terça-feira, 14 de novembro de 2017

TERRA FALIDA



Antes havia muito dinheiro, as coisas não funcionavam. Agora as coisas também não funcionam porque não há dinheiro. Uma outra coisa há: santa paciência.
Tudo faliu, tudo sumiu, e quer-se fazer crer que em pouco tempo a crise provocada pela corrupção será corrigida, melhorada, mas não, é que estas coisas demoram muitos anos. E andar de modo titubeante nas promessas de saltar as barreiras impostas perante o intocável poder da oligarquia petrolífera e demais oligarquias financeiras, não creio que se consigam atingir os resultados prometidos do novo governo. Porque está refém do grupo oligarca que de facto governa Angola, isto é, o tecido empresarial vive à margem governamental. Como se fosse dois países, dois poderes, dois pesos e duas medidas.
Sem exportações não há divisas e viver única e exclusivamente do petróleo para abastecer uma máquina administrativa pesadíssima, mais os órgãos castrenses e policiais, mais o não cumprimento das regras financeiras internacionais, do deficiente sistema bancário e sobretudo da corrupção instalada, que obvia o acesso aos dólares… Angola está falida.
Na constante diária, trabalhadores que são despedidos, empresas que declaram falência. No aspecto empresarial a coisa vai bem demais. O governo introduziu mais uma aposta, os despedimentos e as falências das empresas. Ouve-se diariamente o cortejo dos despedidos e das empresas falidas como se de um concurso se tratasse. Uma tragicomédia de famílias tendo como sustento o desemprego, o abandono, como lixo atirado para a rua. Sem garantias, sem o mínimo apoio de sobrevivência, pois neste Estado de resquícios leninistas, não existindo fundo de desemprego… não existe nada. É a terra do falta tudo, mas uma coisa não falta, aquilo que destrói nações, impõe as falsas instituições democráticas. É isso mesmo, trata-se da única coisa que funciona em todo o mundo… a corrupção.
As reservas líquidas internacionais caem imparáveis, diminuem substancialmente. É mais uma aposta, de tal modo caiem aparatosamente para não mais se levantarem. Quo vadis Angola? A miséria e a fome sabem-no muito bem. Pois, é que vai vir aí uma grande fome, o nosso holomodor.  
E no altar da corrupção as amantes safam-se esbanjando riqueza na compra ou aluguer de apartamentos, com obras de restauro no mínimo de cinquenta mil dólares, mais carro de luxo, vestuário, sapatos, tudo luxuoso, perdulário, etc. Como diz o outro: “Isto é o país do pai banana.”
E ninguém ousa atacar este mal porque todos comem do mesmo prato. Eis a solução para salvar este Estado falido: A Rádio Despertar noticiou que no mercado do Quicolo, no Cacuaco, arredores a norte de Lunda., os vendedores pagavam uma taxa semanal de mil e duzentos kwanzas. Chegou o novo administrador que exigiu o pagamento diário da quantia supracitada, sob pena de que quem não pagasse seria sumariamente despedido perdendo o direito ao seu lugar de venda. Os vendedores fizeram manifestação na administração municipal porque, claro, não têm dinheiro para pagar quantia tão exorbitante. Mas não se sabe como é que a coisa ficou, se pior ou melhor.
Ditos na rua atribuídos ao PR João Lourenço:” A partir de agora ninguém paga mais taxas de lixo. Fechem as prisões e abram os cemitérios.”
E tudo se faliu.
Três dias sem gasolina e duas semanas sem água na cidade de Luanda. E outra vez mais uma semana nas Ingombotas e arredores. Já paira no ar, isto parece que vai sair confusão por todo o lado.
Aguarda-se a todo o momento pela declaração oficial da falência do Estado. O ESTADO FALIU!
A crise da corrupção atacou-me em cheio. De tal modo que fiquei sem acesso à Net. O dinheiro vive apenas para alguns e algumas que gostam de pavonear as suas exibições de riqueza. A vulgar e ridícula matumbice de que têm dinheiro sem trabalhar. Enquanto os honestos, os únicos que trabalham e sabem trabalhar, são abandonados, motivo de chacota. Onde se vive da opressão da corrupção, há o imparável subdesenvolvimento da vitória da mortalidade infantil.
Isto está pior que f.o.d.i.d.o, até angariar recursos para a internet é um sonho. Mas estou muito convicto que piores dias virão.
E depois com uma oposição política muito fragilizada, isto não dá mesmo nada. É o descalabro moral, e muito mais doloroso, o descalabro intelectual. Quem tem o cérebro instável é demente.
Viver, depender continuamente do que nos informam através dos mais variados meios de informação partidarizados, resulta naquilo que é ver que a realidade é bem diferente.
Ai dos que se deixarem levar por discursos bonitos, de belas palavras, de promessas que a felicidade já está a chegar, já chegou, será deles o reino dos infernos.
Se não deténs conhecimento, estás vivo, mas não existes. Estás vivo porque comes e cagas, mas estás morto porque a tua cabeça é um frangalho da manipulação do poder e da religião. E quanto tentas sair do caminho caem-te em cima todos os santos de todos os dias, ou não sabes que cada dia tem um santo padroeiro? Ó alma errante, levanta-te e caminha.
Esta é a terra do falta tudo, onde na corrupção não falta nada. Onde a oposição morreu, paz à sua alma.
Porque é que nos comentários nas rádios, os comentadores são sempre homens? Onde estão as mulheres? É como se não existissem, isto é, estão totalmente, brutalmente dependentes em absoluto dos homens. Portanto, passivas e submissas. A divisa dos vencidos: fé, esperança, caridade.
Enquanto se mantiver a não separação dos poderes, legislativo, executivo e judiciário, teremos sempre esta nação adiada.
E a lei dos crimes informáticos versa mais sobre os crimes nas redes sociais?, mas o mais importante são os crimes das fraudes informáticas, que abarcam um oceano, pretende-se minorar a questão, porque lá reside a corrupção? Espero que não se fira a objetividade e que não caiamos na defesa do estabelecimento da corrupção.
"Não haverá também liberdade se o poder de julgar não estiver separado do poder legislativo e do executivo, não existe liberdade, pois pode-se temer que o mesmo monarca ou o mesmo senado apenas estabeleçam leis tirânicas para executá-las tiranicamente… Por essa razão, em um estado democrático as leis devem ser executadas com a finalidade de manutenção do bem comum, caso contrário, tal estado precisará ser dissolvido… Quando vou a um país, não examino se há boas leis, mas se as que lá existem são executadas, pois boas leis há por toda a parte… Quanto menos os homens pensam, mais eles falam… A consequência desse excesso é que os magistrados perdem sua respectiva autoridade, passando a não ser respeitados. Os senadores não são mais respeitados, os velhos também deixam de ser e, consequentemente, também acaba o respeito pelos pais. Somado a isso, a corrupção do povo a partir da igualdade extremada, aumenta quando os magistrados, também corrompidos, escondem sua respectiva corrupção ocultando sua ambição através do elogio da força e grandeza do povo. O principal objetivo do povo corrompido é o ‘tesouro público’, visto que, esse dinheiro servirá para o sustento do luxo e ‘preguiça’ desse mesmo povo. Até a eleição pode ser comprada por dinheiro, assim, o povo corre o grave risco de perder mais do que, aparentemente, ganha. As vantagens alcançadas através da liberdade proporcionada pela corrupção podem ser perdidas com o surgimento de um tirano que possuirá a reunião de todas as corrupções”. (In O Espírito das Leis, Montesquieu, 1689-1755)


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