quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

Bater no ferro quente (04)


Algures no Facebook. «Os músicos deram a sua opinião e o Nagrelha foi um dos que se pronunciou. Eu também, já dei a minha opinião, que foi a seguinte: Deviam queimar o tal jornal, com o seu dono. Muita falta de respeito.»

De repente dei-me comigo a reviver um ou outro episódio dos livros da Colecção Argonauta, que li quando jovem e que agora me parecem... estão tão reais. Afinal eu não lia ficção, ou antecipação científica, lia, estudava a realidade. E também da Máquina do Tempo de H.G.Wells, num futuro muito distante, mas na verdade muito próximo, muito presente, onde os canibais dominavam e comiam os seus semelhantes, não muito diferente do que hoje se passa, porque estamos a ser governados por piranhas.
Porque é que não existe nenhum Conselho Nacional da Corrupção Social, que se pronuncie sobre, julgue, o insulto a todos nós cidadãos, da fotomontagem dos 32 biliões de dólares e de tantos outros biliões?
A manter-se o estilo de liderança ortodoxa caracterizado por uma só voz e de que mais ninguém pode criticar frontalmente o nosso grande Estadista, o MPLA não conseguirá sustentar-se e partir-se-á em pedaços, isto é, em facções. É o destino de quem está muito tempo no poder e não dá ouvidos a ninguém, excepto aos ineptos bajuladores.

Onde o governo e o seu governar ultrapassam qualquer catástrofe natural.
E as hordas instruídas, dominadas pelo Poder perseguiam o jornalista William Tonet, tal como o fizeram com Jesus Cristo, e que arrastado, arrestado, levado como de presente aos seus juízes terrenos, invariavelmente o condenavam pronunciando as palavras milenares, sempre mais que actuais: «Não o conheço.» «É este o tal Cristo?» «É este o homem dos milagres?» «É este o Salvador da nossa Pátria?» «É este o que ousa desafiar o poder do nosso deus do petróleo?» «É este o que encetou a cruzada contra os corruptos?» E colocado este nosso Jesus Cristo na arena perante feras humanas esfaimadas, de ódio inundadas, saiu o veredicto final sob a promessa de alguns barris de petróleo: «Crucifiquem-no! Crucifiquem-no!» E o juiz mandatado pelo deus absoluto de tudo o que é e não é petróleo, lia-lhe já as exéquias como ainda vivo, mas já como se de cadáver se tratasse: «Nas nossas sinergias devemos ser intransigentes com os nossos inimigos.»
Há os que se vendem por uma gota de petróleo, alguns vendem-se por um barril, e outros, a maioria, por muitos barris de petróleo.
Efectivamente, já se ultrapassaram todas as escalas da decência humana. E como não há reacção, deixa andar, eles andam à vontade e as tchavolas proliferam, as tendas, os zangos, a espoliação de terras, o arrasar de casas, só eles é que têm direito a casa própria, à sua habitação. E mais: têm direito a roubarem 32 biliões de dólares, e não há nenhuma comissão instituída para tratar destas selvajarias. E o mwangolé teme construir a sua casa, apetrechá-la, caprichá-la, porque a selvajaria a vai destruir. Na realidade isto está muito, muito, muito, muito, péssimo.
E debaixo da capa dos falsos democratas se esconde a ditadura. É necessário unirmos esforços, criar uma frente ampla, ou dentro de pouco tempo, presumo, obrigar-nos-ão a uma injecção, sob pretexto de uma qualquer epidemia, ou pandemia, para que fiquemos bobocas. Também, pouco falta, né?!
Os métodos de governação seguidos por JES-MPLA, na Coreia do Norte teriam êxito assegurado. Mas, aqui na banda, não dá, não vale a pena. É que nem com o nosso santo milagreiro, o cónego leninista, Demónio Marciano, na vã tentativa de ressuscitar as fogueiras da santa Inquisição salvam JES-MPLA do descalabro, muito pelo contrário. Quanto mais a invocação do santo nome de Deus em vão, mais depressa para o Inferno irão, não, não é o Irão do mano Mahmoud Ahmadinejad, é o Deus das nossas fogueiras do queimar de quem não se gosta, de quem é acusado de feiticeiro.

CNCS – Conselho Nacional da Corrupção Social. Comunicado
Na sua última sessão extraordinária, o CNCS debruçou-se sobre a actuação dos distintos actores da nossa economia e decidiu louvar os agentes que mais se destacaram na corrupção.
Uma nota muito positiva a destacar é o empenho manifestado no desvio dos trinta e dois biliões de dólares. Foi o melhor desempenho da nossa economia até ao momento verificado. Uma obra-prima da nossa engenharia, pelo que consideramos uma grandiosa mais-valia para o nosso PIB da corrupção.
Detractores ao nosso trabalho não faltam, como um pseudo-jornal, um pasquim, que mais não passa de um mero e inútil panfletário, amigo, seguidor do terrorismo nacional e internacional, um tal BOLHA 88. A esse informamos, esclarecemos que na nossa próxima deliberação escolheremos e decidiremos qual será a melhor fogueira para o incinerar. Nós somos dos saudosos tempos do Fahrenheit 454, quando se queimava tudo o que fosse literatura, nós avançámos, incluímos os seus autores nas chamas.

O CNCS – porta-se exactamente como um banco onde temos as nossas contas bancárias, e ele, o banco, recusa-nos o acesso e também não nos faculta extractos.
Porque é que não existe nenhum Conselho Nacional da Corrupção Social, que se pronuncie sobre, julgue, o insulto a todos nós cidadãos, da fotomontagem dos 32 biliões de dólares e de tantos outros biliões?
Advertência: não se intrometam na nossa vida, na nossa corrupção, vereis do que somos capazes. É que ainda não viram nada. Os acontecimentos dos últimos dias são apenas uma pequeníssima amostra. Os nossos laboratórios fabricam poderosas armas para que o TERROR triunfe. Ao inimigo garantimos um palmo das nossas prisões.
Imagine, amigo leitor, se os nazis ganhassem a guerra, dos vencidos se escreveria e se veriam muitos filmes sobre os malfeitores, neste caso os aliados. É que não adianta insistir no refrão: «Dos ditadores não reza a História.» Se a UNITA ganhasse, hoje o MPLA estaria na condição de humilhado, ultrajado e sofredor da intolerância política? A génese humana nunca se altera, pelo contrário, parece, perece até à exaustão, isto é, o suicídio final. E se o Diabo ganhasse a guerra, onde estaria Deus? Mas há sempre alguns que resistem.

A vida em Angola é um terror, receio que ainda o amigo leitor não saiba, nunca saberá o que é viver realmente. Vem para aqui, e saboreia o terror de qualquer barulho suspeito e pensares que já te vieram prender e levar para as masmorras incertas deste campo de TERROR. Por aqui a realidade ultrapassa a ficção. Então desconheces o TERROR que os presos políticos vivem neste momento nas prisões? Francamente, mas que petulância.
Olhamos lá para o cume do Palácio e só vemos corruptos, mas cá em baixo, há homens que não aceitam os tachos do subir mais alto no clube dos corruptos. Estes são os imprescindíveis e a vitória os glorificará, os perpetuará.
E assim vivemos escravos dos célebres históricos e férreos ditadores que só abandonam o poder depois de mais um memorável rasto de sangue.
O que é que habitualmente fazemos quando lidamos com pessoas anormais?
E quem quiser enriquecer rapidamente basta fundar uma igreja. O dinheiro cair-lhe-á do Céu.
As prisões fizeram-se para os corruptos e não para os mosqueteiros da democracia. Enquanto existir um corrupto à solta jamais seremos livres.

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