Reino Jingola, algures no Golfo
da Guiné
Os Jingola não são preguiçosos,
são africanos.
O destino deste reino está no exílio local.
Temos que continuar
a luta fora
de portas. Lentamente
matam-nos um a um. Aqui
não conseguiremos sobreviver.
Temos que fugir
para o estrangeiro.
Renovar a verdadeira luta
de libertação nacional.
Só assim
conseguiremos os nossos verdadeiros
objectivos. Os marqueses dos nossos gloriosos exércitos
tomam de assalto as ruas.
Estamos a ficar sem
elas. A rádio dos republicanos disse que o bispo do
vice-reino da Ponta do Padrão ficou com muitos estragos.
Os jovens invadiram o local do culto
e caíram-lhes em cima.
Atiraram-se a ele como mabecos.
- Isto está a ficar
confuso. Os republicanos já lutam entre eles. Os
mosqueteiros agora têm que resolver os problemas dos republicanos? – Preocupou-se o rei.
- Excelso rei, prendo-os?
- Não, deixa-os morrer
à fome.
- Vou acabar a leitura.
Eh! Eh! A maioria
da população é constituída por marqueses e marquesas. Não gostamos da cor da bandeira
do reino porquê?! O vermelho
e preto há mais de trinta anos que nos promete
muita coisa. Só nos dá fome. Por isso não
gostamos deste reino. Fomos concebidos para viver, mas
não nos
deixam fazê-lo. Apenas quero amar uma mulher. Verdadeiramente amá-la. Acho que nunca
conseguirei isso neste reino. O meu coração diz-me que
ficaria muito feliz.
Na realidade não
somos nós que
amamos. O nosso coração
é que ama.
Só ele
sabe sentir o que
é o amor. Sente-se eternamente
feliz quando ama. Só ele conhece o segredo
do amor. O meu
coração sente necessidade
de amar uma mulher.
Não sei, nem
imagino onde ela
se encontra. Que se acabem os documentos, os passaportes,
as nações e que o mundo
seja só um.
Procuremos o nosso amor,
em qualquer
parte do mundo.
Sem qualquer
documento. Que
se acabe com a ONU e outras coisas iguais.
Passamos a vida a viver
de ilusões neste reino
parte casebres. Estrangeiros já violam as nossas filhas. Obrigam-nas a
prostituírem-se para arranjarem trabalho.
A única liberdade
que lhes
resta é abrirem as pernas
para o reino
das piranhas.
Depois da audição o rei não
mostrou nenhum sinal
de compreensão.
- Sabe Epok, não perco tempo com essas
coisas. Tenho muito
onde ocupar o
meu precioso tempo. Isso… são
devaneios da juventude. Piranhar meu caro Epok!
CAPÍTULO VII
A PRINCESA
«E envolvem actividades
tão diversificadas como
o comércio de armas,
a agricultura destinada à fabricação
de entorpecentes, os desmatamentos ilegais
que devastam grandes
regiões no mundo,
a sobrepesca em áreas
fragilizadas, os loteamentos ilegais de especuladores
imobiliários que
jogam populações miseráveis
em áreas
de mananciais, o comércio
internacional de prostitutas infantis, o
tráfico de órgãos
humanos para transplante e assim
por diante.»
In Políticas
Municipais de Emprego. http://www.dowbor.org/
Ainda o casal real dormia com um olho aberto e outro fechado numa bela cama estilo Luís XIV, quando a princesa abriu a porta com a chave que surripiou à mãe. Senta-se na cama
ao lado da progenitora, acorda-a. A rainha levemente assustada levanta a cabeça, pergunta
à filha:
- Que horas
são?
- São cinco
horas mãe.
O rei desperta completamente,
ouviu o cinco horas da manhã da filha, e repreende-a.
- Filha bonita
do papá e da mamã, se não tiveres um bom motivo para nos acordares a
esta hora, vou-te dar
uns bons açoites
no teu real
rabinho.
- Meu senhor, se ousardes tal façanha,
verá tal angústia minha,
que preferirei viver
como uma rameira.
– Ousou a Rainha.
- Senhora minha, deixai-me educar
os meus filhos.
Eles têm pai, só mãe
não é suficiente.
Noto que
a educação que
lhes dais, é indigna
de uma verdadeira rainha.
- Senhor meu… ide à merda!
- Como prefere ser
rameira, se já
o é?!
- Irreal senhor, não me obrigue
a devassar o seu
íntimo!
- Sinto-me sem integridade moral.
Vejo-me forçado a utilizar
as mãos, e ferir
talvez a indelicadeza dos seus lábios!
- Real atrevido, como ousa? Tente e verá, arrependêreis-vos ad aeternum.
O esposo levanta a mão, a esposa procura um objecto. A princesa dá um
grito, que de
certeza se ouviu no Castelo
e arredores.
- CALEM-SE!!! Porras!!!
Chora. As torneiras dos olhos
parecem os tubos e condutas da Real Empresa de Águas, sempre a estoirarem, a
rebentarem. As lágrimas correm como a cachoeira
do Sumbe pelos declives
das faces. A rainha
comove-se.
- Nunca a vi chorar
assim.
- Tal mãe
tal filha.
Já não
se pode dormir no meu
reino. Vou bazar e tratar
dos assuntos de Estado. Isso é mais importante. As rameiras
que se entendam. – Disse o rei em
retirada e atirando com a porta com tal violência que lascas saltaram. As duas
abraçam-se. A mãe faz um gesto de desprezo na direcção da porta.
A princesa observa.
- Piranhar minha cara
mãe.
- Estás a ficar conspurcada como a ralé. Vou evitar que saias muito do Palácio.
- Aprecio muito viver
com a ralé.
Aprende-se muita coisa.
- Por exemplo o quê!
- A fome. Isto
não é um
reino. É um
campo de concentração
onde as pessoas
morrem à fome.
- Tem o que merecem. Não é só aqui que existe
fome. Muitos
reinos adernam sem salvação castigados
pelas independências selvagens. As pessoas
esqueceram-se que para
serem independentes têm que trabalhar muito.
- A questão é essa… dêem-lhes trabalho.
Todos querem trabalhar.
A fome é merecimento
para alguém…?
- Fumaste não é?!
- Não, Deus me livre!
- Então… passada para os republicanos?
- Não, passada para o lado
da justiça dos esfomeados.
A rainha guardou silêncio. Não
sabia como reagir
às inesperadas afirmações da filha.
Tentou as habituais artimanhas
de mãe.
- Os teus dezoito anos de idade
surpreendem-me. Vives bem, não
te falta
nada. O que
mais queres?
- Vivermos sempre encerrados num castelo é viver
mãe? Sempre
com medo que alguém à mínima
distracção nos abata? De que nos servirá
o líquido negro se dentro
de pouco tempo
o vulcão popular o destruirá?! Note que já existem vários opositores e todos os dias aumentam.
Ninguém se lembrou disso não é?! Pensavam que
era tudo
fácil. Escolheram o caminho
errado, agora nunca
mais teremos paz.
Na verdade já
estamos no purgatório. E isto é apenas o
início. Não
estamos a lutar contra
animais. Estamos a lutar
contra seres
humanos.
- A minha filha pretende mudar o mundo? Eles já estão
habituados a isso. Já
nasceram escravos. Não
se podem dar condições
a escravos, senão revoltam-se contra o seu senhor. Não quero que isto aconteça no nosso reino.
- Não é nada
disso mãe! Ontem havia ricos e pobres.
Hoje há opulentos
e esfomeados. Teimam que amanhã só
existirão opulentos. Não entendem que
isso não
é possível? Não foi assim que originaram Bin Laden e a Al-Qaeda?! Os esfomeados
antes de serem exterminados imolar-se-ão
num inferno jamais
visto na História. Lutaram contra o colonialismo a favor
do marxismo-leninismo. Impuseram-nos o esclavagismo. Onde
está o progresso que
tanto apregoavam? Não
se esqueçam que, quem
com ferros
mata com ferros
morre.
- Filha… naturalmente que existem classes
sociais com
as suas diferenças fundamentais.
- Não há diferença
nenhuma. No primitivismo roubavam, no mercantilismo,
comunismo, capitalismo
e outros ismos roubavam. No neoliberalismo rouba-se mais
que em todos os sistemas
anteriores. Mas
que merda de mundo
é este?! Todos pensam só em roubarem? E depois? Quando não houver mais
nada para
roubarem? Não era melhor voltarmos ao
primitivismo? Pelo menos
sempre havia alguma coisa
para comer. Agora, nos espaços que
deveriam ser utilizados para
plantar, constroem hotéis, torres, condomínios…
arranha-céus. O tempo do inferno terminou. Agora
estamos no purgatório!
- Minha princesa governar
não é fácil.
- Pois não, governar não é dirigir guerrilheiros
na mata. E contra milhões
de esfomeados ninguém combate.
Os jovens querem estudar,
trabalhar, não
conseguem. Passam fome. Têm que se revoltarem. A Humanidade ainda
não saiu da selvajaria, porque continuamos a trabalhar
para patrões.
- Querida filha! Não sei onde
falhei na tua educação. És tão diferente
da tua irmã.
- A minha irmã?! Ela tem tudo! Banca,
lixo, cimentos,
diamantes, telecomunicações,
líquido negro… toda a Jingola, etc, etc! Não sei onde ela consegue arranjar tanto dinheiro. Ela tem tudo
mãe, eu não tenho nada!
- Também terás. Ainda és muito jovem. Esforça-te um
pouco mais… aproveita as sobras da
comunicação social estatal.
- Está bem mãe... quero fazer-te um pedido.
- O que é?
- Vou pôr vasos
de flores em
alguns locais.
- Só isso?! Acho muito bem minha querida ecologista.
- Gosto muito
de ti mãe.
Os golpes no reino do Zé Mau
ResponderEliminarO Golpe de Bissau
tem o apoio do Bloco Regional.
Espero que não sejam todos traficantes
como a maioria os governantes
no reino do Zé Mau.
Este impôs uma Presidenta da Comissão Eleitoral,
mas não perdeu na demora,
e mandou o tribunal
destituir a senhora,
porque parecia mal,
junto das populações,
tanta manipulação das eleições.
E Também mandou as televisões e os jornais,
os ministros, governadores e os paralamentares
desdizerem o que disseram nos discursos eleitorais
(se quiserem manter os seus bons lugares).
Tentou acusar a oposição
de ter provocado toda essa situação.
Ele procura assim demonstrar que os tribunais
do seu reino são totalmente imparciais.
Se o sistema fosse honesto e equilibrado
os traficantes governantes,
os generais, outros mandantes,
o Zé Mau e muitos ricos fulanos
estariam presos por crimes contra o Estado
e contra os direitos humanos.
Os media fiéis ao Zé Du
seriam convertidos em papel
para limpar o cu
e os milicias ficariam como gorilas do bordel,
onde quem é prostituta ou proxeneta
continua a gritar: a Vitória é Certa.
António Kaquarta
http://miradourodoplanalto.blogspot.com