quarta-feira, 25 de fevereiro de 2015

06-12Fev15. República das torturas, das milícias e das demolições





Diário da cidade dos leilões de escravos

06 de Fevereiro
A malvadez dos detentores das riquezas do petróleo, dois mwangolés: «Já recebeste o teu salário?» «Ainda não, ainda estão a pagar nos brancos.» Faz-se silêncio na tarde do calor do poder ultrajante, sufocante. Carros de luxo conseguidos com a corrupção do petróleo desfilam como numa passagem de modelos. O mwangolé que perguntou pelo salário fica com ar sombrio e exclama: «Olha, alguns dos meus colegas amanhã não vão trabalhar porque não têm dinheiro para pagar o táxi Hiace para o Talatona.
O descalabro do Eldorado: Cerca das dez horas, no minimercado Pomobel na rua rei Katyavala: um português aí com trinta anos de idade entra no estabelecimento, tira um bolo e começa a comê-lo com avidez. Uma empregada chama-o: «Ó senhor, ó senhor, então não paga?» O português não responde, apesar de mais tentativas de outras empregadas. Acabou de comer o bolo e finalmente fala: «Quero água!» Uma mais velha presente condói-se: «Dêem-lhe a água porque Deus está a escrever isto no livro Dele.» E o português foi-se embora sem uma palavra.
07 de Fevereiro
É muito triste ver os mwangolés sem emprego, e agora com o desastre do petróleo mais são abandonados, desempregados, e os chineses aqui facilmente conseguem empregos. É muito triste!
Mais uma aberração angolana: o chinês continua a serrar bocados de madeira, de ferro, de chapas de zinco e sucatas que apanha no lixo. Porque até agora não foi possível encontrar um angolano que saiba executar esse serviço.
Na rua da Liga Africana, no passeio da loja de moda Bata, a quase centenária árvore desabou porque os mwangolés não tendo onde fazer as suas necessidades, fazem-nas como os cães, nas árvores. Será uma reacção em cadeia?, uma vez que as árvores estão assoladas pela urina dos “cães” mwangolés?!
Muito, muito estranho: o FMI diz que Angola deve aumentar os impostos – a receita habitual – e retirar os subsídios aos combustíveis. Mas não ousa dizer para Angola acabar com a corrupção. É que com corrupção não há receita que funcione.      
08 de Fevereiro
Do Elpaís: na RDC, em Kavumu, na província de Kivu do Sul. “Não param de violar as meninas de dois e de três anos. Depois de violá-las e agredi-las fisicamente, são devolvidas ao lugar com graves e dolorosas feridas. As idades das vítimas oscilam entre os quatro meses e os 17 anos. No Congo, as violações são práticas comuns da magia negra; no Uganda são frequentes as mutilações de órgãos e o canibalismo; e na Tanzânia, os sacrifícios de albinos. Para eles, o sangue das virgens lhes limpam de enfermidades como o VIH e lhes libertam da esterilidade; o sangue provê-lhes riqueza e trabalho ou a subida de posição e do estatuto no caso de militares e de polícias; e inclusos os maimais [rebeldes da zona] guardam em pequenos recipientes o sangue e se untam em tempos de guerra, evitando que as balas os atravessem.”
Com todos a roubarem e na trapaça nacional, Angola nunca será um país, será a terra prometida dos cambalachos.
09 de Fevereiro
José Laranjeira: “Quem estará a falar verdade Norberto Braga? O BNA diz uma coisa e os Bancos dizem outra...”
A austeridade é a receita ideal para fabricar terroristas.
E na TPA ouvi que algures em Angola estão cem mil chineses. Logo pensei que isso significa que são cem mil desempregados angolanos. Os novos saqueadores de Angola cumprem a sua nobre missão.
Um bom pastor evita que o seu rebanho vá para o precipício. Mas como temos muitos maus pastores é por isso que temos muitos precipícios.
Nomear um ministro só porque esteve no FMI, isso não prova nada. Não é isso que nos tira da miséria.
Quando tudo depende de uma só pessoa, é isso que se chama ditadura.
10 de Fevereiro
Angola vive momento de grande estabilidade política e social. José Eduardo dos Santos.
Uma modesta opinião: para sair da crise têm que deixar de agir e pensar como comunistas. E os corruptos, os responsáveis pelos nossos sofrimentos, a fome final já está aqui, que sejam de imediato detidos e levados a julgamento e os seus bens confiscados. Mas não é possível porque ainda não estamos num país normal, onde a oposição não passa de um sonho, e as garras dos chineses são bem visíveis, medievais.
As quitandeiras já dizem que vamos morrer à fome porque a caixa de carne entrecosto estava a 3.200 agora está a oito mil kwanzas. A caixa de frango e de costeletas de porco congelado também. A caixa de febras estava a quatro mil kwanzas agora está a dez mil. E os clientes fogem do campo da exterminação de Luanda.
Já me contam relatos sobre os salteadores do petróleo, posso dizer incríveis, que prenunciam a tragédia trágico-petrolífera que se aproxima. Já estão a roubar no dinheiro dos salários dos seguranças.
Será?! Norberto Braga: “É preciso por ordem na casa! Os bancos comerciais estão a cativar os dólares. Os gerentes estão a fazer negócio com os dólares. Eles pedem bilhete de passagem para provar que o cidadão vai viajar. Formalizam o pedido, a remessa solicitada é atendida, porém a corja cativa as divisas e comunicam ao cliente que o pedido ainda não foi atendido por falta de divisas. O cliente vai embora. No entanto, os malandros, executam a operação (uma vez que estão na posse da cópia do bilhete de passagem do coitado). Canalizam os dólares para o circuito que já anda bem montado. É vendido pela porta do cavalo a um valor altíssimo. Retiram o lucro e ficam a caça da próxima vítima. É assim que eles trabalham... Cambada de impostores!”
Há três dias que três geradores monstruosos instalados na zona da Liga Africana, de um prédio com doze andares, desses do luxo do petróleo brent, não param de funcionar, além do barulho, parecem turbinas a jacto, e da poluição. Esta cidade é dos delinquentes da rua e dos delinquentes do petróleo. O consumo do combustível dos três gigantescos geradores quem o paga? Está subvencionado, só pode. Viver com monstros disfarçados de pessoas não dá. Isto vai ficar uma chinesada daquelas.
11 de Fevereiro
O português vem com um segurança mwangolé gorila e encontra um lugar livre para estacionar o seu carro. Mas um mwangolé já antes o tinha sob mira e prepara a manobra de estacionamento do seu carro. O português valendo-se do seu gorila, que salta do carro e brutalmente grita: «Vai para o caralho!» O mwangolé pára, sai do seu carro e retruca: «Estás a falar com quem!?» E não se intimidando com a presença do gorila prossegue elevando o tom de voz esgrimindo os seus argumentos. O povo vai passando e a contenda observando, vai-se amontoando. O gorila já estava refugiado no carro do seu amo domador a dirigir, pronto para partir, fugir. A aglomeração de pessoas tornou-se um veredicto desfavorável, imperdoável. O português e o seu gorila aceleraram e marcharam, de uma grande surra escaparam.
12 de Fevereiro
O ouro está a 1.219.00, o Brent Crude Oil a 54.66 e o WTI Crude Oil a 48.84 dólares. Coitados dos que só sabem governar com os preços altos do petróleo, porque quando os preços baixam, baixam... não sabem governar. Isto não pode continuar assim, com o governo dos homens da mata, não podemos continuar dependentes de generais.
Agora também a Internet? Das 14 horas do dia 11 até às 13 horas de hoje ficámos sem Net. O que se passou? Ninguém sabe, como é de norma. Será da baixa dos preços do petróleo? Os chineses estão lá? Há quem costume bem governar na desgraça de uma nação. E os chineses são hábeis nisso.
Miriam Almeida: “Deve ser deve... com tudo o q tenho visto já cheguei à conclusão q o BNA n manda nada aqui, se mandasse os bancos n estavam a ter a atitude deplorável q têm com os clientes.”
Para a oposição: a política não é para pessoas medrosas.
A irmã da mana Antónia é cega e vende rebuçados. Os gatunos chegaram e roubaram-lhe o saco dos rebuçados. Deram-lhe cabo do negócio da fome.
Se chegou a hora de sermos criativos, significa que em quarenta anos de Angola nunca houve criatividade. O petróleo caía, - cai – do céu e fazia – faz - inferno.

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2015

O super-homem está em Angola





O super-homem veio de outro planeta
Aqui em Angola aterrou, se fixou
As nossas TVs contam-nos cada treta
O nosso super na miséria nos deixou

Super-homem que usurpou o poder
De mais uma extraterrestre constituição
Quem se manifestar é para se prender
Nos cuidados intensivos da inquisição

Jornalistas têm os minutos contados
Os do super-homem são abençoados
Os do Charlie Hebdo amaldiçoados
Torturados, massacrados, imolados

40 anos sob o jugo dos homens da mata
Nos preços do petróleo altos é esbanjar
E qualquer um sabe governar
Quando os preços baixam sê primata

Não sei, há alguém que me sabe explicar
Não consigo ver o que é isso de oposição
Não consigo essa música fúnebre cantar
Estou tão abismado com essa aberração

O petróleo dos sábios da destruição
Dos salteadores do petróleo da nação
O petróleo é o nosso melhor amigo
Mas fizeram-lhe o nosso pior inimigo

Os preços desabam de tanto subir
E esta merda vai implodir, explodir
Os mwangolés são incompetentes
Porque não têm chefias competentes

E os chineses é que vão nos mandar
E nós só nos resta, vamos se revoltar
Isto vai ser uma grande chinesada
Apoiada, abrasileirada, aportuguesada

E depois da pesada e violenta artilharia
Vem o petróleo com a sua infantaria
Desmontar, decretar o que é patifaria
E se necessário, a reserva da cavalaria

E nesta miséria de condição
Até quando nessa imposição
Nos libertaremos da situação
Dos 40 anos da maldição

Não sabem da gravidade da situação
E do poder da eterna perpetuação
E por este cavalgar
Os chineses me vão também medalhar






quarta-feira, 18 de fevereiro de 2015

29Jan-05Fev15. República das torturas, das milícias e das demolições




Diário da cidade dos leilões de escravos

29 de Janeiro
ELPAÍS: Nicolas Maduro, presidente da Venezuela, ordenou ao exército que atire a matar sobre manifestantes.
VOA: “Uma carta do Director Nacional do Comércio Externo de Angola determina a suspensão de pedidos de importação de arroz, açúcar, farinha de trigo, óleo alimentar, cimento, telhas, tijolos, bebidas alcoólicas e não alcoólicas, feijão e carnes congeladas e ovos. Está ainda suspenso o licenciamento de exportação de sucatas ferrosas e não ferrosas.”
Luzia Silva Gomes: “Será verdade a versão do assalto de ontem na sagrada família? Já encontraram os bandidos, foram mandados pelo gestor da conta! O motorista e o segurança fugiram, os bandidos levaram 30.000 usd a senhora é mulher do Boss Dr. Eugênio da LS. Isso são as informações do assalto de ontem. Portanto cuidado com os vossos gestores. A repassar: Sobre o assalto de ontem. Quem orquestrou tudo foi o motorista da vítima. O caso dos ladrões foi o motorista, no momento do assalto a senhora estava a entregar a pasta que estava no colo dela que era a preta da filmagem, e o motorista diz que não é esta é a creme que está de baixo do banco. A senhora se dirigiu à esquadra e mandou prender o motorista, lá os polícias usaram os métodos tradicionais e deram uma porrada ele teve de confessar
os ladrões e motoristas estão presos.” In Portugueses em Angola
A célula terrorista do banco millennium Angola, o banco da morte: O banco millennium Angola, na rua rei Katyavala, em Luanda, continua na sua actividade criminosa, terrorista, porque não se importa, não dá valor à vida dos outros. Nesta cidade o matar tornou-se uma vulgaridade tal que ninguém dá valor à vida de ninguém. Isto sim, é que é puro terrorismo. Assim, o seu gerador maluco liga e desliga à toa, porque a energia eléctrica aqui na zona tem estado estável. Nos dias 19, 20, 21 e 22 de Janeiro, vomitou fumo tal e qual – muito pior - o vulcão de Cabo Verde. Só lhe falta a lava, mas acho que também lá chegaremos. De 19 a 21 o gerador pelas 10 horas da manhã expeliu fumo durante dez minutos como um grande vulcão. No dia 22, das 14.03 até às 14.10 horas foi uma monstruosidade. Há uma intensa corrida para fechar portas e janelas senão morremos asfixiados. Já várias vezes os vizinhos reclamaram, mas em vão, porque este banco é da maldição do petróleo. É mais uma tempestade perfeita desta lei sem lei que protege criminosos, fabrica terroristas que depois se lançam contra a Europa. Aqui medito, que a Europa fará uma reunião com vinte e dois países para combater o terrorismo do estado islâmico. Como é que a Europa irá combater o terrorismo se ela o apoia, o fabrica, como é o caso deste banco. Para que a Europa obtenha êxito no combate ao terrorismo tem que ordenar às suas empresas, governos, bancos etc, para que cessem as suas actividades terroristas fora das suas fronteiras. Quer dizer, a democracia é só para o interior da Europa, para o seu exterior é a democracia do inferno, do terrorismo da morte. Das 16.16 horas o gerador do banco da morte retomou a sua actividade: matar-nos o mais rápido possível. Terminou às 16.41 horas. Pretende-se fazer da vida dos moradores um horripilante terrorismo para depois construírem mais uns prédios? Edificar mais uma pátria de terroristas é preciso!
30 de Janeiro
Na baixa de Luanda, em frente ao Jornal de Angola, o jovem vende mortadela e fiambre daqueles grandes em rolos. Os fiscais conseguem estacionar sem que ele dê conta. Então caiem-lhe em cima e conseguem apanhar-lhe um saco bem guarnecido que escondem debaixo do banco do motorista. Carregam com ele e o resto da mercadoria para o carro. Mas o jovem consegue fugir, apesar dos gritos dos fiscais. O jovem a sorrir disse: “ Isso é para eles e as suas famílias comerem. Com isso da baixa do preço do petróleo eles andam esfomeados.
31 de Janeiro
Hoje sem água, e privaram-nos de energia eléctrica das 08.45 até às 09.43 horas.
Que o espaço não tem fim, é infinito, mas não há nada infinito.
Há poucos meses o hotel Katyavala, próximo do largo do Zé Pirão, do general Ledi, os hóspedes fugiram – toda a gente fugiu, fuga digna de um navio prestes a ir ao fundo – devido a um curto-circuito. Pouco faltou para o hotel ficar pasto das chamas. Este hotel tem vivido vários problemas desde a sua construção pelos chineses, até já chegou ao ponto de nas torneiras sair água dos esgotos porque os técnicos chineses enganaram-se, ligaram a canalização da água ao tubo do esgota da rua. Neste caso do curto-circuito qualquer um é electricista, é no que dá. Vamos incendiar Luanda! Como exemplo, basta citar as ligações que os chineses fizeram quando montaram o pré-pago: pegaram nos condutores eléctricos e ligaram-nos com um alicate e com uma fita isoladora. O trabalho foi todo aldrabado, péssimo, digno de amadores, de quem não entende nada de electricidade. As fitas começaram a soltar-se. Muitos incêndios se esperam por aí. 
01 de Fevereiro
Ela trabalhava no banco e lá conseguiu encher um saco com dinheiro. Já na rua, afastada, despiu-se completamente e nua passou pelos polícias e por toda a gente. Ninguém lhe ligou porque era mais uma maluca que por aí andava, e como Luanda tem muitos malucos e malucas que andam pelas ruas, ela conseguiu safar-se com o saco carregado de dinheiro.
E ainda se insiste nisto: “faremos de Angola uma pátria de trabalhadores”. De trabalhadores estrangeiros.
02 de Fevereiro
Dhlakama: “É preferível eu enforcar-me do que um dia desses dizerem que o Dhlakama tudo o que dizia era mentira, está aí a comer com a Frelimo em Maputo”
No caso do Coréon Dú, há nitidamente uma manobra de diversão: Então, e as meninas crianças que andam por aí aos montes satisfazendo os apetites sexuais de uma cidade inundada de pedófilos, isso é o pior, abominável crime que ninguém denuncia, e que comparado com um beijo entre dois homens numa telenovela serve para mobilizar os instintos mais baixos da religião falhada e da sua falsa moral.
03 de Fevereiro
E das 10.22 até às 11.44 horas levámos com mais um apagão.
Foi um pesadelo daqueles: primeiro senti a janela e a cama a tremerem. Era mesmo um tremor de terra. Lá fora ouvia muitos gritos de pânico e confirmei que era mesmo um terramoto. Depois, um vulto sai da janela e vem com um tubo – parece de madeira – bem afiado na ponta para me espetar, me matar. Rodo na cama e consegui safar-me. É um gatuno que me quer matar para me assaltar. Ele levanta o tubo outra vez para me espetar, para outra vez me tentar matar, e eu na cama a rodar, a rodar para me conseguir safar. Então, começo a berrar pela Lwena para que ela me venha salvar. E assim aconteceu, consegui ela acordar. Ela estava assustada com os meus gritos, conseguiu despertar-me do pesadelo da morte. Depois sentei-me na sala e lá fiquei um bom bocado bem desorientado, cheio de medo até acalmar e depois para a cama voltar. Nos dias anteriores também tive alguns pesadelos mas não tão violentos como este. Já há mais de uma semana que durmo com a luz acesa e os pesadelos desapareceram.
Dois dias depois tive um pesadelo ao contrário. Estava um maluco muito corpulento a dormir debaixo de um carro na rua. Era de noite e no carro, pai, mãe e filhos dormiam. De repente vem uma grande chuvada que depressa faz um rio e inunda o maluco, que para sair debaixo do carro, levanta-o e põe-se a andar, fazendo com que os seus ocupantes abrissem as cortinas das janelas e olhassem para todos os lados sem verem nada. Depois, outra vez o maluco debaixo do carro com a família lá dentro. É de dia, o pai prepara-se, põe o carro em movimento, mas não o consegue porque o maluco levanta-o e põe-se a salvo. Novamente as cortinas se abrem, a família olha para todos os lados convencida de que se trata de um tremor de terra. Acordei bem-disposto, a rir. Levantei-me e para onde ia, ria, ria. O nosso cérebro é incrível. Primeiro atira-me com um pesadelo horrível, depois presenteia-me com um sonho para rir.
O Elpaís noticia que o governo comunista chinês está aflito com a proliferação dos cristãos, que já são cem milhões.
Helder Ricardo Damião: “Kamba (cartão) rebentou ... Só com bilhete e valor máximo 250 mil akz. Finibanco já não dão dinheiro com bilhete de passagem e muitas transferências a serem canceladas ...”
04 de Fevereiro
Os heróis nos seus eternos descansos revoltaram-se porque o seu sangue derramado foi desprezado, porque o petróleo e Angola tudo foi surripiado pelos seguidores do saque declarado. E um estado de sítio – não parece – está-nos arregimentado. Neste 4 de Fevereiro vivemos num Estado desesperado. Com tanta miséria já vivida e mais a que aí vem, virão com as suas armas em riste sobre nós também.
05 de Fevereiro
O ouro está a 1.263.80, o brent crude oil a 54.16, e o crude oil a 48.45 dólares.
Que se pode esperar do só petróleo faz esta nação, nada de bom, não! Para eles está tudo bom, para nós esfomeados soltam-se os cães descontrolados.

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2015

O PARAÍSO PERDIDO A OCIDENTE (15)






O meu pai comprou um carro, um velho Citroen. Com o meu pai e a minha mãe lá fomos de viagem até Tramagal. Íamos de visita à terra onde nasci. Quando chegámos, depois dos tradicionais milenares cumprimentos, a minha tia piscou-me um olho cúmplice e mandou chamar a Belita que estava algures nas redondezas. Ela já sabia do nosso namoro.
Quando chegou aguardei que estivesse só e inundei-a de beijos. Aproveitei e acariciei-lhe os seios. Ela sentiu-se envergonhada e baixou a cabeça. Depois encostou-se a mim e assim ficou durante uns momentos, mas com receio que nos vissem. Depois fomos passear, namorar. A vizinhança espiava-nos nas portas e janelas, a Belita sorria e comentava:
- Que grande falatório vai sair hoje e nos próximos dias.
E ela sentindo-se liberta do ambiente de aldeia global que era Portugal extremamente hostilizado pela religião e pelo mar do milagre de Fátima, que se estava marimbando para o que dissessem. Era o ambiente típico de uma aldeia, apesar de o Tramagal ser uma freguesia. Quando estávamos sós não perdia as oportunidades favoráveis para lhe desvendar a virgindade do seu corpo. Ela suspirava, sentia desejos de prazer quase desmaiava.

O meu pai chamou-me para provarmos uma água-pé que dizia estar mesmo no ponto. Trazia latas de conserva de sardas em molho picante. Eu gostava muito. Era um bom petisco e o picante aumentava o desejo de beber. Era uma água-pé deliciosa. Quando bebia demais começava a falar muito. Sentia uma alegria estranha. E o meu pai:
 – Nunca mais chove!
Chegava a hora da partida, despedia-me da Belita com promessas de amor, e ela num sorriso encantador do jardim do paraíso, revelava-me os mistérios do seu amor.
O meu pai já tinha o carro carregado com batatas e outros produtos. O carro ia bem carregado. O meu pai conduzia com muito cuidado, não gostava de velocidades.

No café do Frederico o Quitério despedia-se. Foi mobilizado para a Guiné. Mas tranquilizava-nos dizendo que devido ao seu coxear ficaria em Bissau como furriel amanuense. O Mota ia para Moçambique. Via os turnos de incorporação passarem um após outro e não me chamavam. Pensava por vezes que se tinham esquecido de mim. O meu pai dizia:
- O meu filho vai sair da tropa velho. Estão a desgraçar-lhe a vida. Que fará um homem já velho quando sair da tropa?
E no último turno do ano lá me chamaram. Fui à inspecção militar. Mandaram-me despir, pesar, medir a altura, tirar fotografias. Deram-me a chamada injecção de cavalo. Passado mais algum tempo saberia onde iria fazer a recruta. Nunca mais veria os meus queridos amigos, Mota e Quitério. Todos os nossos projectos ficaram adiados para sempre. Podíamos ter fugido para a Suécia como outros fizeram, mas o Quitério não concordou. Disse-nos que era melhor irmos para conhecermos a realidade no terreno, e assim estarmos em condições de falar com conhecimento de causa. Não como aqueles políticos que falavam muito das Províncias Ultramarinas sem nunca lá terem estado.


CAPÍTULO III
A TROPA


Castelo Branco, 19 de Outubro de 1970

A recepção à chegada foi cortar o cabelo na carecada com a máquina zero. Depois receber vestuário e calçado. Uma camisola interior e outra de tecido grosso. Calças que me ficaram largas, uma camisa, um blusão, meias, um quico, botas e sapatilhas. Roupa e sapatos de saída. Ficámos alojados no que era, assim parecia, um armazém. Praticamente uns em cima dos outros. Parecia uma lata de sardinhas gigante. O barulho era ensurdecedor. Ler um livro era impossível no meio de tanta confusão. Por isso a concentração, pensar não era possível.

Chegou um cabo a dizer-nos que agora já não tínhamos nome. Devíamos fixar o nosso número mecanográfico que saiu no sorteio até ao fim do nosso serviço militar. Era a nossa despersonalização. Felizmente o chefe do pelotão, o aspirante Abreu, e um sargento miliciano eram boas pessoas. Começámos a aprender ordem unida. Ao contrário de outros oficiais o nosso chefe ensinava-nos com brincadeiras à mistura. Estava sempre a rir. Ao contrário de um alferes que quando estava de oficial de dia, ou a dar instrução era um terror. De rosto sempre mal-encarado, nunca o vi sorrir. Não valia de nada pedir-lhe fosse o que fosse, porque a sua resposta era sempre não. Os recrutas do seu pelotão acabavam sempre a ordem unida todos partidos e desconjuntados. Tinha imenso prazer nisso. Como se vingasse de qualquer coisa que ninguém sabia. Quando chegava a hora das refeições muitos comiam de tal modo que pareciam nunca terem comido. Para eles a tropa era boa porque donde vinham raramente comiam. Aqui sentiam-se felizes com casa e comida gratuita. Engordavam rapidamente. Por causa disso chamavam-lhes lateiros. Eram alvo de continuas chacotas. O dinheiro que tinham era bem guardado, bem poupado. Não bebiam uma gasosa ou uma cerveja. Não faziam gastos nenhuns. Isso surpreendia-me porque como é que uma pessoa assim conseguia viver sem gastar o que quer que fosse.

O nível cultural dos meus colegas era muito baixo. Não conseguia manter uma conversa. Sentia-me imensamente deslocado. Quantas saudades do Mota e do Quitério. Nos primeiros quinze dias ninguém podia sair do quartel. Depois disso foi uma debandada geral. Também saí. A estação dos caminhos-de-ferro era bem próxima. Bem organizada e poderia confessar bem bonita, bem asseada, muito convidativa devido aos vasos de flores. Várias vezes aqui me sentava nos assentos disponíveis e aproveitava para ler. Próximo, era a avenida principal ladeada por uma montanha. Para um recruta pouco mais havia para onde ir. Posso assegurar que era uma cidade bonita e pacífica. Em frente ao quartel os arruamentos eram de pedra calçada muito bem conservados. As vias principais eram asfaltadas.

O único colega com quem conseguia manter algum relacionamento era o Dário, mas não podia aprofundar as conversas devido às suas limitações. Um vizinho da sua terra natal também recruta constituiu motivo de curiosidade, porque achava difícil dois vizinhos serem incorporados na mesma unidade. Eram de uma rivalidade confrangedora. Passavam o tempo a dizer mal um do outro. Quando me dei conta já era confidente de ambos. Passavam o tempo nisso. Cheguei ao ponto de já não os poder suportar. Evitava-os a todo o custo. Mas num ambiente tão fechado em que éramos obrigados a estar e conviver, constituía um exercício insuportável. A minha mente sofria com tal perturbação.