segunda-feira, 2 de outubro de 2017

O TELEJORNAL ESTÁ A COMEÇAR






"'Uma casa dividida contra si mesma não pode permanecer”. Eu acredito que este governo não pode suportar, permanentemente, ser metade escravo e metade livre. Eu não espero a dissolução da União, eu não espero ver a casa cair, mas espero que deixe de ser dividida.” (Abraham Lincoln, 1809-1865. 16º presidente dos Estados Unidos da América)
O Tribunal Constitucional chumbou em bloco o pedido de impugnação dos partidos políticos concorrentes e perdedores das eleições, tendo entretanto as suas pretensas provas depois de uma profunda análise eivarem de fraude, de montagem por meios eletrónicos. Não sendo competência deste tribunal qualquer peritagem ou arbitragem, assim tais partidos políticos têm que se conformar com tal decisão que é soberana e como tal denega provimento cautelar, nada mais tendo a exigir ou reclamar. Está a começar o telejornal.
O cacimbo terminou, o sol voltou, o tempo da chuva recomeçou. Um casal de gralhas poisa nos beirais, embosca pardais que se refugiam nos quintais, aterrorizados, como nas actas síntese eleitorais, burlados.
Amigos telespectadores, temos nos estúdios um sacerdote do comité de especialidade de todas as igrejas que convidamos de imediato para uma análise religiosa, também política, porque não, pois quem disse que um sacerdote não se deve intrometer na política de um país? E como estamos no terceiro mundo, mais concretamente no baixo mundo, os sacerdotes são quem de facto domina porque isso é apanágio do direito canónico das igrejas que é, quanto mais burros, isto é, quanto mais analfabetos melhor, porque são presa fácil das garras das igrejas, porque mesmo a morrerem de fome entregam as suas parcas quantias aos sacerdotes para que eles façam um milagre, o que também acontece com a feitiçaria, mas isso é outra história que prometemos ficará para uma das nossas próximas edições do nosso e vosso telejornal. Muito boa-noite senhor sacerdote Céu dos Anjos da igreja dos mil templos: “Sim, muito boa-noite caro jornalista e muito grato pelo convite que me foi endereçado, o qual em nome dos mil templos agradeço do fundo da alma de Deus e dos meus mil templos e extensivo ao nosso comité de especialidade, aos quais estendo a bênção do Senhor.” 
Senhor reverendo Céu dos Anjos, como analisa a estrondosa vitória do Mpla e do seu candidato a presidente já declarados vencedores por maioria… direi que absoluta. “Caro jornalista, isso de maneira nenhuma nos surpreende porque já estava traçado na rota de Deus. Como sabe, os caminhos de Deus são sempre os de escrever por linhas tortas e compete a nós sacerdotes, desvendar, aclarar essas linhas e as endireitar. Em nome de Deus Nosso Senhor, digo que Ele nos enviou uma mensagem do longínquo céu onde ainda nenhum ser humano chegou e jamais chegará, que o Mpla e o seu candidato venceram as eleições por maioria… e que no fim da mensagem uma nota de rodapé confidenciava que não vale a pena realizar eleições porque o Mpla será sempre o declarado vencedor antecipado. Bom, como reza a práxis é de todo conveniente que haja eleições para mostrar à macacada dos partidos políticos da oposição e ao pseudológico mundo democrático que em Angola a democracia há muito que está consolidada.”
Senhor reverendo Céu dos Anjos, mas apesar da veracidade dos factos, e contra eles não há argumentos, os partidos políticos da oposição insistem em não aceitar os resultados eleitorais das eleições como livres e justos. Entretanto, amigos telespectadores o telejornal está a continuar.
“Vejo que não há aqui consideração pelo mens legis, isto é, a finalidade da lei, e por isso em nome da paz e demais actos consistórios apelo aos partidos políticos para que aceitem sem condições o reconhecer das eleições ganhas com transparência e justeza. Em nome de Deus, mais guerra não! Por favor vejam o que já aconteceu em eleições num passado de carnificina não muito distante. Insisto e os mil templos que represento também, que quem ousar se manifestar Deus vai-lhe castigar. Com Deus não se brinca e muito menos com o seu poder bélico. Na verdade vos digo meus irmãos telespectadores que quem ganhou as eleições foi o patrono Deus e que delegou o seu poder na terra de Angola aos seus humildes crentes fiéis Mpla e ao seu já proclamado presidente da república”.
Mas, senhor reverendo acha correcta a posição da oposição em contestar os resultados que por força da legis do conceituado defensor da Constituição, refiro-me mais uma vez ao Tribunal Constitucional nas vestes de Tribunal Eleitoral. Mas isto é moda, é notório, é vício, é mais uma epidemia, como se não bastassem as inúmeras que já temos em toda a África. Um partido sai vencedor e a oposição não aceita, inclusive inventa cobras e lagartos, vicia provas, etc, etc.
“Bom, aos partidos da oposição oro para que sejam humildes e se declarem perdedores. Que cumprimentem os vencedores tal como reza a democracia e que não desesperem pois esperem mais cinco anos, quem sabe talvez consigam ganhar. Quem sabe, talvez a maré de Deus se vire para o vosso lado. Democracia é saber perder, e só um pode ganhar. Se é sempre o mesmo ou não, isso depende da vontade de Deus. Rezem muito, muito, amiudadas vezes para que Deus os faça vencedores. Mas é de duvidar porque saiba até agora nenhum partido político da oposição pagou o seu dízimo devido a Deus, e Ele não gosta nada disso, é por isso que nunca ganham, nunca ganharão as eleições. Seus tolos, Deus gosta de ser corrompido”.
Senhor reverendo Céu dos Anjos, e quais são os conselhos que os eleitores devem seguir? “Os eleitores são filhos de Deus e sem Ele não podem fazer nada. O que devem seguir é absterem-se de qualquer atitude negativa que perigue o processo de paz tão duramente conquistado. Como crentes de Deus tudo devem fazer para segui-Lo. Vejam o que está na Bíblia, cito Crónicas II 20: “ E, pela manhã cedo, se levantaram e saíram ao deserto de Tecoa; e, saindo eles, pôs-se em pé Josafat, e disse: Ouvi-me ó Judá, e vós, moradores de Jerusalém: Crede no Senhor, vosso Deus, e estareis seguros; crede nos seus profetas, e sereis prosperados.” Portanto, para finalizar, tudo o que acontece em Angola rege-se pelas leis de Deus, o supremo legislador do Céu e da Terra que tem competência para nomear presidentes, condutores de nações. E jamais se esqueçam que quem não estiver com Ele é contra Ele. Muito obrigado a todos os telespectadores e estamos juntos na graça do Senhor.”
Já há vozes agoirentas que olham para o céu e dizem que virá muita chuva, veremos.
Todos falam de democracia, mas pelos vistos ninguém a quer. E há quem diga que isso faz parte da cesta básica das coisas importadas do demo.
É necessário termos muito cuidado porque vem aí o tal olho do ciclone, uma república da selvajaria.
E os tais analistas políticos da confraria que no uso da palavra sujam de um lado e depois limpam do outro. E muito cuidado com a lavagem cerebral que estes senhores fazem.
E por força das circunstâncias, Angola é mais um país africano à mercê da pilhagem nacional e internacional. Na África da miséria, da fome, da escravatura e dos tiros. Fica-lhe muito bem o cognome de, o continente dos tiros.
Isto não é um país, é um bando de abutres. Isto não é uma nação, é um navio de piratas.
Este povo só sabe dizer: eu vou-te bater!
Vou embarcar, o navio da miséria espera-me.
Estou fodido, sinto-me só, sem ninguém, sem amigos, sem família.
“Não sei o que posso parecer aos olhos do mundo, mas aos meus pareço apenas ter sido como um menino brincando à beira-mar, divertindo-me em encontrar de vez em quando um seixo mais liso ou uma concha mais bonita que o normal, enquanto o grande oceano da verdade permanece completamente desconhecido à minha frente.” (Isaac Newton, 1643-1727)



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