segunda-feira, 15 de outubro de 2012

AS CINCO MAGNÍFICAS (FIM)




Não resisti. Colei o meu corpo ao dela. Senti o quente da sua vagina e o meu pénis a crescer. Neste último momento senti que devia dizer-lhe algo de muito profundo. As lágrimas vieram-me aos olhos. A chorar confessei-lhe:
- Jandira… foste a única pessoa que mais amei na minha vida. Nunca amei ninguém como tu. Nunca na vida que te resta conseguirás imaginar o quanto te amei. O meu coração dificilmente aceitará a separação. Não sei se conseguirei sobreviver sem o teu amor. Vou lançar-te uma maldição: procurarás o amor e nunca o encontrarás. Andarás para sempre perdida nos contentores do lixo. A procurar as sobras. À procura do que nunca encontrarás. Ninguém pode nem deve brincar com o amor puro e sincero. Isso, trás sempre funestas consequências.
- George, meu querido, perdoa-me. Pela última vez, do fundo do meu coração, peço-te perdão.
Larguei-a, e depois abri a porta. Ela saiu. Tudo estava terminado para sempre entre nós.
Assim que o movimento diário surgiu bati à porta da Jandira. Fui atendido pelo filho mais velho da nova esposa. Ele não era filho do avô da Jandira. Ainda estava com os olhos de sono. Ficou surpreendido por eu lhe bater à porta tão cedo. Convidou-me a entrar. Entretanto, disse-me que a sua mãe e o seu padrasto ainda não tinham regressado de uma festa. Preferia falar com o avô da Jandira, mas não estava disposto a perder mais tempo:
- Olha, não quero perder muito tempo. Venho falar sobre a Jandira.
- Sim vizinho, está à vontade.
- A Jandira deu cabo da minha vida, gostava muito dela.
- Vizinho, não estou a entender. O que é que pretendes?
- A Jandira não passa de uma prostituta vulgar.
- Vizinho, é melhor falares com o avô dela. Ele não demora muito a chegar.
- Não, não quero falar mais. Você transmite aos seus pais a mensagem que lhe deixo. Vivi com ela maritalmente, e está tudo acabado entre nós. Repito, ela não passa de uma vulgar prostituta. Abusou durante vários anos da minha confiança.
Minutos depois, muito abatido sentei-me pesadamente no meu sofá. Peguei numa folha de papel e escrevi:

Ela decidiu abandonar-me para sempre
deixando-me apenas o inicio da manhã
nunca mais verei a sua beleza
esquecida nos deleites das nossas noites
ainda que clame nos brilhos esquecidos
do nosso amor
jamais a lembrarei

Ainda que tente voltar
em qualquer noite
nunca me encontrará
A sua beleza de noite e de dia
será para sempre esquecida
apenas lhe restará um leve suspiro
de vez em quando
a sua beleza para sempre será esquecida.

Jandira foi para o hospital de urgência. A sua pressão arterial estava muito baixa. O médico disse que o coração podia parar a qualquer momento. E que o homem que lhe fez isso não deveria repetir tal proeza.
Sentia-me horrivelmente mal. O meu coração parecia que queria parar. Sentia que a qualquer momento teria um ataque cardíaco.
Uma semana depois Jandira começa a recuperar. Recebe alta do hospital e vem para casa, com recomendações médicas de total silêncio e repouso. O seu estado é lastimável. Apresenta uma magreza extrema. Disse que iria também preparar a sua vingança. Inventa uma história que conta aos tios, na qual afirma que eu é que a obriguei a manter relações sexuais em troca de dinheiro. Um dos tios vem conversar comigo:
- George, é melhor você não dirigir a palavra a ninguém, até que as coisas acalmem.
Outro dos tios aborda-me de maneira diferente:
- Se volta a aproximar-se da nossa casa, vamos bater-lhe tanto que nenhum dos seus ossos se aproveitará, e depois vamos buscar a polícia, carregamos consigo para um avião, e vai definitivamente para o seu país com ordens de não mais voltar. Não tem vergonha de andar a abusar da minha sobrinha? Vamos apresentar queixa na polícia.
Nem dava para acrescentar fosse o que fosse. Era evidente que não tinha qualquer hipótese de defesa. Todos deixaram de me falar. Mas isso para mim era óptimo. Pelo menos deixavam de me incomodar.
O dia chegou. Viam-se duas palmeiras caídas. O barco estava na areia. Interroguei o George:
- Nunca mais a viste ou falaste com ela?
- Ela tinha medo de falar comigo porque os tios ameaçaram-na que se tal acontecesse, a colocariam à força na minha casa para sempre. Poucos meses depois encontrei-me com ela ocasionalmente e cumprimentámo-nos normalmente. Vive actualmente quase em extrema pobreza. A família devido ao que aconteceu votou-a ao desprezo. Ninguém lhe dá atenção. Circula por aí vivendo do que é possível. Actualmente sinto muito receio perante qualquer intimidade com mulheres. Aquelas que mais amei na minha vida foram precisamente as que mais me traíram. A questão é que elas aparecem e desaparecem, como se viessem do nada. Acredito que ela e a sua família queriam apenas ficar com a minha casa.
Acho que George tinha acabado a sua narrativa. Levantou ligeiramente a cabeça numa determinada direcção, obrigando-me a olhar para lá. Comentou com ironia:
- Vem aí os três mosqueteiros.
- George, falta um.
- O quarto é o barco.
Os três sócios estavam a retirar o barco da areia. Avaliaram se havia estragos. Conseguiram facilmente colocar o barco na água, devido a estar maré-cheia. Experimentaram o motor e este arrancou à primeira tentativa. Aproximam-se e saúdam-nos, Roque faz uma vénia, depois afirma:
- Foi uma grande tempestade… conseguimos sobreviver.
Virgílio acrescenta:
- Parecia que o céu nos caía em cima.
João com ar sério exclama:
- Eh pá! Vamos comer qualquer coisa e depois zarpamos. Nada mais há aqui a fazer.
Virgílio responde com sarcasmo:
- Aqui não dá para fazer ralis.
Ao que João responde na mesma moeda:
- Também não existe nada para roubar aos sócios.
Roque intervém pondo ponto final na questão:
- Não vale a pena chorar sobre leite derramado. Acabámos com a empresa. Já não somos sócios. A partir de agora quem tiver unhas é que toca guitarra.
Depois deles se afastarem olhei para George, como que a pedir-lhe auxílio. Ele percebeu e falou:
- Normalmente estes países têm o futuro permanentemente adiado. Quando estive num país da América Latina, para assinar um contrato de comunicações, tornou-se difícil porque os oficiais militares estavam sempre bêbados. E continuavam a beber com as garrafas em cima da mesa. É como naquele país que para resolver qualquer assunto dizem sempre: amanhã, amanhã! Ora, isto torna-se muito difícil. Com o dinheiro que ganho, e com a ajuda da minha família, reconstruí uma herdade considerável. Produzo carnes, hortícolas, frutas… vários produtos, comida para as pessoas. Acho que isto é fundamental para a sobrevivência do ser humano. Na minha modesta opinião, se todos assim procedessem, a fome no mundo deixaria de existir.

FIM

Luanda, Maio de 2005

Imagem: blogdosquadrinhos2.blog.uol.com.b


























1 comentário:

  1. Sinceramente, gostei dessa estoria, ou sera que é mesmo uma "historia"?, esta sensacional, e reflecte muito a mentalidade da juventude angolana principalmente, que devido a pobreza e a fome todos acabam por se tornar antropófagos destinados a consumar os outros mentalmente para poderem sobreviver nessa selva urbana. Luís Aço

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