quinta-feira, 31 de maio de 2012

SONHO DE UMA NOITE TROPICAL (FIM)



O Sonoro, era assim chamado porque quando estava bêbado gritava muito alto. Ao falar, a sua voz ouvia-se em todo o lado. Ficou assim devido ao desgosto que sentiu quando no espaço de três anos dois irmãos se suicidaram. Atiraram-se de um prédio. O Almirante ancora-o:
- Sonoro, fala mais baixo por favor.
- Está bem.
Durou pouco tempo. Outra vez os gritos insuportáveis vieram. O Almirante abanou a cabeça e comentou:
- Mais um com taras mentais... uma nação de tarados.
E dirigindo-se para o seu guarda-costas, que na realidade era um moço de recados.
- Marinheiro, vai à ré debaixo da âncora… do pneu de socorro, e traz a derradeira, a fama imorredoira dessa carga de profundidade.
- Sim Almirante.
Ouvem-se gritos a anunciar a morte de alguém, a que ninguém liga, porque num campo de concentração é assim, ou melhor, num quilombo. Os gritos misturam-se com a festa próxima. Não se consegue distinguir se são de tristeza ou de alegria. É este o nosso soberbo legado da tradição. Já não sabemos distinguir entre a morte e a vida. Assim meditou e terminou o Presidente:
- Não se pode pensar na organização do País sem o Partido. É evidente que nem todos podem pertencer ao Partido, nem todos têm a capacidade, nem a vontade e não é necessário obrigar cada um a pertencer ao Partido. In Agostinho Neto. 22 De Agosto de 1979. Discurso na cidade do Uíge.

São quase cinco horas da manhã. É chegado o tempo de levantar a âncora e aportar em casa. Dormir para curar a bebedeira. Na noite seguinte haverá mais copos. Mas de repente ouve-se tiroteio. O Almirante está preocupado.
- A Todas Juntas tinha razão. Os delinquentes vieram para aqui com a polícia atrás deles.
O carro dos jovens parece que está na grelha de partida de um grande prémio. Disparam em movimento. Os polícias respondem ao fogo e perseguem-nos. Os bebedores apanhados de surpresa protegem-se. Uns deitam-se no chão, outros abrigam-se atrás dos carros. O Almirante ordena:
- Verificar baixas e prejuízos!
- Parece que desta escapámos. – Disse o Vodka.
Alguém grita!
- Esta jovem não escapou!!!
Todos olham para o local. O Almirante é o primeiro a chegar. Espanta-se:
- Atingiram a Liberdade na cabeça.
- Almirante…
- Diz minha querida Liberdade.
- Vou morrer.
- Não vais nada.
- Vou sim.
- Almirante… mas… só queria amar. Fui concebida para isso. Não sei fazer mais nada. E não consigo entender o porquê dessa incompreensão.
Não disse mais nada porque o coração parou para sempre. O Almirante grita:
- Mataram a Liberdade! Mataram a Liberdade! Mataram a nossa Liberdade! Ainda era tão jovem… estava no início da democracia.
O Poeta exalta-se:
- Nunca mais a veremos. A Liberdade foi enfeitiçada, nunca mais a teremos. Era uma boa pessoa, apesar de muito jovem e inexperiente. Durou pouco tempo como sempre, ela era tão fixe, compreensiva, bondosa. Defendia-nos sempre que podia. Apesar de tropical, foi um sonho sem esperança. Vamos ver o que nos espera.
- Nada de bom será certamente. – Previu o Vodka.
- A Liberdade é a última coisa a morrer. – Não esqueceu o Almirante.
Que lhe improvisa um elogio fúnebre:

Na sua vida/ Não foi a bebida/ Não foi corrompida/ De vez em quando bebia/ Porque queria/ Por isso era livre/ Era um soldado conhecido.
O Poeta pede justiça:
Ó vós que julgais/ E condenais para vosso contento/ Pensai no dia quando/
A justiça chegar.
O Filósofo suspira:
- Já não existem sonhos. Já não existem noites tropicais. A instabilidade persegue-nos. As nossas noites terminaram. Cerveja com tiros não é útil para a digestão. As senhoras vão ficar muito prejudicadas porque deixarão de vender cerveja. Mais um sonho de uma note tropical que se transformou num pesadelo. Delenda Carthago.
Na noite seguinte o Branco aparece para ver como estão as coisas. Só vê duas pessoas, o Eleitor e o Pragador, este confessa:
- Ninguém aguenta. Apareceu o fantasma da Liberdade. Dizem os entendidos que é um grande feitiço.
- Sempre com a merda da feitiçaria.
- Ó Branco acabou-se tudo. Não se pode estar descansado em nenhum sítio. Entrego-te o que não me deixaram ler.
E correu a dizer:
- Pelas mais das sete pragas… pelas mais das sete pragas.
No que foi secundado pelo Eleitor:
- Não vou votar… não vou votar.

Perguntam se o país é viável. Será? E o que é “um país viável?” Deveremos também perguntar se o seu povo é viável? Se os indivíduos desse povo são viáveis? Um índio é viável? Um americano é mais viável que um índio, ou que um negro? A República Sul-Africana é viável? Trata-se de realidades e não de eventuais viabilidades. Os minúsculos Luxemburgo, Liechtenstein ou Mónaco são muito menores que a Guiné-Bissau, e existem, prosperam. O próprio conceito de viabilidade mostra a que ponto a economia como ciência e como sistema produtivo se distanciou de seus objectivos iniciais, que eram responder às necessidades da população. In [1] Ladislau Dowbor. Guiné-Bissau. A busca da independência económica. Editora Brasiliense-1983

FIM








quarta-feira, 30 de maio de 2012

SONHO DE UMA NOITE TROPICAL (24)



 Uma jovem recebe dinheiro de outras. O Almirante quer saber porquê. Diz para o Antenas:
- Traz-me essa jovem para falar com ela.
- Todas Juntas, vêm cá!
- É o quê?!
O Almirante interpela-a:
- Estás a fazer o quê?
- Eu?
- Sim!
- Estava a receber uns dinheiros das minhas amigas.
- Que dinheiro é esse?
- Almirante, é do nosso trabalho. Quer dizer, elas trabalham e entregam-me o dinheiro para eu guardar.
- Claro que não estudas.
- Eu?! Para quê, mesmo que estude não arranjo trabalho.
- Porquê o nome Todas Juntas?
- Porque sou a chefe delas. Facturam nas noites e faço a guarda do dinheiro. Comigo, elas sabem, está seguro.
- Deves ter muito dinheiro contigo.
- É verdade Almirante.
- Esses jovens com quem andas são maus conselheiros, são perigosos.

Foi-nos oferecida uma oportunidade para nos libertarmos. Infelizmente ainda não foi desta. Revivificou o Presidente:
- Eu não fiquei contente, por exemplo, que nós estivéssemos a discutir problemas dos funcionários da OUA. Eu não gosto dos funcionários. Gosto mais dos combatentes. Mas o que é certo é que estivemos a discutir problemas dos funcionários. E isto foi um desprazer para muita gente, para muitos chefes de Estado. Se nós continuarmos a consentir que o nosso Partido, o nosso Governo, tenha uma predominância de elementos da pequena burguesia, ou influenciados pela pequena burguesia, o que vai acontecer daqui a dois ou três anos? O que vai acontecer é que nós vamos mudar de orientação com as mesmas palavras de ordem, não cumprir aquilo que foi determinado pelo nosso Congresso e nós voltaremos a uma fase de capitalismo não confessado.
Nós não temos em Angola uma burguesia com poderes. Não temos, mas podemos ter no futuro, se não tomarmos cuidado. In Agostinho Neto. 27 De Julho de 1979. Discurso na cidade do Lubango.

- É verdade Almirante. Andam com muitas armas no carro. Fugimos porque mataram um polícia.
- A guerra ainda não acabou.
- Está pior. Os polícias podem aparecer a qualquer momento. E vão disparar para matar.
- Todas Juntas e contudo todas disjuntas.
- Não entendo Almirante.
- Deixa, é uma questão de informação.
O Filósofo segue esse detalhe sublime. Essa luta que ainda não está perdida. Acalenta:
- Dependemos da informação com actualidade. Nesta República do será melhor, e vamos fazer, do daqui a alguns anos. O país dos partidos. Temos mais partidos que bibliotecas. Deviam inaugurá-las em cada canto deste vasto país, e todavia por causa disso tão pequeno. Ensinar ao povo a cultura do livro. Povo que não lê, não entende o que é um partido. Delenda Carthago.
- Almirante manda-me descansar.
- Descansa.
- Não vou votar… não vou votar.

O Presidente lembrou-se de Shakespeare. Ser ou não ser eis o petróleo:
- Será que o Socialismo será manter populações sem habitação condigna, sem serem alfabetizadas, sem ter os liceus, os estádios, sem ter a possibilidade de desenvolvimento para as crianças, sem ter a necessária condição para a mulher poder trabalhar e criar os seus filhos? Eu penso que ainda estamos muito longe do Socialismo. Socialismo para nós é uma intenção não é ainda uma realidade. Quando não houver classes que se estejam a explorar umas às outras; quando não tivermos dentro do País um grupo ou vários grupos de pessoas a quererem ter mais vantagens do que os outros. Nós diremos que estaremos a construir o Socialismo quando tivermos a paz. Quando for possível termos a paz. E houve uma promessa de toda a população no sentido de acabar com o analfabetismo dentro do prazo o mais curto possível. Isso é importante para a aquisição de ideias, para aprender as ciências, para aprender no futuro a governar o nosso País. Nós não queremos cópias de outros países. Temos que organizar o nosso próprio País de acordo com as condições que aqui existem. Não queremos cópias, porque não podemos viver de cópias. Vamos, sim, aprender tudo aquilo que existe no Mundo e que seja útil para o nosso Povo. Vamos aprender todos os dias; pedir conselhos. Mas não copiar mecanicamente porque isso seria contraproducente. In Agostinho Neto. 18 De Agosto de 1979. Discurso em Malanje.

O Taxista era conhecido pelas suas peripécias. Começou a namorar com a filha de um general. A sua esposa estava grávida de seis meses. Não se sentia bem, estava doente. Abandonou-a à sua sorte. O dinheiro que ganhava gastava-o na bebida e com a sua namorada. A esposa foi de urgência para o hospital e não sobreviveu. Antes de ser taxista roubava carros e peças que entregava a um irmão para vender. O Almirante aborda-o:
- De quem é esse jipe?
- Do general.
- És um sortudo.
- É verdade.
- Como vai a filha do general?
- Não dá Almirante, tem muitos namorados.
- Ficas para as sobras.
- Fico satisfeito por trabalhar com o táxi. O dinheiro que ganho chega-me bem. Estou cansado de mulheres.
- Sim, tens razão. Não temos juventude para prosseguir com os destinos do país.

Porque teimamos em exteriorizar tudo o que sentimos em ondas sonoras que nos rebentam os ouvidos? – Angustiou-se o Presidente:
- E a situação financeira depende de quê? Depende da nossa produção. Nós não podemos viver de importações, estar a importar sempre, pagando àqueles que nos vendem; precisamos nós de realizar os bens necessários para o nosso Povo. Ainda temos problemas com a burocracia, com a burocracia que existe no nosso País e que se preocupa muito com os papéis – muitos papéis, muitos relatórios, muitas palavras e poucas obras. Temos de fazer com que o Partido corrija essa situação em cada província, em cada área do nosso País. Não podemos viver somente da burocracia, não podemos viver de papéis, de palavras, temos de viver dos actos! E por não terem servido, eles foram afastados e o que acontece nessas situações é o seguinte: cada um que se sente afastado, pensa sempre na sua vingançazinha, pensa que é o homem ou a mulher mais importante do país e portanto pensa na sua vingançazinha. A Revolução vai continuando, a revolução vai triunfar. Alguns de nós podem desaparecer. Alguns de nós podem ser liquidados na primeira esquina, mas a revolução vai continuar. In Agostinho Neto. 19 De Agosto de 1979. Discurso em Malanje.
Imagem: 28 de março de 2012 massuia. Charge de Millôr Fernandes publicada no O Globo
pavablog.com

segunda-feira, 28 de maio de 2012

O Cavaleiro do Reino Petrolífero (13). Reino Jingola, algures no Golfo da Guiné



«Tudo é uma simples exibição e uma abominável hipocrisia, de todos os partidos, em todas as épocas, com todos os governos; quando estão fora, lutam por entrar; quando dentro, lutam por não ser postos fora...» In Daniel Defoe (1660-1731)

Ainda existem reinos que por vontade própria regressam, vivem, revivem, convivem voluntariosos na política da Idade Média.

CAPÍTULO IX
ARQUITECTURA

«No conjunto, a realidade é que a maior parte das terras agrícolas do país é utilizada como reserva de valor, por grandes proprietários que preferem imobilizar grandes áreas e esperar que se valorizem por efeito de investimentos públicos e privados de terceiros, do que desenvolver actividades produtivas. Esta situação é em geral mal disfarçada pelo que se tem chamado pudicamente de "pecuária extensiva".»
In Reforma Agrária: Dados Básicos. Ladislau Dowbor http://www.dowbor.org/

Epok barafustava-se, falava, monologava: Iletrados, incultos é o que são. Não conseguem fazer nada que se aproveite. Mas estão sempre a reivindicar. Dizemos para trabalharem, respondem que não há trabalho. Nos vice-reinos há muito trabalho. Dizem que não há condições. Se calhar querem um palácio com piscina como condições.
Epok travou o monólogo, porque lhe veio mesmo de propósito à lembrança um documento que o marquês dos Analfabetos lhe enviara referente a um estudo feito por futuras arquitectas. O marquês alertara-lhe:
- Epok! Vê isto… estamos a formar analfabetos. Este reino está desgraçado, é obra de analfabetos.
Abanaram as cabeças desgostosamente. O texto dizia o seguinte:
(Caro leitor, este texto é verídico. Ilustra bem como vai o nosso ensino.)

INTRODUÇÃO
«A partir de 1975, de semana a semana, dia a dia, a capital Luanda vai e nascer, de modo avassalador, o número de utentes das suas, hoje, devassadas corroídas infras – estruturas. Montadas para servir pouco mais de 400 mil pessoas. Hoje positivamente a rebentar pelas custaras, a cidade de Luanda é vitima de todas as erosões possíveis.
Quando começarem a manifestarem – se, na pele da grande cidade Africana, as primeiras feridas preocupantes. Já passaram, pois muitos anos, os quais Luanda não cessou de e nascer e de receber gente, gente, mais gente, sempre mais gente. Um fenómeno visceral de guerra. Depois das eleições de 1992, nova onda de Deslocados, Refugiados, Mutilados homens e mulheres, com as suas crianças, Camponesas, Operários, funcionários, Militares tresmalhados do Norte, Centro e Sul do País. 

DESENVOLVIMENTO
Urbanização é o acto ou efeito do terror urbano ou citadino, isto é de transformar em cidades. A palavra « Urbanização » designa especificamente da área que ocupam, quem no seu número, quer na quantidade de pessoas que consagram.
Luanda é uma cidade apesar de tudo, estóica, lutadora, perseverante. As suas infras – estruturas estripadas, são ainda as mesmas de 1974 quando a cidade acolhia cerca de 400 mil almas. As mesmas! E os novos musseques, nas imediatas periferias são, agora, de betão! Construções ao Deus Dora, numa impressionante sequência de sofreguidões improvisas e clandestinidades com clandestinidade humana. Há edifícios de apartamentos cuja infra – estrutura comporta, na totalidade, fossas sépticas! Edifícios com uma média de 7 apartamentos por cada andar. Os rebentamentos em canalizações agudizam, no quotidiano de Luanda, o problema da rede de esgotos, talvez o mais sério de todas.
A deterioração dos edifícios comercias e residências do centro de Luanda e não só, rapidamente invadida por gentes dos musseques periféricos até mesmo de outros pontos do país. Aos poucos, este cenário altera – se porém, edifícios como o velho Hotel e outras estão irreconhecíveis. Outros imóveis, entretanto, conheceram cuidados de manutenção ou foram beneficiados.
Luanda-SUL
Luanda vai crescer para sul, com os nossos bairros, mais casas para habitação. A empresa provincial de projectos em conjunto com uma multinacional, será o embrião de uma empresa mista ( dotada de regime especial aduaneira fiscal e cambial  ) que deverá acompanhar outras iniciativas da “Revitalização” urbana de Luanda.
No entanto a nova urbanização “Luanda Sul” uma inovação se desenha na construção das casas sociais vão participar ( mão de obra ) as culturas utentes das novas urbanizações. Muitos jovens poderão iniciar – se deste modo os operários ou artifícios no ramo da construção civil.
No que toca as “casas e económicas” com base no programa distribuímos o talhão entregamos. Projecto e o usufrutuário passa imediatamente à construção da casa.
Por onde se estende essa nova urbanização?»
Estende – se para sul da cidade Luanda. O programa este dividido em 3 partes, 3 segmentos onde novos bairros serão implantados:
1. É a plataforma que sai do Bom Jesus o bairro de Viana e vai por Benfica, até a zona do Golf. Será a vertente das casas de renda alta. Para gente com recursos. Venderão os terrenos, ai! em direito de superfície.
Varre – se qualquer possibilidade de especulação imobiliária…
(E Epok enraiveceu-se com a interminável senda analfabéticahá estudantes do quarto ano de medicina que não sabem definir o que é a SIDA.)
De forma absoluta. Com o dinheiro que irão arrecadar ( na venda dos direitos de superfície ) criarão imfras – estruturas nessa vertente ( casas de renda alta ) e também nas zonas destinadas aos Bairros sociais. Respectivamente na zona frontal ao Golf na vertente Camama e na zona de Viana 2.    

O LIXO
Tudo não passa de uma grande lixeira. Uma lixeira de palavras prometendo acabar com o lixo numa cidade cheia de lixo. Foram precisos muitos anos para finalmente compreender e passar a respeitar o lixo. É tudo uma lixeira numa cidade que já foi tida como a pérola da África. Pelo menos é o que dizem algumas pessoas.
O lixo reina em Luanda, a Capital do lixo.
Dever – se – á criar um contexto apropriado para que se atinja a vitória: criar – se condições para que as pessoas se citam motivadas a desencher a capital e como consequência produzir – se menos lixo, reformar – se a rede dos esgotos para que depois das chuvas não haja águas acumuladas. Arranjar – se formas de diminuir o excesso de areia que transformam – se em lama sempre que chove.
Também envolver – se mais as Comunas e os Municípios de Luanda nesta tarefa? Uma tarefa pesada quando divide por muitos torna – se leve, quando estes muitos têm meios e o conhecimento de como fazem a tarefa o resultado só pode ser bom.
Nos mercados tem chovido, para além das pequenas varri delas feitas pelas vendedoras, campanhas de limpeza, com vista a conterem – se as monumentais quantidades de lixo existentes dentro e arredores dos mercados. Cada vendedor é que tem de limpar o seu sitio todos as manhas, antes de montar as barracas na sua área de trabalho.
As quantidades de lixo aumentam, as vendedoras continuam sem saber aonde depositar a imundice que produzem, principalmente as proprietárias de barracas de comidas e bebidas ( latas e garrafas ).
Para que haja uma nova urbanização é necessário que  haja uma analise baseada na simbiótico ( conjunto de ideias e emoções – representações – utilizadas na comunicação entre os seres e na exposição de ideias.
Os aviões saídos de vários países pausam no aeroporto “ 4 de Fevereiro”, em Luanda, despejam constantemente médias e pequenos comerciantes em busca de negócios rápidos.
Em Luanda, hoje praticamente, pode comercializar-se um pouco de tudo, de muitíssimas coisas. E como a necessidade, em qualquer parte, aguça o engenho, não há “negócios” que em Luanda não se façam. Mesmo assim, o tradicional comércio geral, com pequenas lojas, outrora espalhados pela cidade, está longe de um progresso em força. Lojas de vestuários algumas, sim. De porta aberta no coração de Luanda. Abundam, isso sim, as panelazitas. E os pequenos restaurantes. Como quem que seja, há uma grande distância ética entre as que fogem negócio a pensar, também, no que é importante a nutrição e a saúde das pessoas, e os que simplesmente chegam a Luanda dispostas a sacudir a “arvore das patacas” da nova era. Sem claro estar, olharem a meios. Deste aspecto Luanda é um verdadeiro lodaçal. 

CONCLUSÃO
«Luanda – Sul é um programa de desenvolvimento urbanístico que visa descongestionar o caso Urano da Província. Programa de novos bairros residências.
Luanda está hoje prensada por uma grande rede de musseques de balão: não houve, nestes anos todos. A passibilidade de acompanhar de uma forma a construção de moradias. O resultado é este: musseques de betão! Quando, noutras partes do mundo são Bairros de lata – chaparias, entabuados e outros matérias, facilmente remov´veis. Mas, se dizermos as contas, concluiremos que a construção clandestina, em betão, fica tão onerosa como se a obra surgisse em terrenos urbanizados a rigor. Com o programa Luanda – Sul vamos, pois, começar a fazer as casas de uma forma ordenada. Vamos meter na ordem a construção, isto é fundamental numa metrópole com 3 milhões de almas.
Ih! Ih! Ih! Que grandes mussequeiras. Ah! Não tenho nada que ver com isto. São assuntos do rei. Ele prefere estes futuros quadros à sua volta. Afinal para bem reinar, é necessário que ninguém tenha acesso à informação. Isso é perigoso. Abrem os olhos depois é o fim. Desdenhou Epok.


domingo, 27 de maio de 2012

A REPÚBLICA DAS MAIS-VALIAS



Angola é só para os estrangeiros, nós já não temos direito a nada.
No Inverno ganhei ódio/ E juro que o não queria/ Qualquer dia/ Qualquer dia. (José Afonso 1929-1987)
Com as carnificinas já institucionalizadas, a carnificina da energia eléctrica, da água, do desemprego, da corrupção, etc., etc., agora temos a última decretada carnificina que consiste em grupos de milícias devidamente institucionalizadas, que se atiram sobre grupos de cidadãos indefesos e os agridem até os deixarem em poças de sangue. Pretende-se para Angola uma solução Síria com o apoio da China, Rússia, Brasil e Portugal, mas isso aqui não seguirá avante. Significa que Angola agora é um Estado-Carnificina e um Estado-Louco? Uma mais-valia.
Luanda dos apagões, uma mais-valia.
Um Estado leninista caracteriza-se pela não satisfação dos anseios das massas populares, daí a sua morte lente, inexorável. As forças leninistas de ocupação insistem na sabotagem da energia eléctrica.
Ai do Estado que abandonar até à cegueira os seus cidadãos, porque nas chamas do vulcão será imolado. Esta ditadura já tropeçou nas areias-movediças, e nelas se afogará. O petróleo deste túmulo é leninista. A extrema miséria do leninismo é a nossa felicidade. E em Angola se edificará uma pátria de geradores. Desaparecer com a energia eléctrica não é ser inimigo da paz? Os amigos do petróleo são nossos inimigos. E Luanda assim tão contaminada de geradores, mais parece o maior acampamento de campanha do mundo. Uma mais-valia.
Nunca tantos incompetentes geraram tanta energia da desgraça. Quando o Governo é corrupto e gangster, nunca teremos água nem energia eléctrica. Se o Governo é só para o petróleo, muita miséria e morte nos esperam. Se o Governo está no desespero, a metralha voará sobre nós. Quando o Governo impõe a corrupção na medicina, ai das nossas vidas. Quando o Governo nos inunda de chineses e se vende a estrangeiros, só nos resta uma saída, o desemprego, e daí o roubo para sobrevivermos. Quando o Governo é irresponsável, que dizer dos cidadãos. Quando a classe religiosa dirigente se faz ao petróleo, os crentes oram pelo rápido regresso de Jesus Cristo à Terra, porque o fim de Angola está mais que próximo. Uma mais-valia.
Só nos faltava mais esta: é frequente, paranormal, nos jovens, eles e elas, quando de um ou mais compromissos, falham-nos e invariavelmente desculpam-se: «Esqueci-me.» Tá-se mal, tá-se, tá-se. Até que já mudei o nome de uma amiga minha para: Esqueci-me. Não será também por isto que o processo eleitoral se inviabilizará? Uma mais-valia.
Claro que não é a oposição que inviabiliza o processo eleitoral. Todos sabemos que a corrupção radical tem imensos interesses nisso. Onde já se viu um país como Angola, pai e mãe da epidemia da corrupção mundial organizarem eleições? Então a corrupção generalizada não é o acto mais que provado da inviabilização de qualquer processo eleitoral? É evidente que quem fica a ganhar mais 32 biliões de dólares, são os mesmos corruptos de sempre. E por favor não nos façam de parvos. A corrupção e os corruptos são uma doença de fácil transmissão, de viciação na contagem dos votos. E com o apoio chinês, brasileiro e português, a corrupção do voto… é certo. O que se pretende é a imposição de uma férrea ditadura para açambarcarem Angola só para eles, espoliarem. Também uma mais-valia.
E os constantes, alarmantes cortes, apagões no fornecimento da água e da energia eléctrica, também fazem parte do pacote da estratégia da desestabilização da oposição para a inviabilização das eleições?
Mais um a Sul, num prédio, corte furioso de ferros sempre com rebarbadora. Mais um mwangolé exercita-se na nobre arte do corte. E a Norte, o chinês desperta para o corte. Luanda é uma oficina muito barulhenta, ferrugenta. Isto é uma república dos cortes, cortam-nos tudo. Mas, o mano Bento Bento não acaba com isto, porquê? Então, não temos dias consagrados ao descanso? Governar é isto? Nos infernizar? Onde estão os tais fiscais da poluição sonora? E o chinês corta, serra, retalha Luanda. Recordo-me aqui há uns poucos anos, quando os nossos corruptos juraram que os chineses ao escavarem as ruas para nelas colocarem novas condutas de água, que não mais ela nos faltaria. Pois, é precisamente o contrário. Corrupto é mesmo assim. Afinal as condutas são para uso exclusivo dos seus prédios e torres que nos sugam a energia eléctrica e a água.
E amanhã reinicia-se mais um dia da nossa existência anormal, da anormalidade de outra semana, e nas próximas, permitiremos que assim seja?
Quem não denuncia a corrupção, é o quê? É corrupto. Um corrupto pode afirmar que todos os bens que adquiriu, e não são poucos, são o esforço do seu trabalho honesto? E por isso mesmo, os corruptos esforçam-se como ratos na proibição de manifestações, e a elas reagindo de modo desumano. Enquanto existir corrupção, é válida, bem-vinda a manifestação.
Na verdade vos digo meus irmãos e irmãs, que andam para aí algumas figuras públicas, dessas quase ultra defensoras da democracia, mas que na verdade não o são, andam disfarçadas de democratas. Exteriormente vestem-se como democratas, mas interiormente não passam de vulgares ditadores.
Não é por acaso que nos consideram o mais hilariante símbolo da idiotice humana, e porquê? Como é possível um Regime, campeão mundial da corrupção, os seus tribunais julgarem e condenarem alguém? Não é possível, é?! Sem justiça recorremos a quem? A toda a condenação ilegal, e no entanto aceitamos viver assim, reclamamos, reclamamos, e disso não passamos.
Com o incumprimento, a violação, o desrespeito integral da CRA, desprezo na sua totalidade, as leis não funcionam, atropelam-se como acabamos de assistir a todo o momento, claro, Constituição com corruptos nunca funciona, significa que Angola não tem, ou é como não existisse Constituição? A Lwena, acaba de mo demonstrar: «Angola é só para os estrangeiros, nós já não temos direito a nada.»
Uma coisa me intriga: porque é que os outros partidos políticos da oposição não manifestaram o interesse na organização de uma manifestação contra a tentativa de fuzilamento com barras de ferro desferidas contra Francisco Lopes do BD – Bloco Democrático, Ongs, sociedade civil, etc. Parece que não, mas a mais horrível das hipocrisias, é a hipocrisia da pornografia democrática.
Cristão é a pessoa ou crente que sente-se à vontade para praticar pecados, na certeza que Deus lhos perdoará?
O prédio ao lado já foi, está sem luz, o cabo eléctrico já deu o que tinha a dar. Daqui a mais algum tempo seremos nós. E assim se vão largos anos de uma vida quase inútil? Com tantos planos e projectos irrealizáveis por causa das faltas constantes de energia eléctrica. Assim não dá, a corrupção destrói as nossas vidas e logo, os nossos futuros, e mais grave, o futuro dos nossos filhos. Consentimos na educação de crianças que depois serão também corruptas.
E depois da Idade da Pedra, surgiu a Idade do Ferro, depois a Idade do Bronze, e finalmente o culminar da civilização humana: a idade das Barras de Ferro.
Em Angola existem alguns poetas, escritores e intelectuais, muito poucos. Os outros são os resíduos e refugos da produção petrolífera.
E no lugar da estrela, da roda dentada e da catana, da bandeira de Angola, não será preferível retirar estes símbolos e no seu lugar colocar barras de ferro?
Alguns fazem aproveitamento político da situação, outros fazem aproveitamento dos lucros petrolíferos exclusivamente depositados nas suas contas bancárias dos seus bancos.
Vale mais um poeta e um escritor honestos, do que uma multidão de poetas e escritores corrompidos pelos 32 biliões de dólares, que eles não sabem poetar nem narrar. O petróleo é a sua fonte de inspiração. Poetas, escritores e intelectuais que cantam os feitos do sangue das barras de ferro. Este petróleo está muito ensanguentado, quem o limpará, purificará?
«Angola é dos poucos países que conheço, onde até os intelectuais festejam a violência e a repressão havendo mesmo alguns que nunca tiveram problemas em "sujar as mãos com a massa”. Depois arranjam as justificações do costume e na maior das calmas vão para casa acabar de escrever mais uns poemas de amor... » In Reginaldo Silva. Uma mais-valia.