terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

SONHO DE UMA NOITE TROPICAL (12)


- Ó Branco, já não és português, és angolano. Um Branco de segunda ou de terceira.
- Creio que só uma vez em trinta anos me enviaram cadernos eleitorais. Sinceramente, não sei o que pensar dessa democracia. Sinto que, como cidadão não existo. Tal como lá e cá, sou desprezado. Sinto-me como um pária.
O Almirante aprofunda a questão:
- Antes era colonialismo. Para continuar a escravidão anterior inventaram a democracia, para a nova escravidão. Não se alterou nada, apenas mudou o nome. A prova disso é os desempregados, os esfomeados, as prostitutas, as importações. Tudo vem do exterior, o jindungo e até a água para beber, com tantos rios que temos, vêm de fora.
Um carro passa com um caixão. Pára num óbito mais à frente. O Almirante profetiza:
- Vamos ter no próximo ano uma taxa de falecimentos que será a maior do mundo.
- Já alguém disse: o que ganha facilmente se entrega facilmente. – Disse o Filósofo.
- Vais ganhar o Prémio Nobel do alcoolismo. – Prometeu o Poeta.
- Para viver neste mundo, temos que ser bêbados, drogados, preguiçosos, gatunos, ter mais que uma mulher, e sermos ateus. – Zombou o Almirante.
- A culpada disto tudo foi a Tétis. Mergulhou-nos pelos calcanhares no rio Kwanza, é por isso que somos muito vulneráveis. – Acusou o Filósofo.
- Não é nada disso. Somos fracos porque estamos sempre a mostrar os nossos calcanhares. – Defendeu-se o Almirante.
Uma jovem mestiça sai do carro e caminha na direcção de uma vendedora. Compra duas cervejas e um pouco de jinguba que leva num papel. O Vodka observa:
- Oh! É parecida com aquela misse mestiça que…
O Almirante interrompe:
- Isso é um erro grave que estamos a cometer. Nunca deveríamos permitir essas coisas. Não é possível num país com milhões de negras eleger uma misse mestiça.
O Branco não se contém:
- Toda a sociedade desorganizada está exposta ao racismo. Há regimes que nos governam e a todo o momento somos confrontados com os crimes que nos oferecem. É o que resta das teorias comunistas. Estas quase acabaram, mas alguns ainda insistem na sua permanência. O comunismo orgulhava-se de manter a sua população na miséria. Mesmo assim ainda lhe lançava impostos. Era a satisfação, a cópia do regime nazi. Como exterminar as populações sem dar nas vistas. Ideologias da miséria.
- Nunca digas a ninguém que estás na miséria. Vão-te desprezar. – Bradou o Vodka.
- A nossa revolução deu-nos a liberdade de roubar e de beber. Isso significa que somos livres. – Lamentou o Hepatite.
O Almirante apega-se à fortaleza da sua vasta cultura:
- A procura do ser humano será sempre eterna, na demanda milenar pelos caminhos da liberdade, a qual jamais encontrará. Este é o nosso verdadeiro caminho. Outras Idades Médias estão à nossa espera. Os progressos científicos não nos trazem melhorias. Basta ver a fome da nova liberdade. Cada nova revolução é uma nova escravidão. O pouco da liberdade que nos resta devemo-la a John Locke.
- A nossa liberdade já foi um arquipélago. Depois uma cidade. Em seguida cortaram-lhe os braços e as pernas. – Acrescentou o Filósofo.
- Só falta cortar-lhe a cabeça. – Sentenciou o Poeta.
- Não é preciso, está cheia de bebida. – Garantiu o Hepatite.
John Locke e Voltaire deram-nos a liberdade. Entretanto, uma televisão, um jornal e uma rádio continuam no caminho glorioso da Revolução Francesa. – Contestou o Filósofo.
- Marat, Danton e Robespierre reencarnaram. Estão no seu devido lugar. – Apoiou o Poeta.
- Mais pragas, mais pragas, mais desgraça. – Propôs o Pragador.
O Almirante acende outro Angola Combatente. Bebe mais uísque e diz:
- As piores desgraças da história da humanidade não são os terramotos, os ciclones, os maremotos, as epidemias, a fome.
- Então quais são? – Quis saber o Vodka.
- Jesus Cristo e Karl Marx.
- Não vou votar… vou votar no partido dos alcoólicos. – Jurou o Pragador.
O Almirante votou na saga do bom prelector:
- Olhem para essas folhas que estão nos ramos. Para que as árvores fiquem verdes, não necessitam de pedir autorização a ninguém. Apenas dependem de nós no fundamental que é regá-las de vez em quando. Nisso nem a Natureza é completamente livre. Dependemos sempre de qualquer coisa. Infelizmente muita gente finge não se aperceber disso. Esta civilização herdou o egoísmo e a hipocrisia de quem? Gostaria de saber, mas não me preocupo muito com isso. Porque para beber não dependo de ninguém. Quem paga a próxima?!
- Já está paga. – Responderam todos.
E continua:
- Muitas pessoas sentem-se realizadas na vida porque compraram um jipe cheio de brilho. Acho que se sentem como o céu numa noite clara com muitas estrelas a brilhar. Na Grécia e em Roma os heróis eram valorizados. Os heróis de hoje nem os restos de um fardo de palha têm para comer. Há pessoas que trabalharam toda a vida e não conseguiram amealhar um pouco de dinheiro. Enquanto meia dúzia de outras em poucas semanas ficaram ricas. Não há tempo a perder. Que vença, desculpem, que roube o melhor. Nesta batalha só há vencidos. Escravos como o Job bíblico que depois de passar a vida na miséria, estando já no fim é recompensado, mas nada ganhará com isso. Com isto, as religiões continuam a alimentar a escravidão. Estão felizes por terem milhões de Jobes.
- Ah! Como são insondáveis os caminhos do dinheiro. – Reflectiu o Filósofo.
- Como é que conseguem dinheiro para beber? – Perguntou o Branco.
- Temos mais que uma mulher. – Insistiram, responderam quase todos.
São quase duas horas da manhã. O barulho das garrafas e das latas continua. É preciso continuar a beber. Ouve-se o ladrar de cães por todo o lado, devido a pessoas suspeitas que se aproximam das residências com maus intentos. A energia eléctrica tinha sido restabelecida, mas não durou muito tempo. O Almirante diz:
- São problemas do PT.
O Branco tenta ir ao fundo da questão:
- Disso não há dúvidas. Tiram-nos tudo… até já me garantiram que o Drácula vai investir num banco de sangue. Disseram-lhe, que aqui chupar sangue é fácil e tão delicioso, que há uma grande oferta de clientes e… que loucura, isso do PT. Desses que os chineses montaram e continuam os problemas com a luz?
- Não é bem assim. Os chineses não são culpados. Montaram os PTs que lhes encomendaram. Fizeram isso. A distribuição não é da sua responsabilidade, a não ser que lhes digam para mudarem todos os cabos eléctricos das ruas. Isto é uma operação de propaganda para justificar os quinze por cento da angariação do contrato.
- E para onde vai esse dinheiro? – Quis saber o Branco.
- Para as misteriosas ilhas encantadas.
O Branco acrescenta:
- Simulam falhas de luz para nos obrigarem à compra de geradores. E devido a isso, aquilo com que nos alimentamos, os preços sobem porque os que importam se acham no direito de incluir os quinze por cento. É isso: somos a república generalizada dos quinze por cento. Já nos apelidaram de R15.
O Presidente ajeita os óculos. Olha para a Treze Anos e comenta:
- Nós encontramos a cada passo militantes do MPLA… Desde que nós vencemos a guerra, toda a gente é do MPLA… mas alguns só dizem que são militantes do MPLA. Toda a gente se lembra da época das demarcações: quando aparecia um comerciante qualquer, ia demarcar a lavra de um cidadão angolano e depois, no dia seguinte, vinha o Administrador e dizia: «Sim, senhor. Tirem daí as suas casas, porque o terreno pertence agora a este senhor que está aqui». Em vez de termos exploradores colonialistas, como havia antigamente, teremos exploradores angolanos. Porque os maus sentimentos não existem numa só raça. E portanto, não é com bons sentimentos que se resolvem os problemas políticos. É preciso impor regras que sejam rigorosamente seguidas: se vamos esperar que cada um tenha bons sentimentos, não vamos resolver os nossos problemas… In Agostinho Neto. 5 De Fevereiro de 1977. Discurso na assembleia de militantes em Ndalatando.
Imagem: Postado Originalmente no site: Pequena Infante
cronicasdofrank.blogspot.com

segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

A República das reservas fundiárias do Estado


Caracteriza-se por ser uma república onde os cidadãos (?) não têm direito à terra, logo, esta é-lhes espoliada e entregue a estrangeiros para os devidos e legais efeitos. Caracteriza-se ainda também pelos cidadãos serem reserva, gado, e como tal sujeitos a deportação para os imensos campos de concentração que ironicamente lhes chamam Tchavola, Zango, Tendas, etc.
Temos um batalhão de juristas e a justiça não funciona. Temos um batalhão de economistas e a economia não funciona. Temos um batalhão de poetas e não temos poesia, ninguém lê. Não temos um batalhão de engenheiros, o que ninguém vê, só muitos batalhões de estrangeiros passando-se por engenheiros.
A última invasão neste reino das epidemias: empresas imobiliárias que já suplantam de longe, os exércitos de doutores e poetas. É necessário partir casas e proceder a desalojamentos forçados, este estado-maior de gente precisa de trabalhar. E como o nosso partido da vanguarda imobiliária lhes abastece com os solidários e fraternos laços, a curto prazo respiraremos muito pó vulcânico.
E o mwangolé lutou na luta de libertação nacional e conseguiu a independência. Agora, independente, expropriam-lhe a terra. Destruíram-lhe o casebre, roubaram-lhe o emprego, a água, a energia eléctrica, etc, etc. E se tentar alguma reivindicação, respondem-lhe com a realidade da independência da repressão. Há dezenas de anos que está de luto.
É como dizer a um desempregado: «Vai trabalhar.» E por mais que tente arranjar emprego não o consegue, porque os estrangeiros e a casta angolana no poder surripiam tudo. Isto não está mau, nem péssimo, está horrível. O desemprego está messiânico, massificado, os assaltos também.
Quando se organizar o campeonato africano de futebol da corrupção, e o mundial de futebol da corrupção, quem será o indiscutível vencedor?
A repressão é sempre proporcional ao tempo no poder. Quanto mais tempo no poder, mais repressão se exerce sobre até quem dele desconfia ou que pensa mal dele.
Keynes tinha razão. Paul Krugman: «Cortar no gasto público quando a economia está deprimida deprime a economia ainda mais.»
Muito curioso, sim senhor! Quantos mais ganhos com o petróleo, menos água e energia eléctrica temos. O que é que está errado?
Acabei de ver o programa PATO da TPA 2 onde perguntava-se sobre o dia 4 de Fevereiro. Fiquei arrepiado!!! Quase 95% dos entrevistados não sabia dizer a razão histórica e o ano em que aconteceu. Muitos associaram ao dia dos namorados, dia da independência e do herói nacional. Afinal em patriotismo estamos mesmo mal!! Oliveira Paulo Paulo. Facebook
Reunião do CAP 35 (condomínios de Talatona) no sábado, para eleição da nova direcção. Correu tudo bem, a nova Direcção foi eleita por unanimidade (100%) dos votos... Fiquei super feliz por fazer parte da Comissão Eleitoral e ter contribuido um pouquinho para a democracia. Agora é trabalhar para cumprir com as metas do novo programa. D'jamila Cruz. Facebook
Pelo chiar da desengonçada carruagem que é Angola, podemos considerar que já iniciámos o ciclo do estado de sítio? Temos tudo racionado, mas a repressão e a corrupção correm a rodos.
Espatifar milhares de casas e abandonar mulheres e os seus filhos nas ruas ao diabo-dará, não é crime de violência doméstica?
Bwala Press.
Magia
Uma kinguila, onde o vento faz a curva, trocou cem dólares a dois moços, eles estavam com um saco de plástico. Depois deles se afastarem, ela abriu o seu saco e viu com espanto que estava vazio. Afinal os moços fizeram-lhe magia e limparam-lhe mil dólares. E o dinheiro que era para mandar para o filho que está doente nos EUA, lamentou-se.
Até o nosso funji
Chinesas no Kikolo já estão a aprender como se cozinha o funji, para depois começarem a vender. E as nossas manas vão para o desemprego?
18Fev, 10.00 horas. Mais um assalto nos sênês
Estabelecimento dos sênês (senegaleses) outra vez assaltado.
Localizado em Luanda, na ex-Avenida do Brasil, próximo à também ex-DNIC – Direcção Nacional da Investigação Criminal.
Há cerca de um mês este Bwala Press noticiou que o estabelecimento fora assaltado.
Agora, dois assaltantes armados carregaram tudo o que quiseram e saíram como entraram, nas calmas. Eles, antes, aguardaram que todos os clientes saíssem.
Duas testemunhas informaram ao Bwala Press que a coisa está a ficar muito preocupante, de receio, de muita insegurança, pois que em pleno dia acontecem muitos assaltos que provocam instabilidade quanto ao futuro. Tá-se mal, tá-se, tá-se.
A menina de cinco anos.
Há cerca de mais de um mês, três kinguilas próximo da Farmácia Medtech, Largo do Zé Pirão, Luanda, exerciam a sua actividade kinguilar, isto é: vender e comprar divisas. São cerca de vinte e três horas. Está tudo calmo, só se ouvindo de vez em quando os habituais drogados das motas de escape livre que agora imitam disparos de canhão, propiciando o ambiente tumultuoso que se aproxima, e que a polícia (des) controla. Na verdade estes marginais do troar nocturno andam à vontade porque são filhos de um ou de outro senhor da nomenclatura novos-ricos.
Dizia, que a calmaria abundava nos espíritos e que a noite cumpliciava devidamente, até que repentinamente uma menina para aí com cinco anos surge como do nada. O trio de kinguilas espanta-se, olha para a menina que não pára, atravessa a rua para a outra margem, segue até ao largo da ex-Avenida do Brasil com a Alameda Manuel Van-dúnem, atravessa-o nas calmas e segue, segue até antes de o seu vulto desaparecer, e lhes acene com as mãozinhas a dizer-lhes adeus. Uma das kinguilas explica que a menina é uma feiticeira. Então, as kinguilas aterrorizam-se e bazam a mais de cem à hora para as suas casas.
Nos dias seguintes até à data estão muito atentas. Se lhes aparece outra vez a menina, ou outra qualquer, elas vão correr, bater recordes nacionais de atletismo até hoje nunca alcançados.
A moça muito bonita
O jovem pára o seu popó, chama uma kinguila e troca-lhe uma nota de cem dólares por kwanzas. Arruma os kwanzas no bolso, na carteira não dá porque facilita a vida dos excomungados do petróleo, e prepara-se para zarpar e conquistar as mboas da noite, e com elas ir até ao fim do mundo. Mas, ao olhar para a árvore próxima vê encostada uma jovem muito bonita. Acelera o popó, dá a volta ao quarteirão, regressa ao ponto de partida e a jovem continua encostada na árvore. Repete o trajecto mais duas vezes e a moça muito bonita continua sozinha encostada na árvore. Então o jovem decide-se, gala-a, ela aceita sem pestanejar e partem unidos para as aventuras noturnas do amor.
Engalfinharam-se, entrelaçaram-se e exaustos depois da luta sexual adormeceram entregues ao abandono da lascívia, dos desejos sexuais satisfeitos, anti-depressivos.
No outro dia as kinguilas perguntaram-lhe como é que foi com a moça muito bonita. E ele abriu muito os olhos de espanto, aterrorizados, e com uma voz que dir-se-ia não é deste mundo, consegue balbuciar: «Eu, de manhã, quando acordei, ao meu lado… estava… um… ESQUELETO!»
Bruto assalto
Ontem, 18Fev, de dia ou de noite este BP não conseguiu saber, oito excomungados do petróleo armados, na auto-estrada que conduz ao Estádio Nacional 11 de Novembro, quatro assaltantes limparam a receita das bombas de combustíveis, enquanto os outros quatro limpavam o supermercado próximo. E os seguranças? Levaram surra.
A cantina
Algures num dos bairros de Luanda. O “sênê”, senegalês, atendia normalmente a sua clientela. Até que as coisas começaram a correr-lhe mal porque os assaltantes assediavam o seu estabelecimento e passaram a assaltá-lo no período nocturno. Então, o “senê”, quando anoitecia colocava gradeamento e atendia assim os seus clientes protegido pelas barras de ferro. Mas os assaltantes não gostaram da ideia. Então decidiram-se a por termo à segurança gradeada. Chegaram, arrombaram o gradeamento e pegaram fogo no estabelecimento.

domingo, 26 de fevereiro de 2012

JES-MPLA, o messias. Voltaire Ngola


Quando a ditadura diz
a nossa vida vai melhorar
significa que as nossas casas
vão desabar, arrasar
E onde existir ditadura
não há nenhuma novidade
corram, corram, libertem-se
da irresponsabilidade

A nossa luta é a condição
de nos libertarmos
da imposição da solidão
da prisão
vê-se em cada olhar
a tristeza do dizer sempre
não! Do messias impopular
em cada gesto da ditadura
uma vitória
uma derrota da amargura
Não me canso de andar
invadindo-se nos meus caminhos
tenho sempre muitas seitas
para observar
evito-as, receio-as, nelas não entro
nelas não vou orar

Tantas e tantas pedras
atravessadas no meu caminho
porque é que me fazem isto?
Nem um simples gesto de carinho
estou aqui sentado
já sem as verdes ramagens
em baixo tantos esfarrapados
espoliaram-lhes as roupagens

Estamos no cume do cinismo
dos fascismos
do fingir democracia
mais nada, não existimos
E com uma farda
está-se legalizado
pode-se roubar à vontade
está tudo controlado

Já estamos sem faces
desfeiteados, despersonalizados
sem manifestações, acorrentados
REVOLTADOS!!!
Que faremos messias?!
Não te lembras?!
Pois, já estamos desfigurados

Messias, estamos cansados
de tanto nos esbofeteares
estamos sem faces
de tanto nos neocolonizares

Portugueses, brasileiros, chineses
vão chegando
e uma nova Angola
vão edificando, explorando
Minhas senhoras e meus senhores
Cuidado! Jamais acreditem
em libertadores

Dos 32 biliões de dólares
que açambarcaram, tchavolaram
até as praias privatizaram

sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

O cavaleiro Mwangolé e Lady Marli na demanda do Santo Graal (12)


E tudo os bancos nos levaram e lavaram na gigantesca lavandaria global.

Quando a beleza é imensamente profunda, rareia como o amor num dia enevoado à procura de claridade. O olhar move-se tentando perscrutar o enigma humano do porquê do vento soprar forte para arrastar as sementes que irão fecundar-se na terra. Como a terna e eterna beleza de uma mulher naufragando na ilha perdida do amor. É isso que também se chama um doce reencontro.
Mas existe mesmo alguma outra música pelo mundo afora que ultrapasse as nossas baladas “sulanas”, as nossas sunguras?

Mas que diabo de sindicatos são estes, tão representativos dos trabalhadores, que a única reivindicação é um mísero aumento salarial? E onde estão as convocações para greves? Estão proibidas desde 1975, mas antes desta data faziam-se greves todos os dias. Pretendia-se a tomada do poder pela destruição de todo o tecido empresarial e assim a derrocada da economia, e conseguiu-se, até hoje nada funciona. Para que o petróleo dê dinheiro para encher os bolsos de alguns particulares, o resto que se dane. Mas que revoluções são estas que nos conduzem, nos perdem no tempo da Idade Média?

E onde existir oposição e qualquer manifestação do contra, lá estarão os nossos bravos Ton Macoute, e Mau-Mau para os eliminarem. A nossa democracia é una e indivisível. Nós somos por mérito próprio os únicos democratas da democracia.
E as ruas de Jingola mudam de nomes, adpatam-se aos tempos da exterminação, do genocídio dos povos: Rua da Morgue1, Rua da Morgue2, Rua da Morgue3, e assim sucessivamente.
Ó senhores da oposição! Perante tal descalabro que acomete, a cidade de Jingola arredores, com brutais ataques desferidos contra tudo e todos que são oposição, ou quem manifeste opiniões contrárias, não é chegado o momento de se unirem numa só força e organizarem uma manifestação? Se não conseguirem, então abandonem a política e vão, por exemplo, pastar gado, ou vender quinquilharias nas ruas, que são actividades dignas de seres humanos. A oposição tem que fazer manifestação, se não o fizer, não passa de uma ilusão.

E a toda a espoliação não há lugar a indemnização. Em Jingola solicita-se a intervenção urgente do TPI? Dos preços dos bens alimentares sobem, e a miséria vai a galope, a galope. O que resta da oposição é um perfume enjoativo, antidemocrático.

De vez em quando desligam a Internet, será por causa dos mosquitos?

De país, de reino, já não aparenta nada, tem mais é ares de uma ilha de caçadores de cabeças. Como o nosso Jornal do Povo Jingola, órgão oficial dos caçadores de cabeças. Já está, o nosso governo encontrou a fórmula mágica do combate à pobreza. São as parcerias político/privadas. Bem-haja, nosso esclarecido e governo instruído. E com todos os meios de informação em seu poder é possível a campanha eleitoral para as eleições? Creio que não, porque não se podem criticar os deuses que nos governam, e aos quais devemos subserviência.
Jingola é como uma caverna onde nela vivem pterodáctilos. Há sempre um tribunal especial para julgamento de casos especiais. Os tribunais que julgam e condenam os opositores e aqueles que os defendem. Para cada opositor o seu tribunal.

Afinal o nosso desenvolvimento social só necessita de uma alavanca? É necessário e urgente que nos libertemos da ditadura, mas que não nos precipitemos noutra miséria da corrupção democrática. Porque há muitos lobos maus disfarçados de democratas, que querem sair da selva ditatorial e entrar na selva democrática.
E isso da guerra da luta de libertação há muito que terminou. Agora, é a grande luta, a grande guerra da espoliação. E nesta contenda quem no final será o vencido? E o vencedor?
Nenhuma lei se cumpre, excepto a da corrupção, que tem sempre eefitos retroactivos. Definitivamente, o que se pretende com as leis é a privatização da liberdade, unipessoal, barbaramente repressiva. O regresso ao passado dos imperadores. Portas escancaradas à escravidão, pela venda de Jingola a estrangeiros. Na realidade o que se passa é a explosão da paranóia governativa. Façam o que fizerem e entenderem, Jingola não voltará aos tempos da cortina de ferro colonial. Jingola será democrática por vontade própria, e a reacção não passará. É o fim anunciado de mais uma ditadura benigna. Enunciado de mais uma calamidade inumana. Como se o desastre da Costa do Marfim não fosse relevante nem eloquente. As masmorras estão abertas para encerrar a democracia. É o momento para se manterem no poder eternamente.

Ainda há pouco exteriorizavas todos os teus sentimentos em terra, na tua terra, da tua e nossa eterna luta. E agora já estás, ou estarás no céu, no rumo do réu mundano. Tu partes, eu fico, ficamos, mas brevemente regressarás e dar-te-ei o abraço que não consegui agora dar-te. Tu partes, outra vez, qual Fawcett, Indiana Jones, na perseguição dos esconderijos arqueológicos que revelam o enigma humano, que afinal não tem nada de enigmático, pois todos o conhecemos. Só não sabemos quando e como ele se manifesta, isso sim, é o grande enigma. Mas os caminhos abrem-se-nos, basta procurá-los e encontrá-los no derradeiro momento em que dizemos adeus à vida, e nela oferecemos o repouso das nossas obras inesquecíveis, o farol das gerações juvenis vindouras.

Em Jingola o assédio sexual não é crime, e a pedofilia até se encoraja perante a leveza das sanções criminais.
Quando eles nos falam em números e não apresentam provas da sua evidência, então esses números não têm qualquer utilidade.
Porque é que muitas das empresas em Jingola não apresentam as suas contas em divisas?
Porque é que as empresas em Jingola apresentam prejuízos, ou lucros mínimos, quando na realidade têm lucros?
Porque é que grande parte, ou todas?, das empresas em Jingola falsificam documentos nas suas contabilidades?
Quando no tempo da tropa colonial alguém me confidenciou algo que até hoje, quando de vez em quando me recordo, e me deixa estupefacto: «Olha, esta gente, eles quando nascem, quase todos morrem por causa da vida que levam, a que já estão habituados. Mas aqueles que não morrem, os que conseguem salvar-se, esses tornam-se muito fortes, muito resistentes».
Não há ninguém insubstituível?! Que o Santo Purgatório me valha! Então, o pai e a mãe o que são?! A guerra acabou ou as armas é que são diferentes?
A nação Jingolana está dividida em duas forças: a força de alguns democratas da liberdade e a força da ditadura leninista. Os novos-ricos venderam Jingola aos Tsin, porquê? Porque tudo o que existe por aí nas ruas vem com o rótulo, made in Tsin, tudo vigarizado claro, contrafeito. É que não dá para comprar nada nesse made, porque é uma descomunal vigarice.

Os ditadores são como os alcoólicos. O ditador diz que é democrata, defende e zela a democracia, o alcoólico jura que nunca bebeu.
Não é o simples acto de entrega de uma casa que liberta os espoliados da miséria. Na realidade é muito, muito mais do que isso. Temos que nos preparar devidamente para enfrentar esta ditadura, retribuir-lhe com as mesmas armas repressivas com que pretende esmagar-nos.
Quando o fim de um regime brutal se aproxima, nasce constate repressão que conduz à mobilização popular, à convulsão e mais revolução.
Quando um regime ditatorial não permite a livre expressão, é só prisão, todos os métodos de luta são válidos. O ditador genuíno é aquele que vive com a sua família na opulência, enquanto a população definha na extrema miséria. Até a água potável o ditador lhe explora. Quando um ditador reprime uma manifestação de descontentamento, mais uma, duas… várias se sucedem até que o ditador sucumbe de vez. É perfeitamente natural que com estas agressões de cunho animalesco à democracia, nasça, é sempre assim, células de movimentos de terror contra o regime. O poder não está interessado nem um pouco em promover a democracia. Quem promove o terror é sempre o poder que não cede perante as reivindicações dos ostracizados. Algemar alguém para o silenciar, é provocar o sublime revoltar. Parece que não, mas todos os momentos das nossas vidas são de revolução. E enquanto a ditadura passeia as suas promessas de uma vida pior, os militantes do partido do lixo agitam-no sofregamente, alguns resquícios sobrarão, nesta vida sem degraus, sem pão.
Temos que lutar, não contra os ocidentais, mas contra as ditaduras africanas. É necessário que as pessoas conheçam os seus direitos. O direito da manifestação é um deles. E a moda instituiu-se: o adversário político ou de pessoas de quem não se gosta. Para cada ditador a sua ditadura, para cada seu filho o seu banco.
Correm-se com os vendedores das ruas para se esconder a miséria reinante. Os campos de concentração nazis eram bonitos, acolhedores no exterior. Mas no seu interior era o inferno.

Em quase quarenta anos de poder, exceptuando as bibliotecas das maratonas alcoólicas, o nosso grande líder nem uma biblioteca municipal inaugurou.
E pergunto-me: mas como é que alguns palermas conseguem comprar carros no valor de cento e cinquenta mil dólares ou mais?
Um só reino uma só empresa, um só chefe, uma só família.
E o reino foi entregue a uma fraudulenta empresa mineira que escraviza as populações nas suas minas.
E os mercados municipais não se constroem, no seu lugar nascem novas centralidades para nelas chafurdarem os lavabos da lavagem da corrupção.
Quanta mais repressão maior a explosão da lava do vulcão. Os vulcões explodem porque a repressão do seu cone é quando a pressão do cume do vulcão é insustentável, ele explode, alguns demoram dezenas de anos, outros, alguns anos, alguns poucos anos, mas inevitavelmente todos explodem. E no seu avançar, Jingola retrocede, estamos a pressionar demasiado no tempo da miséria.

Antes de imaginar, já te imaginava.

É isso! Viver na fantochada de um mundo onde nada nos pertence.
Olho para todos os lados e só vejo, recebo ameaças. Insisto em olhar para o céu, pode ser que lá me safe, mas também não, porque há muito que sou ameaçado. Para o altíssimo, resta-me olhar, safar-me aonde? Na sepultura? Será que consentirão? Se não fores verdadeiramente independente, nunca serás ninguém
A questão é que normalmente o jornalista não consegue ver, escrever para além da imagem que viu e no-la transmite. O verdadeiro jornalista é o que nos consegue desvendar o esconderijo das imagens jornalísticas, a essência da informação.
O mais importante não é governar, é espoliar. O pior inimigo da democracia é o medo.
A nossa miséria não é de causas naturais, foi-nos imposta pela força da tirania.
Tudo isto é a mesma coisa que construir um magnificente palácio no meio de um grande deserto.
A guerra ainda não acabou. Está mais desumana do que nunca. Concederam-se umas tréguas durante escassos anos para preparar armas mais sofisticadas, como a da informação para aniquilar de vez o inimigo. E entretanto é o vale-tudo.
É frequente ouvir: um bêbado bateu no meu carro. Como um facto assente e aceite como normalidade. Ou ainda mais aterrorizante: os bêbados estão a bater nos médicos.
Não é um, são milhares de barris de pólvora que explodirão como nunca antes vistos.

Quando acontece a recolha das receitas dos postos de venda de uma conhecida empresa de venda de telemóveis parece a guerra do Iraque, ou a captura de um famoso terrorista mundial. Paz onde estás?
Já vi estes tempos, poucos anos antes da revolta dos cravos em Lisboa. A marca registada é que a energia eléctrica e a água nunca faltaram. A revolução em Jingola é inevitável nesta náusea sempre perseverante nos que antecedem a libertação.
Vi uma minúscula multidão de animais selvagens acabados de fugirem do jardim zoológico em extinção, e a prometerem mundos e fundos à população. E conseguiram quase, outra vez, atingir o poder. Mas já não dava porque as outras espécies animais estavam cansadas de os aturar. Já ninguém acreditava no que eles diziam. Escapavam no último momento das fogueiras que lhes preparavam. Tiveram um fim muito infeliz. Todos foram supliciados nas mãos da população louca de revolta.

E da fonte escorria a beleza do eterno amor. E os jasmims-dos-poetas lhe rodeavam mas nunca a alvoroçavam. No ar sentia-se - ou ouvia-se? – o perfume jasmináceo que insistia, confundia, a memória colectiva dos nossos sentidos do amor. E uma borboleta-azul de voo indeciso, ora subia, ora descia, parecendo que ia poisar, mas não, só desejava voar. E por algum tempo os raios solares perfuravam os interstícios verdes e projectavam, revelavam a magia dos seus focos luminosos. E o sussurro monótono da água que escorria, não… se movia, atraía-nos as profundezas neuronais. Era o Universo da beleza da realeza da profundeza do amor. Por vezes no cenário parecia ouvirem-se vozes de crianças, o que fazia com que o nosso espírito se despistasse, porque queríamos regressar à realidade mas não conseguíamos. Um casal de beija-flores aproxima-se a trinar como que a anunciar, eis que estamos a chegar. Um pequeno bagre deslizava num ponto mais fundo e analisava, experimentava as ofertas culinárias que estavam ao seu alcance.

Imagem: Não é fácil ser um homem só. Foi uma decisão tomada aos poucos, ...
osretratosdamente.blogspot.com

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

SONHO DE UMA NOITE TROPICAL (11)


Uma barulheira aproxima-se. É um carro da polícia.
- Caramba, chegaram os homens da grei! – Alarmou-se o Vodka.
- O que é que será desta vez? – Interrogou-se o Almirante.
O chefe da viatura sai e ordena:
- Todos daqui para fora!
- Porquê?! – Admirou-se o Almirante.
- Queixaram-se que fazem muito barulho, e isso é contrário aos bons costumes.
- Ó jovens, quem está a fazer muito barulho são vocês.
- Como assim?
- Com as sirenes dos vossos carros.
- Somos polícias e temos a lei do nosso lado.
- Então emprestem-nos um pouco do vosso barulho.
- Fujam! Chegaram os guardas do campo de concentração! – Gritou a Caribenha.
- Vocês não têm respeito por ninguém?! – Protestou o Almirante.
- Desculpe, não entendo. – Disse o polícia.
- Já não existem hierarquias?
- Desculpe senhor Almirante tem que tirar o seu carro. O brigadeiro disse que onde ele está, não pode estar.
- A rua é dele? Foi comprada com as sobras do Alasca? Não o tiro. Se quiserem, podem levá-lo.
- Está bem Almirante. O brigadeiro mandou fechar o trânsito na rua por motivos de segurança.
- Ah! E como é que vamos sair daqui?
- Não sei Almirante, são ordens superiores.
- Desordens superiores? Ele é meu inferior. É pá! Não quero saber disso. Vou sair daqui normalmente. Porra! Que grande república das bananas.
- Dos bananas. – Lembrou o Branco.
- Ó Branco cala-te! – Exclamou o Almirante.
- Desculpe Almirante. Queria dizer república do álcool. Olhe, acho que o senhor polícia está com receio do teu feitiço. Ele acha que o teu é mais forte.
- Não te metas, não entendes nada disso.
O Almirante retira do bolso algum dinheiro. Diz para o polícia.
- Pronto. Está aqui dinheiro para uma cerveja.
- Obrigado. O Almirante fez anos?
- Sim. Faço todos os dias.
O polícia entrou no carro. Este movimentou-se para continuar o seu trabalho de ronda, na procura incansável dos acidentes de percurso nocturnos.
O Presidente afirma:
- Fomos limitados pelo tempo, pelo problema dos transportes e por outras circunstâncias particulares desses municípios. Um dos pontos a debater será a criação do partido Marxista-Leninista dirigente do nosso País. Estas são decisões que têm grande importância para o desenvolvimento político do Povo angolano. Havia proprietários portugueses que detinham os meios de produção (que tinham as fábricas, as terras, as ferramentas) e operários assalariados angolanos a quem pagavam salários de fome. Hoje, uma parte, uma boa parte dos meios de produção já não pertencem a indivíduos e raramente pertencem a portugueses: são bens que pertencem ao povo angolano. In Agostinho Neto. 5 De Fevereiro de 1977. Discurso na assembleia de militantes em Ndalatando.
O Almirante comenta:
- Classes e subclasses sociais. Ministros, deputados, polícias, e os sem classe.
- A história está sempre em movimento. Temos que mudar, mas não conseguimos porque estamos sempre parados. – Disse o Filósofo.
- Somos todos escravos de qualquer coisa. – Certificou o Vodka.
- É a ler e a escrever que se resolvem as coisas. – Assegurou o Almirante.
- Será que temos mesmo um chefe? – Duvidou o Hepatite.
- Acho que é um clone. E está controlado com micro chips no cérebro via satélite. – Explicou o Filósofo.
O Eleitor mantinha a sua ideia fixa:
- Vou votar… não vou votar. Ouvi dizer que quem não votar nele, será morto.
- Para mim só existem dois tipos de pessoas: os que roubam e os que não roubam, e os que bebem e os que não bebem. – Disse convicto o Filósofo.
- Somos negros, os brancos desprezam-nos, não temos valor para ninguém, não somos considerados seres humanos. – Desabafou o Vodka.
- Os que bebem são mais que os que roubam, certo? – Cogitou o Filósofo.
- Concordo. São quinze a roubar e quinze milhões que se deixam roubar. – Asseverou o Vodka.
- Acho que não. São quinze milhões que se deixam embebedar. – Afirmou o Branco.
- Mais um Lawrence da Arábia. - Ironizou o Almirante.
- Não. Um Lawrence patriota. – Defendeu o Filósofo.
- Não precisamos de filósofos. A vida do nosso dia-a-dia, a fome, essa é a nossa grande filosofia. Em Auschwitz os SS davam água e café. – Lembrou o Vodka.
- Parece-me que ninguém entendeu quando o nosso defensor disse que a democracia nos foi imposta. Creio que quis dizer o seguinte: a cultura da África Negra é diferente da Europeia. Não se pode impor usos e costumes a outro povo, isso traz muitos problemas. O nosso parlamento é uma cópia de um parlamento europeu, e isso aqui não funciona, nunca funcionará. – Previu o Filósofo.
- Explica porquê. - Quis saber o Almirante.
- Temos que utilizar como representantes no nosso parlamento, um lavador de carros, uma zungueira, um pescador, um vendedor de rua, uma prostituta, um feiticeiro, um padre. Delenda Carthago.
O Poeta exprime os seus sentimentos:
Estamos no tempo do caos/ quando desperto e vejo/ que o dia vai começar/ faça frio sol ou chuva/ ou ventos muito fortes/ os meus olhos ficam tristes/ quando olham para esta terra/ que ainda não renasceu/ apenas para uns poucos/ ninguém ousa dizer o contrário/ porque o novo fogo negreiro/ é mais destruidor/ que o anterior/ Já aconteceu um Nacionalismo/ e sempre nasce um novo/ chegou a hora, estamos no tempo/ no início do Novo Nacionalismo/ libertemo-nos com o Neonacionalismo.
- Isso acontecerá quando os rios cheios de cacusso nascerem sem escamas. – Escarneceu o Filósofo.
O Presidente olhou atentamente para os presentes e considerou:
- O convívio entre brancos, pretos e mestiços, hoje, é muito melhor do que foi no passado, embora ainda tenhamos alguns problemas. Não encontramos mais a violência por causa da raça, não encontramos a discriminação por causa da raça. Esses detinham grandes somas de dinheiro. Alguns deles, certamente, não entregaram o dinheiro ao Banco, não fizeram a troca. Preferiram escondê-lo do que revelar-se. Porque eles nunca depositavam o seu dinheiro no Banco, faziam assim com que as autoridades não conhecessem realmente o que cada um detinha. Mas foram detectados alguns. Nós temos uma grande riqueza mineral, temos uma grande riqueza agrícola, temos fontes de energia imensas, temos um País extenso. In Agostinho Neto. 5 De Fevereiro de 1977. Discurso na assembleia de militantes em Ndalatando.
- Nós temos que acabar com os carros que transportam bebida, e carregá-los com computadores e enciclopédias. Sem isso seremos sempre economicamente dependentes. – Disse o Poeta.
- Economia é a ciência que ensina os economistas a roubarem subtilmente. – Preveniu o Vodka.
O Almirante deixa cair o copo. Com alguma dificuldade apanha-o. Limpa alguma areia que se lhe colou com cerveja. Consegue despejar-lhe uísque até a meio. – Invectiva:
- Prefiro a economia deste passaporte para a inconsciência.
O Branco sente como se lhe tocassem numa ferida:
- O que não é nada fácil. Para conseguir o passaporte primeiro exigiram que fosse a Portugal renovar o bilhete de identidade. Paguei, a seguir não tinham troco. Depois tinha que ir para a bicha às cinco da manhã. Nunca mais lá fui… há uma coisa incrível, mas é verdadeira, que retrata o espírito de um povo. Normalmente quando se é estrangeiro noutro país, há a tendência natural de auxílio por parte do seu semelhante. Aqui, um português que necessite de outro, é um tremendo erro. O português faz tudo o que é possível para explorar, para roubar o seu compatriota. Imaginem o que não fará ao cidadão nacional. É um facto revelador que o português perdeu a noção de civilização.

terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

Qual é e onde será, o próximo edifício construído pelos chineses que desabará?


Aqui importa-se tudo. Leis, ideias, filosofias, teorias, assuntos, estéticas, ciências, estilo, indústrias, modas, maneiras, pilhérias, tudo nos vem em caixotes pelo paquete. In Os Maias. Eça de Queiroz, 1845-1900.
Amigo leitor, iniciamos este trabalho com um comunicado acabado de chegar à nossa redacção:
Conselho da Revolução. Decreto 001/CR/12
Convindo harmonizar, legislar, o uso de bandeiras e camisolas dos partidos políticos, este CR decreta e promulga o seguinte:
1 – Doravante, qualquer partido da oposição que deseje utilizar as suas bandeiras ou camisolas, terá que solicitar a este CR através de requerimento, acompanhado da quantia monetária de dois mil dólares que servirá como caução para despesas de expediente, porque este processo é longo e demorado. Pois que terá de subir até ao nosso chefe supremo da revolução. A coisa, a autorização demorará pelo menos um ano até à sua autorização. Mas não desesperem, porque as coisas revolucionárias são mesmo assim:
ÚNICO:
O único partido que está autorizado a utilizar camisolas e bandeiras, é o da nossa vanguarda eterna, aquele partido que conduz os destinos desta portentosa nação até à vitória final e suas consequências.
Quem não cumprir com este decreto será de imediato espancado até à morte, sem poder recorrer, como é óbvio, às instâncias policiais e judiciais. Está isento de recurso ao Tribunal do Supremo Conselho da Revolução. Acabámos de ler mais um comunicado do nosso supremo Conselho da Revolução.
A grande promessa eleitoral do maioral, o incremento da miséria, cumpriu-se a cem por cento. Por isso estão de parabéns.
Entretanto mais legislação sai. Decretos são aos milhares, ou aos milhões? Perdidos em decretos nos encontramos e neles nos afogamos. Agora é sobre a época da caça especial às bandeiras:
Está legislada e autorizada a época venatória especial dos caça bandeiras. Qualquer arma serve, mas prima-se pelo caçador que conseguir caçar uma bandeira de qualquer opositor político à pancadaria, porque a presa assim sabe melhor, dizem os maus entendidos. E não há problemas com o foro judicial, pois a lei protege e incentiva quem assim proceder, isto é, caçar. Os prémios são tentadores. Para o primeiro prémio está garantida a quantia de trinta e dois biliões de dólares livres de impostos. Já sabem, façam boa pontaria e não errem o alvo.
Recomendação aos militantes, simpatizantes ou amigos dos partidos da oposição: Não levem propaganda, em especial bandeiras, para vossas casas porque o vosso destino está na paulada.
Há alguns que violam a Constituição da República, outros violam a Constituição feminina.
Chegou a Angola? Procura o caminho da corrupção? Não se preocupe porque todos os caminhos e ruas levam-no à corrupção.
Será possível que todos os dias em Luanda se escute o infindável barulho do partir paredes e cortar tubos de ferro? O que estará por trás disto? Lavagem de dinheiro?
O bolo de Angola é para repartir exclusivamente com os chineses e para nós não vai sobrar nada?
Qual é o futuro do partido sírio, onde o seu presidente reage com a repressão, a prisão, a intimidação, a tortura, a morte, etc., sobre os seus opositores ou simplesmente contra quem não concordar com ele, e ainda mais agravante: ele e a sua família assenhorearam-se de tudo e de todos, onde cada ser humano vive como um insecto?
Não é a teimosia da inauguração de infra-estruturas que diminui a pobreza, mas sim a continuação da teimosia do erro do governo quarentão
Sem a Europa e os Estados Unidos, a África desaparece colonizada pela China, Brasil, Índia, definitivamente afastada do cenário das nações?
Pelo descalabro da actuação permanente de órgãos e pessoas singulares deste Estado fora-da-lei, Angola marcha para a Tempestade do Deserto da Somália?
Quando a justiça apenas serve os corruptos, aos injustiçados sem defesa espera-os os dentes dos cães e toda a sorte de armamento aprovado por maioria absoluta no Orçamento Geral do Estado.
Há religiões que expulsam os demónios dos outros, mas os demónios delas permanecem, não os conseguem expulsar. Será que a intoxicação política estará na origem dos desmaios das crianças nas escolas? A intoxicação religiosa das seitas também provoca desmaios, especialmente nos bolsos dos crentes.
A corrupção numa nação é como uma religião onde o sacerdote pouco reza para se encharcar em dinheiro. O bom e fiel corrupto é como o alcoólico que jura que nunca bebeu na vida. Ou como o liambeiro que nos pretende convencer que só fuma de vez em quando. Em Angola, esta religião/corrupção têm muitos adeptos, creio que já há muito ultrapassou a nossa querida Católica e o Islamismo. Não há religião que a supere. Até já se aventa a hipótese da construção de um sumptuoso e magnificente santuário para atender a demanda do número crescente de fiéis. Sem dúvida alguma que nos próximos tempos em Angola, um salmo à divina corrupção será entoado, e devidamente orquestrado.
Será que daqui a pouco tempo Angola estará em poder dos chineses?
O mundo está um campo de concentração global. Temos que unir-nos antes que seja tarde para a nossa sobrevivência. O sistema político não funciona, e claro, o económico também não, não serve, caducaram. Regredimos no tempo, a espécie humana sofre a ameaça de extinção nesta agora tribo global.
E há um exército de corruptos que nos prometem uma nova vida cheia de centralidades, mas que acabam de nos defraudar, como é seu hábito, trinta e dois biliões de dólares.
Será que conseguem ainda nadar no mar da corrupção? Ou nele se afogarão?
E o senhor dos corruptos disse para os seus iluminados seguidores: «Só a corrupção nos liberta.»
A nossa única e exclusiva vanguarda revolucionária está apta a traçar os destinos das liberdades de um povo muito sofrido. Apenas neste momento existe, é um facto, a luta pelo retorno às conquistas democráticas alcançadas e tão vilmente usurpadas pelo partido do nosso deus. O nosso partido prima pela corrupção absoluta e não admitimos concorrência desleal. E já sabem como é: vão apanhar!
O nosso partido é das massas e elas estão subjugadas, libertadas pela nossa liderança, isto é, muito bem cozinhadas, por isso não é admissível que haja mais democracia e mais democratas, porque um partido é mais que suficiente para a nossa sociedade. A corrupção existe em qualquer parte do mundo, e o nosso partido não está imune a isso, apenas o nosso povo é quem mais sofre com isso, mas como já estão habituados... O nosso partido e o nosso generoso povo vencerão e consolidarão a democracia em Angola. Aos nossos inimigos nem um palmo da nossa democracia.
E neste navio teimoso, onde o seu comandante não aceita, recusa peremptoriamente qualquer reparo ou mínima crítica à sua governação, sob pena de julgamento sumário e logo, logo para a prisão sem mais delongas. E o navio teimoso assim fenece há muitos e longos anos encalhado. E o comandante, como o seu navio, teimoso, não aceita que ninguém o desencalhe. Como pode nestas circunstâncias um comandante já de si encalhado, comandar um navio também encalhado numa governação idem encalhada, com um povo também há muito encalhado, enfim, com tudo encalhado. Para onde vais, sem rumo, país encalhado. E apesar dos bastos avisos à navegação dados por outros comandantes de embarcações, o navio teimoso não abandona o seu rumo da nova vida deste icebergue, e afundar-se-á tal e qual como o Titainic. O pior receio é que o comandante do navio teimoso encalhado deseje arrastar por sucção toda a população angolana.
Os revolucionários independentistas deram-nos a independência e a revolução leninista, mas roubaram-nos a liberdade e a democracia.
Numa sociedade enfermada pela corrupção, todos os valores morais e sociais esvaem-se. A população luta pela sobrevivência como animais na selva. Que resgate de valores, quando as crianças sobrevivem na selva da prostituição? E mais: esta coisa da prostituição infantil é pouco, ou quase nada divulgada. Esta perversão das crianças deita por terra qualquer tentativa de abordar o resgate de valores? Porque à partida, o futuro de uma sociedade são as crianças e sem elas...
Que estranhos, bizarros poderes estes que nos governam e nos fogacham que o desenvolvimento e bem-estar das populações é um facto indesmentível. E que o progresso dos povos não pára, pois as melhorias são muito substanciais. Depois, quando sujeitos à ira das populações caem por terra e jamais dela se levantam.
Bwala press. 14FEv, 10.20 horas. Isto está o caos, né?!
Bwala press recebeu a informação proveniente da Mutamba, que os serviços (?) da EDEL – Empresa Distribuidora de Electricidade de Luanda, estão a desligar a energia eléctrica nas habitações. Perante o protesto e prova documental de que o último pagamento foi efectuado, o mês de Janeiro, e que o mês de Fevereiro ainda não acabou, os homens dos alicates de corte dos cabos informam que agora é assim. Mas assim como? No retorno ao caótico marxismo-leninismo? Do poder Popular? Para onde vais Angola? Para nenhum sítio? Está lastimável de tanta ignorância e incompetências demonstradas.
09Fev12. Limpeza geral
Luanda, imediações do Hotel Alameda, a meio da manhã. Kinguilas vítimas de assalto, nenhuma escapou. Os que nem direito têm ao cheiro do petróleo carregaram-lhes as pastas das divisas e dos kwanzas.
Imagem: prédio tombado em xangai l imagem: gizmodo
karlacunha.com.br

segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

JES-MPLA a utopia/ da vala comum da democracia. Voltaire Ngola



População é apenas eles
nós não
a nossa vida vai melhorar
num milhão de casas
nunca vamos morar

E que a nossa santa oposição
fará uma massiva manifestação
será verdade, ou não?
portugueses, brasileiros, chineses
também vão
com os edifícios da corrupção
que desabam no chão
e nas florestas os bichos
não cantarão
Não haverá transição pacífica
será muito barulhenta
violenta
os sinais estão à vista
aproxima-se a conquista
da vassoura da revolução
não escaparão
o ambiente está perigoso
tenebroso

Todos os caminhos levam a Roma
em Angola não
vão para os caminhos do vulcão
que explodirá a corrupção

Ia eu a caminhar na esperança
da oposição encontrar
encontrei almas perdidas
a discursar só desporto
não é um aborto?
que não, que opositor
é benfeitor

A guarda presidencial está nas ruas
vigia, segura, solidária
a Sonangol Imobiliária

Muito poucos nadam no petróleo
da riqueza
milhões naufragam na extrema
pobreza
do alto destas torres petrolíferas
trinta e seis anos de riquezas acumuladas
nos assaltaram
as nossas casas partidas, tchavolas
sem educação, saúde, luz e água
(miséria) nos confiscaram

E imaginei, e na minha mente construí
e dos leninistas que teimam
em nos desgovernar
deles temos urgentemente
que nos libertar
Reconversão de bairros é como
tudo nos levaram
na reconversão das carreiras
até as praias privatizaram

Imagem: glauco, infiltrado, ...
pimentacomlimao.wordpress.com

quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

António Setas. Não há mistério porque não há plágio.


António Fonseca, membro do júri do Prémio de Literatura Sagrada Esperança, disse na Rádio Ecclesia que ao escritor angolano António Setas, foi-lhe recusado o prémio Sagrada Esperança 2011… por plágio.
Vejamos o ponto de vista de António Setas:

Caro Nelson:
Recebi a mensagem do Prémio fugitivo. É claro que não agradeço, mas também sei o que é pactuar e não protesto. Admito ter cometido erros, dos quais o júri do S.E. me apresentou a factura. A meu ver, severa demais, mas também admito que não havia alternativa, digamos, plausível, era isso, ou dar-me o Prémio, o que seria um trauma terrível para essas pessoas que patrocinam o dito cujo.
Estou a pagar a factura sem rancor. Tão naturalmente como fiquei ofendido com a frase «Em face dos factos provados e reconhecidos por António Setas, de ser mais de um terço do romance a transcrição literal da obra de Jean Martial Mbah». Explicações aqui vão a seguir.

Por decisão do júri do Prémio Literário Sagrada Esperança do dia 20 de Janeiro de 2012, o galardão que me tinha sido outorgado no dia 20 de Novembro de 2011, foi-me retirado pelas razões seguintes:
«Em face dos factos provados e reconhecidos por António Setas, de ser mais de um terço do romance a transcrição literal da obra de Jean Martial Mbah, este perde em criatividade e viola o artigo 3`ª, n ª 2 do regulamento que determina que as obras a concurso “deverão ser rigorosamente inéditas”. Pelo que o júri, consciente de que a manutenção da atribuição do prémio constituiria um verdadeiro entorse ao regulamento, decidiu retirar o prémio a António Setas e não atribuí-lo na presente edição."
O júri decidiu, está decidido.
Contrariamente ao que, a quente, me propunha fazer, interpor recurso, penso que o melhor é não interpor coisa nenhuma e acatar. A luta seria comparável a um hara-quiri. O que não me impede, primeiro, de não estar de acordo com a decisão do júri no que toca exclusivamente às motivações invocadas, segundo, contestar a apreciação feita sobre as colagens que fiz, de partes do texto da obra de Mbah, tendo sido elas transportadas, pela retórica jurisdicional, para a noção de “transcrição literal de mais de um terço do romance”.
Admito sem dificuldade que neste último ponto, embora possa contestar, sou obrigado a inclinar-me, pois o que eu pensava fazer, isto é, tomar as contribuições colhidas na obra de Mbah como referências, o que acontece é que elas se apresentam no meu texto como sendo da minha lavra e neste ponto preciso, admito ter cometido erros que me empurram a aceitar este veredicto que muito me afectou.
O primeiro erro foi não ter contactado Mbah e pô-lo ao corrente daquilo que acabei por fazer, colher da sua obra dados históricos para completar a minha obra de ficção.
Outro erro foi não ter levado em conta que o transporte de um texto científico para o discurso directo impossibilita a menção de referências às fontes utilizadas, porque as considerações, frases da fonte, automaticamente se diluem no discurso directo. Nada fiz para eliminar essa opacidade, por medo de que me acontecesse o que se passou em 2003.
Nesse ano, o meu manuscrito, apresentado ao Prémio S.E., foi eliminado na selecção final da última reunião do júri, porque tinha uma fita adesiva a ligar as folhas, fita na qual havia uma publicidade, já não me lembro de que produto, mas, de qualquer modo, do tipo “Omo lava mais branco”. Fui eliminado por essa única razão e nesse ano não houve vencedor do Sagrada Esperança…
O director dessa altura, João Constantino, poderá confirmar o que eu afirmo aqui atrás.
Quanto às motivações do júri, passo a recitar, «Em face dos factos provados e reconhecidos por António Setas, de ser mais de um terço do romance a transcrição literal da obra de Jean Martial Mbah (…)».
Para começar, eu nunca confirmei fosse o que fosse, e a asserção é incorrecta.
O meu manuscrito comporta 135 páginas, das quais 102 de ficção e 33 de “Cadernos” sobre as dissidências MPLA/FNLA na guerra de libertação de Angola.
As 33 páginas da totalidade dos cadernos já são menos de um terço do total das páginas de ficção.
As páginas de ficção não são a obra, mas apena uma parte da obra que apresentei.
Enfim, se “descascarmos” os cadernos e ficarem apenas as contribuições de Mbah, eis o que acontece:
Número de palavras do manuscrito: 39.945.
Número de palavras dos subsídios de Mbah: 5.190 - Cerca de 12, 5%...

Número de palavras do anexo: 10.739

Número de caracteres do manuscrito: 324.917.
Número de caracteres dos subsídios de Mbah:32.096 - Quase 10%...
Número de caracteres do anexo:66.252

Creio que não é preciso comentar, tanto mais que este resultado até para mim é surpreendente. Pensava que a proporção de subsídios fosse maior, pelo que efectuei uma nova contagem que confirmou este resultado (envio também o resultado dessa pesquisa.
Para terminar, duas questões. Ficaria muito grato se me respondesses com sinceridade.
1 – Quando, em que altura, na presença de quem disse eu algo que pudesse permitir a infeliz tirada inscrita na sentença do júri: «Em face dos factos provados e reconhecidos por António Setas, de ser mais de um terço do romance a transcrição literal da obra de Jean Martial Mbah…»?
Espero que essa imensa vergonha me será evitada por uma rápida correcção.
2 – Por que razão uma decisão tomada a 20 de Janeiro só me é anunciada no dia 3 de Fevereiro?
Ficaremos por aqui e, sem outro assunto a tratar, aceita um kandandu do António Setas.

E no Facebook:
A propósito da decisão do júri do Prémio Sagrada Esperança de me retirar o Prémio, não vou alimentar polémicas e creio que também não impugnarei ninguém que me ofenda, por saber que as minhas chance de obter reparo são praticamente nulas. Mas, parafraseando Galileu Galilei, no entanto não cometi plágio nenhum.

Limitei-me a reproduzir, ipsis verbis (exactamente como se deve fazer quando se faz referência a uma obra alheia), num anexo ao meu romance (103 páginas de romance e 33 de anexo), extractos de um texto científico que transportei para o discurso directo do meu personagem principal.
Como pelo regulamento do concurso era proibido revelar as fontes, eu não revelei. Mas, mal soube que tinha ganho, enviei um pedido de inserir um prefácio dando conta do meu recurso a uma obra do historiador Jean Martial Mbah que eu próprio tinha traduzido. Não cometi nenhum pecado "mortal", mas admiti e admito que atropelei a ética ao não levar em linha de conta dois pormenores muito importantes, que me impediram de protestar contra a decisão do júri:
1º . Não revelei de antemão ao Mbah o meu projecto de recorrer ao seu texto para enriquecer a parte histórica do meu romance. Dada a importância da sua contribuição era mister fazê-lo.
2º . Não me dei conta de que, ao transportar um texto científico para a boca, ou, como neste caso, a pluma do guerrilheiro frustrado (para os seus cadernos), significava desnaturar completamente o carácter científico desse sapiente texto, o que, não só pôde passar por tentativa de ludibriar os jurados, mas também irritou soberanamente o historiador, que considerou com alguma razão ter sido traído por um vulgo pecus.
O total dos extractos/referências tirados do livro de Mbah, escritos no anexo, rondam os 11% do texto total da obra apresentada a concurso e estão, portanto, completamente separados da obra de ficção, pois trata-se de relações de factos históricos da lavra de um historiador, que eu, desastradamente, admito, converti em desabafo do guerrilheiro frustrado.