Aurelio Marques; Embaixada de Portugal em Luanda
é o espelho do nosso país. Que mais se pode dizer! !!!
Com as condenações dos presos políticos
acusados sob falsas acusações, - nada mais se espera desta Idade da Pedra – o
sonho da Angola independente acabou. Está como o Apocalypse Now, o filme de
1979, do célebre realizador Francis Ford Coppola, sobre a guerra do Vietname e
que ilustra, pode-se dizer, a actual situação de Angola. Com as condenações dos
presos políticos, o sonho da Angola independente acabou. Apenas um colonialismo
acabou e outro começou. A luta pela independência nacional continua. Por trás
disto estão chineses e portugueses em Angola e fora dela, há que bloqueá-los.
A caça às divisas: Hoje, 29 de Março de 2016, na
Sistec junto ao largo Primeiro de Maio, os bandidos assaltaram as kinguilas e
limparam-nas, nem uma nota lhes deixaram para recordação.
Creio que a oposição em Angola é a emenda pior
que o soneto.
Vejo multidões de famintos desesperados pela
chegada da independência, e ela que tarda, como se jamais acontecesse. E que
doentes, carcomidos pela fome, já moribundos vão para os hospitais, sabendo de
antemão que nada nem ninguém os salvará da morte porque a corrupção é a instituição
da foice da morte. E uma princesa diz que doará alguma coisa, parco da sua mina
de ouro de Angola, como se hospitais e as mortes vivessem de doações, e a
imensa comunidade portuguesa em Angola aprova, bate palmas à princesa da
moderna Idade da Pedra, diz-lhe bem-haja porque com isso aguardam privilégios
para as suas transferências bancárias, para o saque das divisas que rareiam.
Até há quem questione porque é que as casas de câmbios não podem transferir
divisas directamente para Portugal. E saúdam a condenação dos presos políticos
com esgares odientos, felicíssimos pelas suas almas que lhes garantem por mais
algum tempo as suas transferências bancárias porque os presos políticos vão
apodrecer na prisão, que morram lá definitivamente então, são o lixo de Angola
e como tal devem apodrecer na prisão.
E uma mãe dos jovens presos políticos disse que
o ministro da saúde é acusado de desviar quatro milhões de dólares, e por causa
disso quase que toda a população morre, - pouco falta - e não é preso, nada lhe
acontece porque a lei só protege os que roubam e persegue, não aceita, não contempla
quem é honesto.
Este é um governo de cleptómanos e para
cleptómanos.
E lá vão os jovens outra vez para a prisão, o
coitado do jornalista e professor universitário Domingos da Cruz vai com oito
anos e seis meses de prisão. Outro jornalista, Sedrick de Carvalho do Folha 8,
vai também com quatro anos de prisão, e muitos mais com acusações inventadas
como se isto fosse outra Coreia do Norte. Presos por apenas lerem um livro,
sim, aqui não se podem ler livros, só se podem ler aqueles que forem escritos
pelo grande líder e seus correligionários. Pois é, só que não há nenhum livro escrito
por eles, nem nunca haverá porque não sabem escrever. Um corrupto não escreve,
corrompe e deixa-se corromper. Uma pátria de corruptos é uma pátria de presos
políticos.
Quase uma vintena de crianças brincam no que
chamam de parque infantil do jasmim, porque antes lá viveu um de flores
brancas, perfumadas, e que depois tudo desapareceu, restando um inacabado edifício
do espectro da morte imobiliária porque o petróleo já não dá para sustentar o exército
de corruptos, porque o preço do barril baixou a níveis de já não dar para sustentar
tanta escumalha. Mas as crianças não se preocupam nada com isso, e aos saltos e
berros sob as ruínas brincam aos ditadores e aos presos políticos. Uma delas,
um menino de oito anos está com um caderno da escola e imitando o processo dos
15+2 lê um texto imaginário: «Vá, parem todos e escutem o que tenho para vos
ler, é uma história de vampiros muito maus, desses que comem mesmo pessoas de
verdade. Este livro tem o título de, Como Conseguir Manter um Ditador Indefinidamente
no Poder. E puxando pela sua imaginação finge que lê. Um ditador permanece eternamente
no poder porque ninguém lhe faz oposição. Isso de oposição de fingir não dá. Oposição
sem líderes é como uma casa sem água e sem energia eléctrica. Creio que Angola
está condenada a viver eternamente numa ditadura.» Outra criança também de oito
anos de idade finge que é um preso político e apresenta a sua defesa. «Nós
presos políticos num país onde a justiça quem nela manda são corruptos, e os
partidos políticos da oposição passam-nos a bola deles porque eles não sabem
jogar e muito menos – é a ideia que se tem – não entendem nada de política
porque se limitam a enviarem comunicados para os órgãos de comunicação social,
reduzidos a um ou dois, a Rádio Despertar e o jornal Folha 8, tal como faz a
CEAST. Isto não é política, é apolítica. O marasmo político é de tal desordem
que seria muito bem-vinda a criação de outro partido político que de facto
defenda os seus eleitores, e que não ande a brincar aos partidos políticos como
os actuais da oposição.» Mas os esbirros da inquisição vigiavam as inocentes
crianças. Desvairados caíram-lhes em cima, confiscaram-lhes tudo, os
brinquedos, prenderam-nas e fizeram um relatório rápido aos seus chefes inquisidores
onde ressaltavam que conseguiram abortar um golpe de estado, mais um acto
preparatório de golpe de estado contra o Superior Inquisidor. As crianças foram
sumariamente enjauladas, julgadas e enviadas para as santas fogueiras da inquisição.
Mas a sua queima está suspensa porque os interrogatórios do tribunal especial
de menores da inquisição, diz que elas serão eternamente julgadas por serem
consideradas crianças altamente perigosas, uma associação de malfeitores
infantis.
Há muito que a embarcação Angola navegava apenas
comandada por ordens superiores, apenas uma voz. Tempestades cada vez mais
violentas iam-lhe abalroando as frágeis estruturas. Uma tempestade extremamente
violenta obrigou-a a adernar e viu-se forçada, condenada ao naufrágio político
e social. A literatura foi proibida, apenas se podiam ler livros dos vates da
inquisição oficial. Tudo o mais era considerado subversivo e atentatório aos
bons costumes da classe inquisitorial. Não havia prisões que chegassem para
tantos presos políticos. Até a sua designação de país foi alterada para,
República dos Presos Políticos de Angola. Facilmente se via que terrível acontecimento
surgiria. Inevitavelmente a condenação internacional se fez presente. Mas
invocava-se a soberania descaradamente, desgraçadamente. Sabiamente se ordenou
o definitivo enterro da democracia num cemitério clandestino, que muito dava
nas vistas devido ao aparato das forças de defesa e segurança.
O suicídio político, social e económico está
mais que presente, fartamente evidenciado. Mas a corte de bajuladores como
pintos, muito pia que assim é que está bem, porque até já há uma muito bem estruturada
estratégia para a saída da crise. Evidentemente que é da crise deles, porque
foram eles – são sempre eles – que a provocaram, ficando muito a leste da
população, que até mudou de nome para, mortos ambulantes. Aliás foi
oficialmente declarada a extinção da população. Até parece que Angola do mapa
desapareceu. Tão mal dirigida, tão abissalmente perdida.
Há muito que se decretou que a corrupção em Angola
é considerada legal. Também os rombos sistémicos do erário público são
considerados legais. Claro que o enriquecimento fácil é considerado a obra-prima
do grão-mestre da governação. O mais longevo do poder, um campeão.
O incêndio atearam, as chamas alastraram, não as
apagaram, elas se elevaram, como Nero cantaram, e finalmente pelas chamas acabados,
derrotados, definitivamente sitiados, escorraçados, emparedados. Esta praga vai
acabar, silenciar. Até as nossas almas venderam.
“Jose Vieira: Boa tarde amigos. Tenho kwanzas
para vender em Portugal, alguém interessado? Agradeço respostas.”
Entretanto, trinta empresas chinesas estão na
mega campanha de recolha do lixo de Luanda. Significa que no mínimo são trinta
milhões de dólares.
Creio que a questão não é ver, sentir as
pessoas, mas ver, sentir as coisas.
E esta, hem! Afinal os amigos de infância são
inimigos.
Sem comentários:
Enviar um comentário