Na
imensidão do Submarino Angola, que mais parecia uma cidade submarina, nada
faltava. A área mais imponente era a das reuniões do comité central do partido,
e também o espaço de compartimentos dedicado aos presos políticos que estava
sempre repleto, pois onde há muita repressão há muitos presos políticos.
Antes
das reuniões do comité central, fazia-se um rigoroso controlo de tudo e de
todos, de tal modo que nas ruas circundantes ninguém se atrevia a caminhar, os
habitantes da área ficavam bem escondidos sempre à espera do pior. É que até não
se ouvia o mais leve rumor de ratos ou baratas, tal era o controlo absoluto. E
quando se ouvia algum ou mais disparos significava que mais alguém perdeu a
vida porque assim a revolução o exigia. E na zona do cais de embarque estavam
posicionadas forças militares de ar, mar e terra. O aparato era impressionante,
esperava-se uma invasão de um país estrangeiro, - diziam - ou um ataque das
forças imperialistas que pretendiam a todo o custo o retrocesso dos gloriosos
caminhos socialistas, adiar a felicidade eterna do povo angolano.
Quase
todos os compartimentos do Submarino estavam cheios de presos políticos, e até
hoje não se sabe quem teve tão genial ideia, mas dizia-se em surdina que foi de
um dos membros do politburo do PCUS da URSS. O transporte dos presos políticos
fazia-se na calada da noite para que ninguém soubesse, ou suspeitasse de tanta
movimentação, pois oficialmente presos políticos não existiam, tal como
peremptoriamente declaravam nas suas constantes declarações os membros do
governo ligados aos direitos humanos, - eram todos muito humanos - por todo o
lado se entoava o hino de que Angola era uma democracia plena.
É
claro que os membros do comité central antes de se reunirem despediam-se dos
seus familiares e até passavam a orar a Deus, pois não sabiam se regressariam
das profundezas marinhas, ou em caso de desgraça se os seus corpos viriam à
superfície, pois por motivos de segurança, o Submarino Angola mergulhava muito
fundo e a maioria dos membros do comité central ficava aterrorizada, em estado
de choque, e quando regressavam à superfície iam para as clínicas médicas e
outros para estâncias de repouso. Muitos queriam renunciar ao comité central
inventando os mais díspares pretextos, mas sem efeito porque de imediato sumariamente
acusados de alta traição à pátria e logo rumavam para os calabouços do
Submarino Angola, ou também sumariamente fuzilados por abandono dos ideais
socialistas e da corrupção, assim como uma espécie de estado islâmico.
A
estrutura de apoio ao aparato submarinista quase que consumia o
orçamento-programa, e o pouco que restava fingia que a saúde apoiava e na
educação muito pouco dava, faltava. Portanto era impossível resgatar, edificar
o tal homem novo, que passou a homem doente, sempre deprimente, muito dotado, desesperado
esfomeado.
Claro
que a vida não se movia, na desesperança se engolia. As noites estavam
catastróficas com constantes assaltos, pois perante o marasmo social e
económico atribuído à crise do afundamento do preço do petróleo, quando na
realidade palpável a corrupção solavancava a nação. Há muito que existiam
provas mais que evidentes, – alguns diziam descaradamente que a corrupção era
um fenómeno impossível de combater, e como tal o melhor era encostar-se a ela,
assim como outros diziam que a melhor forma de combater o capitalismo era
encostar-se a ele – mas os partidários do sistema afirmavam categoricamente que
sem provas não era possível levar ninguém a julgamento, e a coisa caía no esquecimento
até à próxima rodada de outro rombo nos cofres privativos do familiar Orçamento
Geral Familiar, até que a galinha dos ovos de ouro fosse abandonada por já não
os pôr.
Até
que a vida já não caminhava aos solavancos, mas aos saltimbancos que usando
diversos trejeitos assaltavam e as nossas mentes e os nossos esqueléticos
corpos espoliavam de acordo com as leis da corrupção instituída, desmedida
pelos países amigos de Angola e da África
Apoiar
as guerras civis em África é o supra sumo ocidental e mundial porque os seus
governantes são a mão-de-obra ideal.
A
morte pela fome da população africana é o novo mapa cor-de-rosa. Quer dizer,
antes dividiu-se a África com régua e esquadro, desta vez não, é a solidão da
exterminação pela fome. Amigo leitor, desculpe-me mas não me posso calar perante
tão atroz silêncio mundial, um conluio demasiado evidente, neocolonial: o
desejo mais que acentuado de exterminar a raça negra e recolonizar a África
Negra servidos pelas populações das negras servidões. Onde só funcionam os
palácios dos vilões.
Desde
o dia 10 de Junho de 2016 que uma pobre e pacata transferência bancária foi
ordenada do Banco Bai Directo por um amigo para a minha conta no Banco Sol, uns
míseros quinze mil kwanzas, e até agora, 17 de Junho de 2016 nada. Isto é ou
não a falência do sistema bancário?! Claro que é! Angola é o país das falências
sucessivas, do imponente esclavagismo praticado por um punhado de indivíduos
que ainda sobrevivem graças à manutenção, ao desvio do erário público para a
sua eternização no poder, mas tudo isso são quimeras, porque ninguém enriquece
a vender ovos. E o principal veículo dessa transferência destinava-se a alimentar
o meu telemóvel e o acesso à Internet, porque actualmente – e no futuro -
ninguém consegue sobreviver sem Net, e é por isso que sem ensino e Internet é
muito fácil governar, pois povo informado sob a égide da Igreja corrupta e de
um governo que a alimenta com o sangue da população, essa Igreja vive opulenta,
cercada de bandidos perigosos que a todo o momento procuram sobreviver, pois
sem o dinheiro do petróleo e dos dízimos é impossível viver. O dinheiro
petrolífero cai nos sacos dos donos de Angola, e presentemente a população nem
direito tem a esmola, pois tal é considerado subversivo.
O meu
filho passa fome, foi recrutado pelo exército dos famintos, há quatro anos que
não lhe pagam o subsídio de férias do trabalho escravo nas empresas e do país
pertença de generais. Já disse ao meu filho algumas vezes que aqui é impossível
viver, temos que bazar enquanto é tempo porque com esta gente só a morte
prevalece, e só a fome se enaltece.
A
jovem vizinha de trinta anos escapou da morte por estrangulamento porque
conseguiu abrir a porta e vir para a escada mostrar o espectáculo habitual de
matar com a total impunidade que caracteriza um qualquer governo africano,
angolano. Eram vinte horas e o seu avô estava com as mãos prontas para a
estrangular, ela já não tinha forças para lutar, no portão de ferro gritei com
toda a força: “vizinho, deixa a tua neta não a mates. Pára, pára!” Na
atrapalhação consegui abrir o portão de ferro, pois tal assassinato presenciado
não é tarefa fácil de se ver, viver, logo, mais dois vizinhos chegam e o
vizinho avô vê que já não consegue matar a neta – isto é uma matança diária – arrasta
a neta para dentro e ouve-se o barulho de vidros partidos. Os vizinhos do quinto
andar esquerdo, os únicos, perguntam-me o que se passa, digo-lhes que é o
vizinho que está a matar a neta. Ligo para o 113 da Polícia, o número do azar,
pois raramente é atendido, típico do africanismo onde a vida não tem valor, e
isso faz com que a África desapareça sem esperança, só os tolos acreditam na
esperança, uma invenção da Igreja e da sua religião. E claro, desisti de ligar
para o 113. E a vizinha não tendo mais para onde ir, depois de ser desalojada
da casa onde habitava quase há trinta anos, carregou o seu recheio junto com o seu
filho de sete anos, também abandonado pelo seu avô, e abri-lhes a porta da minha
casa e cá estão refugiados desde o dia 14 de Junho de 2016. Não adianta apresentar
queixa na Polícia porque ninguém liga a essas coisas. Afinal, o avô quer meter
em casa algumas mulheres e gozar os prazeres do sexo, e por isso correu com a
neta e com o seu filho. Angola, África onde estas coisas são tão banais, não se
dá nenhum valor à vida, já não se sabe o que isso é, e então, Angola, África, é
o continente da morte, da fome, o continente sem futuro, o continente da
extinção, o continente de outros colonizadores.
Carlos Gonçalves: “E estamos assim… Boião de sangue no hospital... se
precisas pagas 30 mil Kzs senão não tens direito a ele! Vacina da Febre
Amarela...18 mil Kzs
e é preciso que haja disponível… Marcação de Consulta de Dentista... se não
trouxeres luvas e máscara não te fazem a marcação...”
Já lá vão vários anos, creio que dez, que uma vizinha nunca tem dinheiro,
porque o dinheiro que apanha entrega-o todo, não lhe sobra nada, na igreja universal
do reino de deus. Quantas mais destas angolanas com lavagem cerebral religiosa existem?
Decerto exércitos delas. Estou convicto que se as religiões acabassem muitos
dos problemas do mundo teriam rápida solução. Afinal a religião é a mais perfeita
formação de escravos, os do exército do Senhor. Mas que senhor? Ninguém sabe, fingem
que não sabem, porque é a mais pérfida criação do ser humano para a abjecta
servidão, até à total destruição.
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