sexta-feira, 30 de dezembro de 2016

ANGOLA NÃO TEM CURA PORQUE NÃO TEM MÉDICOS



República das torturas, das milícias e das demolições
Diário da cidade dos leilões de escravos

Ano 1 A.A.A. Ano do Apocalipse dos Angolanos.

2017, mais um ano de exacerbada miséria nos espera, nos desespera.
2017, pelo que se vê também será o ano do fiasco dos partidos políticos da oposição, não têm liderança credível, e da grande fome.

Algumas divisas do governo de Angola: aposta, deverá, será, poderá, produzirá, empregará, desenvolverá, alimentará.
Amigo leitor, por quanto tempo um governo pode governar na corda bamba?
Esta Angola não é para todos, é a aposta de um projecto moribundo de alguns.
O comité de especialidade dos jovens alcoólicos está em constantes reuniões para debater a nossa famigerada cultura sob o lema: beber cerveja e uísque sem parar é um acto cultural, faz parte da nossa cultura. Beber é diversificar a nossa cultura. Festeja-se a nossa identidade cultural, porque beber é um acto de cultura. A nossa identidade cultural é beber até cair, ou nunca mais se levantar. Esta nação é obra de alcoólicos.
Impor a cultura do outro, de um país sobre o outro, a sua cultura, a isso chama-se colonizar, parece-me que estou certo, não é.
26 de Dezembro, 09.33 horas. Esta cidade parece um túmulo, pelo menos no local onde me encontro junto da Liga Africana, excepto o vento forte que sopra, não se ouve mais nenhum som.
27 de Dezembro, 10.00 horas. Com a manhã a anunciar chuva, o que parece indicar que o tempo chuvoso regressou. Na rua circulam poucos carros como se fosse um dia feriado. O dia 28, o dia 29 e seguintes assim continuarão inertes, de estrangeiros de férias no estrangeiro. Mais logo, à noite, alguns táxis hiaces passam em alta velocidade talvez devido aos seus motores especiais que alimentados pelo álcool fazem com que me sinta a rezar pelas vidas dos seus jovens motoristas que como único passatempo que nesta nação – ainda se chama nação? – lhes resta, é o álcool. Beber é viver, é sobreviver, mas não é isso que o cemitério deixa ver. Jovens a beberem altas doses de uísque, é para beber ou morrer? Decerto que para viver não é.
Entretanto, comentário de um jovem angolano que conseguiu arranjar dinheiro para pagar a passagem aérea e fugir de Portugal: “ Lá em Portugal não está bom, mas aqui em Angola está muito pior.”
A religião na cabeça de uma pessoa é como o abundante lixo numa casa, numa cidade, num país onde nunca se o limpa. Por isso mesmo a religião é uma grande fábrica de lixo. Os sacerdotes que se servem da corrupção para sobreviverem também padecem dos males que afectam a população, que na penúria não podem pagar os dízimos, e os sacerdotes tentam inutilmente convencer os carneiros de que é muito importante o dízimo, pois as quantias dizimadas vão directamente para o lugar seguro do céu, os cofres-fortes de Deus, rodeados e protegidos por um exército de anjos seguranças.
O mundo está como um circo romano, creio que sempre esteve e estará.
Esta gente, tanto quem está no poder como na oposição, creio que já não se distinguem, não se cansa de propaganda política, como se fossem concorrentes de um qualquer concurso. Sim, nesta Angola disputa-se o campeonato nacional do propagandista político. E a fome vencerá! E tamanha hipocrisia, falta de seriedade e com muito egoísmo, a fome vencerá. Defendem-se interesses pessoais, mórbido protagonismo político, enquanto as populações são chamadas a exercer o seu direito de voto. Votar em quê? Em quem? Votar noutra ditadura?
E com a crise os bosses estão a fugir das amantes.
Há sempre quem ganhe bem a vida escrevendo a fazer lavagens das ditaduras.
Um mais velho português disse-me que de noite não consegue dormir por causa dos mosquitos. Muito intrigado perguntei-lhe se usa a rede mosquiteira e respondeu-me que não, que não gosta de dormir com rede mosquiteira. Não lhe disse, mas pensei que ele gosta de morrer de paludismo.
O que está na moda é a demagogia. Demagogo é um lugar de futuro.
E manos e manas, não se esqueçam de todos os dias acompanhar a telenovela fabricada em Angola intitulada, Os Nossos Trapalhões. Recomendo-a porque é muito interessante.
De todos os lados se ouvem milhões de vozes de protesto contra a desgraça em que um grupo de corruptos nos mergulhou. Será que vão seleccionar métodos estalinistas para silenciar tão imenso exército de vozes?
E na África do futuro já não virá mais nenhum abutre debicar o seu bocado porque ela não terá nada para debicar, os abutres já debicaram tudo.
Os principais líderes da miséria e da fome são, a irresponsabilidade, a indisciplina e a corrupção. A miséria é a riqueza desta nação. E destruir uma nação é muito fácil, basta infestá-la de fanatismo religioso.
“Deste facto psicológico, que assinala as épocas de profunda decadência moral, deriva principalmente a hipocrisia; a hipocrisia, que é a anemia da alma. A altivez insolente do poder que se coloca acima do decente e do legítimo e que ri das invectivas da opinião indignada, como de um clamor sem sentido, tem o que quer que seja grandioso, como o raio de luz que serpeia ainda na fronte do anjo das trevas: … Cada conde ou governador de distrito, tendo necessariamente, em virtude do estado de guerra contínua, juntos em suas mãos todos os poderes militares, judiciais, administrativos, era quase um verdadeiro rei, e nada mais. … Onde falece o amor da pátria, onde os vícios mais hediondos vivem à luz do Sol, onde a todas as ambições é lícito pretender e esperar tudo, onde a lei, atirada para o charco das ruas pelo pé desdenhoso dos grandes, vai lá servir de joguete às multidões desenfreadas, onde a liberdade do homem, a majestade dos príncipes e as virtudes da família se converteram em três grandes mentiras, há aí uma nação que vai morrer.A ruína do país, aos olhos das pessoas prudentes, parecia inevitável, porque a decadência moral era extrema. Os homens de probidade e ciência viviam desprezados e esquecidos, e os que se apoderavam das magistraturas públicas ajuntavam à cobiça e ao orgulho completa incapacidade. No meio de guerras civis, feitas sem entusiasmo, sem glória e só por causas abjectas, ao passo que a agricultura se definhava e as artes esmoreciam, o povo deixava aos ambiciosos tratarem das armas, e os homens de guerra habituavam-se a combater mais com os enredos do que com o ferro.” (In História de Portugal I de Alexandre Herculano (1810-1878)

Amigo leitor, falta-me coragem para lhe desejar um feliz ano novo. Apetece-me desejar-lhe um feliz ano novo repleto de miséria, fome, sem água, sem energia eléctrica, etc. Mas enchendo-me de coragem oro para que lute por melhores dias, porque é isso que devemos fazer, lutarmos por melhores condições de vida porque senão a jangada em que navegamos sem dúvida alguma que naufragará e para os escolhos dos sem vida nos lançará. (in)FELIZ 2017.

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