terça-feira, 30 de abril de 2013

Onze anos de paz não chegam, mas para a corrupção sobram




Porquê só os genuínos patriotas têm direito à facturação do petróleo?
A distribuição da riqueza/ na realeza/ onze anos de paz/ incapaz/ dos prelados que oficiam/ anunciam/ nos púlpitos do petróleo/ o óleo/ e que Jesus virá e nos/ salvará/ e eles na corrupção/ continuarão/ tombarão
“A situação da Tullow (companhia britânica de exploração e produção de petróleo e gás,) no Uganda é similar ao que acontece em Moçambique ou Angola para citar só estes exemplos. Digam-nos quanto vale no mercado internacional o gás natural. Qual foi a base de licitação das áreas de prospecção? Quanto fica nos cofres do estado por cada pé cúbico de gás a exportar? Não se pode continuar sendo vítima de uma suposta ignorância e deixando saírem bilhões de dólares para termos como contrapartida migalhas quase sempre direcionadas para cofres que não são públicos ou que o público não conhece e não e informado.” Noé Nhamtumbo. CANALMOZ
De facto, onze anos de paz é pouca coisa, é que nem dá para montar um chafariz.
E quando os incapazes tomam o poder, a energia eléctrica e a água desaparecem, e reina a miséria e a perseguição aos escravos. Está mais que na cara que isto é um macabro plano para acabar com os mwangolés. Só não vê quem não quer. Este reino transborda de escravatura, isso é um fardo, um facto. Desconhecidos escravos que eram, e que agora escravizam um povo, avantajados com a fortuna unipessoal do petróleo. E com os cortes de energia eléctrica, afinal alguém em Angola sabe o que é isso?, o senhor dos escravos lá vai prosperando na venda, na negociata dos geradores. Sim, porque isto de fingir no abastecimento de energia eléctrica, esconde por trás a venda dos geradores, o morticínio da população por gazes tóxicos.
E quem não é pelo petróleo, é declaradamente contra ele, o senhor dos escravos.
Claro que não deixa de ser suspeito: qual foi o valor do envelope que a oposição recebeu para participar na fraude eleitoral, para se fazer representar na tal casa sem leis? Mas de certeza absoluta que isto vai ficar uma espécie de país fantasma.
É impressionante notar que um governo da palhaçada, imponha a angústia da miséria geral e ninguém ousa refilar.
Ah! Santa medieval oposição, onde estás!
A pior coisa que pode acontecer a um povo, é escravos tomarem o poder, e depois, submeterem-no às mais horrendas condições de escravidão.
O partido UPPC - Um Pouco de Paciência e Compreensão, é um partido fantasma?
Tudo leva a crer que o reino Ngola pretende liderar o comércio de escravos em África, no mundo?
Estrangeiro! Bem-vindo ao reino da/ escuridão/ podes comprar um escravo por um/ tostão.
Os biliões de dólares do petróleo não lhes chegam? Ainda precisam da venda de escravos? E com a venda de geradores? É a loucura do dinheiro, certo?
Já há vários meses que as tribos religiosas alteraram as suas linhas editoriais, de sujeição satélite à linha do Partido UPPC - Um Pouco de Paciência e Compreensão, uma espécie anti-cristo. Mas, nem mesmo assim o UPPC lhes aceita, é que o UPPC nunca aceitou, acreditou na sua religião. A não ser a dele, a religião leninista.
É preciso esclarecer devidamente as coisas: quem votou no UPPC, na verdade não o fez, não votou, votaram num arquitecto, e isto foi votar numa fraude, porque o UPPC é unipessoal.
Pasmo perante o marasmo esclavagista que se instalou em Angola, onde o mais notável é a falta de energia eléctrica e a água que se fornecem por favor. Agora até a Internet está defraudada, a fingir que estamos a acompanhar o progresso. É que nem a mínima organização de um movimento reivindicativo nacional surge, se levanta, porque os partidos políticos da oposição estão tão confrangedores, tão sem motores.
E constroem prédios em qualquer lugar e de qualquer maneira, sempre com o risco permanente de depois desabarem.
O perdão da dívida é para os povos dos países em dificuldades, Grécia, Portugal, Espanha, etc., ou para os seus governos?
Grande espectáculo de circo em Luanda. As organizações Minotauro têm o grato prazer de apresentar o primeiro grande espectáculo circense em Luanda, o Minotauro e os seus milhares de escravos desalojados. Bilhetes à venda nas escravarias habituais. E já sabe, no fim do espectáculo proceder-se-á a mais um leilão de escravos.
Não restam dúvidas que o partido UPPC, proclamará a toda a sordidez mundial, que Angola é e será por vontade própria, o país mais atabalhoado de África?
Os portugueses com os seus fatos e gravatas, executam a sua marcha triunfal, na reaparição das ruínas coloniais de Luanda.
E na generalidade, é importante substituir os quadros angolanos por portugueses, para que a política de continuidade se mantenha, afinal de contas o sistema colonialista da governação já provou que é o único que funciona. E a escravidão do povo é um dom de Deus. E por isso mesmo, onde há ditadura, Deus faz-se sempre presente. Porque sem ditadura Deus não subsiste, e Ele sem ditadura também não existe.
E de acordo com a política de estrangeirização de quadros, brevemente veremos em Luanda, a substituição integral dos trabalhadores das empresas de recolha do lixo por estrangeiros. E o camarada responsável obriga quem anda na zunga, neste caso a população luandense, que obrigatoriamente sejam atirados para os carros dos seus fiscais, os homens do “terror negro”, porque a seguir veremos zungueiras e zungueiros estrangeiros, o que já acontece, brevemente os chineses tomarão conta da cidade e de Angola, nas ruas de Luanda a exercerem a actividade da zunga. E isto será apresentado ao mundo como um espectáculo do folclore nacional, turismo cultural branco na África Negra. 
Oiço muitos e variado discursos sobre os inumeráveis males que afectam a nossa sociedade, desde o alcoolismo até à falta de civismo na Internet. Que a nossa sociedade perdeu os valores, a sua identidade cultural, etc. Bom, estes discursos são ocos, não têm nenhum valor porque não denunciam a fonte de todos os males: a corrupção há muito instalada e de quem a fomenta.
A coisa bem vista é assim: o Paulo Portas abre as portas à corrupção de Angola, e o Passos Coelho segue-lhe os passos.
A cultura é o parente pobre dos orçamentos. Citação de Luísa Fançony
O que mais adoro nas nossas estações de rádio, excepto a Despertar que escuto pouco por dificuldades de recepção, são os noticiários. Assim, mal o locutor anuncia que vai começar o noticiário, fujo a mil pés, como se uma quadrilha de malfeitores me perseguisse. Não falo das estações de TV porque há vários anos que não lhes dou confiança, porque pretendo manter a minha actividade neuronal liberta da imundície informativa. E há também algumas personagens que quando aparecem a propagar as habituais baboseiras, fujo-lhes como se a Peste de repente surgisse do nada. Assim como é necessário lavar, escovar os nossos dentes diariamente, também é importante manter a nossa higiene mental. E para isto é importante não ir nas ondas dessas rádios.
Oh! Como é maravilhoso viver neste paraíso do fumo apocalíptico dos geradores do senhor dos escravos.
Se a agricultura deste país se fizesse com discursos, há muito que Angola seria auto-sustentável e exportaria para todo o mundo.
Perante o descrédito do cristianismo em Angola, as populações recorrem à feitiçaria, porque é a única religião que funciona. E precisamente quem fomenta a feitiçaria são as igrejas que anunciando o analfabetismo evangélico, a corrupção divina, qualquer um é sacerdote, fazem com que desiludidas, frustradas, as populações recorram a Kalunga como seu deus. Aqui pode-se dizer que a feitiçaria é enfeitiçar, é libertar.
Teclando na mesma tecla: se não há empregos para os mwangoplés, como é que a super invasão estrangeira consegue empregos? Isto é muito estranho porque Luanda é como se fosse um país. Máfia? Corrupção? Venda de Angola? Negociata, isto é, por cada estrangeiro entrado alguém recebe a sua comissão? Isto está muito bonito, está, sim senhor, quer dizer, está terrivelmente feio, está sim senhor.
É que alguém, apesar de ser um profissional técnico de contas, não consegue emprego porque os mercenários estrangeiros varrem, absorvem tudo. Produzir miséria é preciso.

sexta-feira, 26 de abril de 2013

11 a 26 de Abril de 2013. Diário da cidade dos leilões de escravos




11 de Abril
Três milhões de portugueses sem qualquer classificação escolar. In Rádio Vaticano
A luz apagou-se às 03.18 e fez a sua aparição triunfal às 06.05 horas.
E duas novas classes sociais se instalaram em Luanda. Os que têm geradores e os que não os conseguem ter. E quando todos formos burros, então finalmente este mundo será feliz. Este mundo está mesmo podre, inacreditável. O país que se diz com a economia mais desenvolvida do mundo, não tem energia eléctrica. O certo é que caminhamos para uma onda de miséria sem antecedentes, para a destruição completa das nossas vidas. E ter energia eléctrica é uma questão de sorte.
Fazem tudo por tudo para nos obrigarem a comprarmos geradores. E então será: em cada esquina, por todo o lado, um gerador. E quem é que viverá aqui? Defuntos? Claro que sim!
12 de Abril
A luz fugiu-nos, está sempre com essa mania, às 13.27 e por sorte lá veio ela às 18.51 horas.
Mais uma dos chineses. Construíram uma residência de três andares nas proximidades da rua das Sirenes, e quando chove, a água infiltra-se no interior dos apartamentos.
13 de Abril
18.05 horas. Ouvem-se estridentes gritos de uma jovem num carro que passa em alta velocidade. Ela será mais uma violentada sexual, torturada e morta?
Cerca das vinte e três horas. Um português putanheiro regressa da sua faina piscatória, todos os dias comer uma angolana, será que conseguirá comê-las todas? Sai do seu carro, mas já o esperam dois jovens, desses das motos rápidas que o atacam para o roubarem. Mas o português muito lesto consegue desembaraçar-se-lhes e foge na direcção da sua tábua de salvação, a porta do prédio, mas mesmo assim na atrapalhação do terror do fim da sua vida, bate com força na esquina da porta metálica e fere-se no ombro esquerdo. Mas o seu segurança pessoal no interior do prédio apercebe-se dos convidados indesejáveis e já se prepara para disparar em defesa do seu amo, mas os jovens já bazaram. E o português putanheiro ameaça o segurança, como se ele fosse o culpado da não acontecida tragédia: «para a próxima vez quero-te aqui fora, à espera que eu saia do carro, senão vou fazer queixa de ti, e mandar outro segurança mais competente para te substituir.»
14 de Abril
É necessário não quebrar o ritmo da venda dos geradores. Assim, mais um brutal, natural apagão se realizou às 05.18 e terminou, melhor, nos iluminou às 18.23 horas.
E um grupo de indivíduos sitia a cidade. E o continuo, incrementado enlace da selvajaria alimenta-a de luz. Ó podre africana degradação humana que cavalgas sem freio nos dentes para o abismo da morte. Sem cérebros não há solução, não há salvação.
15 de Abril
Lamento de um português: tenho que me levantar às cinco horas da manhã para ir na embaixada portuguesa tratar de um simples cartão do cidadão.
16 de Abril
Mais um apagão às 10.10 horas, quando é        que a luz regressará? Ninguém o sabe dizer, mas das finanças desaparecidas todos sabem.
Há um vizinho que todos os fins-de-semana faz obras no seu apartamento. O que se escuta mais é o som de um berbequim, desses barulhentos, o que é que não é barulhento nesta cidade?, fura, fura, fura… já deve ter o apartamento tudo furado, e pronto para o desabar.
17 de Abril
E até a água nos espoliaram. Hoje não saiu, não pingou nada. Para onde é que ela foi? Essa água anda muito vadia.
Receio que em breve a energia eléctrica se vá de vez, só os que nos desgovernam é que não, permanecem como as trevas, eternas.
18 de Abril
A luz reacendeu-se às 14.10 horas, quase três dias nas trevas dos predadores. A água continua, não desagua, isto é, secou, mingua.
Comunicado governamental: Devido à necessidade imperiosa da venda de mais alguns geradores, somos forçados a suspender o fornecimento da energia eléctrica. No negócio selvagem vale-tudo. Ainda não se vendeu a quantidade desejada de geradores, daí a necessidade da desordem de mais apagões. É necessário o cumprimento da palavra de ordem: a quantidade de geradores vendidos/existentes iguala, qual quê! suplanta a nossa miséria. Portanto, quantos mais geradores, mais o nosso fim se apressa.
19 de Abril
Será que me vão cortar a luz outra vez? Prosseguimos sem água.
20 de Abril
Sem Internet desde cerca das 21.00 horas.
21 de Abril
A luz abandonou-nos outra vez, sempre, mas que desfaçatez, deixou de brilhar às 11.12 e se iluminou, chegou às 13.24 horas. Mas não por muito tempo, porque fugiu-nos às 14.36 horas. Ligaram-na às 17.27 horas. Desapareceu às 22.25 e reapareceu às 2253 horas.
22 de Abril
Com os apagões como símbolo nacional, nota-se claramente que Luanda está nos momentos finais da sua destruição, mas ninguém se apercebe, porque será?
Hoje ouvi na Rádio Ecclesia, que segundo as análises feitas por um organismo, não sei quê Angola, não consegui captar, estamos a consumir produtos deteriorados: leite, farinha de trigo e vinho. E que mais?! E porque não denunciam as marcas? Que coisa mais torpe.
A energia eléctrica, o que é isto? Alguém me sabe dizer?! Evaporou-se às 11.44 e surpreendeu-nos às 12.58 horas.
23 de Abril
Outra vez apagados às 09.56 e iluminados às 10.19. De novo todos apagados às 15.19 e acesos às 15.49 horas.
24 de Abril
A luz fugiu outra vez às 14.08
25 de Abril
E como um pirilampo, ela chegou, a luz que o demónio nos enviou às 21.46 horas. Nos sênês, loja dos senegaleses, comprámos seis ovos, e quando íamos para os utilizar, fritar, estavam todos podres, nenhum se aproveitou, a não ser para o lixo que os tragou. Isto deve-se à falta de energia eléctrica pois eles não têm gerador. A uma vizinha também lhe aconteceu o mesmo, e a resposta dela foi lançá-los contra a porta dos sênês.
26 de Abril
O lavatório estava com muita terra que saiu da torneira. Agora, bebemos água ou terra?


terça-feira, 23 de abril de 2013

O empresário luso-angolano (03)




«Convêm ler outra vez Marx com novos olhos para compreender a crise que vivemos ninguém pense que vai ficar imune às ondas de choque da crise do sistema financeiro alguns dos paliativos escondem as misérias mas abrem novas fracturas nunca a Deco trabalhou tanto e por favor comprem uma lupa e leiam as entrelinhas dos vossos contratos.» In anónimo. Público última hora

O que rouba e mais corrompe, esse é o chefe, o eleito, o exemplo a seguir. Eis como nasce o terrorismo e de quem o alimenta.
O motorista intervém e explica com um sorriso:
- Móbaile é o telemóvel.
Dei-lhe o meu número, ele retribuiu. Já de saída deixa sair o sentimento da gratidão:
- Não esquecerei o que fizeste por mim, depois ligo-te do meu móbaile.
O motorista estacionou o carro. Depois ajudou-me a carregar a minha bagagem. Subimos as escadas de um prédio de quatro andares. Parámos no segundo, abriu a porta e convidou-me a entrar. Depois entregou-me a chave e despediu-se:
- O Dr. Vieira mora no primeiro andar. Acho que ele já lhe vai ligar para falar consigo.
Fiquei a observar o apartamento. Era espaçoso, bem arejado e bem arrumado. Tinha uma varanda e vasos com flores. Sempre gostei de as ver à minha volta, porque prendem-me a atenção, são muito cativantes. Tinha ar condicionado na sala e no quarto. O frigorífico e a arca de congelação eram demasiado volumosos para uma pessoa. Abri-os e notei que estavam bem apetrechados. Uma pequena despensa repleta com os mais variados produtos completava os gostos de qualquer glutão. A cozinha era ampla e estava impecavelmente arrumada.
Lembrei-me das célebres constantes falhas de luz e água que são o dia a dia dos africanos. Sorri com uma anedota que não me lembrava onde a li. Abriam-se as torneiras acendia-se a luz. Ligavam-se os interruptores, saía água. Bom, vamos lá a ver se há água. Abri a torneira do lava-loiça e o líquido veio forte, de um jacto. Esperei uns momentos para verificar se a pressão se mantinha, o que aconteceu. Liguei um interruptor, a lâmpada acendeu. Bom, tenho água e luz. – Murmurei.
Ocorreu-me um pormenor. E quando não houvesse luz? Percorri todos os cantos e terminei na varanda. Não havia gerador. Ah!.. faltava verificar uma última coisa… o telefone não funciona... tenho o telemóvel. O telefone fará falta para me conectar à Internet… depois falarei com o Vieira.
O telemóvel toca. Atendo a primeira chamada que me fazem… é o Vieira.
- Já te instalaste? Estás a gostar do ambiente?!
- Está tudo ok. Depois falamos com mais pormenor.
- Daqui a pouco estarei aí.
Devido ao calor, tirei o casaco e a gravata. Liguei o ar condicionado. Dez minutos depois deixou de funcionar. Pensei que se tinha avariado. Liguei um interruptor, a lâmpada não acendeu. Creio que era para me habituar. Afinal não estava na Europa. Com tudo atestado de comida e bebida acho que nem valia a pena sair mais daqui. Batem à porta, abro, é o Vieira. Não me deixa falar:
- Já sei, não tens luz. Vi pela campainha, não tocou. Mas o que é que tu queres? Isto aqui é normal. Tens que te habituar. Por aqui já podes ver os custos que uma empresa tem para funcionar. Gerador, combustível, e manutenção. Tanque de água, electrobomba etc… custos elevados. Mas não te preocupes que consegui alugar uma parte da Cidadela Desportiva. Preparo uma suite e depois mudas-te. Vou lá instalar uma padaria, esse negócio está a dar, temos que aproveitar. Vou criar mais duas empresas, uma para trabalhar em comunicações e informática, da qual serás o director-geral. A outra será uma trading. Como vês trabalho não te falta. Amanhã vamos ter uma reunião nos Caminhos de Luanda. A propósito, sabes o que é que quer dizer MPLA?
- Sei. Movimento…
- Não! Menos Pão Luz e Água, e Movimento Popular de Luanda e Arredores, porque só investem em Luanda e nos arredores.
- Vieira, já te contaram a cena que se passou à saída do aeroporto com…
- Já, já me contaram. Isto está cheio de bandidos por todo o lado. Investir já se torna um risco cada vez mais elevado. A marcha para a grande fome final é inevitável.
- Vieira… custa-me a entender com tanto dinheiro…
- Os chineses quando são retirados da vida militar, obrigam-nos a tirar uma especialização, e integram-se na vida civil. Aqui desmobilizam-nos e atiram-nos para o olho da rua… entregues à sua sorte. E com tantos despedimentos que fazem, teremos um exército de um milhão de bandidos. Se juntarmos a isso a Sida, a malária, a tuberculose etc. Teremos…
- Mais um Estado falhado.
- Precisamente… tenho que ir. Logo, vamos jantar aí a um bom restaurante. Se te faltar alguma coisa liga-me. Entretanto serve-te. Sei que é aborrecido ficar sozinho, mas isso será por pouco tempo.

«Não tenhamos ilusões: entre nós, não há nem neo-liberalismo nem capitalismo regulado, temos, sim, um capitalismo de bairro, onde só se sentam à mesa amigos, fiéis e cúmplices, quer sejam nacionais ou estrangeiros, com uma mão invisível a comandar tudo, a partir da bolinha de cristal...» In Justino Pinto de Andrade.

As treze horas passaram, a fome apressou-se. Abri a arca e escolhi a sardinha portuguesa para assar. Estava a retirá-las da embalagem quando me lembrei que não havia luz. Recoloquei-as no lugar. Abri o frigorífico e optei por barras de queijo com presunto, a que juntei algumas azeitonas e fatias de pão. Fui à despensa e deparei-me sorridente com as olímpicas garrafas do maravilhoso vinho Dão. Seleccionei uma Dão Meia Encosta tinto.
Acabei de comer e esvaziei o resto do Meia Encosta. Senti pouco depois uma agradável sonolência. Levantei-me e fui ver a filmoteca. Havia muitos filmes em CD. Procurei um que me agradasse. Lembrei-me novamente que não havia luz. Acendi um cigarro e fui para a varanda contemplar a rua.
A rua estreitava-se ladeada por inúmeras vivendas. O prédio onde me encontrava marcava o início da rua. Havia outro em frente com o chão esburacado junto a uma caixa de iluminação, onde jazia um cabo eléctrico. Um monte de terra proveniente do buraco escavado ocupava um terço da via. Grande parte do asfalto necessitava de conservação. Via-se pouca gente, apenas algumas crianças jogando basquetebol e tentando acertar numa circunferência metálica improvisada.
Bocejei duas vezes. Senti sono e fui sentar-me no sofá da sala. Não sei o que a minha esposa e filhos estariam agora a pensar de mim. Tenho que lhes enviar um e-mail o mais rápido possível... tratarei disso mais tarde. – murmurei.
Adormeci profundamente. Despertei com o som do telemóvel, estas máquinas chatas que inventaram. Para dormir o melhor é desligá-las. Só pode ser o Vieira, quem mais há-de ser?
- Alô! Alô!
- Sim, boa tarde. – Disse a voz do outro lado.
- Boa tarde, quem fala? – Interroguei.
- Meu amigo branco, é o Malcolm X.
- Malcolm X (!)
- Sim, o jovem que esteve consigo esta manhã. Tenho uma coisa para lhe oferecer. Diga-me onde posso encontrá-lo.
Caramba… com esta não contava. Encontrar-me ou fazer amizade com um bandido não estava nos meus planos desta aventura. Mas se ele me quisesse fazer algum mal… assaltar-me, bom, teve essa oportunidade e não o fez. Decidi arriscar mas com muito cuidado. Lembrei-me da localização que o Vieira me deu.
- Estou aqui junto à Liga Nacional Africana.
- Já sei, fica ao pé do Zé Pirão.
- No início da rua tem um buraco com um cabo eléctrico solto.
- Daqui mais ou menos a uma hora estou aí.
Dentro desse período de tempo começaria a escurecer. Não sei o que os vizinhos pensariam de mim. Um europeu acabado de chegar a fazer amizade com um bandido. Meto-me em cada alhada. E o nome dele… Malcolm X.
Lembrei-me dos vários CDs que trouxe, sob os mais variados assuntos que pesquisei na Internet e neles os gravei. Um deles tinha esta personagem. Conhecia-o não com suficiente profundidade. Olha… a luz chegou, óptimo. Liguei o computador e coloquei o CD na bandeja. Carreguei no botão à direita e o CD desapareceu como numa morgue. Procurei nos arquivos e lá estava. Teclei imprimir e preparei as folhas aguardando pelo angolano. Quando ele chegasse decerto me ligaria a anunciar a sua presença.
Dito e feito, já estava no local combinado.
Malcolm X trazia um embrulho que mostrava o formato de uma garrafa. Ele sentiu o meu olhar amedrontado e tranquilizou-me:
- Amigo branco, trago-te uma prenda, uma garrafa de uísque.
Agradeci-lhe e disse-lhe que não era necessário tal incómodo. Ao que ele replicou:
- Não é incómodo nenhum, não me custou nada… roubei-a.
A vida dá cada volta. Não há dúvida que estou mesmo metido numa grande alhada. – Meditei.
Devia ter vinte e poucos anos. Era um pouco forte, altura média, cabelo rapado. Vestia um blusão negro, onde se lia: BLACK POWER e MALCOLM X. Parecia-me bastante preocupado:
- Vamos para aqui… mais discretos. Tenho que me esconder… podemos sentar-nos atrás destes carros.
Atrás deles havia um pequeno degrau que se estendia até à entrada do prédio. E por norma surge sempre a pergunta que nós mais velhos fazemos aos jovens.
- Trabalhas?
Respondeu a rir, a troçar.
- Trabalho?! Onde é que isso existe?! Arranjas-me trabalho?!