RCE - República dos Comités de
Especialidade, algures no Golfo da Guiné.
Sob a palavra de ordem, entreguemos
a RCE aos chineses, no palácio, o Rei do Petróleo recebe a azáfama diária de
todos os momentos, da fidalguia, dos outros nobres e do que lhes resta dos
dividendos do petróleo, que a cada mês se vê desaparecer de vês. As coisas vão
desaparecendo das prateleiras dos estabelecimentos comerciais porque quem
depende do petróleo aniquila a população à fome, e rejubila pela sua constitucional
erradicação. O comité de especialidade dos bajuladores está sempre alerta na
actividade desperta da pátria dos seus vendedores. Com uma simples graxa
conseguem num minuto o que o trabalho honesto de uma vida o sábio não consegue.
E os chineses avançavam, tudo
tomavam. Os arredores da cidade já eles somavam, multiplicavam. Na RCE só um
homem tinha ideias – aos outros, a nenhum isso não era permitido porque logo
corria o risco de ser abatido - para diversificar a economia que estava no colapso
e não havia dinheiro para nada, também ninguém conseguia, não sabia explicar o
motivo porque tal acontecia. Mas porque é que de repente uma montanha de
dólares superior ao cume do monte Evereste desaparece assim da noite para o dia?
Ninguém sabia! O Rei do Petróleo com a sua política, batia palmas e alinhavava
que, da maneira que isto está, creio, dizia, que se pretendia o regresso rápido
da escravatura, aliás o nosso martirizado povo já está na formatura.
Convém salientar que há malucos que
fingem ser pessoas normais, assim como há demónios que se disfarçam de pessoas.
E assim a milenar tragédia humana permanece
na valorização da perseguição dos que têm valor, dos que têm ideias válidas,
valorosas para que as sociedades avancem. Na RCE, diariamente, a todo o momento
perseguem-se e enviam-se para as inúmeras fogueiras os Giordanos Brunos que
ousam afirmar que as riquezas da RCE estão nos cofres de uma família da
desgraça.
O exército dos desempregados
fortalece-se com assíduos aderentes de todas as frentes. Por exemplo: Na sempre
salutar e exemplar NCR há muitos despedimentos, às moscas estão os comerciais
estabelecimentos. O mais importante é destruir e do poder dele não sair. Porque
é sempre melhor acreditar que nele se pode muito demorar, quando na verdade nele
se vai atolar, imolar, incendiar, atrozmente acabar.
E no palácio sempre a cada dia mais
fortificado, o chefe da Polícia visitou, orientou os comandos da corporação
para que fiquem em estado de prontidão combativa porque a qualquer momento a
população salta para as ruas e nelas exercerá o seu há muitas dezenas de anos,
o seu recusado direito de cidadania.
Há muitas armas em poder da
população e aqui reside o receio dela vir para a rua em peso, porque a cidade
será regada de sangue, tudo ficará vermelho, que Deus nos livre de tal coisa.
Mas parece bem que não, porque o poder o deseja, o almeja na sua final
rendição.
É um dia de cacimbo das noites
gélidas e muito húmidas, onde os deportados para o ar livre dos inventados
zangos caiem como moscas sem uma manta quentinha que os abrigue, especialmente
os mais pequeninos, os tais pioneiros continuadores da gloriosa revolução
marxista-leninista, agora atulhada pela chinesa imposição comunista, do dar à
criança tudo o que ele merece, a morte. O frio das noites e do romper das
manhãs estremece os corpos, agita-os, enregela-os no cárcere cadavérico da
opressão, no cemitério nacional da exclusão social. No nevoeiro deste cacimbo
se anuncia a revolução da propícia ocasião. Os oprimidos e injustiçados serão glorificados.
É necessário e urgente que nos libertemos
da angústia permanente do morrer pela fome, pelas balas, pelas torturas ou abandonados
numa prisão sem culpa formada.
Até a um advogado lhe fizeram a
cassação da sua carteira profissional por motivos políticos. Já nem opiniões
podemos formar porque corremos o risco do triunvirato nos eliminar.
Esta democracia é como uma víbora venenosa
que está sempre pronta para nos desferir a sua mordedura mortal.
E no nevoeiro dos zangos dos guetos
prostrados reina a miséria dos abandonados, o poder do nevoeiro é cerrado, quem
ainda vive será pelo navio negreiro fuzilado.
No palácio do Rei do Petróleo o
regozijo é intenso, já virou moda, pois tudo o que acontece, por mais insignificante
que seja é motivo de festejo. E o Rei do Petróleo celebra mais um dos discursos
do seu louvor, porque não havendo quem o faça ele fá-lo como o anúncio do poder
de Deus, aliás ele já o suplanta e até já orientou que escrevam, imprimam e distribuam
a sua bíblia intitulada: DEUS SÓ HÁ UM, EU E MAIS NENHUM! Claro que na Igreja e
nas igrejas o êxito estava de antemão assegurado, pois o poder do dinheiro e
das armas é a mais forte religião e contra ela, eles, não há oposição.
- Caros camaradas, caros membros
desta grande empresa anónima que é a RCE, caros bajuladores, caros generais que
me garantem o poder absoluto, patriotas em geral: uma das cláusulas dos acordos
secretíssimos do apoio chinês é a extinção por todos os meios desses jovens do
tal movimento revolucionário. Os primeiros passos já foram dados, os
desgraçados jazem já na prisão de Calomboloca do fim do mundo. Outra exigência
dos biliões de dólares do governo chinês prende-se com a extinção da oposição.
Com o degredo da acusação do golpe de estado sobre esse processo dos quinze,
brevemente só lhes restarão ossadas, creio que nem isso, pois os seus corpos
desaparecerão misteriosamente para que não se crie a romaria dos mártires, e a
tal parva da oposição política parlamentar e extraparlamentar também será
decepada, também em Calomboloca encarcerada e pelos jacarés festejada. E assim,
caros camaradas e companheiros de luta se encerrará mais um capítulo da nossa
gloriosa e revolucionária luta. Viva o comunismo chinês e a sua fortaleza fortemente
implantada na RCE!
Um general sempre de ar marcial como
convém, ar grave, denso como uma forte tempestade, um vulcão, um ciclone, uma
forte trovoada, arremessou o seu aríete:
- Mestre do Petróleo, salvador da
pátria permanentemente ameaçada pelos golpistas do 27 de Maio, arquitecto da
paz e da guerra duradoiras, do bem-estar e felicidade das nossas famílias e do nosso
povo… e que faremos do tal da oposição… esse Chamauva?
- Bom… esse é a coisa mais parva que
aconteceu em quarenta anos da RCE, o homem é tão pobre, tão insignificante de imaginação.
Bom… deixem-no nos americanos se queixar que nós continuaremos com os nossos
amigos chineses a avançar, os opositores a liquidar. Bom… com tão
insignificante oposição que mais perece cães de guarda e como tal apenas
ladram, construiremos outro Reich, um império empresarial. Ai de quem nos ouse
criticar, enfrentar, pois os nossos exércitos não são de brincar, são para
atirar a matar.
O alcoolismo, o melhor amigo do
homem, venceu e convenceu. A bola está sempre do seu lado nesta cidade, nesta
nação. Pouco falta para lhe chamar república alcoólica. De tal modo que é
assustador o volume de alcoólicos. E todos unidos no álcool pereceremos.
O lixo invadia a cidade, mas no
palácio ninguém disso se apercebia, porque se sentia que o lixo é a habitual, a
cómoda boa companhia. E que brevemente engoliria nas suas goelas o palácio não
escaparia.
E um sistema de câmaras de
vigilância será montado para ver onde há lixo e logo a sua posterior recolha.
Oficialmente a RCE parece que entrou
em pé de guerra contra os seus cidadãos porque a guarda presidencial do Rei do
Petróleo circula nas ruas com capacetes de guerra.
O terror está fortemente implantado,
parece uma filial do Estado Islâmico, porque permite a qualquer um militante
fardado do partido, ou não, da RCE disparar a matar sobre quem bem lhe apetecer.
Matar pessoas já é um desporto tão vulgar que os corpos ficam por aí estendidos
até que alguém se lembre de os apanhar e um enterro condigno lhes proporcionar.
Recebem o mesmo tratamento do lixo o que é de louvar.
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