – Empresa Sem Electricidade de Luanda?
Se ao poder queres ávido/chegar, muito dinheiro terás que /lavar.
Onde há muitas fraudes, há sempre uma nação muito bem organizada.
Parafraseando Augusto Gil (1873-1929). Batem pesado, pesadamente/ como as milícias chamam por mim/ a democracia não é certamente/ só as barras de ferro batem assim.
Luanda é um poço de petróleo onde o Minoritário lhe extrai das suas entranhas milhões, biliões de dólares até à sua completa exaustão. Depois, quando o petróleo secar, de Luanda nada restará, a não ser o deserto, mais cidades fantasmas que já se vislumbram.
Enquanto essa epidemia política estiver empoleirada no Poder, de nós apenas restarão carcaças.
Já não restam dúvidas de que Luanda, os seus arredores e o mundo caíram nas mãos de super idiotas?
Libertem as ruas do reino de Luanda, varram-lhes o lixo, as mulheres que nelas labutam para que os seus filhos não morram à fome, porque o rei, a rainha, príncipes, princesas e restante séquito de sanguessugas do palácio real, nas ruas circulem para que não sujem o exterior dos seus corpos, as suas indumentárias, porque tudo cheira à podridão da corrupção, sangue canceroso. Sim, deve-se esconder a miséria porque os estrangeiros não gostam de ver mwangolés a venderem nas ruas, porque podem ficar infectados com muitas doenças, em especial a doença do desemprego e dos salários medievais que ainda por cima só se pagam de vez em quando.
E depois da contumaz falta de água e da energia eléctrica, para esta a desculpa a seguir para os apagões será: devido ao calor, somos forçados a fazer cortes porque a rede não suporta tanto consumo. Porra! Só as torres construídas e em construção esgotam a barragem de Kapanda. E ainda vão criar mais planos directores para os bairros sem energia eléctrica e água? Há pessoas que nasceram mesmo ou são uma fraude?
A instauração da lei da selva é o enunciado primordial do Estado leninista. E onde há leninismo, há a utopia do homem novo, a destruição, o pó da sociedade que o vento poluído arrasta.
Depois, o Minoritário premeia jornalistas que nada disso têm, nem nada parecido, e passado pouco tempo esses etéreos jornalistas retribuem com a mais alta distinção, premiando o Minoritário pelos feitos em prol da paz e da democracia. Na realidade trata-se de premiar a corrupção como a coisa mais natural deste mundo, isto é, desta cidade.
E os prelados da fé cristã que tanto rezaram a Deus que concedesse a fraude eleitoral, não têm direito aos carros jaguares? Mas que injustiça. Olhem lá se não vem aí mais um castigo divino. Não se esqueçam que o grande terramoto de 1775 que “calamitou” Lisboa, foi obra da vingança e Graça do Nosso Senhor Todo Poderoso.
E com a expulsão das zungueiras das ruas de Luanda, cujo único crime é o serem angolanas, uma nova etapa se adentra sobre Luanda: os corruptos cantam vitória antes do tempo pelo assalto à cidade, enquanto se vitoria a revolta crescente da população e o aumento exponencial do crime, que depois nas causas e origens a Polícia é a culpada de tudo, quando na realidade os corruptos são sistematicamente inculpados.
Vítimas da espoliação dos terrenos, da luz, da água, dos empregos, até chinesas andam na zunga, de venderem os seus pobres haveres, agora sob a alegação que já foram construídos mercados para tal desiderato, a sempre mesma escusa das deportações. Isto decretado pelo tribunal revolucionário do poder popular do Minoritário, é na Balança corrupta da Justiça mais um pérfido crime principesco da realeza palaciana. E os prelados das igrejas activam as mãos ao nosso Altíssimo pela miséria concedida: o aumento populacional no reino da miséria, tão eficaz no engrossar do rebanho de Deus. Pois onde há muita miséria, Deus acolhe-a com imensa alegria, pois o reino do Céu está sempre de portas abertas para a também divina Cidade-Fantasma da Miséria.
A instauração da democracia sempre se pautou pela beleza das manifestações de rua. Na República de Luanda isso não acontece, ninguém sabe porquê. Será que estamos em presença de uma democracia-mistério? De outra democracia para estrangeiro ver?
Vai ser porreiro vai. Ver a elite política do petróleo e os estrangeiros a viver no luxo ostensivo, e os milhões de mwangolés de tão abandonados que até se confundem com os ratos. É um bom exemplo para a distribuição de renda?
Depois de infestar a província da Huíla, actualmente, Saco dos Arcanjos, infesta outra, a província do Namibe. Segundo o jornal, O País, dá cem dias aos directores para provarem a sua capacidade, quando a bem da verdade, Saco dos Arcanjos, em mais de cem dias na Huíla demonstrou a sua incompetência. Porque é que, Saco dos Arcanjos, não dá cem dias aos corruptos do seu partido para reporem os desvios do erário público e depois escorraçá-los para as prisões?
Há apenas três coisas que nos empecilham e impedem a nossa felicidade e liberdade.
A actual democracia, os bancos e a hipocrisia da fraude da religião das igrejas.
Eu tenho fé, Deus e Jesus Cristo é que não têm fé em mim?
Vamos lá a ver uma coisa: não sou eu que me afasto de Deus e de Jesus Cristo, pelo contrário, quero-os muito, mas não sei porquê, eles fogem-me.
Manos e manas! Muito cuidado! A BPR – Brigada da Polícia Religiosa está no terreno, de porta em porta. E como Deus já não nos protege não sei como será.
Na Rádio Ecclesia, no dia 30 de Agosto, ouvi, José Oliveira, especialista de energia (?), qual delas? de todas?, do CEIC – Centro de Estudos e Investigação da Universidade Católica de Angola, que deviam subir os preços dos consumos da energia eléctrica. Caríssimo senhor, se não temos energia eléctrica como é que se podem incrementar taxas? Valha-nos Deus. Creio que o douto, do qual tenho grande estima e admiração, Doutor, Alves da Rocha, não apreciará a dissertação do especialista. Não sabe que o salário mínimo nacional é de cem dólares? Faz-me lembrar um outro especialista português que nos elucidava sobre impostos e que, grande descoberta, que as zungueiras deviam ser taxadas e que assim o Estado arrecadaria vastos impostos. O que nos vale é que este circo está permanentemente abastecido de bons palhaços. O nosso especialista da energia acrescentou, que quem mora no asfalto não têm dificuldades de renda para pagar os consumos. Suspeito que José Oliveira não é angolano, está ultrapassado, é mais um português que nos vende a sua banha da cobra? Meu caro: vivemos numa economia de corrupção e enquanto assim acontecer, qualquer medida que se tome não tem efeito. Primeiro, acabar com a corrupção e com os corruptos, depois, então sim, os modelos económicos funcionarão.
Há dias, o mal-afamado da demolição de Luanda, dos angolanos e de Angola sem contas no petróleo, José Ribeiro, do Jornal do Povo, órgão oficial do MPLA – Movimento dos Partidários do Leninismo de Angola, quando violentava os EUA de que não tinham nada que se ingerir nos assuntos internos da fraude eleitoral, esqueceu-se de um importante pormenor: é que entre o destacado leninismo dele, e deles, a democracia americana é muito, extremamente valiosa. É claro que quando se arrependerem será demasiado tarde.
Depois das brutas chuvadas, a albufeira da barragem de Kapanda já estará operacional. Mas como num regime leninista a anarquia é o modo de viver, acontece que a água da albufeira está a ser desviada para revenda em camiões-cisternas. À falta de melhor explicação para o fenómeno, só pode, né?!
Imagem: autor desconhecido

domingo, 23 de dezembro de 2012

As aventuras de Akalesela (05). O Mistério do Prédio Enfeitiçado





Todos a roubaram-se e na feitiçaria a matarem-se, brevemente, Angola como nação sucumbirá. Aliás já se nota a intolerância desses traços bem visíveis no desprezo que cada um retribui ao outro. A solidariedade desapareceu, evoluiu e actualmente substitui-se pelo ódio mortal. Catalogado pelo menor motivo de qualquer episódio de feitiçaria. Até o negócio se diz que foi enfeitiçado. Quando não se consegue que o negócio ande, culpa-se a idosa mais próxima, porque foi ela que trocou uma nota de cinquenta kwanzas. E o MPLA já não governa, é a feitiçaria que o comanda. E ai de quem nela e nele cair.

Ma Yuan prepara-se para sair. Akalesela faz-lhe um resumo final:
- Os corruptos e os espoliadores são louvados. Os que lutam e os que trabalham são desprezados. Os preguiçosos e medíocres espreitam a sua oportunidade. O meu pai ensinou-me para me afastar dos políticos e dos feiticeiros.
Ma Yuan já está na porta de saída, despede-se com malícia:
- Akalesela, sabes… és muito interessante.
Kakulu-Ka-Humbi perde a cabeça:
- O kamburi ketu kalê ni nzala. (O nosso carneirinho não está com fome)
Antes da porta se fechar, Ma Yuan vê uma tarântula a passear. Estremece:
- Ai meu Deus!
Akalesela sente-se animado com o primeiro cliente e trova para Kakulu-Ka-Humbi, gaba-lhe mais alguns atributos:
- Sois altiva e imponente como uma águia.
Ela sorri de satisfação. Caminha na direcção do alaúde, entrega-lho e suplica-lhe:
- Por favor, melodia-me a minha majestade.
Doce cavaleiro, as noites são longas
como este cavalgar de desgovernar tão longínquo
Já nada mais esperamos
desesperamos, nadamos nestes oceanos de feitiço
neles afogados, no refogado amor

Estás prisioneira na torre guardada por seculares guardas
e há quase meio século acorrentada
Sou fiel na tua espera, no sonho
doutro coração que é já teu
O cavaleiro eterno não sai do castelo do seu poder
Lá estão os nossos corações presos sem esperanças.

Ele deixou-se adormecer. Pouco depois acordou sobressaltado. Pediu-lhe socorro:
- Vai-lhes dizer para fazerem pouco barulho, que queremos dormir.
- Já lhes falei, e ainda fazem pior. Dançam como uma manada de elefantes furiosos. Acho que o tecto vai desabar.
- Vamos dormir no ginásio, naqueles dois colchões de espuma estreitos.
Ela lastima-se:
- Etu ki tu atu azediua etu. (nós não somos pessoas felizes)
Ele esmorece:
- A política e o poder são duas coisas que condizem muito bem a quem delas faz uso. Os políticos são muitos, a concorrência é elevada. E são sempre poucos os lugares vagos no poder.
Ela ouve barulho lá fora, espreita à porta da varanda e contenta-se:
- A única coisa que funciona até ao momento é o carro da recolha do lixo.
Akalesela levantou-se muito cedo, ela continuava a dormir. Bebeu café e foi para o computador. Colocou o CD da enciclopédia World Book da IBM. Procurou pela mitologia africana e elucidou-se:
Uma variedade larga de mitologias desenvolveu-se entre muitos povos que habitam na África a sul do Saara. Algumas destas mitologias são simples e primitivas. Outras são organizadas de modo complexo. A maioria dos povos africanos adora características proeminentes da natureza, como montanhas, rios, e o sol. A maioria destes povos acredita que quase tudo na natureza contém um espírito. Alguns espíritos são amigáveis, mas outros não são. Espíritos podem viver em animais, plantas, ou objectos inanimados. Os adoradores rezam ou oferecem presentes aos espíritos para ganharem o favor deles e obterem benefícios particulares.   
As formas de adoração aos antepassados fazem parte de muitas mitologias africanas. Muitos africanos acreditam que depois da morte, as almas dos antepassados renascem em coisas vivas ou em objectos. Por exemplo, os Zulus recusam matar certos tipos de cobras porque eles acreditam que as almas dos antepassados vivem nelas. Os rituais mágicos têm um papel principal nas religiões tradicionais de África. Os feiticeiros têm grande influência entre muitos povos africanos porque se acredita que eles têm poderes mágicos. Muitos africanos usam encantamentos para se protegerem dos males.   
De acordo com várias mitologias africanas, muitas divindades moram em casas temporárias na terra chamados fetiches. Fetiches variam de simples pedras a imagens esplendidamente esculpidas. Alguns grupos africanos acreditam que fetiches protegem-nos dos feitiços do mal e que lhes trazem sorte. Os Ashantis compõem o grupo nativo maior no Gana, um país pequeno na África ocidental. Em muitas formas, a mitologia dos Ashantis ilustra a mitologia africana em geral. Muitos Ashantis acreditam que um deus supremo chamado Nyame criou o universo. Nyame encabeça um grupo grande de divindades, em que a maioria descende dele. Algumas destas divindades servem como protectoras de aldeias específicas ou regiões. Outras representam características geográficas. Os Ashantis consideram os rios como a característica geográfica mais sagrada. Eles também associam muitas divindades com ocupações específicas e artes, como cultivar e trabalhar o metal.   
Só entre as divindades dos Ashanti, à deusa da terra, falta um fetiche específico. Os Ashantis acreditam que a própria terra é o fetiche da deusa da terra. Um grupo de feiticeiros supervisiona a adoração de fetiches. Os Ashantis acreditam que os feiticeiros deles possuem certos poderes especiais. Por exemplo, de acordo com eles, os feiticeiros podem persuadir um fetiche para falar pelos lábios de um ser humano, um médium. Um feiticeiro normalmente serve como médium para o fetiche.
Entretanto, ela aproxima-se com alguma cerimónia:
- Dormiste bem? Olha, já sabes bem como é, tens o chá com bolachas.
- Isso é comida para mulheres.
- Claro meu querido, tenho que manter as minhas garras esbeltas.
- Não há um pacote desses das sopas rápidas?
- Não.
- Temos quiabos?
- Sim.
- Faz um caldo. E desinteresso-me por garras alimentadas por alimentos estrangeiros, ainda por cima importados.
- Não sou produto nacional para venda exclusiva a estrangeiros, como as outras manas fazem.
Ele preferiu emudecer. Ela sentiu que devia retirar-se. Ele voltou a teclar, desta vez na feitiçaria:
Feitiçaria está geralmente definida como o uso de poderes mágicos que se admite influenciarem as pessoas e os fenómenos. Neste sentido, conhece-se como a feitiçaria fez parte do folclore de muitas sociedades durante séculos. Desde o meio-1900, a feitiçaria também recorreu a um conjunto de convicções e práticas que algumas pessoas consideram uma religião. Seus seguidores às vezes chamam-lhe, a Arte, ou a Religião Velha. Porém, muitas pessoas, cristãos particularmente conservadores, não consideram a feitiçaria uma religião.   
Convicção na feitiçaria existe no mundo e varia de cultura. Historicamente, as pessoas associam feitiçaria com o mal e normalmente consideram uma bruxa como alguém que usa magia para prejudicar outros, causando acidentes, doenças, azar, e morte. Porém, algumas sociedades acreditam que as bruxas também usam magia para fazer bem, enquanto executam tais acções como enfeitiçando para obter amor, saúde, e riqueza. As pessoas ao redor do mundo continuam praticando feitiçaria, enquanto reivindicando usar a magia para o bem ou para o mal.   
Ao contrário, esses que praticam feitiçaria como seus seguidores só acreditam em magia praticante para propósitos benéficos, não para prejudicar. Eles adoram uma divindade masculina com aspectos femininos, mas eles enfatizam a fêmea, ou Deusa, o lado da divindade.   
O termo bruxa vem da palavra wicca do inglês antigo que é derivado do wic de raiz germânica que significa alterar ou mudar. Acredita-se que uma bruxa muda ou possa mudar acontecimentos usando magia. Hoje, a palavra bruxa pode ser aplicada a um homem ou mulher. No passado, foram chamados também os bruxos masculinos, de feiticeiros.   
Como funciona a feitiçaria
Acredita-se que as bruxas são os mestres do mundo sobrenatural no folclore ao redor do mundo. Elas suplicam supostamente e comandam espíritos. Elas podem invocar espíritos especiais que ajudam a chamar familiares que levam a forma de animais particularmente gatos, cobras, corujas, e cachorros. Em algumas sociedades tribais, envolve um tipo de feitiço com quem a bruxa está familiarizada. Neste tipo de feitiço, a bruxa instrui o familiar a levar a cabo tal instrução como entregando um feitiço a uma vítima.   
Algumas culturas acreditam que as bruxas têm o poder de se transformarem em animais. Este poder para mudar a forma delas permite-lhes viajar secretamente até se aproximarem. Também é dito que as bruxas podem voar. Elas podem voar sob o próprio poder delas, utilizando ferramentas como vassouras ou ancinhos, ou em animais mágicos.   
Supõe-se que elas podem controlar o tempo. Elas às vezes são culpadas por tempestades que danificam habitações ou colheitas.   
Imagem: Ermelinda Freitas

sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

A Lenda D'el Rei D. Passos Coelho





Fugiu de Alcácer Quibir
El Rei D. Passos Coelho
Perdeu-se num labirinto
Com seu cavalo real

As bruxas e adivinhos
Nas altas serras beirãs
Juravam que nas manhãs
De cerrado de Nevoeiro
Vinha D. Passos Coelho

Pastoras e trovadores
Das regiões litorais
Afirmaram terem visto
Perdido entre os pinhais
El Rei D. Passos Coelho

Ciganos vindos de longe
Falcatos desconhecidos
Tentando iludir o povo
Afirmaram serem eles
El Rei D. Passos Coelho
 
E que voltava de novo
Todos foram desmentidos
Condenados às gales
Pois nas praias dos Algarves
Trazidos pelas marés
Encontraram o cavalo
Farrapos do seu gibão
Pedaços de nevoeiro
A espada e o coração
de El Rei D. Passos Coelho

Fugiu de Alcácer Quibir
El Rei Rei D. Passos Coelho
E uma lenda nasceu
Entre a bruma do passado
Chamam-lhe o desejado
Pois que nunca mais voltou
El Rei D. Passos Coelho
El Rei D. Passos Coelho


quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

DIÁRIO DA CIDADE DOS LEILÕES DE ESCRAVOS. 13 A 20 de Dezembro de 2012




13 de Dezembro
14.45 horas. O “terror negro”. Com trinta graus de temperatura à sombra, as milícias do GPL – Governo da Província de Luanda, sempre na perseguição das camboenhas, porque dos grandes peixes como os pungos não se atrevem, pois Neptuno protege-os, defende-os com o seu tridente, uma jovem aí para os seus vinte e cinco anos, perseguida de outros mercados onde vendia a miséria do petróleo, abancou num passeio nas proximidades da Liga Africana e no chão fez uma passarela de sapatos. Mas o “terror negro” prepara-se para a emboscar. Advertida por transeuntes que o “terror negro” se prepara para lhe violentar a mercadoria, a sua sapataria da moda, ela entra em pânico e dá uma louca corrida parecendo judeus na fuga de um campo de concentração Nazi. Consegue embrulhar muitos sapatos mas vários ficam para trás, e uma jovem caridosa apanha-os nas calmas e faz-lhe a entrega. Será que a vendedora votou na CASA-CE ou na UNITA?
Mas os constantes cortes no fornecimento de água, luz e Internet em Luanda, não se consideram actos de difamação e injúria à população, porquê? Creio que o Mwangolé há muito que perdeu a noção do que é um ser humano. E colocar as pessoas na expectativa também não é crime de injúria e difamação? Vejam como se destrói um país… nas calmas.
Entretanto, vendedoras abandonam o mercado (?) Panguila por motivos de segurança: via estreita, muitos acidentes, camiões dos chineses que carregam areia espalhando-a na via. As vendedoras levantam-se às quatro horas da manhã e regressam às catorze. As vendas não vencem os custos. Regressam em multidão para o mercado do Kikolo. Mais um desaire, um fiasco, uma fraude para o Partido UPPC - Um Pouco de Paciência e Compreensão.
Nunca vi tantos intelectos enlatados.
E como é deveras bonito acordar às seis horas da manhã sob o som do serrar ferros e do martelar em chapas metálicas. E embalado pelo ribombar das sirenes das escoltas diárias, mais uma praga que assola a cidade, melhor, o que dela ainda não se arrasou, pessoalmente já não sei, porque ao ritmo da destruição actual, até ao fim deste ano, apenas restarão nostálgicas poeiras.
E não é a cepa torta, mas todo o vinhal, todo o campo de vinho.
Angola já não é um país, é um templo religioso em cima de um vulcão petrolífero.
Também diria que estas apanhas de uvas das cepas tortas, civilização dos imbecis e canalhas, deve-se a que já não se sabem alimentar, isto é, será, estou convicto que sim, da comida enlatada? É que tudo vem em latas e em embalagens liofilizadas. Os nossos gloriosos tempos dos momentos intelectuais apagaram-se. Nem uma réstia se desenlatou.
Os amigos chineses do Partido, UPCC - Um Pouco de Paciência e Compreensão, fazem tudo o que querem na Angolanidade deles. O diâmetro do rolo de papel higiénico, antes com 4,5 centímetros de diâmetro, já está nos cinco. Pouco falta que ao comprarmos um rolo de papel higiénico, ele traga apenas uma ligeira fatia de papel enrolado. Mas isto não é a entrega de Angola ao desbarato? Isto não é ultrapassar os limites impostos pelo neocolonialismo? Afinal Angola não passa de um estúpido e ilegal rolo de papel higiénico chinês?
14 de Dezembro
Angola avante, revolução! / pelo Poder Popular!/destruímos o trabalho/ e o homem novo a naufragar.
E nos acordos da cooperação chinesa, técnicos chineses já formaram vários quadros angolanos na especialidade do corte de tubos de ferro e bater em chapas metálicas com um martelo. Esta técnica dominada pelos chineses passa para o domínio angolano, uma mais-valia. E quem quiser serrar tubos de ferro, chapas metálicas com um martelo, os chineses deve contratar, pois só eles dominam estas técnicas.
Curso de corte e de martelar chapas metálicas:
Terá início mais um curso de corte de tubos de ferro e martelar em chapas metálicas. O curso será ministrado, como sempre, por técnicos chineses. As cargas horárias serão ilimitadas. Prevendo-se um grande afluxo de participantes, as aulas teóricas e práticas serão no estádio da Cidadela. Os preços de inscrição são uma verdadeira pechincha, apenas mil dólares para a sua inscrição.
Observação: os alunos far-se-ão acompanhar por uma rebarbadora, um martelo, tubos de ferro e qualquer chapa metálica.
15 de Dezembro
A vela de cera chinesa desfaz-se em pouco tempo, tal e qual como o Partido, UPPC - Um Pouco de Paciência e Compreensão, e há sempre o perigo de incêndio.
Afinal, no assalto à Pomobel, os jovens assaltantes não roubaram dinheiro, só comida. Tá-se mal, tá-se tá-se.
A grande barulheira continua. Sete da manhã, o vizinho do apartamento de cima escuta música, claro, com o som muito elevado. Deve estar bêbado, coisa mais natural neste mundo imundo de Luanda, com a agravante que tem uma criança de poucos meses. Mas não há respeito por ninguém, é assim a cultura actual bantu, é a lei dos fora-da-lei, a continuação da aberração sem futuro à vista da nação, de um povo que tende a desaparecer.
Depois de provavelmente pelas 01.00 horas da manhã, a Net foi-se.
No prédio em construção do general Led, ou destruição?, os trabalhadores mwangolés andam a imitar os chineses, imitam qualquer um como os papagaios, mas que imitação mais grosseira, trabalham todos os dias, sábados, domingos e feriados. Até no dia da independência. É pá!
13.26 horas. Os três geradores gigantescos arrancam, o fumo intenso entra pelas janelas.
De repente dei-me com esta: Angola, Moçambique, Portugal etc, são a história de um suicídio?
16 de Dezembro
Apesar das chuvas intensas, a barragem de Kapanda ainda não tem água suficiente. Afinal, para que serve Kapanda? Uma barragem da propaganda leninista? Viva a democracia dos geradores. Qual será o próximo PT, posto de transformação que se incendiará?
12.43 horas, iniciou mais um apagão. A luz retornou às 12.43 horas.
Há empresas de segurança que ficam quatro meses sem pagar, ou mais, e só pagam um mês, não dão comida. Os seguranças fogem e essas empresas admitem outros e o ciclo anterior repete-se. Não são só, não eram, os colonos/brancos, estes tipos também são hábeis no tráfico humano de escravos.
A água veio de manhã cedo, e durante o resto do dia não apareceu mais.
17 de Dezembro
Continuamos sem água.
18 de Dezembro
A água chegou de manhã cedo e depois não voltou mais.
19 de Dezembro
Segundo a minha fonte: 00.20 horas, selvajaria no prédio em construção (?) do general Led. Quarenta anos depois a imposição do Poder Popular permanece actual. Não deixam ninguém dormir. È martelar, serrar ferros e madeira com serra eléctrica, imaginam o barulho, não é?! Esta espécie de indivíduos estão perdidos no tempo da grande selvajaria, isto é África, apenas como única alternativa de futuro, a selvajaria mais primitiva. Basta ver na cor amarelada do pilar rectangular, o que significa que só tem areia e cascalho. Aquilo vai desabar. Têm mais dois pilares só com areia e cascalho. As traseiras de três prédios estão fechadas. Quando chove ou não, não há escoamento das águas. O largo e a rua também foram fechados. Se houver um incêndio? É uma grande desgraça. É a ilegalidade na selvajaria do petróleo, e não se faz a demolição porquê?! É do general Led, nas traseiras da Pomobel, Zé Pirão.
O general Led disse-lhes, para os moradores dos prédios: «Vocês têm os dias contados!»
As falhas na Internet continuam, mais parecem os apagões da barragem de Kapanda. Aqui na banda já há dias que a energia eléctrica está restabelecida, mas há quatro dias que um gerador num terraço de um primeiro andar trabalha noite e dia. Será vaidade, tipo eu tenho um gerador?, ou há muito dinheiro para gastar proveniente de fontes duvidosas petrolíferas, ou é da máfia chinesa?
Internet, cerca das doze horas… foi-se.
E as sirenes das escoltas dos intocáveis não param. Oh!, como tudo é epidémico nesta cidade.
20 de Dezembro
Continuamos sem Net. Será que um camião chinês derrubou a antena da Angola-Telecom? A máfia chinesa roubou a antena e já está na China? Vou outra vez escutar no meu rádio de ondas-curtas o que se passa pelo mundo.
A água chegou… sim temos luz, por enquanto.
19.24 horas. O provedor TVCabo repôs a ligação à Internet. Não se sabe o que se passou. Talvez um “drogado” com um portátil fez alguma experiência e deu cabo de tudo?