Diário da cidade dos leilões de escravos
21
de Agosto
Lutar pelos nossos direitos? Que
direitos? Só temos deveres, e fora disso tudo do piorio nos pode acontecer.
Os veteranos das lutas de libertação
transformaram-se em tiranos.
E uma pergunta muito chata se impõe:
quem origina o terrorismo? Creio que o capitalismo selvagem não estará muito
longe, está em primeiro lugar.
Em Luanda basta alguém ameaçar que vai
haver manifestação, que os exércitos de terra, mar e ar ficam de prevenção, e
tudo o mais que seja farda ou não.
22
de Agosto
De volta ao califado de Luanda. Depois
de dezanove dias com energia eléctrica, eis que recebemos um prémio de
consolação. Oito horas diurnas às escuras por motivos de segurança. Para este infausto
acontecimento, a explicação é muito simples: o PR andou por Luanda em jornada
de campo e cortaram-nos a energia eléctrica para dar a entender que em Luanda a
luz não falta. Ou melhor, ou pior: Ainda bem que o PR só anda por Luanda muito
raramente, se ele fosse visitante, turista constante, jamais teríamos energia
eléctrica.
O descontrolo absoluto aproxima-se da
velocidade meteórica. A Rádio Ecclesia informou que nas lavras da Funda –
arredores de Luanda – andam indivíduos organizados em quadrilhas que roubam as
lavras das mulheres, queimam-lhes, destroem-lhes tudo, violentam as infelizes
indefesas para lhes apanharem as terras que depois vendem como suas, até têm
ONG. Pergunto: quem está mais por trás desta repugnante especulação imobiliária?
É difícil de saber? Claro que não! Basta pensar um pouco.
23
de Agosto
“Diariamente
estão a ser detidos cidadãos de várias nacionalidades, mas maioritariamente
portugueses. Estão neste momento já identificados
milhares de Vistos de Trabalho emitidos em
Angola e que, tendo sido obtidos de forma fraudulenta, são considerados
ilegais. Muitas pessoas ficaram com as férias estragadas, pois foram impedidas
de embarcar e ficaram detidas.” In Ricardina Borges. Portugueses em Angola.
Facebook
A Rádio Ecclesia
noticiou que em Malange, um jovem de dezoito anos enforcou-se porque não tinha
trezentos dólares para pagar o pára-choques de uma viatura estacionada na qual
embateu com a sua mota.
24 de Agosto
Vinte horas. O
indiano está outra vez a dar surra na esposa. Mas as vizinhas já lhe montaram
guarda e vão-lhe admoestar que se ele não parar vão levar o caso para a
Polícia. E uma vizinha mais fodida disse que lhe vai atirar com pedras, e as
outras apoiaram. Elas também falaram que isto aqui não é a Índia.
Quando alguém
pretender realizar um filme sobre Luanda do antigamente, não o conseguirá
porque a sanha destruidora dos especuladores imobiliários destruiu os edifícios
arquitectónicos, deixando Luanda sem história, sem futuro, restando-lhe apenas
um deserto cultural.
25 de Agosto
Das 12.28 até às
13.02 horas encerraram-nos a energia eléctrica.
Das 17.16 até às
17.21 horas, o banco millennium Angola na Rua Rei Katyavala, em Luanda, lançou
para o ar toneladas de fumo do seu gerador monstruoso. As janelas e portas
fecharam-se de imediato. Há criancinhas aqui no prédio que não sei se
sobreviverão a mais esta mortandade assessorada por portugueses muito felizes
por reviverem os tempos das matanças coloniais. Depois lamentam-se que agora há
muitas manifestações em Luanda e que o regime descontrola-se, e que o
terrorismo mundial está imparável, muito califado, pois, com tal terrorismo
bancário não surpreende que os terroristas ganhem terreno. Já o disse e
repito-o: ou acabam com o terrorismo bancário ou o terrorismo internacional
acaba connosco.
Isto promete:
Fomos torturados com outro apagão das 18.34 até às 20.27 horas. De regresso à
infâmia: Sem energia eléctrica não há planos económicos que funcionem. E pagar
avultadas quantias a mercenários estrangeiros ou nacionais que falam que a
nossa economia se desenvolve, cresce, isso não resolve nada porque todos
sabemos que isso é mentira. Assim, Angola fica como mais um país servil do
capitalismo selvagem, o tal sistema económico que produz terroristas em larga
escala. E aqui não é necessária uma epidemia de ebola, pois o fumo dos geradores
também é uma espécie de ebola.
O ebola vitimou
a energia eléctrica. Na terra da miséria prometida, outro apagão das 21.26 às
22.33 horas. Enquanto nos mantivermos neste sistema de governação faraónica, a
luz de vela será o nosso anjo da guarda. Esta é a chama da diversificação da
economia.
Será que os
chineses… levámos com outro apagão das 22.57 às 23.11 horas, e a Lwena veio com
os seus lamentos: «Disseram-me que os da DNIC estão em todos os bairros porque
se espera uma grande revolta da população. Até o Neloi que costuma andar por aí
à noite, está com medo, não sai mais. As catanas vão trabalhar. Ai Meu Deus
deixa o meu neto crescer mais!»
26 de Agosto
Zilia
Domingos. Portugueses em Angola. Facebook: Português encontra-se detido á mais
de um ano e está no Centro de Detenções do km 32_ tem trinta e poucos anos, e
chama-se NUNO FILIPE OLIVEIRA e está doente, a entrar em estado de demência.
Família não tem posses para ele regressar a Portugal. Apela-se á Embaixada
Portuguesa que faça alguma coisa pelo homem que certamente o nosso país de
alguma forma o empurrou para lá.
Hoje fomos
visitados por extraterrestres e eles abduziram-nos a energia eléctrica das
18.24 até às 18.56 horas. Neste aspecto, há quarenta anos que Luanda é a
capital mundial das abduções. É que nem o Triangulo das Bermudas se lhe
compara.
27 de Agosto
Lindis Hurum, médica norueguesa,
coordenadora dos Médicos sem Fronteiras na Libéria: “Chegam enfermos em táxi e morrem na porta do
centro” A médica tacha a situação em Monróvia de “catastrófica” e teme que o
pior está ainda por chegar.”
Peter Piot Co-descobridor
do ebola faz 38 anos e ex-director da Onusida: “A metade dos contactos dos casos de ebola escapa aos
controlos. É
“uma tormenta perfeita”. elpais.com
Os extraterrestres abduziram-nos a
energia eléctrica das 11.51 até às 12.27 horas.
O casal de indianos – o da surra na
esposa – têm uma empregada mwangolé, ela lamentou-se que quando fazem as
refeições não lhe dão nada. A tal situação da comida que é melhor atirá-la para
o lixo porque os e as mwangolés não são pessoas. Esta gente é terrível, não
muda, estão cada vez mais na mesma.
As atitudes dos governos que desprezam
os seus cidadãos fortalecem o terrorismo. As democracias são como as águias da
liberdade com uma asa partida.
Nem uma suave crítica se pode tecer aos
mandarins que nasceram iluminados para o poder, porque cai-nos em cima o
arsenal da excomunhão que nos reduz à mais ínfima condição da degradação humana:
A escravidão, a submissão dos senhores do petróleo e seus derivados mandatários
estrangeiros.
Neste terreno
inculto, o relacionamento humano está instituído de generalizada falsidade. E
isso inviabiliza os desejos de que a nossa vida vai melhorar. É um fim sem princípio.
De tão degradante que isto está, torna-se impossível o convívio com o
semelhante, porque são cobras disfarçadas de seres humanos. É necessária a fuga
deste manicómio colectivo.
Se este Governo
se intitula democrata, porque é que utiliza a violência contra quem ele ouse
criticar? Um verdadeiro democrata resolve os seus diferendos pela força das
palavras, e nunca pela violência física.
Sem comentários:
Enviar um comentário