sexta-feira, 10 de novembro de 2017

TERRA DOS ÓBITOS



Aiuééééé! Aiuééééé! Nossa Senhora da Muximééééé! Estão a vender veneno, muito conhecido por tala, por todo o lado para matar pessoas, disse a Ceast-Conferência Episcopal de Angola e S. Tomé.
“Não mande um coelho para matar uma raposa.”
No óbito do Futungo, arredores a norte de Luanda, a festa está muito animada. Bebida não falta, comida, isso, não se bebe, portanto não dá, não presta. Mas a mesa está bem atestada, convida os bandidos, ou esfomeados?, que logo saltam como animais esfaimados. Assaltam a comida que num repente desaparece. Alguém cimentou que são piores que piranhas. Ninguém ousou enfrentá-los porque militantes da fome não se enfrentam, porque eles são fanáticos seguidores do imaginário partido da fome. E um conviva assinalou que “está a morrer muita gente.” E como se algo o escutasse, alguém lhe telefonou a dizer-lhe que um familiar acabou de falecer e que a sua participação era obrigatoriamente esperada. O defunto, um jovem de trinta anos, dizem que morreu envenenado pelo veneno tala, porque ele antes de morrer gritou para a mãe que uma coisa lhe subia pela perna e que depois fez uma bolha e explodiu. A mãe não teve tempo para ir no feiticeiro para lhe retirar o feitiço do veneno, e ele sucumbiu sem a assistência médica do feiticeiro. Depois é que foram elas: a família da esposa, tinha muitas mulheres, este hábito cultural nacional, reclamou que ele não tinha feito o pedido e por isso não deixavam sair o corpo para o cemitério. Logo se fez contribuição e se recolheu oitenta mil kwanzas para comprar vinho, cerveja e uísque, comida para quê, para quem. Depois abriram a porta do quintal e o morto saiu para a sua sepultura, isto que nos acontece a todos, apesar de alguns pensarem o contrário, que são imortais.
Também se fez o óbito dos partidos políticos da oposição (?) que de tão contentes que estão por participar, aceitar a fraude eleitoral por favores concedidos, o aumento de deputados no parlamento partidário. E que a partir de agora os debates serão muito acesos. Acesos?! Significa que serão à luz de potentes velas porque não haverá energia eléctrica? Não haverá nada? Só óbitos?
Só a morte revela a verdade. O seu destino une-nos e atira-nos para os braços uns dos outros. Não lhe podemos fugir.
Por falta de um prego, perdeu-se a ferradura. Por falta de uma ferradura, perdeu-se um cavalo. Por falta de um cavalo, a mensagem não foi entregue. Por uma mensagem não entregue, perdeu-se a guerra. (Ditado japonês.)
É fácil dominar, as pessoas levar, porque as pessoas acreditam em qualquer gato-pingado. E aqui é tudo ao contrário, gato escaldado da água fria não tem medo. É o que diz uma das leis da feitiçaria.
Quanto aos óbitos dos militantes da Unita, isso ultrapassa a intolerância política e deixa de o ser, porque se inscreve muito bem nos rituais do assassinato político.
O trânsito também tem óbito porque estive de plantão na terça, quarta-feira, 17 e 18/10/17, durante dez minutos até às 15.15 horas, na rua onde moro o trânsito automóvel era escasso comparado com os anos anteriores onde havia muito movimento.
Quando as promessas vêm em caudal o seu cumprimento será a conta-gotas, mas como há oito dias que estamos sem água, dizem que serão duas semanas ou mais, então não haverá cumprimento de promessas.
Converso com um vizinho na rua em frente à entrada dos prédios onde residimos. Estão a deitar caixas de legumes e hortaliças estragados no contentor do lixo. Acompanhamos a cerimónia do óbito leguminoso, o vizinho, tristonho, diz-me uma coisa que eu não sabia: “sabes, ali no, nosso super express, eles quando têm alguma coisa, antes de se estragar, banana, pimentos, hortaliças e outras coisas, chamam o carro do lar das crianças e fazem-lhes entrega dos produtos… não os deixam estragar. Agora estes aqui da Pomobel, não, preferem deixar apodrecer e não fazem a entrega para esses lares que muito precisam. Isso aí está muito mal gerido.” Reflecti, e concluí que por trás disto há feitiçaria, pois, muita, até me arrisco a ir mais longe ao afirmar que a feitiçaria domina, governa Angola.
Mãe e filho: o filho, “ mãe, a violência não é a pior coisa do mundo.” A mãe, “o que é então?” O filho, “apatia.” (do filme, O Livro de Henry, 2017)
Está na hora de regressar à civilização, estou cansado de ser Tarzan desta macacada.
Para cada abelha a sua flor. Para cada desgraça o seu estupor.
Esconder a realidade é uma aberração.
Se a corrupção se combate sempre por baixo e por cima fica incólume, isso não é combater, é apoiar, e a corrupção enche-se de contentamento. E assim os corruptos unidos jamais serão vencidos.
Estejam sempre preparados para enfrentar os assaltos da maldade, porque ela campeia como as chamas do inferno.
Creio que Angola está em poder de padres e de outros correligionários, das politiquices dos políticos, das multidões de democratas, do festim dos corruptos e da fome e dos óbitos.
Não se fala de outra coisa, do queimar gatunos, do dizer com muito orgulho, “proclamar perante a África e o mundo” ontem queimámos três, há uns dias queimámos quatro, hoje queimámos um. E dito com o mais incontido sentimento do dever cumprido, “ficou bem queimado!” claro que há as vítimas inocentes como o do jovem que foi confundido com um bandido e de imediato queimado. Onde a falência da Polícia e da justiça se unem num casamento perfeito, os convivas, a população, saltam para as ruas e tomam-nas como suas, voltando aos tempos macabros dos autos de fé da Inquisição.
O prenúncio da catástrofe? Ou a fome é que comanda? Catorze indivíduos, segundo a Rádio Despertar, polícias e militares, assaltaram um armazém de alimentos em Viana, arredores de Luanda.
Eis uma prova indubitável de que o desenvolvimento económico e social de um país faz-se com… óbitos. E que tal para quando um jornal só dedicado a óbitos? Que bem será chamado de JORNAL DOS ÓBITOS.
Quando se trata de coisas mórbidas há sempre alguém onde facilmente nascem ideias. E assim alguém lançou a ideia de eleger o cemitério mais concorrido do ano. Depois do lançamento no terreno da equipa de observadores eleitorais, perdão, observadores de defuntos, elegeu-se o cemitério dos alcoólicos porque nele, como é fácil de ver, a maioria dos enterros eram de alcoólatras. Mera coincidência? Claro que não, pois numa epidemia nacional de alcoolismo nada tem de surpreendente, muito pelo contrário, pelo que a distinção foi bem merecida. E pelos vistos tal cemitério será todos os anos vencedor. Em consequência dessa inesperada, esperada, vitória uma das exigências daí resultante foi a reclamação de mais espaço para enterro de cadáveres. Claro que os especuladores imobiliários de atalaia, estão sempre nesse círculo vicioso, logo declararam que haveria expropriações porque a terra não é de quem a trabalha, é dos preguiçosos malandros do Estado, leia-se demolições, espoliações. Os óbitos também são negócio muito rentável porque dá emprego a muita gente e nesta terra de óbitos, investir e ganhar dinheiro facilmente é na morte. Neste momento este é o negócio, como se diz na gíria, é o que está a bater bem.
Mais óbitos: A fábrica de cimento do Cuanza-Sul, conforme noticiado na Rádio Ecclesia, encerrou a sua actividade porque não recebe fornecimento de combustível da Sonangol. Então, 140 trabalhadores ficaram desempregados, aguardando os óbitos que decerto não tardarão, faltarão porque a miséria e a fome são como tubarão. Aqui cogito que já me embaralho com a actividade da Sonangol: então é ou não é fornecedora de combustíveis? Que saiba não deixou de o ser. E é mais uma fábrica que acabou de perecer. Com falências atrás de falências porque não se declara a falência do Estado?
“Enquanto houver matadouros, haverá campos de guerra. Todos pensam em mudar o mundo, mas ninguém pensa em mudar a si mesmo". (Liev Tolstói, 1828-1910)




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