República das
torturas, das milícias e das demolições
Diário da cidade
dos leilões de escravos
ANO 2014
01 de Janeiro
Para um sacerdote basta falar-lhe em Voltaire e os pilares da sua fé
desabam. Para alguém do MPLA basta falar-lhe do FOLHA 8 que todas as suas
visões políticas se esvaem como as nuvens.
2014. Este ano vai ser terrível. Não é nada difícil saber porquê. É muito
simples: como isto está de pernas para o ar, e a cada ano tende a piorar, que
mais há a esperar?
É por isso que não gosto mesmo nada dos natais e anos-novos. Ovos, não há,
cebola e tomate também não.
Essa da tentativa permanente de obrigar os mwangolés a seguirem os hábitos
do viver dos estrangeiros, como se só a civilização deles é que conta, é a
melhor, a exemplar, francamente! Vão para o raio que os parta. Deixem os
africanos em paz, deixem-nos seguir a sua vida!
Apesar de um litígio meramente pessoal mantido até hoje, a pessoa honesta
que encontrei ao longo da minha vida foi um angolano, Rui Manuel dos Santos,
actual presidente do Conselho de Administração da Sistec e de outras empresas.
Quando fui o técnico de contas responsável pela contabilidade da empresa
Protécnica, a representada empresa Racal Electronics, pagava-me em Janeiro,
antecipadamente a totalidade do ano.
Os
tugas deixaram Angola de rastos, voltaram para Portugal, arrasaram-no como é
habitual no seu perfil histórico, agora retornam a Angola para outra vez a
arrasar.
Os
bancos em Portugal não funcionam e os portugueses chegam aqui e dizem-nos que a
banca em Angola para funcionar tem que fazer como lá. As empresas em Portugal
não funcionam e os portugueses chegam aqui e ensinam-nos que se queremos uma
classe empresarial temos que fazer como se faz lá em… Portugal. A corrupção em
Portugal funciona em pleno, e os portugueses dizem-nos que se queremos acabar
com a corrupção temos que fazer como eles fazem em Portugal. O desemprego em
Portugal obriga os portugueses a invadirem Angola sob a orientação do nosso
grande líder espiritual, e os portugueses cá empregados pretendem obrigar-nos a
seguir o modelo deles para a criação de empregos. A classe política portuguesa
conduz Portugal para o caos, e os portugueses muito esclarecidos, muito
politizados, dão-nos lições de que se queremos a democracia cá implantada,
devemos seguir o modelo português, porque melhor não há. Enfim, os portugueses
em Angola obrigam-nos a seguir o seu estilo de vida, porque em Portugal melhor
que isso não há. E já conseguiram o que foram incapazes de fazer em Portugal, é
que em Angola já lideram o mercado da especulação imobiliária. E nós sabemos a
que isso nos conduz… ao alimento predilecto da instabilidade social, de consequências
de arrepiar.
02 de Janeiro
11.07
horas. Luanda continua de férias prolongadas, hoje é domingo, e muito
naturalmente a circulação automóvel está adequada ao dia. Mas não, hoje é
quinta-feira e Luanda continua paralisada. Será que um vírus extraterrestre
aterrou aqui? Mas também não, são as consequências de um país que depende em
absoluto dos estrangeiros., para gáudio dos seus governantes.
Meus
amigos e amigas tomem nota por favor: para além da profissão de Técnico de
Contas, quarenta anos de experiência, uma profissão sem qualquer valor em
Luanda, pois os tugas já apanharam tudo e como os franceses na colonização da
Argélia, não sobra nada. Pois – como já antes disse – até numa corriqueira
oficina auto os tugas também lá executam contabilidades de empresas. Claro que
lá em Portugal isso é impossível. E outra profissão é a de Electricista
Montador de Baixa Tensão. Além de jornalista colaborador permanente no FOLHA 8,
que garanto nunca pensei que na minha vida tal me viesse a acontecer. Com
vastos conhecimentos de electrónica e também com vasta experiência de
informática na órbita do utilizador, quarenta anos. Para sobreviver neste mundo
temos que ser bwereré polivalentes, senão… morre-se à fome.
Mais
um corte na estafada energia eléctrica das 16.47 até às 17.48 horas.
03 de Janeiro
Fiscais
atacam, não querem ver ninguém – seja quem for - a vender nas ruas. Será que o
nosso GPL – Governo da Província de Luanda, assinou um acordo de cooperação com
os portugueses para que eles também vendam nas ruas, já que tudo o que é
emprego é exclusivo deles?
Onde
estão os automóveis? Será que os roubaram? Até o pão sumiu. Pobres, miseráveis
daqueles que dependem de estrangeiros.
Outra
vez, outro apagão, desta vez das 14.22 até às 15.08 horas.
04 de Janeiro
Manos
e manas! De vez em quando alguém escreve por aqui e por ali sobre se existe ou
não, ou porque é que não existe literatura em Angola. Bom, para começar é
necessário saber o que é literatura. Quem é que me pode responder a isto?
Quantas pessoas em Angola sabem o que é literatura? Se ninguém opinar é sinal
de que não vale a pena falarmos sobre literatura?
05 de Janeiro
Ele
chegou, vinha com referências tais de doutorado em gestão de empresas,
economia, contabilidade, e mais sei lá o quê. Era um Super Doutor do AICEP-Agência
para o Investimento e Comércio Externo de Portugal.
Foi improvisado um gabinete que não concedia espaço, só passava quem era magro,
o que era o nosso caso. Eu era o técnico de contas da empresa e o Super Doutor
vinha chefiar a área, claro, como director. O Super Doutor começou logo a
assediar-me para justificar o contentor de dinheiro que vinha facturar. Então,
perguntou-me assim como David e Golias se eu me achava apto, capaz, de fazer
balanços contabilísticos, os fechos de contas. Deu-me uma tremenda vontade de
rir, mas não o fiz. Pensei apenas em alguns técnicos de contas extremamente
abalizados com quem aprendi e aprovaram a minha nobre arte, que ele ao pé deles
não passaria de um imbecil. Mas, conformei-me e dei-lhe a ver alguns jogos de balanços
que o Super Doutor estudou com muita atenção, como num exame universitário.
Depois de algumas profundas baforadas de fumo do seu cigarro – o Super Doutor
fumava, fumava, fumava… como um português – e exclama-me cheio de convicção:
«Sim senhor! Estou convencido!» Passados alguns dias a bronca rebenta, ele em
voz baixa para ninguém ouvir, pergunta-me: «Desculpe, eu sei que você está
muito à vontade nos movimentos contabilísticos… como é que se faz este
movimento?» Tratava-se de um cheque devolvido pelo banco e posteriormente
depositado já com cobertura. Expliquei-lhe o movimento contabilístico e ele
agradeceu-me. No caixa, este movimento parece fácil, mas não é. Os dias iam
passando e o Super Doutor aparecia às dez da manhã, não fazia nada, apenas conversava,
bebia café e fumava, até que dois sócios da empresa – eram três – interpelaram
o sócio autor de tal tragédia gerencial: «Olha! O Super Doutor não está a dar o
rendimento que contávamos!» Só aguentou um mês e pouco, foi ruado para
Portugal.
06 de Janeiro
Segundo
a Rádio Ecclesia, há estrangeiros na espoliação de terras para construção de
complexos residenciais dos camponeses na localidade do Bita, em Viana,
arredores de Luanda. Querem-lhes roubar pura e simplesmente as suas lavras.
Para mim só podem ser portugueses ou chineses. Quem é que apadrinha isto?
Desconhecem que são estas coisas que costumam atear o rastilho das vastas
confrontações? Lá vêm os defensores das causas colonialistas chamarem isto de
chauvinismo?
07 de Janeiro
Manos
e manas! Desculpem-me lá, estou embaralhado, já não sei onde ando nem onde
estou, ajudem-me a resolver este trágico enigma: O QUE É UM SER HUMANO?!
08 de Janeiro
Luanda
ou Tugolândia? Primeiro chegou um tuga, poucos meses depois outro tuga. Para
isso fizeram a vida “negra” aos mwangolés para que eles saíssem, fugissem, é o
termo correcto, Depois dos tugas irem de férias para Portugal com os “sacos”
cheios de dinheiro dos vencimentos dos mwangolés – ainda não lhes pagaram –
antes disso aconteceu que um alto perito angolano em informática, deixaram-no
sem vencimento três meses – isso mesmo, TRÊS MESES! – ele mandou-os à PQP,
creio que sem receber o kumbu, e depois o que aconteceu? Surgiu inesperadamente
na empresa uma portuguesa branca de neve. Ela não faz nada, passa a vida
sentada, porque ela não sabe trabalhar, deve ser mulher ou familiar de um dos
tugas. Ganha muito mais do que qualquer técnico angolano. E como aos técnicos
angolanos não lhes pagam, é para eles bazarem para que o resto da família tuga
chegue e ocupe os lugares, depois ditos de abandono de emprego. Assim como
explodiram com as empresas em Portugal também explodirão com as empresas em
Luanda. E tudo o mais explodirá. Ninguém olha para esta m.e.r.d.a.? E depois
quem é que vai aguentar a explosão social turbulenta que nos engolfará?
E
quando vier outra vez a confusão? Pois que virá, Angola é um bom exemplar da
fauna africana, e outra vez os portugueses e os da dupla nacionalidade, agora
sempre ferrenhos angolanos bazam outra vez para Portugal como genuínos portugueses
e depois quando Angola estiver em paz regressam outra vez em massa como: «Ai,
eu amo a minha Pátria!»?
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