terça-feira, 8 de abril de 2014

A ideologia do petróleo destrói a paz e as nossas vidas






Viver? É destruir a vida do outro!

República das torturas, das milícias e das demolições
Diário da cidade dos leilões de escravos

03 de Março
O petróleo e os chineses são a diversificação da nossa economia.
Nunca tão poucos foram tão esclarecidos pelas contas do petróleo. Os senhores do petróleo nascem inteligentes, muito sorridentes. Vivem rodeados de cadeados, e pelos arames farpados dos campos de concentração superlotados.
E amiúde ouvem-se os sacramentos das abençoadas escrituras e a sua boa-nova: «Cuidado, ele é muito rico, muito poderoso, não dá para te meteres com ele. Trabalha na Presidência da República!»
Eles vivem na paz do petróleo, na abastança, na segurança. E a nós beneficiam-nos com o estupor da insegurança.
Na mesa dos senhores serve-se o manjar do petróleo. Os miseráveis – sem mesas – recebem a refeição diária do chicote. E também diariamente escutam-se os gritos aterrorizadores das chagas dos chicotes infectados pelo purulento petróleo.
O petróleo é a garantia do nosso desenvolvimento – asseguram eles – é o decreto do nosso sofrimento.
As chorudas fatias do OGP-Orçamento Geral do Petróleo, vão para o combate da repressão, para a eliminação mortal da oposição.
Louvam-se os feitos dos escribas do petróleo, mas aqueles a quem o acesso lhes foi negado - a sua sabedoria - perseguem-se como renegados.
E os senhores da cidade elevaram o petróleo à categoria de herói nacional.
As multidões de esfomeados perseguem os oligarcas do petróleo, cuja resistência vai diminuindo, sucumbindo.
Tantos, tantos doutores que o petróleo doutorou, e por isso mesmo a cidade se afundou. Pois, a sabedoria deste petróleo só traz desgraça.
Sem energia eléctrica, os geradores iluminam a cidade sem lei, porque o petróleo é a suprema arte da hipocrisia. A miséria do petróleo invade as ruas da cidade, e milhares de esfomeados imploram-lhe caridade.
Uma série de apagões desabou sobre nós a saber: das 09.01 até às 09.31, das 11.20 até às 19.44, das 19.59 até às 21.10. Das 21.16 até às 21.22. E depois apareceu às 21.25 horas.
04 de Março
Às 17.42 horas a energia eléctrica do petróleo regressou mais uma vez, triunfalmente às 17.42 horas. Mas às 17.53 abandonou o lar e voltou às 19.16 horas.
As ruas desta cidade do petróleo estão globalizadas de panfletos que enaltecem os feitos dos senhores do petróleo. E as crianças choram de fome, pois, panfletos não se comem.
Nos corações dos miseráveis reina a esperança do Senhor, e nos corações do petróleo reina o demónio.
As portas da miséria estão sempre abertas, mas as portas do petróleo estão sempre fechadas a sete chaves.
E quem se move nas areias movediças do petróleo por elas será arrastado, sepultado.
Uns vivem do salário do petróleo, e as multidões vivem da venda da miséria nas ruas. Mas o salário do petróleo considera isso como crime, e como tal severamente punido.
O reino da hipocrisia desabará porque os seus pilares só têm areia.
Nas trevas da escuridão mental nunca se fará luz, e o maior partido da oposição pode ser também a maior desgraça de uma nação.
Na Rádio Ecclesia. Os trabalhadores da clínica Girassol continuam em greve. Disseram que um dos motivos é o despedimento de trabalhadores para lhes ocuparem os lugares. (Por portugueses.)
05 de Março
Quarenta anos depois: aqui no prédio continua a sobreviver-se apenas com uma fase de corrente eléctrica. Quando uma fase queima todos se apressam a mexer nos condutores e ligam-nos de qualquer maneira. Os condutores não ficam bem apertados – até os costumam encostar – depois aquecem e incendeiam-se acompanhados de explosões. O curioso é que no prédio há cinco apartamentos com estrangeiros que também procedem do mesmo modo, e também um banco, rebentam com as instalações eléctricas e depois confiam nos geradores. Quem diria… quarenta anémicos anos depois. Não se evoluiu absolutamente nada, e duvido muito que haja qualquer evolução. Simplesmente porque não há ninguém que saiba resolver problemas.
06 de Março
Ainda não repararam que as crianças estão afectadas – muitas, graves – por problemas respiratórios? Já para não falar dos adultos, causas? Importação da miséria da poluição chinesa – é pó por todo o lado - e o uso indiscriminado de geradores. VIVA A MORTE DAS NOSSAS CRIANÇAS!
Auscultação à mulher rural? O que é isso? É feitiço?
07 de Março
Quinze horas e nove minutos. Disseram-me, de fonte segura, que na obra do general Ledi, nas traseiras da Pomobel, os chineses queriam obrigar os jovens mwangolés a fazerem trabalho escravo – os mwangolés não têm direito ao almoço – e como os mwangolés resistiram, um chinês pegou numa pá para matar um mwangolé, mas ele conseguiu fugir. É que chinês – regra geral os estrangeiros, porque têm poder de vida e de morte sobre os angolanos – tem ordem para matar angolanos. Uma mais velha que assistiu à tragédia disse muito revoltada que, cada um devia estar na sua terra!
Levámos com outro apagão das 12.27 até às 18.51 horas.
08 de Março
Das 05.30 até às 08.30 horas, atiraram-nos com outro violento apagão.
Sete horas da manhã. Vejo mwangolés a carregarem baldes de argamassa sob comando de chineses - melhor, sob perseguição constante de chineses – estas horas extras serão pagas? Acredito que não, porque o sistema do trabalho escravo está reimplantado em Angola.
Luanda, três meses sem energia eléctrica. Ter energia eléctrica é sorte, feitiçaria. Com vultuosos gastos de proveniência chinesa, entramos no terceiro mês sem energia eléctrica. Das experiências em curso brotam algumas faíscas, o que para os peritos já é considerado um sinal de sucesso. Só não se sabe quando teremos energia eléctrica, porque isto é Angola, é África, onde as coisas nunca se resolvem porque não há ninguém para as resolver.
É possível viver sem energia eléctrica? Em Angola querem-nos fazer crer que sim.
É possível viver num país corrupto? Em Angola querem-nos fazer crer que sim, que é uma coisa normal, porque os outros países também são assim.
Mais um corte. Das 13.41 até às 14.34 horas ficámos sem energia eléctrica.
Se são os equipamentos chineses à toa os causadores desta corrupção eléctrica, porque não se expulsam definitivamente os seus autores e mentores? O abastecimento de energia eléctrica está exactamente como o Governo. Para quê negá-lo? Isto é África, é a miséria extrema. É mais uma horda de refugiados internos e externos que aí vêm.
09 de Março
Os chineses obrigam os jovens mwangolés a trabalharem sem horários, incluindo sábados e domingos. As relações são de senhores e escravos. Há intenso racismo, até ao ponto de se ouvir dos mwangolés: PORRA!!! Uma mais velha disse que os estrangeiros vêm para aqui ganhar o dinheiro deles e ainda por cima nos maltratam. O sentimento nacional anti-chinês generaliza-se, e a qualquer momento teremos mais uma tragédia. O que surpreende é a completa impunidade da actuação chinesa no desrespeito às mais elementares normas de convivência, o que significa que os angolanos são mais evoluídos que os chineses. Mas o colonialismo é isso mesmo, tratar os mwangolés como bestas de carga, no caminho da bestialidade.
Domingo, 13.36 horas. No sítio da Internet, Freemeteo.com, anunciam-se chuvadas para os próximos dias, muitos dias, Na obra do general Ledi, nas traseiras do Banco Millennium Angola, na Rua Rei Katyavala, dois jovens mwangolés sentados numas chapas de madeira, cada um come bolachas de dois pacotes, dessas vulgares que se vendem por aí nas ruas. Os chineses dão-lhes esse almoço. Mas os jovens são interrompidos brutalmente por dois chineses – os novos colonos de Angola – que lhes obrigam a pararem com o almoço de bolacha e para irem trabalhar. E ouvem-se expressões, explosões dos jovens escravos: PORRA! FILHOS DA PUTA! Bom, eu só pergunto ao MPLA! Qual é o interesse do MPLA em criar uma revolta da população? Para se aproveitar disso e matar, matar, matar como os alemães na segunda guerra mundial na Rússia que gastaram munições a matarem russos e não conseguiram acabar com eles? Porque é que o MPLA entregou os angolanos à escravidão chinesa e demais estrangeiros? Porque o povo é o petróleo e o petróleo é o povo? O MPLA é o partido da escravidão neocolonialista? O MPLA tem que se demitir e entregar o Poder a quem no MPLA defenda de facto e de jure Angola e os angolanos!

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