quarta-feira, 3 de setembro de 2014

21-27Ago14. República das torturas, das milícias e das demolições





Diário da cidade dos leilões de escravos

21 de Agosto
Lutar pelos nossos direitos? Que direitos? Só temos deveres, e fora disso tudo do piorio nos pode acontecer.
Os veteranos das lutas de libertação transformaram-se em tiranos.
E uma pergunta muito chata se impõe: quem origina o terrorismo? Creio que o capitalismo selvagem não estará muito longe, está em primeiro lugar.
Em Luanda basta alguém ameaçar que vai haver manifestação, que os exércitos de terra, mar e ar ficam de prevenção, e tudo o mais que seja farda ou não. 
22 de Agosto
De volta ao califado de Luanda. Depois de dezanove dias com energia eléctrica, eis que recebemos um prémio de consolação. Oito horas diurnas às escuras por motivos de segurança. Para este infausto acontecimento, a explicação é muito simples: o PR andou por Luanda em jornada de campo e cortaram-nos a energia eléctrica para dar a entender que em Luanda a luz não falta. Ou melhor, ou pior: Ainda bem que o PR só anda por Luanda muito raramente, se ele fosse visitante, turista constante, jamais teríamos energia eléctrica.
O descontrolo absoluto aproxima-se da velocidade meteórica. A Rádio Ecclesia informou que nas lavras da Funda – arredores de Luanda – andam indivíduos organizados em quadrilhas que roubam as lavras das mulheres, queimam-lhes, destroem-lhes tudo, violentam as infelizes indefesas para lhes apanharem as terras que depois vendem como suas, até têm ONG. Pergunto: quem está mais por trás desta repugnante especulação imobiliária? É difícil de saber? Claro que não! Basta pensar um pouco.
23 de Agosto
“Diariamente estão a ser detidos cidadãos de várias nacionalidades, mas maioritariamente portugueses. Estão neste momento já identificados milhares de Vistos de Trabalho emitidos em Angola e que, tendo sido obtidos de forma fraudulenta, são considerados ilegais. Muitas pessoas ficaram com as férias estragadas, pois foram impedidas de embarcar e ficaram detidas.” In Ricardina Borges. Portugueses em Angola. Facebook
A Rádio Ecclesia noticiou que em Malange, um jovem de dezoito anos enforcou-se porque não tinha trezentos dólares para pagar o pára-choques de uma viatura estacionada na qual embateu com a sua mota.
24 de Agosto
Vinte horas. O indiano está outra vez a dar surra na esposa. Mas as vizinhas já lhe montaram guarda e vão-lhe admoestar que se ele não parar vão levar o caso para a Polícia. E uma vizinha mais fodida disse que lhe vai atirar com pedras, e as outras apoiaram. Elas também falaram que isto aqui não é a Índia.
Quando alguém pretender realizar um filme sobre Luanda do antigamente, não o conseguirá porque a sanha destruidora dos especuladores imobiliários destruiu os edifícios arquitectónicos, deixando Luanda sem história, sem futuro, restando-lhe apenas um deserto cultural.
25 de Agosto
Das 12.28 até às 13.02 horas encerraram-nos a energia eléctrica.
Das 17.16 até às 17.21 horas, o banco millennium Angola na Rua Rei Katyavala, em Luanda, lançou para o ar toneladas de fumo do seu gerador monstruoso. As janelas e portas fecharam-se de imediato. Há criancinhas aqui no prédio que não sei se sobreviverão a mais esta mortandade assessorada por portugueses muito felizes por reviverem os tempos das matanças coloniais. Depois lamentam-se que agora há muitas manifestações em Luanda e que o regime descontrola-se, e que o terrorismo mundial está imparável, muito califado, pois, com tal terrorismo bancário não surpreende que os terroristas ganhem terreno. Já o disse e repito-o: ou acabam com o terrorismo bancário ou o terrorismo internacional acaba connosco.
Isto promete: Fomos torturados com outro apagão das 18.34 até às 20.27 horas. De regresso à infâmia: Sem energia eléctrica não há planos económicos que funcionem. E pagar avultadas quantias a mercenários estrangeiros ou nacionais que falam que a nossa economia se desenvolve, cresce, isso não resolve nada porque todos sabemos que isso é mentira. Assim, Angola fica como mais um país servil do capitalismo selvagem, o tal sistema económico que produz terroristas em larga escala. E aqui não é necessária uma epidemia de ebola, pois o fumo dos geradores também é uma espécie de ebola.
O ebola vitimou a energia eléctrica. Na terra da miséria prometida, outro apagão das 21.26 às 22.33 horas. Enquanto nos mantivermos neste sistema de governação faraónica, a luz de vela será o nosso anjo da guarda. Esta é a chama da diversificação da economia.
Será que os chineses… levámos com outro apagão das 22.57 às 23.11 horas, e a Lwena veio com os seus lamentos: «Disseram-me que os da DNIC estão em todos os bairros porque se espera uma grande revolta da população. Até o Neloi que costuma andar por aí à noite, está com medo, não sai mais. As catanas vão trabalhar. Ai Meu Deus deixa o meu neto crescer mais!»
26 de Agosto
Zilia Domingos. Portugueses em Angola. Facebook: Português encontra-se detido á mais de um ano e está no Centro de Detenções do km 32_ tem trinta e poucos anos, e chama-se NUNO FILIPE OLIVEIRA e está doente, a entrar em estado de demência. Família não tem posses para ele regressar a Portugal. Apela-se á Embaixada Portuguesa que faça alguma coisa pelo homem que certamente o nosso país de alguma forma o empurrou para lá.
Hoje fomos visitados por extraterrestres e eles abduziram-nos a energia eléctrica das 18.24 até às 18.56 horas. Neste aspecto, há quarenta anos que Luanda é a capital mundial das abduções. É que nem o Triangulo das Bermudas se lhe compara.
27 de Agosto
Lindis Hurum, médica norueguesa, coordenadora dos Médicos sem Fronteiras na Libéria: “Chegam enfermos em táxi e morrem na porta do centro” A médica tacha a situação em Monróvia de “catastrófica” e teme que o pior está ainda por chegar.”
Peter Piot Co-descobridor do ebola faz 38 anos e ex-director da Onusida: “A metade dos contactos dos casos de ebola escapa aos controlos. É “uma tormenta perfeita”. elpais.com
Os extraterrestres abduziram-nos a energia eléctrica das 11.51 até às 12.27 horas.
O casal de indianos – o da surra na esposa – têm uma empregada mwangolé, ela lamentou-se que quando fazem as refeições não lhe dão nada. A tal situação da comida que é melhor atirá-la para o lixo porque os e as mwangolés não são pessoas. Esta gente é terrível, não muda, estão cada vez mais na mesma.
As atitudes dos governos que desprezam os seus cidadãos fortalecem o terrorismo. As democracias são como as águias da liberdade com uma asa partida.
Nem uma suave crítica se pode tecer aos mandarins que nasceram iluminados para o poder, porque cai-nos em cima o arsenal da excomunhão que nos reduz à mais ínfima condição da degradação humana: A escravidão, a submissão dos senhores do petróleo e seus derivados mandatários estrangeiros.   
Neste terreno inculto, o relacionamento humano está instituído de generalizada falsidade. E isso inviabiliza os desejos de que a nossa vida vai melhorar. É um fim sem princípio. De tão degradante que isto está, torna-se impossível o convívio com o semelhante, porque são cobras disfarçadas de seres humanos. É necessária a fuga deste manicómio colectivo.
Se este Governo se intitula democrata, porque é que utiliza a violência contra quem ele ouse criticar? Um verdadeiro democrata resolve os seus diferendos pela força das palavras, e nunca pela violência física.

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