República das torturas, das milícias e das
demolições
Diário da cidade dos leilões de escravos
E depois das eleições com uma vitória arrasadora
dos partidos políticos da oposição, o Mpla proclama vitória por maioria
relativa ou simples (a que reúne um número de votos superior àquele dos outros
concorrentes, mas inferior à maioria absoluta). A oposição contraria e mostra
provas. Porém, o versado matreiro Mpla desarma argumentando que a sua vitória é
por demais evidente e que não oferece dúvidas. E mais esclarece que os
resultados eleitorais da oposição são uma pura invenção, mais uma fraude, pois
o Mpla nunca perdeu, nem jamais perderá um pleito eleitoral, pois a esmagadora
maioria da população angolana confia e segue cegamente o Mpla desde e antes dos
gloriosos tempos da independência. E mais adianta que a oposição tem que se
habituar a contentar-se com as suas derrotas e com a sua vulgar e reles
insignificância. E a oposição em bloco contesta e diz que vai levar o pleito
para o Tribunal Constitucional. E assim fez. Entretanto o Mpla esfrega as mãos
de contente, pois que tal tribunal parcial há muito que é um órgão partidário e
foi instituído para sempre julgar a seu favor. A oposição (mais uma vez, muitas
vezes) viu contrariados os seus desejos. Depois de infindáveis dias, uma
eternidade, tecnicamente falando viu o seu pedido rejeitado, mais tecnicamente
viu o seu pedido indeferido. Confesse-se que nada aconteceu de anormal pois tal
veredicto já era de contar, normal. Vai daí, a oposição recorre à instância
máxima da Lei, o TS, Tribunal Supremo. Muito confiante aguarda que se faça
justiça, pois tudo está a seu favor. De facto está mais que provado e a nação
inteira sabe que a oposição derrubou o célebre contendor Mpla, pois tudo e todos
estavam já demasiado fartos (isto é favor, o correto é dizer-se demasiado
fartíssimos) de o aturar. Mas, para quê espantar?, o TS declarou
perenptoriamente da sua suprema justiça, a injustiça de que o Mpla é de facto e
de jure o aclamado, o proclamado vencedor das eleições de 23 de Agosto. Logo de
seguida e perante tão flagrante injustiça, a oposição ameaça sair às ruas numa
grandiosa chuva de manifestações. O Mpla aconselha que não, pois a oposição tem
que felicitar o vencedor e não fazer marchas tumultuosas. A oposição tem que
aceitar, se contentar com a sua derrota. O Mpla faz sair um comunicado onde
nele realça que se a oposição quer fazer confusão, então o seu devido lugar é
na prisão. Mas a oposição não desarma, forte, poderosa, nunca desarmou, como a isso
sempre nos habituou, que fará uma surpresa, que vai mesmo sair para as ruas,
porque o poder sempre esteve, lá mora. O Mpla replica que não tolerará nenhuma
agressão interna e externa e invoca que um governo devidamente constituído tem
o supremo direito de se defender, a si e às populações que democraticamente o
elegeram. As coisas sobem de tom pois outra coisa não seria de esperar. O Mpla
convoca todos os seus instrumentos de defesa e segurança e envia-os para
prenderem os insurrectos e preferencialmente eliminá-los para sempre sob o
escudo da acusação de células terroristas devidamente implantadas e
organizadas. Mas a oposição não se deixa intimidar, porque batalhadora como
nunca, pois contra qualquer injustiça sempre lutou. Começam os tumultos com barricadas
nas ruas, com muitas nuvens de fumo provenientes de pneus e outras tralhas a
arder. São milhões de manifestantes que não aceitam, dizem, mais o jugo do
comunismo. O Mpla decide-se pela sua vitória certa, final, ordenando a todas as
forças de ar, mar e terra que disparem a esmo, sem dó nem compaixão contra tudo
que se mova. Sente-se no ar a pólvora e o cheiro acre dos corpos queimados pela
fornalha de tão colossal metralha. Os nossos santos Bispos declaram que Angola
optou pela solução da RDC, nada mais tendo a declarar ou reclamar. Como sabido,
de lei, a diplomacia internacional é a arte da hipocrisia internacional. A
comunidade internacional volta, faz o seu papel, cumpre o seu dever, a olhar de
soslaio finge tomar conta da situação. Mostrando-se impotente deixa andar, é o
deixa-andar, deixa-disso universal, excepto um não perenptório quando lhe
interessa, quando os seus poderes e interesses geoestratégicos estão
directamente ameaçados, retira-se sub-repticiamente e é o nascimento de mais um
estado africano que cai, que se entrega à barbárie, à mais elementar crueldade
onde as crianças ficam, são aos milhões, biliões?, sem UNICEF.
Crónica de uma morte eleitoral: “Todos os
intervenientes do processo eleitoral afirmam que querem um processo eleitoral
livre e justo, implicando por conseguinte um processo transparente.
Para falarmos de transparência necessariamente temos de exigir o
cumprimento da lei. É exactamente nesta questão (do cumprimento da Lei) que a
CNE tem deixado muito a desejar. Neste momento, faltando 38 dias para o pleito
eleitoral, o plenário da CNE quer agora aprovar o Regulamento sobre a
Organização e Funcionamento dos Centros de Escrutínio, estabelecendo a lei que
"A Comissão Nacional Eleitoral deve estabelecer e publicitar no prazo de
30 dias a contar da DATA DA CONVOCAÇÃO DAS ELEIÇÕES, a estrutura, a organização
e o funcionamento dos centros de escrutínio, bem como os sistemas de
transmissão e tratamento de dados e os procedimentos de controlo a utilizar nas
actividades de APURAMENTO e ESCRUTÍNIO, em conformidade com os artigos 116.º e
117.º da Lei Orgânica Sobre as Eleições Gerais". Estive a citar o número 1
do artigo 30.º da Lei n.º 12/12, de 13 de Abril - Lei Orgânica sobre a
Organização e
O Funcionamento da Comissão Nacional Eleitoral
Não cumpriram com a lei de propósito e agora querem a correr aprovar um
regulamento que viola a Lei Orgânica sobre as Eleições Gerais no que à
transmissão das actas diz respeito, pois pretendem que essa transmissão seja
feita a partir das ADMINISTRAÇÕES MUNICIPAIS e não das Assembleias de Voto
(será que querem adulterar os resultados????? E já agora por que razão escolhem
as Administrações Municipais e não as Comissões Municipais Eleitorais???). POR
FAVOR CUMPRAM SÓ COM A LEI!!!!” (Mihaela Webba, deputada da Unita)
Propaganda eleitoral da Igreja Adventista do
Sétimo Dia em Luanda: “ministérios da criança. “Convite. O ministério da
Criança convida-o a participar na semana de oração infantil que acontecerá de
15 ao 22 de Julho na Igreja Central de Luanda. Será uma semana repleta de
bênçãos celestiais. Participe! Traga a sua visita. Abrace este ministério!”
Viver no reino da mentira é permanentemente
viver na miséria e assim continuando acaba-se no reino do inferno da fome.
Antes era o colonialismo, agora é o colonialismo. “O estrangeiro vem, tem
emprego. O português vem, tem emprego. O brasileiro vem, tem emprego. O chinês
vem, tem emprego. O angolano anda aí na rua a vender a jinguba. (Isaías
Samakuva, em Ondjiva, Cunene)
A crise não é de agora, já vem de longe, já há
quarenta e dois anos que nos invade.
Em Angola chove muito, há quarenta e dois anos
que as casas estão inundadas de miséria, pelo mar, pelo dilúvio de fome.
A coisa mais pavorosa que me é dada a observar,
é o ver exércitos de famintos que a única riqueza que têm, claro, é a fome. E
ver alguns novos-ricos a desfilar com os seus carros de luxo, ostentando e
esbanjando o que ilicitamente conseguiram e conseguem. Creio que isto é sem
dúvida alguma a essência da revolta e do terrorismo que eles provocam. Este é
um Estado declarado de expropriados.
No país dos expropriados a terra não é de quem a
trabalha, é de quem a rouba com metralha. E o mais importante é criar pretextos
para fazer cortes de energia elétrica e com isso vender mais alguns geradores.
É que a diversificação/diversão/desertificação da economia resolve-se com o uso
massivo de geradores. Com o sistema de geradores domésticos ou industriais,
dentro de pucos meses esta economia será imparável. Até qualquer bajulador do
FMI declarará que ela inigualável será.
E esta torpe sociedade vai evoluindo com festas
muito barulhentas a qualquer hora do dia ou da noite. Beber até desmaiar, até
morrer, até não mais levantar.
Trabalhar é criar, inovar. Quem isto não faz,
não trabalha, desfaz. Está a brincar, é como um autómato teledirigido.
É bazar porque não deixam, é impossível pensar,
trabalhar. Quando quiserem, deixarem pensar e trabalhar, então é hora de
voltar. Mas receio que seja demasiado tarde.
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