Viver? É
destruir a vida do outro!
República das
torturas, das milícias e das demolições
Diário da cidade
dos leilões de escravos
03 de Março
O petróleo e os chineses
são a diversificação da nossa economia.
Nunca tão poucos foram tão
esclarecidos pelas contas do petróleo. Os senhores do petróleo nascem
inteligentes, muito sorridentes. Vivem rodeados de cadeados, e pelos arames
farpados dos campos de concentração superlotados.
E amiúde ouvem-se os sacramentos
das abençoadas escrituras e a sua boa-nova: «Cuidado, ele é muito rico, muito
poderoso, não dá para te meteres com ele. Trabalha na Presidência da
República!»
Eles vivem na paz do
petróleo, na abastança, na segurança. E a nós beneficiam-nos com o estupor da
insegurança.
Na mesa dos senhores
serve-se o manjar do petróleo. Os miseráveis – sem mesas – recebem a refeição
diária do chicote. E também diariamente escutam-se os gritos aterrorizadores
das chagas dos chicotes infectados pelo purulento petróleo.
O petróleo é a garantia do
nosso desenvolvimento – asseguram eles – é o decreto do nosso sofrimento.
As chorudas fatias do
OGP-Orçamento Geral do Petróleo, vão para o combate da repressão, para a
eliminação mortal da oposição.
Louvam-se os feitos dos
escribas do petróleo, mas aqueles a quem o acesso lhes foi negado - a sua
sabedoria - perseguem-se como renegados.
E os senhores da cidade
elevaram o petróleo à categoria de herói nacional.
As multidões de esfomeados
perseguem os oligarcas do petróleo, cuja resistência vai diminuindo,
sucumbindo.
Tantos, tantos doutores
que o petróleo doutorou, e por isso mesmo a cidade se afundou. Pois, a
sabedoria deste petróleo só traz desgraça.
Sem energia eléctrica, os
geradores iluminam a cidade sem lei, porque o petróleo é a suprema arte da
hipocrisia. A miséria do petróleo invade as ruas da cidade, e milhares de
esfomeados imploram-lhe caridade.
Uma série de apagões
desabou sobre nós a saber: das 09.01 até às 09.31, das 11.20 até às 19.44, das
19.59 até às 21.10. Das 21.16 até às 21.22. E depois apareceu às 21.25 horas.
04 de Março
Às 17.42 horas a energia
eléctrica do petróleo regressou mais uma vez, triunfalmente às 17.42 horas. Mas
às 17.53 abandonou o lar e voltou às 19.16 horas.
As ruas desta cidade do
petróleo estão globalizadas de panfletos que enaltecem os feitos dos senhores
do petróleo. E as crianças choram de fome, pois, panfletos não se comem.
Nos corações dos
miseráveis reina a esperança do Senhor, e nos corações do petróleo reina o
demónio.
As portas da miséria estão
sempre abertas, mas as portas do petróleo estão sempre fechadas a sete chaves.
E quem se move nas areias
movediças do petróleo por elas será arrastado, sepultado.
Uns vivem do salário do
petróleo, e as multidões vivem da venda da miséria nas ruas. Mas o salário do
petróleo considera isso como crime, e como tal severamente punido.
O reino da hipocrisia
desabará porque os seus pilares só têm areia.
Nas trevas da escuridão
mental nunca se fará luz, e o maior partido da oposição pode ser também a maior
desgraça de uma nação.
Na Rádio Ecclesia. Os
trabalhadores da clínica Girassol continuam em greve. Disseram que um dos
motivos é o despedimento de trabalhadores para lhes ocuparem os lugares. (Por
portugueses.)
05 de Março
Quarenta anos depois: aqui
no prédio continua a sobreviver-se apenas com uma fase de corrente eléctrica.
Quando uma fase queima todos se apressam a mexer nos condutores e ligam-nos de
qualquer maneira. Os condutores não ficam bem apertados – até os costumam
encostar – depois aquecem e incendeiam-se acompanhados de explosões. O curioso
é que no prédio há cinco apartamentos com estrangeiros que também procedem do
mesmo modo, e também um banco, rebentam com as instalações eléctricas e depois
confiam nos geradores. Quem diria… quarenta anémicos anos depois. Não se
evoluiu absolutamente nada, e duvido muito que haja qualquer evolução.
Simplesmente porque não há ninguém que saiba resolver problemas.
06 de Março
Ainda não repararam que as
crianças estão afectadas – muitas, graves – por problemas respiratórios? Já
para não falar dos adultos, causas? Importação da miséria da poluição chinesa –
é pó por todo o lado - e o uso indiscriminado de geradores. VIVA A MORTE DAS
NOSSAS CRIANÇAS!
Auscultação à mulher
rural? O que é isso? É feitiço?
07 de Março
Quinze horas e nove
minutos. Disseram-me, de fonte segura, que na obra do general Ledi, nas
traseiras da Pomobel, os chineses queriam obrigar os jovens mwangolés a fazerem
trabalho escravo – os mwangolés não têm direito ao almoço – e como os mwangolés
resistiram, um chinês pegou numa pá para matar um mwangolé, mas ele conseguiu
fugir. É que chinês – regra geral os estrangeiros, porque têm poder de vida e
de morte sobre os angolanos – tem ordem para matar angolanos. Uma mais velha
que assistiu à tragédia disse muito revoltada que, cada um devia estar na sua
terra!
Levámos com outro apagão
das 12.27 até às 18.51 horas.
08 de Março
Das 05.30 até às 08.30 horas,
atiraram-nos com outro violento apagão.
Sete horas da manhã. Vejo mwangolés a
carregarem baldes de argamassa sob comando de chineses - melhor, sob
perseguição constante de chineses – estas horas extras serão pagas? Acredito
que não, porque o sistema do trabalho escravo está reimplantado em Angola.
Luanda, três meses sem energia
eléctrica. Ter energia eléctrica é sorte, feitiçaria. Com vultuosos gastos de
proveniência chinesa, entramos no terceiro mês sem energia eléctrica. Das
experiências em curso brotam algumas faíscas, o que para os peritos já é
considerado um sinal de sucesso. Só não se sabe quando teremos energia
eléctrica, porque isto é Angola, é África, onde as coisas nunca se resolvem
porque não há ninguém para as resolver.
É possível viver sem energia eléctrica?
Em Angola querem-nos fazer crer que sim.
É possível viver num país corrupto? Em
Angola querem-nos fazer crer que sim, que é uma coisa normal, porque os outros
países também são assim.
Mais um corte. Das 13.41 até às 14.34
horas ficámos sem energia eléctrica.
Se são os equipamentos chineses à toa os
causadores desta corrupção eléctrica, porque não se expulsam definitivamente os
seus autores e mentores? O abastecimento de energia eléctrica está exactamente
como o Governo. Para quê negá-lo? Isto é África, é a miséria extrema. É mais
uma horda de refugiados internos e externos que aí vêm.
09
de Março
Os chineses obrigam os jovens mwangolés
a trabalharem sem horários, incluindo sábados e domingos. As relações são de
senhores e escravos. Há intenso racismo, até ao ponto de se ouvir dos
mwangolés: PORRA!!! Uma mais velha disse que os estrangeiros vêm para aqui
ganhar o dinheiro deles e ainda por cima nos maltratam. O sentimento nacional
anti-chinês generaliza-se, e a qualquer momento teremos mais uma tragédia. O
que surpreende é a completa impunidade da actuação chinesa no desrespeito às mais
elementares normas de convivência, o que significa que os angolanos são mais
evoluídos que os chineses. Mas o colonialismo é isso mesmo, tratar os mwangolés
como bestas de carga, no caminho da bestialidade.
Domingo, 13.36 horas. No sítio da
Internet, Freemeteo.com, anunciam-se chuvadas para os próximos dias, muitos
dias, Na obra do general Ledi, nas traseiras do Banco Millennium Angola, na Rua
Rei Katyavala, dois jovens mwangolés sentados numas chapas de madeira, cada um
come bolachas de dois pacotes, dessas vulgares que se vendem por aí nas ruas.
Os chineses dão-lhes esse almoço. Mas os jovens são interrompidos brutalmente
por dois chineses – os novos colonos de Angola – que lhes obrigam a pararem com
o almoço de bolacha e para irem trabalhar. E ouvem-se expressões, explosões dos
jovens escravos: PORRA! FILHOS DA PUTA! Bom, eu só pergunto ao MPLA! Qual é o
interesse do MPLA em criar uma revolta da população? Para se aproveitar disso e
matar, matar, matar como os alemães na segunda guerra mundial na Rússia que
gastaram munições a matarem russos e não conseguiram acabar com eles? Porque é
que o MPLA entregou os angolanos à escravidão chinesa e demais estrangeiros?
Porque o povo é o petróleo e o petróleo é o povo? O MPLA é o partido da
escravidão neocolonialista? O MPLA tem que se demitir e entregar o Poder a quem
no MPLA defenda de facto e de jure Angola e os angolanos!
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