domingo, 29 de abril de 2012

O Cavaleiro do reino petrolífero (09). Reino Jingola, algures no Golfo da Guiné



Estória é a História dos idiotas.
Querem-nos matar a todos?! Então que matem, vá! Desafio de uma luandense perante o surto epidémico de estrangeiros que invade Angola.
O reino Jingola está incrível. Actualmente governar é cometer infindáveis crimes. E tudo está correcto porque houve a tal eleição democrática que tudo legitima. Pobre e triste reino… se ao menos tivesse um cavaleiro que demandasse o Santo Graal.

- Marquesa Sem Planos.
- Meu belo e atraente rei! Continuamos com os mesmos planos a montante e a jusante do sistema.
- Meu belo e atraente rei?! Já desconfiava. Vou manter esta gaja debaixo de olho. – Enciumou-se a Rainha.
- Oh! Meu Deus! Já lhe disse para ser discreta. – Alarmou-se o Rei.
- Marquês do Líquido Negro.
- Meu rei, minha rainha, princesas, cavaleiro Epok, nobres.
- Lá porque está com o líquido negro não exagere. Advertiu o rei.
- Sim meu rei! Até ao final do ano faremos três aumentos de combustíveis. Descobrimos mais três poços produtivos que nos darão aí uns vinte mil barris diários. Já facturámos em Signature Bónus, bónus de assinatura, até ao momento…
- Caramba vai estragar tudo! Os números não são necessários neste momento. Falamos depois pessoalmente.
- Marquês dos Abandonados.
- Excelso rei. A reinserção dos abandonados está abandonada. Ninguém quer ser reinserido.
- Marquês das Más Relações Internacionais.
- Sublime reino, meu rei. A comunidade internacional não gosta de nós. São racistas. Não temos culpa que haja tanto líquido negro e diamantes neste reino paradisíaco. Eles têm é inveja… a alegria está na luta, na tentativa, no sofrimento envolvido. Não na vitória propriamente dita, disse Mahatma Gandhi.
- Sim. Mas quando estamos aflitos pedimos-lhes ajuda, como nas epidemias.
- Marquês das Epidemias!
- Magnificente reino endémico meu rei. Tudo o que é epidemia existe neste reino. Não somos os culpados porque foram importadas. Exceptuando as epidemias da peste negra do líquido crude, das pedras brilhantes e da fome, nada mais tenho a dizer.
- Tem a palavra o marquês dos Coches e Liteiras!
- Ilustre rei que o reino deu à luz. Os transportes são a nossa espinha partida, apesar dos coches e liteiras estarem inteiros. Estamos a investir nos coches dos carris de ferro mas ninguém quer trabalhar. Lamentam-se sempre que estão com fome. Vai daí, lembrei-me de contratar trabalhadores da Dinastia Chinesa. São presidiários que vem para aqui degredados cumprir pena. São muito dóceis e não incomodam ninguém. Não são como a nossa ralé que andam sempre tristes. Pelo contrário, os chineses andam sempre sorridentes. Obrigado pela atenção meu rei.
- Marquês das Casas em Ruínas!
- Virtuoso rei. Exceptuando as casas da nobreza já não existem casas em ruínas. Foram todas partidas. À ralé nem um palmo de um casebre. Plano cumprido a cem por cento.
- Digno marquês dos Altos Tribunais!
- A nossa Carta Constitucional é violada permanentemente pelos arautos republicanos e pela peste dos esfomeados. Contudo, estamos à procura dos caminhos da democracia, que são muito difíceis de encontrar. Mas há sempre um Plano C virtuoso porque não é possível a democracia sem tal plano.
O rei pega na sua caneta e cola-a no bolso do casaco. Vai falar:
- Nobres, declaro encerradas as Cortes Reais. Não faltem ao meu jubileu dos trinta e tal anos. Tchau.
- Viva o rei! Viva o rei! Viva o rei! Viva o rei!
- Gostaria de saber quem foi o grande filho da puta que inventou isso das Cortes Reais e da democracia. Porra, já me estava a dar sono. Se apanhasse esses tipos, as piranhas ficariam muito felizes. – Desejou Epok.

CAPÍTULO VI
A GRANDE FARRA

… E imobilizam a terra que nem cultivam nem deixam cultivar, as empreiteiras que seguem se equilibrando no apoio a políticos corruptos em troca de contratos públicos, as famílias da mídia que seguem fielmente as tradições truculentas do Chatô e loteiam o próprio espaço da informação para perpetuar feudos políticos e económicos, as próprias formas clânicas de fazer política, constituem hoje uma superestrutura medieval, mal disfarçada pelos celulares, computadores e carros de luxo que utilizam.
In Capitalismo, novas dinâmicas, outros conceitos. Ladislau Dowbor http://www.dowbor.org

Epok acordou ao mesmo tempo que o Sol. Sentia-se cheio de energia, bem disposto, com grande vontade de resolver qualquer problema que surgisse. No fundo queria apenas ser útil ao seu rei. Preparou-se e pôs-se a caminho. A certa altura aborreceu-se quando se lembrou que patifarias os republicanos lhe fariam hoje. Ah! Ao diabo com eles. Se o rei deixasse as piranhas teriam comida para cem anos. Encontrou-se com três nobres, cumprimentou-os.
- Meus amigos, há muito que não sentia no reino uma manhã como esta!
- É verdade, verdejante, não tens nada que nos inspire?
- Tenho… vamos para os Tonéis dos Vinhos Tintos Reais. Atestaram-se bem com a incorporação, importação do reino Tuga... das minhas vinhas que comprei nas encostas tugas. Vinho tinto Dão Meia Encosta. Na realidade é uma boa encosta.
Chegaram aos tonéis. Pegaram nos cálices, Epok abre a torneira, encosta o cálice no Encosta. Não encosta nada. Abre-a até ao fim, escorre apenas uma gota, depois outra. Vai para outro tonel, a história repete-se. Lembra-se de dar socos na madeira. Recebe sons ocos. Baixa-se e vê um furo grande. Espreita nos outros e vê a mesma coisa. Acabou-se a bela manhã.
- GUARDAS!!! Piranhas!!!
Não se houve voz. Epok desce na direcção da casa da guarda. Escuta roncos. Os guardas dormem abraçados às suas namoradas. Dá pontapés num. Este levanta-se a fazer acrobacias para se manter de pé. Os outros imitam-no. Pelo cheiro vê-se que estão embriagados.
- Mas… que grandes filhos da puta!
As jovens aproveitam a deixa, pegam na roupa, fogem e vestem-se aos tropeções. Epok interroga-os:
- Quem roubou o vinho do rei?!
- Foram… as manguei… mangas.
- Os mangas?!!
- Eram muitos… muitas mangas.
Epok viu que não dava manter diálogo com ébrios. Os vapores no cérebro fazem com que os neurónios pareçam um baralho de cartas desordenado. Milhares de litros de vinho não podiam voar. Lembrou-se de ir lá fora. Foi para a ponte levadiça. Viu a rainha que passeava e como quem não quer a coisa, aproximou-se assim que a modos de acidente.
- Minha bela rainha, que também bela manhã!
- Hum… Epok, não sente o cheiro horrível de peixe e de vinho?
- Sinto rainha minha.
- Sabe a sua origem?
- Estou a investigar.
- Acompanho-o.
Na ponte levadiça, o bom vírus vinícola Dão Meia Encosta imobilizou saudavelmente os guardas que pareciam ter um sono etéreo e eterno. Epok teve que manobrar sozinho. Atravessou a ponte na companhia da rainha, que estava mais bela que a miséria dos seus súbditos, sempre sem manhã e sem amanhã. O verde relvado rejuvenescido pelos raios solares estendia-se pela frente, ao encontro dos vários girassóis espalhados que olhavam para o sol. O cheiro a peixe e a vinho tornou-se intenso, insuportável. A rainha socorreu-se do seu lenço perfumado pelos astronómicos preços dos melhores perfumes franceses e encostou-o nas narinas. Iniciavam a descida de uma encosta, quando viram o que parecia ser uma gigantesca floresta de cadáveres humanos. Havia-os espalhados, naufragados por todo o lado. Não se sabia onde começavam e acabavam. Mulheres e homens nus abraçados. Restos de peixe cobriam o solo que mal se via. Recipientes cheios de vinho e outros vazios acompanhavam os restos das piranhas. Algumas crianças corriam em desordem, sem destino. Bebés choravam na tentativa de chupar o leite das mamas das mamãs. Os infelizes eram desprezados, afastados à força. Uma mamã esforçou-se e conseguiu frasear de um fôlego:
- Não chateia pá! Hoje é feriado, a mamã não está de serviço. Procura outra por aí.
Epok comenta para a rainha.
- Parece um ritual pagão.
- Nobre Epok. Quantas mais demoníacas eliminamos, mais elas se multiplicam.
Epok dá um bico num corpo masculino. Este descola-se da senhora que instintivamente procura o seu sexo com a mão. Ela desconsola-se.
- Não saias agora… estava tão doce.
Epok enerva-se, pergunta ao macho:
- Malditos pagãos! Não tinham outro sítio para ir?!
- Disseram-nos que aqui é um bom local para praticar nudismo.
- Quem roubou as piranhas?
- O fosso secou e como estavam a morrer… a sofrer… aproveitámos.
- Vão todos para as piranhas.
- Ah! Ah! Ah! Já estamos com elas.
- Estão muito satisfeitos!
- Queremos beber mais água do fosso do Dão tinto.
- Todos a andarem daqui!
- Não! Só estamos a tomar banhos de sol!


sexta-feira, 27 de abril de 2012

O Senhor das torres e condomínios



Ó dos casebres! Olhai! Do alto destras torres e condomínios, quase cinquenta anos de espoliação da junta militar vos contemplam.
Já estamos na época das chuvas. Vai chover em Benguela, vai chover no Huambo. O capim seco vai ficar molhado. E tudo o que é negro virá outra vez humedecer-se na vegetação. Muitos cantos de aves se ouvirão, sentirão. E os negros da negra fome continuarão sem refeição. Apenas assistirão aos fartos banquetes dos bancos brancos, no estigma do neocolonialismo subtil. De revolta em volta negra até à verdadeira independência, à liberdade que tarda.
Este reino é obra de portugueses, brasileiros e chineses. Com a invasão deles, Angola desenvolve-se a olhos nunca vistos. A água, a energia eléctrica e a Internet que o lamentem, desviaram-se para o CAN. A população e as empresas que se danem. A barbárie marxista-leninista reimpõe-se sem disfarce. Dantes era tudo pelo povo, agora é tudo pelo CAN. Estádios de futebol sim! Casebres não, demolição.
Isto dantes era do povo, agora é da FAMÍLIA e dos estrangeiros. O MPLA planta napalm, depois colhe-lo. E nas noites continuamente aterradoras ouvem-se as habituais ameaças, constantes palavras de gelar o sangue: «cuidado que ele trabalha na presidência da república». 
Parece que ninguém nota, não quer saber, não quer ver que Angola está a ser vendida aos estrangeiros. Também ainda há-de ser uma província do comunismo chinês. Mao, lá está sempre omnipresente. Os escravos do Partido Comunista Chinês labutam e engrandecem-no na Internet vigiada, espiada.
E disse o Senhor dos Estádios: Há governantes que para demonstrarem convenientemente a sua governação deveriam indumentarem-se de arcos, flechas, tangas e machados de pedra.
E os nossos intelectualóides desiludidos e divididos na falsidade individual do apenas quererem saltar dos bastidores e para nos usarem. E autopromovem-se. Já estamos cansados de os aturar. Já nos ferem os ouvidos, os olhos e o espírito de tanto papaguear. E continuam no individual batalhar.
Só um governo ilegal permite ilegalidades. Mas quando é que isso do marxismo-leninismo acaba? É só roubar, roubar, aonde é que vai parar? Qual é o futuro de um país assim?! Já está no caos. Não tem salvação nenhuma (?). Isto está horripilante. Quase nada funciona, é tudo a fingir. Só funcionam o petróleo e os diamantes, agora sem isso é clarividente que só os estádios jogam e partir casebres… aqui plano cumprido a 100%. E a terra é de quem a roubar.
Isto por aqui desintegra-se. Os especulares imobiliários já ameaçam com a morte um governador. O problema é que tudo o que é estatal continua na bandeira marxista-leninista. É tudo ao contrário. Todo o mundo constrói prédios de dia, aqui é de noite. E há crime de poluição sonora previsto e punido por lei. Mas, qual é a lei que funciona? Por enquanto é a lei deles. Aparentemente parece já não existir ninguém que resolva problemas. As empresas que estão em falência técnica sem o demonstrarem, aproveitam-se da desordem económica e despedem angolanos, estrangeiros não. Como na actual conjuntura portuguesa, é a política da mentira. E como são especialistas na destruição, destroem Portugal, e enlevam-se também no construir/destruir Angola, porque não?! Presentemente são os génios mais destrutivos do planeta. Quem vai na conversa portuguesa embala-se, adormece e tudo se evapora, se enevoa. Em Angola o crime compensa. Com o colapso dos hospitais estatais, o caos total e completo instalou-se definitivamente. E é apenas um grupo de indivíduos que está por trás da capa e espada.
E o Senhor dos Estádios enviou esquadrões de cavalaria, matilhas de cães raivosos, mais que demolidores para devorarem populações. Colunas de tanques, tudo o que é e não é polícia. A sua guarda pessoal e impessoal. Todas estas forças para a invasão e reconquista do Iraque de Luanda. Clamou o Senhor dos Estádios: «Desgraçados… porque se lembraram de inventar um nome assim para um bairro?!»
Um campeonato já está ganho, no papo, exímios vencedores, detentores do analfabetismo. Nós, os inventores célebres dos geradores eléctricos da morte. Somos apenas gerados por geradores eléctricos.
Com tanta miséria há o risco de Luanda se transformar em mais um narcoestado. Luanda está cavernícola, cadavérica, porque não havendo regras de convivência social, fortalece-se apenas a lei da selva pela luta da sobrevivência. Em qualquer momento, em qualquer lugar pode desaparecer-nos a vida. E há desconsolo generalizado. E a crise económica global não afecta o poder nacional. Apenas a reles populaça vive cada vez mais mal. Nota-se nesta incivilização humana que nada se desabituou. A sucessão do poder continua. Um punhado de monstruosidades subjuga multidões agigantadas. Apesar das revoltas, pouco, nada mudou… piorou. As revoltas foram pessimamente orientadas, comandadas.
História tão insignificante, vil. Está tudo no poder estrangeiro. Receamos que um dia destes ao sairmos para a rua eles nos impeçam de o fazer. Já saturam, já presidem nos pobres governantes que revenderam Angola. Como o petróleo e os diamantes já não dão nada, então atiram as garras para terrenos e vampirescos parte-casebres, invocando sempre a lei da ilegalidade. Tudo o que é ilegal é normal. Retrocedemos muito o que não é de espantar. Convém lembrar que um exército espelha o seu comandante.
Não são os sistemas económicos que não funcionam. São os que nos governam com as suas políticas e mais as suas religiões. São os governantes errados nos lugares errados.
E o Senhor dos Estádios satisfez-se com tamanha malvadez, pelo sofrimento que flagela às populações que lutaram para ele continuar eternamente no poder. E conclamou os seus amigos para na terra destroçada erguerem estádios e outras desorientadas construções. Só em Angola é que está a dar. É tudo tão fácil. Corre-se com a população e constrói-se. Quem refila leva nos cornos.
O incrível é ouvirmos os mesmos políticos quase há cinquenta anos proclamarem as mesmas promessas mentirosas. E o povo analfabeto acredita, claro. São necessários muitos analfabetos para que não haja alternância do poder.
A cada dia que nos trespassa, vemos a desilusão de Angola acontecer. A idiotice é tão flagrante, possante. Como um submarino que mergulhou bem fundo, avariou e lá ficou, aprisionou. Irremediavelmente nunca conseguirá voltar à superfície.
O povo angolano é imensamente sortudo, muito libertado. O marxismo-leninismo libertou-o, conforme atestado por russos e cubanos. A libertação continua agora com portugueses, brasileiros e chineses. Ainda não aconteceu luta de libertação. A outra, a tristemente célebre, foi apenas um ensaio, uma grande desilusão. Vê-se nos seguranças que há vários meses não recebem salários nem alimentação. Como prisioneiros num campo de concentração nazi, conseguem algumas bolachas, juntam-lhes água, e é a única refeição neste campo da morte do grande desenvolvimento económico.
Por vezes ficamos confusos. Será que estamos em 2009? Ou alguém como o MATRIX truncou o tempo, porque parece que estamos aí por volta do ano 1975, 1980.
A militância é tal que por vingança não fazem publicidade na Rádio Ecclesia. E a Rádio Luanda do Politburo quando despeja o saco dos anúncios não dá… dá sim, é lenga, lenga, lenga para nunca mais os ouvir. Também anunciam muito na LAC-Luanda Antena Comercial, é da FAMÍLIA.
O céu está diferente e indiferente. Quando as chuvas chegarem muitos desastres vão acontecer. Onde só se anarquiza a rodos, a insegurança cavalga. Muitos dissabores, muita mais desgraça não tardará, não nos largará.
O Senhor dos Estádios tem apenas uma ideia fixa: mais estádios, mais futebóis, basquetebóis e caubóis. E o seu reino infestou-se de carniceiros e cães pardieiros que semeiam muitos estádios de futebol, muitos prédios, condomínios, torres e demais desordens. Às populações ordenou-lhes que se concentrassem nas tendas dos campos de concentração. E que depois serão encaminhadas para as câmaras de gás que sobraram dos nazis.
Até que a água timidamente ainda subia alguns degraus dos andares. Agora que a desviaram para os estádios e prédios só deles, sumiu. Outra vez, sempre no regresso a 1975. Não se consegue sair deste ano. Parámos no tempo. Os relógios avariaram, perdemo-nos e encontramo-nos no tempo de Estaline. É isso, fomos deportados, continuados na escravidão. Confeccionados e amordaçados por este temeroso, teimoso poder apoiado pela ocidentalização.
Mas que fraca visão económica e financeira. Aguardar pela subida dos preços do petróleo para pagar as dívidas contraídas. O petróleo jamais será como antes. Vejam-se os novos modelos de carros e o excesso de petróleo no mercado, energias alternativas. O petróleo já era. Que desgraça! Sem o petróleo somos tão vulneráveis, imprestáveis. Será impossível viver da especulação dos preços petrolíferos.
E o Senhor dos Estádios ordenou aprontar grande negócio nacional e internacional. Calculando afronta da população orientou aos milhões de dólares guardados no cofre de âmbito pessoal, que se gastassem quantias principescas nas polícias e exército para baterem onde dói mais… na população. Chamou mais estrangeiros para apoiarem o plano da devastação populacional final. Estrangeiros, daqueles revolucionários com elevadíssimos salários, e incomensuráveis mordomias. Dividiu com esses agentes o dinheiro do petróleo. E aos seus súbditos tendas… mais nada. Atenção! Tendas são para quem merece! As crianças no futuro do amanhã muito incerto choram abandonadas dia e noite, estateladas na macabra tempestade petrolífera.
E o Senhor dos Estádios obrigou os desgraçados das tendas a prepararem, a festejarem os milhões gastos no Can 2010. Difícil é a água, a luz, a Internet, sem emprego, e o dinheiro para o pão está cada vez mais corrupto. Os preços vão subindo, subindo. Com tal tratamento e agradecimento, os que votaram no Senhor dos Estádios, ele sabe que a cólera os enviará para os céus. Porque para os infernos irão eles. Lenta e seguramente a população escasseará. A prova disso é que já não há espaço nos cemitérios, nem médicos, nem lugares que cheguem nos hospitais (?).
O Senhor dos Estádios assume que esta gentalha dos casebres chateia muito. E a discriminação é tal, infernal até nos cemitérios. Há-os para ricos e para pobres. Dantes a nossa luta era contra os brancos, agora é entre nós. A única lei que funciona é a da pedra. O demónio tomou conta definitivamente desta cidade. Até os gatos miam tão estridentes, (será alguma vingança, alguma manifestação de protesto? mas, as manifestações estão proibidas, exceptuando as do poder, claro) imitam vozes de criancinhas. É arrepiante, já não são as noites do cio da gataria.
E os deuses instituíram o sono de chumbo nos nossos intelectuais. Mas andam por aí, como sempre a sonharem desalmados.





quinta-feira, 26 de abril de 2012

BWALA PRESS. República de Luanda



O petróleo faz a felicidade de alguns, e a desgraça de milhões.
Mas afinal quando é que acabam as aulas dos discursos políticos académicos, e passamos às aulas práticas?
06.06 horas da manhã. Lá vai a escolta das sirenes, a anunciar que o neocolonialismo já chegou e que definitivamente se instalou.
A sereia
Recentemente estive no Mussulu a admirar o que resta desta ilha, aliás como de tudo o mais, só restam cacos, pois onde a corrupção se instala: «há muito, muito tempo, era uma vez. » Um ilhéu agachado procurava qualquer coisa, a minha cunhada fazia-me companhia e fez-lhe lembrar um acontecimento passado há alguns meses: «Há pouco tempo, andava aí junto aos charcos de água um nosso vizinho a apanhar lenha seca dos mangais. De repente apareceu-lhe uma sereia, que lhe perguntou muito chateada: porque é que tu me estás a estragar a minha casa? Ele largou tudo, fugiu encharcado de terror e passados poucos dias morreu.» «Mana, isso é mesmo verdade?!» «É sim cunhado, é mesmo verdade!»
A persistente informação leninista
Às 12.30 horas oiço a abertura, de vez em quando para me rir um bocado, do noticiário da LAC. Às 13.00 horas oiço também na RNA, só os títulos, e também me rio um bom bocado. Depois, dou uma vista de olhos pelo Facebook nos seguidores da escolástica anterior, e confesso que me sinto, sou o cidadão mais bem desinformado de Luanda. Nos tempos áureos da ditadura portuguesa, a outra do Salazar, porque a actual nem vale a pena, parece que é bem pior, a Gulbenkian criou, e levava as suas bibliotecas itinerantes ao domicílio, onde lhe dou graças a Deus, pois foi assim que aprendi o que é uma ditadura, e como me defender dela. Por aqui, a única biblioteca itinerante domiciliária é a poesia das maratonas, por sinal muito cultivada e incentivada por poetas, escritores, políticos, jornalistas, etc. Fazem muito bem em promover este insigne acto cultural, o mais elevado da nossa/vossa cultura, porque alguém se lembrou da sua criação como um objecto de cultura, intrínseco das raízes do povo angolano. Porque na ausência do livro… beber é ler.
A miséria combate-se com violência, e isso enche de contentamento a corrupção.
E onde há muita corrupção há muita miséria.
Mas, porque só os mwangolés estão ilegais em Angola e os estrangeiros legais? Porquê só perseguem os pobres e indefesos e os corruptos nacionais e estrangeiros não? Acham que isto assim vai acabar bem? Claro que não, mas se acham assim, estão errados. Vão nas traseiras dos prédios e vejam as ilegalidades, a usurpação por estrangeiros que até montam oficinas e estabelecimentos de fachada para lavagem de dinheiro. Há conluio, não é?!
Hotel Katyavala
No Hotel Katyavala, agora chamado de Hotel Fantasma porque os clientes fugiram aterrorizados, nas traseiras da Pomobel ao largo Zé Pirão, do general Ledy, os chineses ligaram a canalização da água ao esgoto, não pode?!, pode sim, garantiu a nossa fonte a este BP, e que não é a primeira vez, já o fizeram noutro, (ou noutros?), local. Então, o Hotel Katyavala está em ruínas, passados mais ou menos três anos, que é o prazo, o atraso de vida das obras chinesas. Quem mora na área diz que já partiram as paredes algumas dez vezes. E que agora fazem-no, os chineses, de borla, como indemnização, mas os chineses facturam de outra maneira, serram ferros e martelam em chapas todos os demoníacos dias incluindo sábados e domingos, infernizando, poluindo a vida dos mwangolés, porque para isso têm salvo-condutos. As máfias chinesas também já neocolonizam Angola. Se ao menos tivéssemos um Governo nacionalista. O vulcão sempre acaba por entrar em erupção.
Os gloriosos fiscais do GPL
Neste momento, 23 de Abril, 14.24 horas, seis fiscais do GPL – Ingombota, saltaram de uma carrinha e espoliaram tudo o que puderam dos pobres e honestos vendedores de rua. Isto passou-se quase em frente à Angop. Para justificarem os salários que não lhes pagam, os fiscais deveriam espoliar, saltar para cima da corrupção. Entretanto, o exército de desempregados aumenta, e os assaltos e as mortes também, até que nos danemos, todos nos danifiquemos. E a Polícia não acaba com os bandidos, combate-os. Quanto mais desemprego, e emprego só para estrangeiros, que até já nos garimpam a água, mais miséria, mais violência, mais assaltos, mais mobutismo. Aos nossos ícones analistas/cientistas, agora chamados de cientistas sociais, que batem na tecla já tão cheia de ferrugem: a Polícia combate, não acaba com a criminalidade. Quanto mais desemprego, mais miséria, mais criminalidade, e a Polícia não consegue conter a gigantesca onda de esfomeados.
Quanta mais violência e repressão, mais violenta também será a queda do repressor.
Até a água nos garimpam
Luanda. Segundo o semanário O Independente, de 21 de Abril, cidadãos portugueses comandam o garimpo da água no bairro Benfica. Trata-se de uma rede organizada que vende cinquenta cisternas de água diariamente.
A Escola 8
Luanda. Segundo a Rádio Ecclesia, 20 de Abril, a Escola 8 situada em frente ao prédio da ESCOM no Bairro do Cruzeiro, há pouco tempo reconstruída, mais uma escola foi encerrada e os seus alunos ficaram sem aulas. A desculpa para o encerramento é a necessidade de obras de melhoramento.
Pergunta-se: mais um banco? E os alunos? Espera-os o futuro do cangaço e o lugar-comum de que a Polícia não faz nada para parar a bandidagem? Angola já está de facto e de jure propriedade do imperialismo?
Se o capitalismo é selvagem, então o empresário também é selvagem?
Está demais, o feitiço
Luanda. Uma mana confidencia na outra: isto está demais, anda tudo no feitiço, todos querem ser ricos. Tem que se ter muito cuidado por onde se anda, porque a pessoa pode ser apanhada para lhe roubarem o coração e outros órgãos para fazer feitiço
O feitiço dos malianos
Os bandidos assaltaram a loja dos malianos, eles fizeram-lhes feitiço e depois uns bandidos morreram e os outros, as caras transformaram-se em porcos. Um observador confidenciou à nossa reportagem que há muitas pessoas transformadas em porcos.
Deixa arder
Luanda, 19 de Abril. Três casas arderam completamente no município do Sambizanga, depois de várias tentativas de chamar pelo telefone os bombeiros, ninguém atendeu. In Rádio Ecclesia.
Aqui, parece-me, a situação é muito simples. Como os bombeiros não atenderam as diversas chamadas de socorro, então eles são os responsáveis pelos prejuízos. Mas que triste conjuntura esta, onde nem os bombeiros funcionam, nada funciona, excepto o bombear do petróleo para os neocolonialistas.
Na maternidade Lucrécia Paim
Luanda, 15 de Abril, pouco depois do raiar da manhã.
O senhor chega na maternidade Lucrécia Paim já bem atestado de copos. Quer saber se a sua esposa já deu à luz. Pergunta aos seguranças mas estes não lhe ligam, pergunta mais naquela enfermeira, e mais aqui e ali, mas ninguém lhe responde, porquê?! Não, não é por estar com os copos, até porque essa coisa é muito corriqueira por aqui. Anormal, parece, é não estar bêbado. Para isso bastam as maratonas da promoção alcoólica que o nosso Politburo faz ao seu povo, muito em especial isso de que ainda chamam de juventude, é melhor mudaram-lhe o nome para finados, bom, o nosso mwangolé não tem dinheiro para entregar nessa gente da maternidade, e por isso ninguém lhe liga. Assim, decidem como habitualmente abandonarem a parturiente à sua sorte? Então, o homem enche os pulmões ao máximo, de ar, claro, porque de álcool é desnecessário, e grita o mais potente que até hoje conseguiu: «O Samakuva vai ganhar as eleições e todos os do MPLA vão ser cozinhados!!!» Uma grávida, há muito tempo, quase quarenta anos, infestada do sofrimento da miséria, à espera que lhe atendam em vão, a gemer, abandonada, ainda consegue rebater-lhe: «O José Eduardo dos Santos já ganhou!!!» Mas, como é que ela sabe?!