RCE - República dos Comités de Especialidade, algures no Golfo da
Guiné.
De um intelectual africano da RDC-República Democrática do Congo,
durante um debate em Luanda. “O Japão nunca foi colonizado, depois dos
primeiros contactos com os americanos, os japoneses admiravam e queriam saber
porque é que a Europa era muito forte. Então decidiram traduzir os livros de filosofia,
antropologia e outros e estudá-los, e finalmente descobriram porque é que a
Europa era muito forte: porque os seus pensamentos duravam muito tempo… os
dirigentes africanos assassinam os seus intelectuais porque têm receio que eles
tomem o poder, quando na verdade os intelectuais são críticos e não aspiram ao
poder.”
A ONU diz que a África perde anualmente sessenta biliões de
dólares devido à corrupção.
Isaías Samakuva, presidente da Unita, disse numa conferência de
imprensa em Benguela, que ao encontrar-se com um grupo de jovens alunos da
oitava classe, perguntou-lhes quantos são cinco vezes quatro. Os alunos recuaram
e alguns responderam que são nove.
José Patrocinio, dirigente da Omunga, uma associação cívica de
Benguela, escapou à última da hora de ser assassinado por atropelamento por um
camião conduzido por um chinês, (!) porque à última da hora ele desistiu de esmagar
a motorizada com que normalmente José Patrocinio se desloca.
O Rei do Petróleo está no seu palácio – ele raramente dele sai,
vive lá como um eremita palaciano – a analisar os fracos rendimentos do
petróleo, porque a maré petrolífera estava sempre em alta, a encher, os preços
baixaram e a maré está a vazar e não se sabe quando vai terminar. Naturalmente
assim permanecerá porque o petróleo, como tudo, também acaba. Só os otários que
nele tudo apostam e dele dependem porque não sabem fazer mais nada, preferindo
viver à sombra e água fresca. E depois surge o desastre já devidamente
anunciado por quem entende da matéria. O Rei do Petróleo, ou o Rei da baixa do
Petróleo?, tinha uma maneira muito atípica de governar. Enviava os
colaboradores que faziam parte da sua equipa palaciana por todo o país, como
modernos arautos que lhes faziam relatórios, - ele não governava por decretos,
ele era o governo, um super-homem que governava por relatórios e ordens
superiores onde neles se lia que na república tudo ia, tudo estava muito bem,
tudo funcionava normalmente como num paraíso, e que as populações estavam
contentíssimas com a governação. E o Rei do Petróleo sentia-se felicíssimo
pelas suas altas qualidades de líder, porque no mundo – apesar de ser
considerado pela revista Forbes, como o segundo pior governante africano – não
existia ninguém que o ultrapassasse em intelecto governativo. Até dava lições
de democracia a países africanos, que quando algum presidente violasse a sua
constituição para permanecer no poder, ele logo ensinava que não, não senhor,
não deve ser assim. Que o poder tem que ser conquistado por via de eleições
livres e justas porque sem isso não há democracia. E que o presidente ao
defraudar as regras eleitorais para usurpar o poder defendia democraticamente que
a oposição deve negociar com ele.
E como a maré vazava fortemente, quase que se via o fundo do mar
do petróleo, não permitindo nele nadar, o Rei do Petróleo fazia cortes e mais
cortes fora do OGP – Orçamento Geral sem Petróleo. O último foi na empresa do
lixo, a Elisal, pertencente à sua filha, a princesa Bela do Petróleo, assim
cognominada devido à beleza do dinheiro do petróleo, pois quem fica sentado à
espera dos seus lucros, é uma beleza, não é?! Os trabalhadores dessa empresa de
limpeza repentinamente sem qualquer comunicação do comité de especialidade
médico ficaram sem assistência médica. Amigo leitor, é fácil verificar que quem
anda, melhor, nada no lixo sem assistência médica é como se fosse um
assassinato dos desgraçados que nem dinheiro de um barril de petróleo têm.
Claro que eles fizeram muito bem em decretar greve.
A crise continuava, o seu cerco apertava, mas isso não afectava em
nada a Bela do Petróleo, que comprou uma empresa portuguesa apenas por duzentos
milhões de dólares.
Tudo estava cansado, mas o Rei do Petróleo acreditava ser amado.
No seu palácio fechado, fortemente guardado e ele maniacamente escoltado,
apercebeu-se de alguns zunzuns sobre uma insurreição popular que marchava, se
revoltava, e por precaução ordenou reforçar a sua guarda com o dobro de homens,
tal e qual como fazem todos os déspotas antes do seu trágico final. Sim,
governar pela força das armas é o anunciar projectos da má velha vida, onde
qualquer opinião contrária é de imediato castrada.
Não muito longe do palácio ouviu-se um tiro. Era de um assalto
seguido do roubo de uma viatura de uma jovem que estupefacta, pois estava muito
próxima de uma esquadra móvel da polícia, dirigiu-se-lhe e perguntou se não
viram o que se passou, ao que um polícia respondeu que não viu nada. A jovem já
aterrorizada ainda conseguiu perguntar se não ouviram o tiro, ao que o mesmo
polícia respondeu que também não ouviu nada de anormal. E a jovem já a tremer
terminou dizendo que como é possível se os bandidos roubaram o meu carro e
deram um tiro mesmo aqui ao pé de vocês? Mas o polícia insistiu que ele e os
seus colegas não viram nem ouviam nada. Naturalmente que a polícia segue os
ensinamentos do Rei do Petróleo que na República dos Comités de Especialidade
tudo está bem.
No exterior do palácio ouvia-se numa rádio que uma parturiente
numa maternidade já prestes a dar à luz, era torturada sem dó nem piedade.
O Rei do Petróleo firmou relatório em jeito de decreto – ele
afogava-se em relatórios – que criava duas classes: uma casta dos detentores do
petróleo e demais riquezas e outra classe dos abandonados que a nada tinham
direito. Na verdade tinham apenas um direito: o de morrerem à fome.
O Rei do Petróleo era acérrimo defensor da política do caos,
porque onde este sistema existe matar é muito fácil, passa despercebido e como
os meios de informação eram seus, quase de propriedade pessoal, na verdade ele
era dono de tudo, com o caos implantado fácil era dominar a opinião pública. O
cúmulo da corrupção elevou-se a tal nível que a Igreja e as igrejas organizavam
manifestações em sua honra, enviando para o lixo os evangelhos porque mostravam
fotos suas nas manifestações e nos altares da Igreja e das igrejas. Os pastores
corrompidos abençoavam o Rei do Petróleo, oravam e obrigavam os crentes também
a fazê-lo dando-lhes a conhecer a boa-nova que o Rei do Petróleo foi enviado
por Deus para salvar e manter Angola em paz, livre de manifestantes e das suas
manifestações. Inclusive ensinando-lhes que Deus estava contra as manifestações
e ordenava prender e torturar quem ousasse se manifestar. E que sempre que
alguém este decreto divino contestasse, era-lhes dito que em Angola existem
duas constituições: uma terrena para o povo e outra divina redigida por Deus
para utilização exclusiva do divinizado Rei do Petróleo. Por aqui facilmente se
vê que era impossível uma transição pacífica para a democracia, porque a
ditadura do poder de Deus jamais o consente.
O Rei do Petróleo tinha dois punhais cravados no seu corpo. Um era
o célebre activista Manuel Nito Alves, o outro era o celebérrimo denunciador da
corrupção, o cavaleiro sem medo, Rafael Marques de Morais. Bastava ouvir os
seus nomes para que o Rei do Petróleo ficasse com dores no estômago, na cabeça
e medonhos desarranjos intestinais. Ainda mais quando Manuel Nito Alves lhe
chamava de ditador nojento e de lhe jurar que faria com que ele e a sua equipa
repressiva e torturadora caíssem do poder através de uma insurreição da
população.
E o Rei do Petróleo ria-se imenso das lamúrias da oposição porque
ela não tinha poder de manifestação.
Perante estes notáveis factos e invocando o poder da crise de que
não há dinheiro, o Rei do Petróleo decidiu comprar com o dinheiro da fome do
povo, um bruto jacto particular que custou apenas sessenta e dois milhões e quinhentos
mil dólares, com autonomia ilimitada, tipo reactores movidos a energia nuclear,
para o que desse e viesse, isto é: preparar a sua fuga e dos seus mais
chegados, pois as coisas iam de mal a pior e homem prevenido vale por dois, ou
mais. Então quando a hora do assalto ao palácio iniciar é só correr para o
avião e bazar a grande velocidade para um país que o acolherá de braços
abertos, provavelmente os homólogos da Coreia do Norte.
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