quarta-feira, 20 de julho de 2016

O SUBMARINO ANGOLA (09)



REPÚBLICA DAS TORTURAS, DAS MILÍCIAS E DAS DEMOLIÇÕES

DIÁRIO DA CIDADE DOS LEILÕES DE ESCRAVOS

“Formar filho do pobre é formar inimigo.”
Onde há muita fome há muitos assaltos.
Fernando Heitor, economista angolano, na Rádio Despertar, que cito de memória: Deixemo-nos do eurocentrismo, há uma crise profunda, não há divisas, deve-se explicar à população para mudarem de hábitos alimentares, deixemo-nos de eurocentrismos. Se não há pão, pode-se substitui-lo por banana-pão ou batata-doce. O arroz pode ser substituído pela mandioca. Se não há divisas, há que impor os produtos nacionais. Sobre a subida dos preços e açambarcamento, isso evita-se abastecendo devidamente o mercado, havendo quantidade suficiente os preços baixam, e não adianta perseguir as pessoas que vendem nas ruas ou nos estabelecimentos comerciais porque isso não resolve nada.
Mais dois assaltos patrocinados pelo comité de especialidade dos assaltos: Um no dia 08 de Julho, 2016, em frente da Igreja Adventista do Sétimo Dia, na rua Rei Katyavala. Foi aí pelo meio da manhã, o vizinho chegou, estacionou o seu carro, saiu e logo foi assaltado. Eram dois gatunos que queriam o carro, mas vendo que havia muita gente e a coisa não dava, preferiram não arriscar, levaram-lhe a pulseira daquelas bem caras e um telemóvel topo de gama. Bazaram numa moto-rápida, a vizinhança não se apercebeu de nada.
O outro foi nas traseiras da mesma igreja no dia seguinte, um sábado. Outro vizinho chegou pelas vinte horas, estacionou o carro, viu três jovens, pensou que eram lavadores de carros, fez marcha para a sua casa mas foi brutalmente interrompido por um deles que lhe ordenou, “entra no carro!” Já todos nele sentados, disseram ao vizinho para conduzir normalmente e que não fizesse nenhuma tentativa para evitar o assalto pois tinha pistolas apontadas. Chegaram algures no bairro do Golfe, abandonaram o vizinho, roubaram-lhe tudo, deixando-o com a roupa que trazia, exigiram-lhe o Pin do cartão de crédito bancário. Antes de o abandonarem entregaram-lhe quinhentos kwanzas para ele apanhar um táxi Hiace e mandaram-no à vida. O vizinho não sabia onde estava, lembra-se que era lixo por todo o lado. Os gatunos levantaram do multicaixa cento e cinquenta mil kwanzas. No outro dia ele foi ao bairro do Golfe e encontrou lá o carro abandonando. O vizinho confessou que ficou sem nada. 
A vizinha estava sentada na porta do prédio, chegou outra vizinha e perguntou-lhe se ficava ou ia embora, respondeu-lhe que não, então a vizinha levantou-se e disse que “tenho medo de ficar aqui sozinha, vou-me embora.”
“É difícil encontrar homens sãos numa sociedade enferma.” (Isaac Asimov, 1920-1992)
No tempo do império romano era assim: Panem et circenses. Alimento e diversão. No tempo do apogeu do império angolano do petróleo também era assim. Agora é: famintos não têm diversão.
Com ou sem oposição, isto já não tem solução.
Marido com muitas mulheres é muita miséria.
Os caminhos da miséria e da fome nunca têm fim. Os humanos parecem estar no estádio final da evolução porque estão na batalha final do suicídio colectivo.
O que é que farei com tal multidão de bestas à minha volta, tanta gente desesperada à procura do caminho de Deus, mas na realidade oram ao demónio que está em todo o lugar. Há muito que o demónio invadiu a Igreja e dela se apoderou. Já não há sacerdotes, há demónios. Por isso mesmo, acreditar em Deus é acreditar no demónio.
Já não suporto este refrão: “ vamos vencer as eleições de 2017.” Famintos moribundos não votam.
Está muito difícil conseguir recargas da Unitel. Estou aqui com vocês graças ao quilapi, - a verdade é que estou a acumular dividas e não sei como as vou pagar, claro que não perco a esperança – até quando não sei, creio que isto vai ficar uma espécie de campo de extermínio, onde estão os partidos políticos da oposição? Não sei não! Alguém sabe?! Uma coisa sei muito certa: onde não há intelectos há miséria e fome. Isto não é vida, não é futuro.
A aflição de José Carvalho: “Venho aqui demonstrar a minha indignação raiva, revolta o que lhe queiram chamar o meu colega que é português teve a infelicidade de atropelar una criança na estrada de Luanda Catete a criança que largou a mãe e começou a correr na estrada esta foi colhida pelo carro do meu colega que tem o seguro do carro em dia. Prestou assistência à criança levando-a ao hospital, a polícia levou o meu colega para a esquadra de Viana isto aconteceu no Domingo sem motivos para tal mantém-no preso na esquadra até ao momento, desde que ninguém sabe como ele está pois não me deixam contactá-lo. Tenho levado a comida mas nem sei se ele a recebe, pois já ouvi os seguintes comentários quando entrego a comida na polícia " e nós só cheiramos " outra vês entreguei a comida as 18 horas e disse-me o polícia " a esta hora não entregamos comida tem de se pagar a passagem" quando lhe pergunto como está, respondem a rir ”está na cela está bem.” Desde Segunda-feira que liguei para o número SOS do consulado de Portugal que atendem com simpatia mas até ao momento o que fizeram foi dois telefonemas para o comandante da Polícia nem se dignaram de ir à Esquadra com este tipo de apoio muito obrigado. A minha empresa está a fazer o possível para o tirar de lá pois a empresa onde ele trabalha não lhe paga há 4 meses está-se a borrifar. O que lhe está a acontecer pode acontecer a qualquer um de nós pois já vi que neste caso não cumprem a lei nem existe bom senso, nem apoio de quem o deveria prestar para que serve o consulado de Portugal.”
Para a minha amiga Manuela Joaquim: tu és maravilhosa! Creio que foi Deus que te enviou à Terra para salvares as pobres almas carentes e sofredoras. Continuo na luta para sair do desaire económico e social em que nos abismaram. Depois te premiarei com o devido reconhecimento, penso numa estátua da Afrodite aangolana para te imortalizar, tu mereces. Luta para seres feliz.
O Fahrenheit 451, agora é dos presos políticos em Angola. (Obra de Ray Bradbury (1920-2012), sobre a queima de livros do totalitarismo.)
Vida do muangolé é beber para morrer. Angola, a nação alcoólica: depois de quarenta anos, a república dos alcoólicos angolanos. O álcool aniquila os cérebros de quem mais nada sabe fazer, é só beber. Toda a noite música muito estridente, muitos cigarros de quem nada sabe e não tem o que fazer. Pobres cadáveres deambulando.
Garante a oposição: “Não vamos fazer manifestações para evitar o pretexto do poder para nos aniquilar.” Mas o poder está a aniquilar.
A corrupção destruiu o império romano e o império do petróleo de Angola.

E o Submarino Angola lá ia, para onde ninguém sabia, no rumo do inferno facilmente se previa.

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