Estória é a História dos idiotas.
Querem-nos matar a todos?! Então que matem, vá! Desafio de
uma luandense perante o surto epidémico de estrangeiros que invade Angola.
O reino Jingola está incrível.
Actualmente governar é cometer infindáveis crimes. E tudo está correcto porque
houve a tal eleição democrática que tudo legitima. Pobre e triste reino… se ao
menos tivesse um cavaleiro que demandasse o Santo Graal.
- Marquesa Sem Planos.
- Meu belo
e atraente rei! Continuamos com
os mesmos planos a montante e a jusante
do sistema.
- Meu belo
e atraente rei?! Já
desconfiava. Vou manter esta gaja debaixo de olho. – Enciumou-se a Rainha.
- Oh!
Meu Deus!
Já lhe
disse para ser discreta. – Alarmou-se o Rei.
- Marquês do Líquido
Negro.
- Meu rei, minha
rainha, princesas, cavaleiro
Epok, nobres.
- Lá porque
está com o líquido
negro não exagere. Advertiu o rei.
- Sim meu rei! Até ao final do ano faremos três
aumentos de combustíveis.
Descobrimos mais três
poços produtivos que
nos darão aí
uns vinte mil barris diários. Já
facturámos em Signature Bónus, bónus de assinatura, até
ao momento…
- Caramba vai estragar tudo! Os números não são necessários
neste momento. Falamos depois pessoalmente.
- Marquês dos Abandonados.
- Excelso rei.
A reinserção dos abandonados está abandonada. Ninguém
quer ser
reinserido.
- Marquês das Más Relações Internacionais.
- Sublime reino,
meu rei.
A comunidade internacional
não gosta
de nós. São
racistas. Não
temos culpa que
haja tanto líquido
negro e diamantes neste reino paradisíaco. Eles têm é inveja… a alegria está na luta, na tentativa, no
sofrimento envolvido. Não na vitória propriamente dita,
disse Mahatma Gandhi.
- Sim. Mas
quando estamos aflitos pedimos-lhes
ajuda, como nas epidemias.
- Marquês das Epidemias!
- Magnificente reino endémico meu
rei. Tudo
o que é epidemia
existe neste reino. Não
somos os culpados porque foram
importadas. Exceptuando as epidemias da peste negra do
líquido crude, das pedras brilhantes e
da fome, nada
mais tenho a dizer.
- Tem a palavra o marquês dos Coches
e Liteiras!
- Ilustre rei
que o reino
deu à luz. Os transportes
são a nossa
espinha partida,
apesar dos coches
e liteiras estarem inteiros.
Estamos a investir nos
coches dos carris de ferro mas ninguém quer trabalhar. Lamentam-se
sempre que estão com
fome. Vai daí, lembrei-me de contratar trabalhadores
da Dinastia Chinesa. São presidiários que
vem para aqui
degredados cumprir pena.
São muito
dóceis e não incomodam ninguém. Não são como a nossa ralé que
andam sempre tristes.
Pelo contrário, os chineses andam sempre sorridentes.
Obrigado pela
atenção meu rei.
- Marquês das Casas em
Ruínas!
- Virtuoso rei.
Exceptuando as casas da nobreza já não existem casas em ruínas.
Foram todas partidas. À
ralé nem um palmo de um casebre. Plano cumprido a cem
por cento.
- Digno marquês
dos Altos Tribunais!
- A nossa Carta
Constitucional é violada permanentemente pelos
arautos republicanos e pela peste dos
esfomeados. Contudo, estamos à procura
dos caminhos da democracia,
que são
muito difíceis de encontrar. Mas há sempre um
Plano C virtuoso porque não é possível a democracia sem tal plano.
O rei pega
na sua caneta
e cola-a no bolso do casaco. Vai falar:
- Nobres, declaro encerradas as Cortes Reais. Não
faltem ao meu jubileu
dos trinta e tal anos. Tchau.
- Viva o rei!
Viva o rei!
Viva o rei!
Viva o rei!
- Gostaria de saber
quem foi o grande
filho da puta que
inventou isso das Cortes
Reais e da democracia. Porra, já me
estava a dar sono.
Se apanhasse esses tipos, as piranhas
ficariam muito felizes.
– Desejou Epok.
CAPÍTULO VI
A GRANDE FARRA
… E imobilizam a terra que nem cultivam nem
deixam cultivar, as empreiteiras
que seguem se equilibrando no apoio a políticos corruptos em troca de contratos
públicos, as famílias
da mídia que
seguem fielmente as tradições
truculentas do Chatô e loteiam o próprio espaço da informação
para perpetuar feudos políticos
e económicos, as próprias formas clânicas
de fazer política,
constituem hoje uma superestrutura
medieval, mal
disfarçada pelos celulares,
computadores e carros
de luxo que
utilizam.
In Capitalismo, novas dinâmicas, outros
conceitos. Ladislau Dowbor http://www.dowbor.org
Epok acordou ao mesmo tempo que o Sol.
Sentia-se cheio de energia,
bem disposto,
com grande
vontade de resolver
qualquer problema
que surgisse. No fundo
queria apenas ser
útil ao seu
rei. Preparou-se e pôs-se a caminho. A certa
altura aborreceu-se quando
se lembrou que patifarias
os republicanos lhe fariam hoje. Ah! Ao diabo com eles. Se o rei
deixasse as piranhas teriam comida para cem anos.
Encontrou-se com três
nobres, cumprimentou-os.
- Meus amigos,
há muito que
não sentia no reino
uma manhã como
esta!
- É verdade, verdejante, não
tens nada que
nos inspire?
- Tenho… vamos para os Tonéis dos Vinhos Tintos Reais.
Atestaram-se bem com
a incorporação, importação
do reino Tuga... das minhas vinhas que
comprei nas encostas tugas. Vinho tinto Dão Meia
Encosta. Na realidade
é uma boa encosta.
Chegaram aos tonéis. Pegaram nos cálices, Epok abre a torneira,
encosta o cálice
no Encosta. Não
encosta nada.
Abre-a até ao fim,
escorre apenas uma gota,
depois outra.
Vai para outro
tonel, a história
repete-se. Lembra-se de dar socos
na madeira. Recebe sons
ocos. Baixa-se e vê
um furo
grande. Espreita
nos outros e vê
a mesma coisa.
Acabou-se a bela manhã.
- GUARDAS!!! Piranhas!!!
Não se houve voz. Epok desce na direcção da casa
da guarda. Escuta
roncos. Os guardas
dormem abraçados às suas namoradas. Dá pontapés num. Este
levanta-se a fazer acrobacias
para se manter de pé. Os outros
imitam-no. Pelo cheiro
vê-se que estão embriagados.
- Mas… que
grandes filhos
da puta!
As jovens aproveitam a deixa, pegam na roupa, fogem e vestem-se aos tropeções. Epok interroga-os:
- Quem roubou o vinho do rei?!
- Foram… as manguei… mangas.
- Os mangas?!!
- Eram muitos… muitas mangas.
Epok viu que não
dava manter diálogo
com ébrios.
Os vapores no cérebro
fazem com que
os neurónios pareçam um baralho de cartas
desordenado. Milhares
de litros de vinho não
podiam voar. Lembrou-se de ir
lá fora.
Foi para a ponte
levadiça. Viu a rainha
que passeava e como quem não quer a
coisa, aproximou-se assim que a modos de acidente.
- Minha bela
rainha, que
também bela manhã!
- Hum… Epok, não sente o cheiro horrível
de peixe e de vinho?
- Sinto rainha minha.
- Sabe a sua origem?
- Estou a investigar.
- Acompanho-o.
Na ponte levadiça,
o bom vírus
vinícola Dão Meia Encosta imobilizou
saudavelmente os guardas que pareciam ter um sono etéreo
e eterno. Epok teve que manobrar
sozinho. Atravessou a ponte na companhia
da rainha, que
estava mais bela
que a miséria dos seus súbditos, sempre
sem manhã e sem amanhã. O verde relvado rejuvenescido pelos
raios solares
estendia-se pela frente,
ao encontro dos vários
girassóis espalhados que olhavam para o sol. O cheiro a peixe
e a vinho tornou-se intenso,
insuportável. A rainha
socorreu-se do seu lenço perfumado pelos
astronómicos preços dos melhores perfumes franceses e encostou-o nas narinas. Iniciavam a descida
de uma encosta, quando
viram o que parecia ser
uma gigantesca floresta
de cadáveres humanos.
Havia-os espalhados, naufragados por todo o lado. Não se sabia onde
começavam e acabavam. Mulheres e homens nus
abraçados. Restos de peixe cobriam o solo que
mal se via. Recipientes cheios
de vinho e outros vazios
acompanhavam os restos das piranhas. Algumas crianças
corriam em desordem,
sem destino.
Bebés choravam na tentativa de chupar
o leite das mamas
das mamãs. Os infelizes eram
desprezados, afastados à força. Uma mamã
esforçou-se e conseguiu frasear de um fôlego:
- Não chateia pá! Hoje é feriado, a mamã não
está de serviço. Procura
outra por
aí.
Epok comenta para a rainha.
- Parece um ritual
pagão.
- Nobre Epok. Quantas mais demoníacas eliminamos, mais
elas se multiplicam.
Epok dá um bico
num corpo masculino.
Este descola-se da senhora
que instintivamente
procura o seu
sexo com
a mão. Ela
desconsola-se.
- Não saias
agora… estava tão doce.
Epok enerva-se, pergunta ao macho:
- Malditos pagãos! Não tinham outro
sítio para ir?!
- Disseram-nos que aqui é um bom local para praticar nudismo.
- Quem roubou as piranhas?
- O fosso secou e como estavam a
morrer… a sofrer… aproveitámos.
- Vão todos
para as piranhas.
- Ah! Ah! Ah! Já estamos com elas.
- Estão muito satisfeitos!
- Queremos beber mais
água do fosso
do Dão tinto.
- Todos a andarem daqui!
- Não! Só
estamos a tomar banhos
de sol!