Trecho de uma carta do soldado William H. Gilday, 82º
Batalhão da infantaria canadense, a sua irmã, descrevendo suas experiências na
Batalha do Somme: Nós fomos à linha de frente uma noite. Os “Fritz” nos
bombardearam enquanto avançávamos e, claro, acertaram alguns dos nossos homens.
Nós ficamos na trincheira até de manhã, sem ser muito incomodados e, em
seguida, os atiradores entraram em ação. Eu imagino que, se colocássemos uma
moeda um pouco acima do parapeito e eles pudessem vêla, eles a derrubariam. Perto
do meio-dia, recebemos a ordem para ir até o topo. E assim fizemos. Eu sei que você acha que as
pessoas correm, berram, gritam e
esse tipo de coisa, mas não é assim. Pelo menos não foi
assim naquela ocasião, pois nós andamos muito discretos e silenciosos. Eu só posso
falar por mim, pois, até eu chegar ao arame farpado, minha mente só ficou parada. Eu não pensava em nada.
Alguma coisa me atingiu na perna e rasgou a minha calça. Aí a minha mente
funcionou ao máximo. O barulho era enlouquecedor, as balas passavam zunindo por
mim, cantando sua canção de morte, estilhaços gritavam acima e a artilharia estourava
em todas as direções. O ar estava cheio de ferro e chumbo e
praticamente todos os meus companheiros morreram. Eu não consigo, de jeito
nenhum, imaginar como eu escapei. Eu não sei como alguém poderia ter
sobrevivido. No entanto, vários outros, assim como eu, atingiram as trincheiras
alemãs, mas só tinha uns poucos “hunos” ali. Nós não tínhamos oficiais, apenas o sargento ferido e
oito homens, então, não
sabendo o que fazer, preservamos aquela ponta, pois os
homens à nossa esquerda nunca chegaram à trincheira. Fiquei lá por horas,
tremendo de medo e esperando ser o próximo a cada minuto. Naquela tarde, eu entrei
em outra trincheira com mais alguns homens e uns oficiais. Perto da meia-noite, de novo
nos deram ordens de subir até o topo. Mais uma vez, eu consegui chegar com
segurança, mas, como antes, havia apenas uns “hunos” para
nos saudar. Eles correram deixando tudo, até mesmo os seus fuzis. Estávamos lá
há três dias e três noites, e eu escapei por pouco de alguns tiros. Deus
certamente fez um bom trabalho cuidando de mim, pois eu me sentia bem doente.
Eu gostaria de poder lhe contar tudo o que aconteceu, mas você nunca iria
entender como as coisas são. Eu recebi uma bala bem no meu bolso esquerdo, e
ela passou pela minha caderneta de pagamento e algumas fotos. Estou mandando
junto uma
das fotos que foi perfurada, para que você possa guardar
de lembrança. A bala nunca me tocou. A fotografia perfurada era do irmão de Gilday, Clem,
dos Engenheiros Canadenses, que foi morto em ação na França, no final daquele
mês.
A Primeira Guerra Mundial. Lawrence Sondhaus
Imagem: http://www.rusmea.com/2014/06/a-frente-ocidental-parte-2-primeira.html
Fonte: Publicado inicialmente no Calgary Daily Herald, 6 de novembro de
1916, disponível em
www.canadiangreatwarproject.com/transcripts/transcriptDisplay.asp?
Type=L&ld=27.
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