quinta-feira, 30 de novembro de 2017

O QUE ACONTECERÁ



Não sei o que me acontecerá
Quando amanhã outro dia virá
Quanta mais gente se odiará
Quanta mais gente se amará

Uma coisa porém é certa
Se há uma porta aberta
No olhar da vida incerta
De uma janela entreaberta

E os teus cabelos a voar
Libertos das ondas do mar
E à noite ao luar
O corpo e alma amar

Já não é para sair
É daqui fugir
Se há para onde ir
Acabar com este afligir

Tantos anos passados
Infelizes recordados
Na mente guardados
Não semeados

O falido poder
Nos faz desfalecer
A nossa alma arder
E nosso coração perder

O povo está combalido
Pela miséria falido
Isto está tudo fodido
Mais que garantido

Ó caminhante
Segue adiante
Longe do poder farsante
De andar errante

Está sem sistema este país
Porque alguém assim o quis
E nada se diz
Mesmo à frente do nariz

A pior miséria é intelectual
O pior mal
Fatal
Sobrenatural

Para onde caminhar
Com as trevas a dominar
Não é humano errar
É o deixa andar, deixa andar











quarta-feira, 29 de novembro de 2017

TERRA SEM AMOR

 


A vida perdida
É como uma ferida
Como uma fugitiva
Que do amor se esquiva

De nada adianta
Olhar para o verde da planta
Que só o amor suplanta
Essa força que nos levanta

Neste caminhar de ilusões
De promessas aos montões
E dos padres e seus sermões
Onde se morre aos borbotões

E nesta miséria indecente
Como se eu fosse crente
Não mais me sinto gente
Há muito que estou ausente

Nesta imparável tristeza
O amor perdeu a beleza
Resta a certeza
Da dominação da tibieza

O que é a realidade?
Nesta cidade?
É a bestialidade
Da trivialidade

A tua ode cantar
O amor saudar
Deixa o inútil procurar
Vê o sol da vida levantar

O hino do amor a te louvar
Deixaste-te arrastar
Como o borbulhar
Deixar o amor te condenar

No teu ouvido sussurrar
Há tempo para amar
O tempo a passar
A galopar

O coração a disparar
Não pára de trabalhar
Porque há que acreditar
Em alguém confiar

Na escarpa sentir o ar
Do vento que vem do mar
Para a frente navegar
O para trás abandonar










segunda-feira, 27 de novembro de 2017

TEMPOS NOVOS



Amigo leitor, ainda não totalmente liberto dos maléficos efeitos da malária, escrevo este trabalho com alguma dificuldade, pois a cabeça ainda está um tanto ou quanto zonza. Os mosquitos perseguem-nos noite e dia como moscas, e de ano para ano os enxames aumentam. E devido à má alimentação, a possível neste tempo de crise inventada, a recuperação não é a rápida, mas a lenta com o receio de possível recidiva. Há já consideráveis dias que ouvi do governo que ele já tem, salvo erro, preparados 25 fumigadores para atacar os mosquitos da malária. O porquê da demora ainda não sei, mas a saúde deve estar sempre em primeiro lugar, e jamais no último.
Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades/ Muda-se o ser, muda-se a confiança/ Todo o mundo é composto de mudança/ Tomando sempre novas qualidades. (Luís de Camões, 1524-1580)
Povo que tem o cérebro bloqueado pela religião e feitiçaria é um desastre ecológico. E sem hospitais é povo que se arrasta pelas ruas da agonia, e isto é o prémio da primazia.
Até há bem pouco tempo vivíamos num gigantesco castelo onde obedientes e tementes aos príncipes e princesas nele residentes, estávamos deles completamente dependentes. A infinidade de caprichos era principescamente satisfeita, e a corte nadava na superabundância mas nunca se sentia refeita. Do que tinham do vasto reino, era inteiramente todo deles, ainda queriam mais, sempre mais e alguma coisa. Queriam tudo, apoderaram-se de tudo, porque era legado, património da secular linha de sucessão dos reis anteriores. Era um legado, um patriarcado de uma dinastia que de vez em quando apregoava, dizia-se que ousava falar de democracia. Até que um dia, estas e outras coisas começam sempre assim, até que um dia as coisas acabaram, repentinamente mudaram, tudo muda, não é?, e quem isso despreza porque se sente eterno, que não morre, que nunca adoece, que nunca envelhece, que nunca lhe acontece nada porque as suas imensas riquezas libertam-no, curam-no da morte, porque Deus e todas as igrejas elegem para com o consentimento de Deus reinar nesta terra, e quem lhe aprouver subjugar.  Até que um dia… alguém de outra dinastia aparece e toca outra melodia, noutra orquestra da democracia. Começam a chover exonerações, mas os príncipes e princesas de sangue real e a aristocracia sentem-se muito à-vontade, pois príncipes e princesas são, devem ser por força das circunstâncias coisas intocáveis, coisas de lesa-majestade. Com eles nada de anormal lhes aconteceria, pois tinham as suas vidas, tudo garantido noite e dia. Para a nobreza não haveria mudanças, nem coisa parecida pois se tudo o que era finanças estava em seu poder, pois numa monarquia absoluta é assim que funciona, o erário público tem donos e dona. Era um reino de propriedade privada onde a população estava incluída como um bem adquirido, era parte indissolúvel da propriedade. Daí os constantes maus-tratos, um inventário nunca contabilizado de tropelias diárias, do muito em especial do, “não sabes com quem te metes!” ou, “você não sabe quem eu sou!” ou ainda, “vou-te mandar matar!”
E surgiu como que vindo do futuro, o tão ansiado momento como o anunciado Jesus Nazareno Rei dos Judeus, o Messias que há muito se profetizava, que colectivamente se sonhava. E ele chegou investido de exonerador implacável, desembainhou a sua espada de Dâmocles e de imediato começou, fantasmas do etéreo tempo exonerou. Nos seus lugares principescos continuavam os intocáveis, seguros de que nada nem ninguém ousaria, dos seus lugares demover conseguiria. E aconteceu… a princesa do palácio do petróleo caiu, este seu império unipessoal lhe fugiu, o seu império financeiro ruiu. E foram tecidas coisas e loisas sobre a exemplar gestão do império petrolífero, e que sendo pessoa exposta politicamente, isso não afetava os investimentos estrangeiros, porque as leis internacionais aqui não se aplicam.
Depois caiu a intocabilidade da princesa da comunicação social, detinha canal de televisão para uso pessoal, que segundo a imprensa, facturava 30 milhões de dólares do Orçamento Geral do Estado. Que estava a sofrer perseguição pública.
O príncipe detentor do principesco saco do fundo soberano, jurou que se fosse exonerado não abandonaria o lugar. Alguns aristocratas exonerados prometeram que não entregariam as pastas aos seus sucessores, alegando segredo de Estado.   
Será possível que esta gente não sabe que quando um novo presidente é eleito, ele nomeia pessoas da sua confiança para ocuparem os seus lugares em toda a governação? Ocorre-me que Donald Trump, o recém-eleito presidente dos EUA, exonerou toda a gente dos lugares chave e nomeou outros da sua confiança para o seu governo. É isto perseguição pública? Quer dizer, enquanto na África ainda existir o teimar de governar sob a forma de um soberano transformar o seu país num reino para o governar, a África para trás vai voltar, e no sem futuro teimar.
“Contudo, a melhor maneira de obter felicidade é proporcionar felicidade a outras pessoas. Tentem deixar este mundo um pouco melhor do que o encontraram e, quando chegar a vez de morrerem, possam morrer felizes com o sentimento de que, pelo menos, não desperdiçaram o tempo, mas fizeram o melhor que puderam.” (Baden-Powell, 1857-1941)
Para terminar não resisto a transcrever a lucidez do jovem jornalista, Sedrick de Carvalho, do Folha 8, texto publicado no Facebook em 16/09/17. Muito elucidativo, educativo e revelador dos sulcos que a oposição deixa nos caminhos perdidos da sem vergonha política.
“SEM VERGONHA… Enquanto em Benguela os seus militantes eram massacrados, sede destruída e alguns desaparecidos, em Luanda os chefes do partido garantiam pomposamente que vão mesmo tomar posse num parlamento onde nada fizeram ao longo dos 15 anos que andam por lá. Nada! Liberdades fundamentais e direitos constitucionais mais básicos não conseguem fazer/respeitar. Tudo palhaçada parlamentar.
Assim vão conseguir fazer isso em 5 anos? Continuam sem maioria. Continuam sem transmitir o que se passa no bar-lamento. Nem conseguem fazer conferências de imprensa semanais ou mensais para informar o que estão a tratar lá. Nós, jornalistas, passamos mal para conseguir saber o que estão a discutir lá e eles, deputados na oposição, nem nos informam. Projectos de leis em discussão nem conseguem enviar às redacções. Os mesmos comportamentos. Carros com os vidros levantados, portas trancadas e as caras também. Em 2015, pouco antes de ser preso, entrevistei várias vendedoras nos mercados e nenhuma conhecia o nome duma deputada. Falaram em Mamã Coragem, mas não sabiam o nome - Anália de Victória Pereira - nem que é falecida, a mãe da ilustre Alexandra Simeão (desculpa relembrá-la nesse triste post), falaram também o nome da tia Ermelinda, mas que não é deputada.
Senhores deputados, vocês sabem que não são deputados porque o processo eleitoral é uma simulação e ainda assim vão tomar posse em nome duma pseudo estabilidade que só estabiliza as vossas vidas financeiras e de mais ninguém. Ninguém! Tenho sido vítima de ofensas até por parte de militantes seniores desses partidos, mas repenso os meus posicionamentos e cada vez mais percebo que não estou errado neste aspecto. Os partidos na oposição não são de oposição. Pelo contrário, são mesmo parte da ditadura. Se não têm vergonha em sustentar a ditadura, então pelo menos tenham respeito pelos vossos militantes que ainda vos acreditam e até são massacrados. E só mais uma coisa: Sei que vão ignorar os nossos posicionamentos tal como faz o MPLA. Como disse Domingos Da Cruz no «Ferramentas para destruir a ditadura», se os partidos na oposição tivessem o poder militar que o MPLA tem provavelmente prenderiam ou matariam mesmo quem lhes contesta. Bom silêncio, Ya!”


quarta-feira, 22 de novembro de 2017

NO ROSTO A MISÉRIA ESTAMPAVA



No rosto a miséria estampava
Nas costas o filho carregava
A mãe possuída pela loucura
De muitos anos de amargura

Vai de caminhar inseguro
Na incerteza do futuro
Como pneu com furo
Como fruto não maduro

Quando da família afastados
Sentimo-nos sós, abandonados
Por fantasmas assaltados
E outros perigos inesperados

A intolerância ofusca a mente
No passado e no presente
Que se vê, apalpa, sente
A tragédia que se consente

Como na selva perdidos
Por monstros perseguidos
Em buracos de breu escondidos
Até perdermos os sentidos

Neste campo semeado de fome
Faminto não dorme
Nos caixotes do lixo come
Caça ratos que consome

Este remar contra a maré
Faz-nos perder a fé
Beber chá de café
E ir trabalhar a pé

A apetência por destruir
Faz o futuro ruir
A esperança fugir
Sem alma deixa-se de sentir

Arrastados pela maresia
Que nos persegue noite e dia
Irreconhecível está a alegria
De mais uma noite fria

As sementes lançadas
Dos pedófilos ejaculadas
Nas crianças violadas
Pelas leis caducadas

As empresas estão a falir
Da crise não se vai sair
As divisas estão a cair
O futuro está a fugir














segunda-feira, 20 de novembro de 2017

OS FLAGELANTES



Banana podre não tem futuro, frutátá, frutátá.
“O movimento Flagelante foi um grupo ou seita fanatista e mística cristã durante os séculos XIII e XIV, na Europa. Os seus membros defendiam que a prática da flagelação lhes permitiria expiar os seus pecados, atingindo assim a perfeição, de maneira a serem aceites no reino dos céus. Os primeiros grupos de Flagelantes apareceram em 1260 em Perugia, em Itália. Este movimento é fortemente condenado pela Igreja, que o considera contrário à fé. Os Flagelantes desfilavam em procissões nas cidades, durante 33 dias (33 porque correspondiam à idade em que se supõe que Jesus Cristo foi morto), durante os quais se flagelavam com cordas ou cintos de extremidades cortantes. Esta prática é suposta suficiente para que um fiel pudesse atingir o Paraíso, e os ritos da Igreja não seriam então necessários. Esta foi a principal razão para que a Igreja não tolerasse estas práticas. O movimento surge e ressurge muitas vezes durante os períodos conturbados, como a Peste negra ou a Guerra dos Cem Anos. Durante a Peste negra, tais práticas contribuíram para exacerbar a população e pressioná-la a perseguir os judeus e outras minorias que eram acusadas de ser a causa das epidemias ao ter envenenado os poços”. (Vikipédia)
Algures num dos perigosos bairros de Luanda – depois das vinte, vinte e uma horas, não dá para andar na rua porque a Polícia, como os funcionários públicos, só trabalha de dia e de noite dorme - um vizinho sonhou duas vezes com uma vizinha. De manhã, a pobre coitada de quarenta anos de idade é surpreendida pelos vizinhos que armados de catanas, pedras, paus e ferros lhe prometem que lhe vão torturar, matar e depois queimar, porque como lhe vocifera um jovem, “você é feiticeira porque eu sonhei contigo duas vezes, vamos-te matar.” Surge o filho de nove anos que logo leva com um ferro na cabeça e cai desamparado com o corpo entregue ao solo. A menina, também filha, leva o mesmo tratamento da flagelação do ferro na cabeça. A mãe também lhe flagelam com um ferro na cabeça e nas costas, a missão é matá-la porque está possuída pela feitiçaria. A mãe já não se consegue mexer de tanta flagelação. Já lhe preparam o pneu que lhe colocarão e de seguida incendiarão. A fogueira da inquisição angolana já está pronta, e de certeza que a infeliz encomenda a sua alma a Deus, mas Ele já está tão cansado destas coisas que de certeza absoluta, por ter os ouvidos cheios lhe entrará por um e lhe sairá pelo outro. Mas já nos últimos instantes de vida ela salva-se milagrosamente porque alguém aparece, dizem que era a Polícia. Os incendiários de feiticeiras e de feiticeiros desaparecem de cena. Durante algum tempo permanecerão por aí escondidos, mais tarde aparecerão quando a coisa já estiver esquecida. Mas aqui há uma coisa amigo leitor: será que a vítima escapou devido à intervenção divina? Será que Deus Existe? Opto por deixar isso nas mãos da Igreja, quem sabe, mais uma santa será canonizada?
“Enquanto estatísticas de pessoas desaparecidas são elaboradas para todas as outras demografias, não existe nenhuma para as mulheres Nativas Americanas.” (do filme, Wind River, Rio do Vento, 2017)
Uma mais velha inventou que o filho da vizinha lhe flagelou. Foi-se queixar na mãe dele, ela ouviu-a em silêncio e no fim disse-lhe que iria falar com o seu filho para ver como é. Falou-lhe e ele jurou que não bateu na vizinha, que era pura invenção dela, mais acrescentou que ela deve andar maluca ou fuma ou mais sei lá o quê, disse. A mãe foi falar com a vizinha flagelada, disse-lhe tal como o seu filho lhe jurou que havia aí qualquer coisa que não bate nada certo, do tipo: está a gritar à toa pra quê? Então a flagelada sai-lhe de rompante quase a roçar-lhe o rosto e disparata-lhe: “ Só quero trezentos mil kwanzas!!!” A mãe não lhe ligou e saiu em disparada, foi ter com uma vizinha que tem marido que é chefe na Polícia, pediu-lhe o número do telefone e ligou-lhe, queixou-lhe da invenção da vizinha para lhe extorquir dinheiro. Até ao fecho deste trabalho ainda não se sabe qual o desfecho de tal método de açambarcar dinheiro. Creio que ela frequentou a escola dos corruptos e teve boas notas. Também com tantos bons professores só mesmo burro é que não passa nos exames de corrupção.
“Tudo o que somos é o resultado do que pensamos. Se um homem-mulher fala ou age com um pensamento maligno, a dor o acompanhará como uma sombra. Se um homem-mulher fala ou age com um pensamento puro, a felicidade o segue, como uma luz que nunca o deixa”. (Budha, Sidharta Gautama. 563-483 a. C.)
Mas como é que os investidores vão largar dinheiro, como é que vão acreditar na recuperação económica de Angola, se o seu povo consome o tempo em festas e em mares de álcool. Uma pessoa viver num país assim, sem garantias de nada?
“A História escrevem-na os vencedores.”
Uma jovem vizinha ficou sem o carro, os intrépidos gatunos da nossa praça de armas roubaram-lho. Ela logo comprou outro, mistério, onde ela conseguiu o dinheiro? Qual foi a vítima ou vítimas masculinas que caíram na esparrela? Otário por aqui é coisa que não falta. Assim como homens que seduzem e caçam mulheres com dinheiro que lhes caiem no logro. Sim, há também muitos homens chulos que vivem à francesa. Caçam uma, esgotam-lhe o saldo, logo partem para nova caçada, ou então também largam a mulher anterior por outra com mais posses. Portanto, antes de conduzir o novo carro, a nossa jovem foi falar com o feiticeiro para lhe fazer um feitiço, para que quem o roubar fique enfeitiçado, e não o consiga roubar e morra. Um mais velho que ouvia a conversa deu-lhe vontade de rir, mas conseguiu falar sem se denunciar porque de semblante muito sério disse-lhe, “sim senhor, está certo, vá ao feiticeiro, é o melhor que pode fazer contra os bandidos.” Claro que depois dela se ir embora ele riu a bom rir.
É como o vamos mudar as pessoas e os problemas resolvem-se de imediato. Não é nada disso, porque numa economia inexistente, praticamente a refazer-se a partir do zero, isso demora muitos anos, com muitos sacrifícios, muita feitiçaria, muita mais miséria a desabar sobre a população. E sem investimentos estrangeiros, não sei não. Mas como pouco falta para que o nosso “exonerador” implacável acabe com os corruptos, para que Angola se abasteça dos valiosos e imprescindíveis dólares, então finalmente veremos os corruptos a cair e Angola a subir.
Vida do copo não dá sabedoria.
Garantem-me que ainda persistem por aí os táxis hiace a circularem à noite com motorista, cobrador e passageiros que são espíritos do outro mundo, e que quando apanham passageiros não há paragens, só param no cemitério. Amigo leitor, recomendo-lhe muita cautela porque isto está infestado de feitiçaria. Quer dizer, quanta mais miséria mais feitiçaria. E que devido a isso se mata com tanta facilidade que, é verdade, isto está de meter medo. O amanhã está uma grande incógnita. Não conheço ninguém que não fale de feitiçaria e de alguém que matou para conseguir dinheiro. As casas onde vive a família está um grande problema, pois os familiares que as pretendem usam o feitiço da morte para conseguirem apoderar-se delas.
É caso para parafrasear que dos feiticeiros fracos não reza a História.
“Persiste-se, igualmente, numa visão algo bizarra de reduzir todos os problemas nacionais (sociais, económicos, morais, históricos) a equações matemáticas de onde se extraem medidas de política supostamente adequadas e suficientes para os resolver. Como resistirão à inevitável desvalorização da moeda nacional face ao dólar americano? Empurrando o problema com a barriga, ajustando expectativas, antecipando subidas de preços que façam entrar a inflação numa espiral incontrolável?” (Alves da Rocha, Expansão 03/11/17)


sábado, 18 de novembro de 2017

NO TEMPO DA RECESSÃO



Que terríveis tempos estes onde um grupo de pessoas é quem mais ordena, e sós pretendem resolver, sair da crise, mas isso não é possível.
Fácil é pensar no dia de hoje, difícil é pensar no dia de amanhã.
A barragem de Lauca e os geradores
Uma nova aposta do governo: barragem hidroelétrica de Lauca construiu-se para não fornecer energia eléctrica (EE). Confesso que no princípio fiquei desorientado ao tomar conhecimento de que a falta de EE que Luanda sofria devia-se a infiltrações de água que inundaram a casa das máquinas da barragem de Lauca, obrigando ao seu desligamento. Depois, fiquei a saber que a barragem ficou com fissuras porque houve intensa chuva de vinte e dois milímetros durante cerca de dezasseis horas. É muita chuva, lá isso é. Depois de um brutal corte no fornecimento de EE que durou dezassete horas, depois outro de duas horas, seguido de outro de sete horas, e mais um de três, entro em pânico, melhor dito, entramos em pânico, porque também a água desapareceu, virou moda, tornou-se hábito, como se Angola não tivesse rios e raramente chovesse. Pensei no pior que iriamos ficar sem EE, aí por seis meses? Um Ano? Quando chove muito a barragem de Lauca não suporta muita chuva? Esqueceram-se de prever isso? A barragem foi construída sem atender a previsões? Claro que é uma gigantesca e muito complexa obra. Ou é muito bem possível que para isso acontecer a empresa brasileira Odebrecht viu-se pressionada pelos actores do governo das apostas e da falsa propagada eleitoral, provavelmente obrigaram a que se findasse o trabalho antes das eleições. Num trabalho de tamanha envergadura é no que dá, quer dizer, tinha-se que acabar de qualquer maneira. Depois foi o grande espetáculo da inauguração com honras do PR cessante. Não se olham a meios para atingir os fins. Isto é, sempre na vanguarda da permanente mentira. Depois desce do alto do seu pedestal o director da barragem a tranquilizar-nos que nas próximas vinte e quatro horas o fornecimento da EE seria normalizado. Pois, se antes uma pessoa aprendeu a estar de pé atrás com a epidemia das falsas promessas, com o que presentemente se passa com a EE e a água, de certeza que não vamos ficar com um pé atrás, não, vamos ficar com os dois pés, com todo o corpo, com tudo o mais atrás. Uma coisa é certa e disso não restam dúvidas: pouco falta para que se atinjam os cinquenta anos de independência sem que os imensos problemas da EE estejam resolvidos. Meio século de centralização económica, de desaire, de desastre económico. Do teimar sempre no que está errado e tentarem convencer-nos que assim é que se vai para o rumo certo. Quase cinquenta anos de conversa fiada do todos a vermos a grande derrocada e os iluminados líderes sempre certos, nunca erram, nunca erraram, e nós pobres coitados somos os eternos parvos que só cometemos erros porque somos bestas, burros, boçais porque não acreditamos nem perdemos tempo com o governo das apostas e apara as apostas. Aqui todos os dias são um de Abril, todos os dias são dias das mentiras. Uma pessoa quer trabalhar, estudar e sempre na mesma, não se consegue, como se a miséria nos governasse. Mas é mesmo isso, a miséria governa-nos.
Mais uma desgraça, mais miséria, fome, mais mortes. Acabo de ouvir na Rádio Ecclesia que se está a comercializar peixe contaminado nas praias de Luanda devido aos altos níveis de contaminação pelos esgotos a céu aberto do Porto Pesqueiro de Luanda. É um estudo feito pela bióloga Iracema Solange Cabral, que também no mercado do peixe a céu aberto da praia da Mabunda, quando o peixe chega às câmaras frigoríficas também está contaminado. Comemos peixe contaminado, e como disse a ministra das pescas, “isto está uma pouca-vergonha.” Mas é evidente que isto é em todas as praias, e agora no tempo chuvoso vai piorar muito mais com o arrastar das lixeiras pelas enxurradas.
“Lenine (1870-1924) considerava que centralizar a economia russa sob o controle estatal era fundamental, com - em suas palavras - "todos os cidadãos" se tornando "funcionários contratados do Estado". A interpretação de Lenine do socialismo era centralizada, planejada e estatista, com a produção e a distribuição estritamente controladas”.
Regressando à água
Antes vou passar um pouco pelos geradores: está desvendado o porquê do gerador do banco Millennium-Atlântico na rua Rei Katyavala em Luanda, que lançava fumo até formar nevoeiro que até parecia uma nuvem atómica, um banco da morte. Não é que lhe fizeram um abastecimento de combustível de duzentos litros de água misturada com gasóleo! Tiveram que limpar, despejar, drenar o depósito de combustível e fazer uma bruta manutenção no gerador. Parece inacreditável, aliás como tudo por aqui, isto também passa por uma república do inacreditável, do surreal. O certo é que as coisas se agravam e nada de se lhes fazer frente como compete na tragédia económica que não é difícil de avaliar, aliás um tanto ou quanto fácil. E com a desvalorização do kwanza que se avizinha, e o do aí decorrente, o que será da gente? Nada, porque ninguém se preocupa connosco, ninguém quer saber de nós, é o fingir que existimos.  
A água está sempre a faltar, já lá vão mais quatro dias, será do imbróglio da barragem de Lauca? Um amigo garantiu-me que a tragédia do abastecimento de água foi causada pela importação de bombas inadequadas ao serviço de abastecimento, isto é, a sua potência não aguenta, não dá para alimentar a rede adequadamente, que fica tipo EE com restrições. Mais uma grande bagunçada sem solução não se sabe para quando. A impressão que se tem é que não há a noção de responsabilidade, cada um que se vire, que se safe como puder. Então, como é que isto vai acabar? Mal! Muito mal!
Além da crise económica, da água e do disparate da barragem de Lauca, muitos estrangeiros continuam a debandar e assim vai continuar, porque a situação está mal, muito mal, e tende para cada vez piorar.
Até há pouco tempo parecia que por aqui ia chover pouco. Depois das minhas anotações que já fazem seis anos sobre o tempo, este ano a pressão atmosférica está, e continua, elevada. A chuva começa a desabar com força, fará muitos estragos porque pelo menos os causados pelas chuvas dos últimos três anos estão parados, porque não há dinheiro, isto agora serve de desculpa para tudo. Então com as obras paralisadas mais desgraça, mais miséria se abaterá pelos bairros degradantes, e com as inundações que será da vida dessa pobre gente, de todos nós.
"Para a maior parte do Mundo a globalização, como tem sido conduzida, assemelha-se a um pacto com o demônio. Algumas pessoas nos países ficam mais ricas, as estatísticas do PIB - pelo valor que possam ter - aparentam melhoras, mas o modo de vida e os valores básicos da sociedade ficam ameaçados. Isto não é como deveria ser." (Joseph E. Stiglitz)
Será possível que o poder popular ainda esteja em vigor? Pergunto isto porque uma vizinha comprou um apartamento no último andar aqui no prédio, quinto andar, remodelou-o, fez-lhe o que quis e lhe apeteceu e para terminar com chave de ouro, gradeou o corredor de tal modo que deixou apenas cerca de meio metro de espaço na porta da vizinha. Esta, disse-lhe que aquilo era usurpação de propriedade, e que nem dava para fazer entrar um plasma, e a do poder popular retorquiu que, “não tenho nenhuma satisfação a dar-lhe.” Tal e qual como no tempo do poder popular. A vizinha lesada foi-se queixar na fiscalização, vieram dois fiscais, deixaram-lhe uma convocatória que ela depois apanhou e logo de seguida rasgou em pedacinhos e atirou para o chão. E lá continua com o corredor só para ela, e não faz um gesto para retirar o gradeamento, que decerto terá de ser arrancado à força. Viva o poder popular! A luta continua! A vitória é certa! Será que estamos a voltar a esses célebres tempos? Parece que sim. Aiué de nós.
Sempre na insistência do retroceder no tempo, até não se saber em que ano do passado pararemos. Decerto no tempo da desgraça ficaremos e de lá não saberemos quando sairemos.


terça-feira, 14 de novembro de 2017

TERRA FALIDA



Antes havia muito dinheiro, as coisas não funcionavam. Agora as coisas também não funcionam porque não há dinheiro. Uma outra coisa há: santa paciência.
Tudo faliu, tudo sumiu, e quer-se fazer crer que em pouco tempo a crise provocada pela corrupção será corrigida, melhorada, mas não, é que estas coisas demoram muitos anos. E andar de modo titubeante nas promessas de saltar as barreiras impostas perante o intocável poder da oligarquia petrolífera e demais oligarquias financeiras, não creio que se consigam atingir os resultados prometidos do novo governo. Porque está refém do grupo oligarca que de facto governa Angola, isto é, o tecido empresarial vive à margem governamental. Como se fosse dois países, dois poderes, dois pesos e duas medidas.
Sem exportações não há divisas e viver única e exclusivamente do petróleo para abastecer uma máquina administrativa pesadíssima, mais os órgãos castrenses e policiais, mais o não cumprimento das regras financeiras internacionais, do deficiente sistema bancário e sobretudo da corrupção instalada, que obvia o acesso aos dólares… Angola está falida.
Na constante diária, trabalhadores que são despedidos, empresas que declaram falência. No aspecto empresarial a coisa vai bem demais. O governo introduziu mais uma aposta, os despedimentos e as falências das empresas. Ouve-se diariamente o cortejo dos despedidos e das empresas falidas como se de um concurso se tratasse. Uma tragicomédia de famílias tendo como sustento o desemprego, o abandono, como lixo atirado para a rua. Sem garantias, sem o mínimo apoio de sobrevivência, pois neste Estado de resquícios leninistas, não existindo fundo de desemprego… não existe nada. É a terra do falta tudo, mas uma coisa não falta, aquilo que destrói nações, impõe as falsas instituições democráticas. É isso mesmo, trata-se da única coisa que funciona em todo o mundo… a corrupção.
As reservas líquidas internacionais caem imparáveis, diminuem substancialmente. É mais uma aposta, de tal modo caiem aparatosamente para não mais se levantarem. Quo vadis Angola? A miséria e a fome sabem-no muito bem. Pois, é que vai vir aí uma grande fome, o nosso holomodor.  
E no altar da corrupção as amantes safam-se esbanjando riqueza na compra ou aluguer de apartamentos, com obras de restauro no mínimo de cinquenta mil dólares, mais carro de luxo, vestuário, sapatos, tudo luxuoso, perdulário, etc. Como diz o outro: “Isto é o país do pai banana.”
E ninguém ousa atacar este mal porque todos comem do mesmo prato. Eis a solução para salvar este Estado falido: A Rádio Despertar noticiou que no mercado do Quicolo, no Cacuaco, arredores a norte de Lunda., os vendedores pagavam uma taxa semanal de mil e duzentos kwanzas. Chegou o novo administrador que exigiu o pagamento diário da quantia supracitada, sob pena de que quem não pagasse seria sumariamente despedido perdendo o direito ao seu lugar de venda. Os vendedores fizeram manifestação na administração municipal porque, claro, não têm dinheiro para pagar quantia tão exorbitante. Mas não se sabe como é que a coisa ficou, se pior ou melhor.
Ditos na rua atribuídos ao PR João Lourenço:” A partir de agora ninguém paga mais taxas de lixo. Fechem as prisões e abram os cemitérios.”
E tudo se faliu.
Três dias sem gasolina e duas semanas sem água na cidade de Luanda. E outra vez mais uma semana nas Ingombotas e arredores. Já paira no ar, isto parece que vai sair confusão por todo o lado.
Aguarda-se a todo o momento pela declaração oficial da falência do Estado. O ESTADO FALIU!
A crise da corrupção atacou-me em cheio. De tal modo que fiquei sem acesso à Net. O dinheiro vive apenas para alguns e algumas que gostam de pavonear as suas exibições de riqueza. A vulgar e ridícula matumbice de que têm dinheiro sem trabalhar. Enquanto os honestos, os únicos que trabalham e sabem trabalhar, são abandonados, motivo de chacota. Onde se vive da opressão da corrupção, há o imparável subdesenvolvimento da vitória da mortalidade infantil.
Isto está pior que f.o.d.i.d.o, até angariar recursos para a internet é um sonho. Mas estou muito convicto que piores dias virão.
E depois com uma oposição política muito fragilizada, isto não dá mesmo nada. É o descalabro moral, e muito mais doloroso, o descalabro intelectual. Quem tem o cérebro instável é demente.
Viver, depender continuamente do que nos informam através dos mais variados meios de informação partidarizados, resulta naquilo que é ver que a realidade é bem diferente.
Ai dos que se deixarem levar por discursos bonitos, de belas palavras, de promessas que a felicidade já está a chegar, já chegou, será deles o reino dos infernos.
Se não deténs conhecimento, estás vivo, mas não existes. Estás vivo porque comes e cagas, mas estás morto porque a tua cabeça é um frangalho da manipulação do poder e da religião. E quanto tentas sair do caminho caem-te em cima todos os santos de todos os dias, ou não sabes que cada dia tem um santo padroeiro? Ó alma errante, levanta-te e caminha.
Esta é a terra do falta tudo, onde na corrupção não falta nada. Onde a oposição morreu, paz à sua alma.
Porque é que nos comentários nas rádios, os comentadores são sempre homens? Onde estão as mulheres? É como se não existissem, isto é, estão totalmente, brutalmente dependentes em absoluto dos homens. Portanto, passivas e submissas. A divisa dos vencidos: fé, esperança, caridade.
Enquanto se mantiver a não separação dos poderes, legislativo, executivo e judiciário, teremos sempre esta nação adiada.
E a lei dos crimes informáticos versa mais sobre os crimes nas redes sociais?, mas o mais importante são os crimes das fraudes informáticas, que abarcam um oceano, pretende-se minorar a questão, porque lá reside a corrupção? Espero que não se fira a objetividade e que não caiamos na defesa do estabelecimento da corrupção.
"Não haverá também liberdade se o poder de julgar não estiver separado do poder legislativo e do executivo, não existe liberdade, pois pode-se temer que o mesmo monarca ou o mesmo senado apenas estabeleçam leis tirânicas para executá-las tiranicamente… Por essa razão, em um estado democrático as leis devem ser executadas com a finalidade de manutenção do bem comum, caso contrário, tal estado precisará ser dissolvido… Quando vou a um país, não examino se há boas leis, mas se as que lá existem são executadas, pois boas leis há por toda a parte… Quanto menos os homens pensam, mais eles falam… A consequência desse excesso é que os magistrados perdem sua respectiva autoridade, passando a não ser respeitados. Os senadores não são mais respeitados, os velhos também deixam de ser e, consequentemente, também acaba o respeito pelos pais. Somado a isso, a corrupção do povo a partir da igualdade extremada, aumenta quando os magistrados, também corrompidos, escondem sua respectiva corrupção ocultando sua ambição através do elogio da força e grandeza do povo. O principal objetivo do povo corrompido é o ‘tesouro público’, visto que, esse dinheiro servirá para o sustento do luxo e ‘preguiça’ desse mesmo povo. Até a eleição pode ser comprada por dinheiro, assim, o povo corre o grave risco de perder mais do que, aparentemente, ganha. As vantagens alcançadas através da liberdade proporcionada pela corrupção podem ser perdidas com o surgimento de um tirano que possuirá a reunião de todas as corrupções”. (In O Espírito das Leis, Montesquieu, 1689-1755)


sexta-feira, 10 de novembro de 2017

TERRA DOS ÓBITOS



Aiuééééé! Aiuééééé! Nossa Senhora da Muximééééé! Estão a vender veneno, muito conhecido por tala, por todo o lado para matar pessoas, disse a Ceast-Conferência Episcopal de Angola e S. Tomé.
“Não mande um coelho para matar uma raposa.”
No óbito do Futungo, arredores a norte de Luanda, a festa está muito animada. Bebida não falta, comida, isso, não se bebe, portanto não dá, não presta. Mas a mesa está bem atestada, convida os bandidos, ou esfomeados?, que logo saltam como animais esfaimados. Assaltam a comida que num repente desaparece. Alguém cimentou que são piores que piranhas. Ninguém ousou enfrentá-los porque militantes da fome não se enfrentam, porque eles são fanáticos seguidores do imaginário partido da fome. E um conviva assinalou que “está a morrer muita gente.” E como se algo o escutasse, alguém lhe telefonou a dizer-lhe que um familiar acabou de falecer e que a sua participação era obrigatoriamente esperada. O defunto, um jovem de trinta anos, dizem que morreu envenenado pelo veneno tala, porque ele antes de morrer gritou para a mãe que uma coisa lhe subia pela perna e que depois fez uma bolha e explodiu. A mãe não teve tempo para ir no feiticeiro para lhe retirar o feitiço do veneno, e ele sucumbiu sem a assistência médica do feiticeiro. Depois é que foram elas: a família da esposa, tinha muitas mulheres, este hábito cultural nacional, reclamou que ele não tinha feito o pedido e por isso não deixavam sair o corpo para o cemitério. Logo se fez contribuição e se recolheu oitenta mil kwanzas para comprar vinho, cerveja e uísque, comida para quê, para quem. Depois abriram a porta do quintal e o morto saiu para a sua sepultura, isto que nos acontece a todos, apesar de alguns pensarem o contrário, que são imortais.
Também se fez o óbito dos partidos políticos da oposição (?) que de tão contentes que estão por participar, aceitar a fraude eleitoral por favores concedidos, o aumento de deputados no parlamento partidário. E que a partir de agora os debates serão muito acesos. Acesos?! Significa que serão à luz de potentes velas porque não haverá energia eléctrica? Não haverá nada? Só óbitos?
Só a morte revela a verdade. O seu destino une-nos e atira-nos para os braços uns dos outros. Não lhe podemos fugir.
Por falta de um prego, perdeu-se a ferradura. Por falta de uma ferradura, perdeu-se um cavalo. Por falta de um cavalo, a mensagem não foi entregue. Por uma mensagem não entregue, perdeu-se a guerra. (Ditado japonês.)
É fácil dominar, as pessoas levar, porque as pessoas acreditam em qualquer gato-pingado. E aqui é tudo ao contrário, gato escaldado da água fria não tem medo. É o que diz uma das leis da feitiçaria.
Quanto aos óbitos dos militantes da Unita, isso ultrapassa a intolerância política e deixa de o ser, porque se inscreve muito bem nos rituais do assassinato político.
O trânsito também tem óbito porque estive de plantão na terça, quarta-feira, 17 e 18/10/17, durante dez minutos até às 15.15 horas, na rua onde moro o trânsito automóvel era escasso comparado com os anos anteriores onde havia muito movimento.
Quando as promessas vêm em caudal o seu cumprimento será a conta-gotas, mas como há oito dias que estamos sem água, dizem que serão duas semanas ou mais, então não haverá cumprimento de promessas.
Converso com um vizinho na rua em frente à entrada dos prédios onde residimos. Estão a deitar caixas de legumes e hortaliças estragados no contentor do lixo. Acompanhamos a cerimónia do óbito leguminoso, o vizinho, tristonho, diz-me uma coisa que eu não sabia: “sabes, ali no, nosso super express, eles quando têm alguma coisa, antes de se estragar, banana, pimentos, hortaliças e outras coisas, chamam o carro do lar das crianças e fazem-lhes entrega dos produtos… não os deixam estragar. Agora estes aqui da Pomobel, não, preferem deixar apodrecer e não fazem a entrega para esses lares que muito precisam. Isso aí está muito mal gerido.” Reflecti, e concluí que por trás disto há feitiçaria, pois, muita, até me arrisco a ir mais longe ao afirmar que a feitiçaria domina, governa Angola.
Mãe e filho: o filho, “ mãe, a violência não é a pior coisa do mundo.” A mãe, “o que é então?” O filho, “apatia.” (do filme, O Livro de Henry, 2017)
Está na hora de regressar à civilização, estou cansado de ser Tarzan desta macacada.
Para cada abelha a sua flor. Para cada desgraça o seu estupor.
Esconder a realidade é uma aberração.
Se a corrupção se combate sempre por baixo e por cima fica incólume, isso não é combater, é apoiar, e a corrupção enche-se de contentamento. E assim os corruptos unidos jamais serão vencidos.
Estejam sempre preparados para enfrentar os assaltos da maldade, porque ela campeia como as chamas do inferno.
Creio que Angola está em poder de padres e de outros correligionários, das politiquices dos políticos, das multidões de democratas, do festim dos corruptos e da fome e dos óbitos.
Não se fala de outra coisa, do queimar gatunos, do dizer com muito orgulho, “proclamar perante a África e o mundo” ontem queimámos três, há uns dias queimámos quatro, hoje queimámos um. E dito com o mais incontido sentimento do dever cumprido, “ficou bem queimado!” claro que há as vítimas inocentes como o do jovem que foi confundido com um bandido e de imediato queimado. Onde a falência da Polícia e da justiça se unem num casamento perfeito, os convivas, a população, saltam para as ruas e tomam-nas como suas, voltando aos tempos macabros dos autos de fé da Inquisição.
O prenúncio da catástrofe? Ou a fome é que comanda? Catorze indivíduos, segundo a Rádio Despertar, polícias e militares, assaltaram um armazém de alimentos em Viana, arredores de Luanda.
Eis uma prova indubitável de que o desenvolvimento económico e social de um país faz-se com… óbitos. E que tal para quando um jornal só dedicado a óbitos? Que bem será chamado de JORNAL DOS ÓBITOS.
Quando se trata de coisas mórbidas há sempre alguém onde facilmente nascem ideias. E assim alguém lançou a ideia de eleger o cemitério mais concorrido do ano. Depois do lançamento no terreno da equipa de observadores eleitorais, perdão, observadores de defuntos, elegeu-se o cemitério dos alcoólicos porque nele, como é fácil de ver, a maioria dos enterros eram de alcoólatras. Mera coincidência? Claro que não, pois numa epidemia nacional de alcoolismo nada tem de surpreendente, muito pelo contrário, pelo que a distinção foi bem merecida. E pelos vistos tal cemitério será todos os anos vencedor. Em consequência dessa inesperada, esperada, vitória uma das exigências daí resultante foi a reclamação de mais espaço para enterro de cadáveres. Claro que os especuladores imobiliários de atalaia, estão sempre nesse círculo vicioso, logo declararam que haveria expropriações porque a terra não é de quem a trabalha, é dos preguiçosos malandros do Estado, leia-se demolições, espoliações. Os óbitos também são negócio muito rentável porque dá emprego a muita gente e nesta terra de óbitos, investir e ganhar dinheiro facilmente é na morte. Neste momento este é o negócio, como se diz na gíria, é o que está a bater bem.
Mais óbitos: A fábrica de cimento do Cuanza-Sul, conforme noticiado na Rádio Ecclesia, encerrou a sua actividade porque não recebe fornecimento de combustível da Sonangol. Então, 140 trabalhadores ficaram desempregados, aguardando os óbitos que decerto não tardarão, faltarão porque a miséria e a fome são como tubarão. Aqui cogito que já me embaralho com a actividade da Sonangol: então é ou não é fornecedora de combustíveis? Que saiba não deixou de o ser. E é mais uma fábrica que acabou de perecer. Com falências atrás de falências porque não se declara a falência do Estado?
“Enquanto houver matadouros, haverá campos de guerra. Todos pensam em mudar o mundo, mas ninguém pensa em mudar a si mesmo". (Liev Tolstói, 1828-1910)