quarta-feira, 12 de fevereiro de 2014

Os ventos do silêncio movem os moinhos da ditadura!





República das torturas, das milícias e das demolições
Diário da cidade dos leilões de escravos

28 de Dezembro
O mwangolé há muito que procurava emprego. Cansou-se porque só via em todas as portas, em todas as janelas e em todas as ruas: EMPREGOS SÓ PARA ESTRANGEIROS! O mwangolé teve então a mais feliz ideia da sua vida e decidiu cobrá-la. Cheio de certeza conseguiu a nacionalidade portuguesa – a dupla nacionalidade - e logo na primeira porta que bateu conseguiu emprego.
O fanático político é aquele que segue cegamente a militância de um partido. E já anestesiado, sem sentido, drogado, dispara os canhões partidários em todas as direcções, porque perdeu a capacidade de discernir entre o que é partidário e apartidário. Só a política do partido – mesmo sabendo que está errada - é que vale, tudo o mais não tem valor. A intolerância é a constante da vida, a felicidade do dever cumprido, mesmo não se importando pelos inocentes que tombam à sua volta vitimados pelos mais obscuros ardis da morte. Não, não, isto não é fazer política, é a prática do nazismo.
O maior erro dos ditadores e das suas famílias obcecados pelo poder, é o de acreditarem que com as imensas fortunas acumuladas da espoliação das populações e do apoio de alguns países e de milhares de mercenários estrangeiros, que podem comprar quem quiserem e entenderem. Triste engano, pois não somos todos iguais, e há sempre alguém que tem sã consciência e não se deixa embarcar nas ondas da maldade e da corrupção. É a partir deste momento que as ditaduras têm os dias contados.
Enquanto existir corrupção haverá guerra. A corrupção é a escada da guerra.
29 de Dezembro
Esta democracia continua surrealista. Se os democratas aceitaram os resultados das eleições, concordando vencidos e convencidos com a maioria esmagadora do MPLA, porque é que de vez em quando bradam que as eleições foram fraudulentas? É muito tosca esta democracia, com democratas que nem ainda com uma simples vitória nos contemplaram.
Assim continua Luanda, sem rei nem Roque Santeiro. 13.30 horas. A minha vizinha costuma ir aos domingos no mercado dos congolenses. Procurava a senhora da alface, onde habitualmente a costuma comprar, quando de repente uma avalanche de mulheres surge em tresloucada correria perseguidas pelos mabecos fiscais que parecia o fim do mundo. Na atrapalhação, ela cai e fica estendida no chão. Teme o pior, que a multidão descontrolada lhe passe por cima, mas não, foi por um triz. Outras mulheres ajudam-na a levantarem-na e a tremer regressa para casa, no angustiante viver do a qualquer momento ser assaltada. Mas porquê, os fiscais só perseguem as mulheres, e os corruptos e os estrangeiros que nos outra vez colonizam não? Pois se todos sabemos que os estrangeiros em Luanda exercem práticas ilegais? Porque a lei protege os estrangeiros e persegue os nacionais. Os rendimentos do petróleo têm que ser devidamente distribuídos pela população. Mais tarde, a vizinha disse que uma mulher caiu num buraco.
Por favor, não ao sectarismo político, como se de uma seita religiosa se tratasse. É o que vejo por aqui amiúde.
Na História Universal foram as manifestações dos povos que obrigaram a mudanças políticas e sociais. Por aqui – é tudo ao contrário, claro – se declara que a melhor manifestação que conduz os destinos de um povo, é a passividade.
Nunca Angola esteve tão infestada de vampiros como agora. Chegam aos milhares. Angola é a capital do vampirismo mundial.
O nosso petróleo vai longe. É por isso que não conseguimos sair das vistas curtas, da miragem do bem-estar, do subdesenvolvimento.
Ainda estamos reféns do princípio, onde o chefe ordena erradamente e nós obedecemos cegamente.
O comboio da ditadura avança, e o da democracia ainda nem carris tem.
30 de Dezembro
A Rádio Ecclesia informa que um indivíduo intitulado secretário-geral do MPLA, anda na espoliação de terrenos dos camponeses em Viana, para construção de residências. O administrador diz desconhecer o acontecimento. Claro que o clima é de tensão. Pessoalmente não me é difícil perceber que por trás disto estão cidadãos estrangeiros. Por exemplo, grande número de portugueses está na especulação imobiliária. Como conseguem o dinheiro para alugar apartamentos por cinco mil dólares mensais?
09.01 horas. Repórter da Rádio Ecclesia informa que há um forte tumulto na cadeia de Viana. Os reclusos revoltaram-se contra os guardas. Há tiroteio e lançamento de gás lacrimogéneo. O trânsito está interrompido. A zona da cadeia é definida como extremamente calamitosa.
ANO DE 2014. ANO DA REVOLTA?
Os portugueses caçam os empregos dos angolanos, poucos lugares vagos existem à disposição. Claro, que a intenção é desempregar os angolanos para voltar à imposição, à humilhação colonialista, com a devida coligação interna. E como aos angolanos só lhes resta o desemprego, a esta gigantesca multidão de desempregados chamam-lhe de bandidos.
Nas cadeias do Inferno de Luanda, segundo a Rádio Ecclesia, nos tumultos da cadeia de Viana, até ao momento há quatro mortos e vários feridos.
Porque será que este Governo quando pretende seja o que for dos cidadãos, o único diálogo que utiliza é o cair-lhes em cima com extrema violência?
E ainda: porque será que este Governo para resolver – não resolver – seja o que for, cria a comissão A, a comissão B, a comissão C, até acabar na letra Z?
Entretanto, numa das muitas igrejas/seitas de Luanda, afinal Luanda é Angola, o novo bispo está com cartas de apresentação ao seu público, aos seus fãs religiosos. Uma seguidora olha para ele, assusta-se, grita no ouvido da sua amiga: «Éh! Eh! Eh! Eh! Esse bispo é um grande bandido!» E a amiga: «Pois, então, como agora não há empregos, qualquer um é bispo, porque com as esmolas dos crentes ganha-se muito dinheiro.»
Os portugueses quando chagam do lado de cá: «Esta terra é muito bonita. Tem um povo muito pacífico, muito humilde e muito acolhedor, um povo maravilhoso. Tem um pôr-do-sol também muito maravilhoso. Angola, quem a conhece, ou a ama ou a odeia. Esta é a terra das oportunidades. Viver nela é como estar no paraíso. As crianças são muito bonitas. É um povo que se contenta com muito pouco.»
Os portugueses quando chegam no lado de lá: «Que povo mais burro! Estão tão atrasados, vivem como porcos, como selvagens. Só vão a chicote! Não dá para viver com essa gente! Precisam outra vez de ser colonizados!»
O povo angolano é a chaga do mundo!
Antes, foi o célebre mapa cor-de-rosa que desenhou, dividiu a África a régua e esquadro. E agora, o novo mapa que se redesenha será chamado de mapa cor de sangue?
31 de Dezembro
O Iraque em Luanda. No edifício que me garantem ser do ex/ministro das Finanças, José Pedro de Morais, no largo do Zé Pirão em Luanda, que tem como inquilinos funcionários das empresas petrolíferas, fortemente guardado por seguranças que escoltam quem entra e dele sai, até me garantiram também que têm seguranças americanos. Um jovem pai com o seu jovem filho quase a atingir os dois anos de idade, passaram em frente a esse edifício, e o pai assustou-se porque escaparam de levar um tiro, porque pensaram que o bebé poderia ser uma criança-bomba. Noutra ocasião, a avó seguia com o seu neto, passou em frente ao edifício e disse para a criança: «Olha! São coletes à prova de bala!» Um segurança ouviu e perguntou-lhe ameaçador: «O que é que tu disseste?» E a avó: «Nada, não disse nada!» A avó escapou por um triz da prisão, e que de mais? Esse pessoal tem ordens para matar ao mínimo gesto suspeito, e não têm problemas pois as ordens superiores dos senhores do petróleo – as únicas leis – são lei.
Fui responsável pela execução da contabilidade de uma empresa de segurança de um luso-angolano. O homem, quando chegava esta altura do tempo, Natal e ano-novo, transferia a massa das suas contas bancárias em divisas que omitia na contabilidade – como se não existissem – para Portugal e só regressava em Fevereiro, deixando toda a gente sem salários. Ele viajava sem dizer nada a ninguém. Deixava um irmão que vivia nas barracas em Portugal e que ele mandou vir para aqui, e logo chegado passou a chefe disto e daquilo. Quando se perguntava ao irmão quando é que ele regressava, o irmão hipocritamente dizia que não sabia de nada, ele, o doutor nunca lhe falava dessas coisas. Tudo continua na mesma, nada mudou. Excepto que pela invasão que todos sabemos, e que fingimos desconhecer, as coisas pioraram, e muito.
De um vizinho: «Afinal esse Chivukuvuku da CASA quer fazer guerra?»
22.48 minutos. Aqui na rua das Sirenes, o trânsito pedestre e automóvel estão engarrafados. Muita, muita gente a dirigir-se para a baixa de Luanda. Estão todos malucos?

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