O vizinho foi ao banco para levantar dez mil
dólares para pagamento de mercadorias. O banco disse-lhe que não tem dinheiro.
O vizinho disse ao banco que o dinheiro era dele, mas o banco não lhe ligou,
lhe desprezou. O vizinho anda bem chateado, porque afinal os bancos assaltam
assim o nosso dinheiro como se fossem vulgares assaltantes. Que diferença pois,
há entre os bancos e os bandidos que nos assaltam a todo o momento? Creio que nenhuma!
Funcionários da embaixada portuguesa em Luanda
que recebem os seus salários em euros, na banca também não os conseguem
levantar. Vivem dificuldades, há que pôr tudo a nadar na fome. Isto está muito
feio, está sim senhor.
Outro vizinho foi no banco, – mas em Angola
existem bancos?, e se existem para que servem?, – o coitado queria viajar para
a África do Sul, chegou e quis levantar dois mil dólares, o banco não aceitou,
recusou. Ele teve que pedir dinheiro emprestado para conseguir viajar. Mas
caramba, a mana Isabel não teve nenhuns problemas em transferir duzentos
milhões de euros para comprar a empresa Efacec em Portugal.
Também outra vizinha – pelos vistos isso é geral
– não conseguiu levantar os seus quinhentos dólares, porque lhe recusaram.
Que me perdoem, mas creio que os verdadeiros
delinquentes são os bancos, protegidos por outros delinquentes superiores.
Os dólares e os euros que estão nos bancos de
fingir são propriedade exclusiva de uma família e dos seus amigos, e nada mais
ninguém pode exigir ou reclamar. Mas isto traz consequências desastrosas para a
actividade bancária, porque ninguém ousa confiar nos bancos de mais uma
república das bananas.
E um fiscal avisou que as kinguilas que se
cuidem, porque está para sair um decreto que condenará com três anos de prisão
quem exerça a actividade ilegal de cambiar divisas nas ruas. Esta repressão
abrange chineses e portugueses? E as desgraçadas das kinguilas que ficarão
desempregadas, – este país é também uma república do desemprego – com os seus
lares destruídos, com mais filhos para as ruas da fome, mais delinquência, mais
assaltos mortais ou não. A formação profissional é-lhes negada porque em Angola
isso não existe, ainda ninguém se lembrou disso. Há que dar formação
profissional a essas mulheres que de repente são atiradas para o desemprego,
como mais uma multidão de casas partidas e de desalojados sem indemnização.
E das medidas anunciadas para a estratégia para
salvar a crise, nenhuma funcionará porque até hoje – uma caterva de perdidos
anos – nenhuma funcionou, e é claro que nenhuma funcionará porque estamos
debaixo do nada funciona. Alto! Há sempre uma coisa que funciona: a doce e
saborosa amiga corrupção.
Perante o encerramento dos jornais semanários
devido à esperada falência do sistema que os suporta, não podemos, não devemos
permitir que fiquem apenas três órgãos de informação, a saber: o Jornal de
Angola, a Rádio Nacional de Angola e a Televisão Pública de Angola.
E continuaremos a fazer de Angola um canteiro de
obras, disse o chefe dos chefes.
Angola é muito bonita mas perante o caos que
vivemos, que temos, está terrivelmente feia.
A Igreja e
os rios de dinheiro que lhe fluem, impunes, isentos de impostos, excepto o
imposto divino
Uma das coisas mais fáceis da vida é ganhar
dinheiro muito facilmente, explorando a crendice dos pobres analfabetos através
das falsas promessas que a religião lhes oferece. E neste aspecto a religião é
a sublime nefasta líder. São rios de dinheiro que fluem impunes porque os
governantes fecham os olhos, mas as mãos não, porque estão repletas do dinheiro
dos analfabetos que acreditam em qualquer demónio disfarçado de pastor de Deus.
Educar a população no analfabetismo é o meio
mais eficaz de conduzi-la para a morte.
Nuno Dala está em greve de fome, e nós também,
pois estamos solidários com a crise que nos foi decretada pela chuva da
impostura tanto da oposição como da governação.
Quando vem um novo ano, as pessoas inventam
coisas para ludibriarem as suas almas, mas esquecem-se, ou fingem esquecer, que
o dia de ano-novo é um dia como outro qualquer.
Sempre a lutar contra as desilusões da vida.
Como a batalha perdida de mostrar aos selvagens os gestos de nobreza que ainda
restam em alguns seres humanos. Mas, creio que é demasiado tarde porque mais
uma chuva de metralha mundial, outro granizo da morte paira sob as nossas
cabeças, sobre as famílias, mais céu tingido de explosões se pressente no
horizonte claramente. E densas nuvens de fumo obscurecem os nossos olhos. Mais
uma carnificina mundial se apronta.
Esta pocilga humana em que acreditei, e onde
tudo foi por água abaixo, no esgoto ainda não se esgotou.
Há quarenta anos que estou aqui a viver no
sofrimento de todos os dias, quando podia muito bem estar na casa dos meus
pais, a viver com eles, com os meus irmãos, irmãs, restante família e amigos.
Ajudem-me a sair desta tortura.
Eis mais um episódio da escravidão
neocolonialista, ou colonialista, pois parece que isso nunca mais vai acabar.
Fiscais da Ingombota na zona do Zé Pirão, em Luanda, aterrorizaram uma grávida
– mas isto que interessa pois se todos somos para abater - já em estado
adiantado, ela na fuga lembrando as torturas dos nazis, caiu desamparada. Ela
vende chouriço, mas agora está com dificuldades de locomoção, queixa-se de
dores. As suas clientes já lhe disseram para ir ao hospital. Mas que estranha
coisa esta, porque nenhum fiscal até hoje ousou atacar um corrupto.
Oposição em Angola? Partidos políticos da
oposição? É apenas exibicionismo, vaidade, palavreado oco, vazio, repetitivo,
cansativo, doentio.
Oiço amiúde que o governo é uma palhaçada, mas
os partidos políticos da oposição também o são.
Será possível que ninguém oiça o barulho do
navio Angola a afundar?
O governo diz que constrói e que a oposição
destrói. E o pouco que faz, a oposição nada é capaz porque é ineficaz.
Devido à crise, nos lares, elas abandonam os
maridos, trocam-nos por outros. E eles também fogem, abandonam os lares. Pobres
crianças entregues à sorte dos dias, abandonadas no deserto sem vida.
A crise: depois de dez anos, a esposa entra em
casa com outro, dirige-se para o marido e diz-lhe: «Olha, este agora é que é o
meu marido, já nos conhecemos há seis anos. Não te quero mais… tu não fazes
nada… já não estou mais para te aturar!»
A corrupção vencerá!
A angolanização das empresas petrolíferas consiste
no despedimento massivo dos trabalhadores angolanos, para que os estrangeiros
mantenham os seus empregos. Estava em preparação a substituição dos
estrangeiros por angolanos, mas o que acontece é o contrário. É mais uma
mentira desta república das mentiras.
Entretanto, bajulando os pintos vão piando, e
sem asas inúteis voos vão alçando.
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